Um Copo Profundo





Título da Fanfic: Doce Veneno de sede insensata.
Autora: Angelina Michelle
Fiction Rated: Não vou pôr letra, assim descomplico a vida de muitos - Aviso somente que pelo menos os primeiros capítulos não é aconselhável para crianças. Caso ocorra NC-17, avisarei na Nota da Autora. (Como eu própria tenho 16 anos, então o leitor decide).
Gênero: Geral.
Resumo: Draco estava prestes a contar-lhe uma história. Ela também. Era um copo de veneno sendo virado. Mas eles tinham a noite inteira para contar isto. A noite inteira... (DG - Pós Hoggy)


Sobre a Fanfic:
1.
Um belo dia minha professora de Ténica e Redação pediu para sermos algo. Qualquer coisa. Então eu quis ser um livro. Aí ela nos pediu para que nos descrevessemos para ela, em forma de metáfora. Fizemos isso e lemos cada uma das redações em voz alta.
Mais tarde neste mesmo dia, percebi que havia muitas metáforas. Mas esqueceram de uma. Umazinha, que ninguém nunca tentou fazer. E neste mesmo dia eu quis então fazer esta metáfora.
Bem.
Ela está inserida nesta Fanfic.

2. Reza a lenda, que a Angelina faria NC-17...
3. Agradeço á Yourick Lopes e Raphaella Maia pelos desafios em sala de aula de três escritores confusos, rs. Agradeço as garotas dg's que opinaram está fic quando estava em seu rafle. (Muiitoo Obrigada mesmo! - detalhe é que não lembro o nome de todo mundo. Pra eu não levar puxão de orelha, cito no geral, tá? rss). Obrigada a July Slytherin, a primeira á ler a Fic pronta. Você é um amor de pessoa!
4. Beta - A July viu o primeiro capítulo, serve? rs. Não, falando sério - Pra esta Fanfic ainda estou sem Beta fixa. No entanto, os capítulos vão sair conforme eu conseguir encaixar com a grande carga de atividades do 3° colégio. (Contando com outras Fics que estou escrevendo tambem, pois não abandonei nenhuma). Não sei se algupem vai me aguentar com está fic... rs. Acho que estava com muitas saudades de escrever por aqui! Boa leitura.


Doce veneno de sede insensata

“Veneno.
É um liquido brando á primeira vista, forte ao paladar da consciência, irresistível aos fracos. Bebida que não evapora quando legítima, rara de ser encontrada. É apreciado em pequenos sorvos e desce rasgando destruindo qualquer resquício de moralidade ou estado de sanidade.
Faz enlouquecer o mais distraído que não conhece os sintomas e faz cair na tentação os que não conhecem o seu poder.
Veneno falso que confunde.
Veneno que impregna na pele, na roupa, com o cheiro do teu cabelo.
Acelera batimentos cardíacos, inebria um estado, emerge como fumaça.
Faz-te emergir dos céus e ir direto ao inferno.
Principalmente ao inferno...
(...)”



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Um Copo Profundo

Capítulo I
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Era Noite. A Lua estava no alto, cheia e bonita, o ar cálido e morno intercalava-se em uma brisa de rosnar sútil.

Apresentava-se um pouco esmaecida, fantasmagórica entre as nuvens. O clima ideal da melancolia. Banhava á todos que pudessem vê-la naquele exato momento, um ponto branco orgulhoso. E dentre tantos vilarejos, casas e ruas que poderia alcançar, havia um casarão georgiano, este, com lisonja, chamado de Meycer.

Visto de fora, era somente um casarão antigo, padrão inglês. Seu dono, um antiquário, a mantinha por estimação por que o interior lhe era aconchegante.

E não somente á ele. De aposento á aposento, ela oferecia suas janelas altas, bem feitas, que acompanhavam o chão até quase bater o teto, como gostava. Cortinas de chiffron, pesadas, um pouco abafadas, vasos imensos, chineses, feitos por sua vez de latão e porcelana, sobre o console da lareira, altas coleções de galeões antigos esquadrinhados na parede e logo depois, uma abobada bonita, o lustre do alto bem circundado com suas velas companheiras, os corredores bem formados e arquitetados. E dentro dela no todo, especialmente naquela noite, havia pessoas. Muitas delas.

Não era uma festa importante que ocorria em seu interior. Era uma festa qualquer, de um dia qualquer.

Não havia um motivo especial, um quê aparente.

As pessoas riam como todas as outras, falavam, gesticulavam e confiavam em suas vidas importantes e mesquinhas.

Atrás dos portões lapidados bruscamente, a porta dupla da entrada da casa em forma de arco estava aberta e receptiva, diferentemente de uma semana atrás. No primeiro salão de entrada havia um grupo pequeno de boas vindas de pé no tapete carmesim, esperando convidados ao lado de um vaso púrpura com um monte alto de ameixas escuras.

Os portões estavam estendidos fazia cerca de uma hora, o lacaio consultava seu relógio, e as duas escadinhas que levavam ao centro da casa estava receptiva com sua barricada de mesas, uma orquestra simples e fina.

Naquele salão havia pessoas demais, histórias demais que poderiam ser contadas. Mas vamos nos focar em um loiro que estava com olhos fechados, à cabeça levemente pendida para trás enquanto observava as pessoas perto de uma pilastra greco-romana, pessoas que ele odiava.

Draco Malfoy não era um jovem, e nem um adulto propriamente dito. A consciência era um livro aberto e sua consciência sabia que tomara decisões em sua vida que marcaria ela inteira.

Fisicamente, parecia um anjinho de pretensões maliciosas.

Sua altura mediana era marcada pelo porte esguio, no seu rosto, leves traços, quase que imperceptíveis. Havia viço ali, um brilho e ardor de juventude para mais idade do que deveria. A pele lhe era muito branca, quase anêmica, o rosto muito magro com um nariz pontudo e fino.

Ágil, a postura era indolente. E não somente á postura.

Era indolente assim quando possível e no momento, observava para sua taça filosoficamente, ora às vezes olhando para os lados, quando procurava rostos conhecidos entre as pessoas.

Estava na casa dos trinta, mas mesmo que tivesse seu dobro, ele não teria problemas com cabelos brancos, os seus já eram claros o suficiente. Seus olhos observavam á todos como um animal engaiolado que se libertava uma vez ou outra, para um café. Eram azuis e estreitos, parecia ser composta de uma retina que nublava tudo, o seu interlocutor e á si mesmo.

Mimado e rico, dois quesitos que não rimavam, tomava decisões á sua mercê que lhe causavam orgulho.

Mas ele não pensava nisso. Ele continuava sua observação, sua ronda, com uma expressão estreita, intimadora.

Não que não tivesse encontrado alguém ali. Eram pouquíssimos os que lhe eram de alguma valia.

Rebuscando em sua mente, nem se lembrava por que havia sido convidado para estar ali. A sociedade bruxa era uma mercadoria classificada de ‘poréms’, as festas em si sempre tinham um propósito. Isto lhe era motivo de chacota pois querendo ou não, a sociedade precisava dele de alguma forma, ela lhe devia algo. Mesmo que quisesse ficar recluso em sua própria Mansão, era reconfortante saber que teria cartões forrando como tapete á sua porta.

Sobre as eventos e organizações, ou mesmo festas, como diziam, ele sabia bem. Havia os que queriam popularidade, os que queriam se gabar, vender algo ou somente comprar. Tinha aquelas só para os ricos, ou que juntavam somente uma parte da sociedade.

Aquela festa não era nada daquilo com que se habituara. A questão é que naquele grupo compacto á sua volta, nenhuma delas se encaixavam em um padrão somente. Julgava que o anfitrião se tratava de um amador, ou provavelmente, gostaria de vender as peças da mansão. No entanto, se fosse bom, não convidaria os Debberhams, que mal tinham casa pra viver.

Olhou para seu par de sapatos e deixou a questão se esvair.

Voltando agora ás pessoas do salão: Draco observava todas elas com um misto de indiferença e repugnância.

Para ele, tudo aquilo era nada. Dos sorvos pequeninos que dava em sua bebida, e do quão lentamente esta escoava pela sua garganta, ele tinha certeza disso. Na realidade, para ele, beber de golinho em golinho é coisa de fracos. Só naquele dia que ele resolvera uma exceção.

Um filósofo um dia disse que somente as pessoas importavam, e ele acreditava piamente que este era um patife.

O que haveria de gratificante no Julian Milicent sentado á primeira mesa, por exemplo? Doara quinhentos galeões para uma ala pediátrica na semana passada segundo o Profeta Diário, um bem apessoado que na verdade jogava cartas e extraía o máximo de dinheiro de seus fregueses com truques tolos. E que tolos. Ou mesmo os Emiroff que estavam na pista, um casal descendente de russos, em que ele na verdade tinha um caso com uma tal de Rose?

Draco sorriu de lado. Gostava de saber dos fatos verdadeiros, a humanidade era o que havia de pior.

Há alguns metros á frente, Jim Dufkin enrolava alguma mulher em uma de suas conversas. Era do tipo que trocava de par como de roupa, e tinha uma boa lábia. Draco franziu o cenho levemente e seus olhos pareceram mais do que nunca como duas fendas brilhantes, que tentavam adivinhar a vítima.

Ele então começou a fazer um movimento circulatório com a mão em que segurava a taça, primeiro devagar, depois mais rápido. A bebida iria esquentar mais pouco se importava: era o que fazia quando algo o inquietava e o deixava á espreita.

Achou que tinha reconhecido quem era, mas aquilo parecia impossível, ou no mínimo, inimaginável para seus olhos.

Dufkin contou uma piada aparentemente engraçada. Ela cruzou os braços e riu levemente, virando-se de frente.

Os olhos de Draco brilharam, ficando mais estreitos, um frio momentâneo na barriga que o fez remexer-se inquieto dentro da capa.

Era ela. Não somente ‘ela’ para ele mesmo, mais do que queria admitir. Talvez fosse permitido um tom mais eufórico, ou somente uma letra maiúscula ao menos – Ela.

Jogou os cabelos para trás e começou a andar vagarosamente, um tanto sem destino pelo salão. Não seria uma tentação encontrá-la por aqui, tanto tempo depois? Pensou que seria somente uma ironia, igual aquelas piadas de Hogwarts, a mesa central do café da manhã, o bacon bem passado com omelete enquanto algo idiota ocorria, Dumbl... Então piscou, olhou para os sapatos e nada mais. Acreditou ter passado por um mal-estar momentâneo.

Então voltou á seu foco, olhou á frente, curioso.

Uma coincidência. Estava fazendo o mesmo que ele: nada.

Cautelosamente, tinha tido tempo o suficiente de observar seu corpo magro e sardento de cabelos rubros, o rosto pequeno de nariz achatado, com grandes olhos castanhos muito vivos. Weasley. Weasleys são tão óbvios.

Seu orgulho o estava guiando para pegar mais uma bebida. Olhou para a taça e pensou que deveria fazer um brinde.

Á mim.

E á ele próprio dirigiu seu primeiro gole.

Voltou com outro copo na mão, cheio. Eles continuavam conversando. Dufkin e Weasley, na pista.

Draco sorriu. Um sorriso estranho. Um dia quis ser uma mancha, um borrão na vida dela que era impossível de se tirar, sem ser notado. Ele não sabia bem qual era seu intuito desta vez. Só sabia que estava perseguindo-a com os olhos, em busca de alguma coisa que se passaria despercebida.

Fora um garoto mais que mimado; Era paciente nos seus objetivos, mas os queria, sedento. Quando pequeno, não se desfazia de seus brinquedos facilmente, eram posses, queria todos. E quando os queria, ele as tinha.

Dufkin aproximou-se dela, colocando uma mecha ruiva atrás de sua orelha, enquanto falava. Os olhos de Malfoy eram duas fendas, de tão pequeninas.

- Desgraçado... – Draco murmurou baixinho antes de jogar a bebida em um vaso de pedra, e sem saber se era por ímpeto ou por qualquer outra coisa, ele caminhou logo em seguida em direção dos dois.

Foi um trajeto de poucos segundos e quando o fez, se dirigiu primeiramente á Dufkin, ignorando a presença da ruiva.

- Boa noite Dufkin. Por acaso aquela não seria a Srta Dunning?

Jim era um ruivo de olhos vivos e azuis que piscavam freneticamente ao encarar Draco á sua frente por interromper alguma de suas falas. Olhou de relance para onde ele lhe apontava e logo o encarou novamente.

Ele riu.

- Malfoy, é você? – perguntou descrente, com um sorrisinho nervoso, ao alisar seu próprio smoking. – Ora, vejamos... Você está bem? – o ruivo perguntou sorrindo, em forma de camaradagem enquanto seu sorriso não era retribuído, então acrescentou em tom informal, um cenho levemente franzido - Por que quer saber?

- Ela está te chamando. – respondeu Draco friamente sem olhar para o seu lado. Mas Dufkin olhou para ela de relance, numa mal contida surpresa. Draco escolhera bem o nome. A Srta Dunning era uma mulher alta de meia idade, uma Srta. adorável. Trajava um vestido meia taça que estava no topo da escada e por conveniência, Ex de Dufkin.

- Você certamente não poderia falar á ela que... – perguntou ele um tanto travesso e sem-graça.

– Não sou uma coruja, transportando recados. – Malfoy respondeu curto e seco.

- Se quiser, eu levo.

Aquilo era demais para ele. Encarou finalmente a dona daquela voz doce e forte, ao mesmo tempo que teve a impressão do retroceder em câmera lenta em sua cabeça, rodopiando e rodopiando. Cinco anos estavam se retrocedendo em sua mente, as intrigas e as tentações. Gina. Quase sem alterações, impossível de confundi-la.

Estava ali.

O rosto bem formado, a pele branca pontilhada de sardas em quase toda a sua extensão, o vestido vinho escuro de veludo, meio bufante. Continuava baixinha, meio atarracada, as mãos frágeis demais, nos cabelos rubros e brilhantes, quase nada de diferença. Draco só não percebeu que havia algumas expressões abaixo dos olhos. O tempo não para.

- Se conhecem? – perguntou Dufkin

- Não – a resposta abrupta veio dela. Uma resposta precipitada, um medo escondido, o medo da mão que cobre a cicatriz.

- Ah. Então Malfoy. – disse Jim dando de ombros e agitando a mão como um comediante que indica casualidade á situação – Esta é Gina Weasley. Gina estudou em Hogwarts. Não era a mesma escola que a sua?

Dufkin era um ignorante em bebidas, em trajes, e em lugares interessantes para serem visitados. Mas mais que isso: ele era ignorante da eterna inimizade entre Weasleys e Malfoys e como uma pequena informação desta lhe era omitida, um misto de descaso por parte dele lhe era dado á aquela cena. Era só isso: Draco e Gina estavam sendo apresentados. Malfoy sorriu, um sorriso sincero. Aquilo era ironia pura, como poderiam ser apresentados assim? Draco a conhecia muito, mas muito mais que ela a julgava. Ele não poderia saber, mas o mesmo ocorria inversamente. Talvez eles não se conhecessem mais. Aí eles teriam que ser apresentados de novo, e de novo, e de novo...

- Era sim. Prazer. – Olhou no fundo dos seus olhos, tão profundamente que poderiam praticar legilimência ali mesmo. Ele adiantou sua mão. Gina o encarou desafiadoramente. Ela esticou a mão pequenina á guisa de educação e então... Draco percebeu; tremia. Suavemente o quanto pode pegou-a entre seu indicador e ali plantou um beijo pequeno e frio. E tão suave quanto á pegou, devolveu, erguendo os olhos, a nebulosidade característica no olhar de quem sabe algo.

O ruivo elegante de braços levemente grandes, que agora estavam nos bolsos, pareceu perceber algo, olhava para ambos igual batedores e seus balaços. Um misto de compreensão, um quase ‘Tem certeza que não se conhecem?’ que não deixaria passar. Um pouco receoso pigarreou, interrompendo uma conversa intelectual, um duelo de olhar.

- Eu... Bem, eu vou ver lá o que ela quer... Eu... Já volto! – Com isso, saiu apressado.

Gina cruzou os braços, e olhou para os lados: Parecia querer sair dali. Draco não; parecia estar se divertindo, á seu jeito satírico mas o único jeito que realmente aprenderá.

- Eu achava que nunca tinha entendido você. Percebo agora o quanto. Por que fez isso? – perguntou Gina baixo mas em um tom de voz firme, enquanto o encarava.

- É engraçado e estranho te encontrar aqui. Pensando bem, só estranho – acrescentou Malfoy - Estava observando as pessoas, e então vejo você. Aqui. Cinco anos depois.

- É. Cinco anos e dois meses.

- Cinco dias.

- Quatro.

- Cinco. Logo será meia noite. – disse ele ao consultar o relógio.

Ela pensou que se era meia-noite mesmo, devia era estar com muito sono. No entanto, estava desperta, mais do que nunca, pensou.

- E você acha que as coisas são assim, tudo volta em um instante e... e... – as palavras perderam o senso de direção, e logo, seus olhos pareciam procurar algo a redor para que continuasse firme. Não havia nada firme. Só havia ele á sua frente, e ela não queria apoiar-se nele pra conseguir aquelas palavras.

- Eu não acho – disse Draco baixinho aproximando para tirar as mechas ruivas de Gina atrás da orelha, as mesmas que Dufkin mexera. O cabelo dela era pra estar sempre solto, pra bater e esvoaçar contra o vento. – Só que eu não sigo regras... – completou ele em tom perigoso, delicadamente, a mão com o anel incrustado fechada - Eu nunca segui.

Gina sentiu um arrepio, como um sussurro. Uma afirmação que mais parecia uma ameaça.

- Aproveite sua chance. – Malfoy apontou algo ás costas da ruiva - Mrs. Charmann está te chamando, ali. E desta vez é verdade.

Ela olhou sobre o ombro: inconfundível, uma Senhora vigorosa com pequenas papadas acenava agitadamente, uma amiga íntima de sua mãe nos tempos de escola.

Olhou para ele novamente. Draco ergueu a sobrancelha e fez um aceno teatral. Não o entendia, e parecia não o compreender. Parecia até saber que iriam se encontrar mais tarde. Sorria ironicamente. O coração de Gina batia muito forte, estava pálida. Ele não iria fazer nada? Era pra isso que ele interrompera sua conversa?

Mas queria ir embora. E foi.

Gina virou-se lentamente, como se fosse um sonho e foi ao encontro daquela Senhora. Draco não estava deixando-a ir. Ela poderia sentir isso, se fosse num misto de alívio ou tristeza, nunca saberia, mas não estava mesmo, por que ele era persistente. Gina estava tentando fugir do passado com todas as suas forças, mas força não era bastante, muito menos agilidade.

Ele jamais deixaria isso por somente deixar. Muito menos ela. Era um bem inestimável.

Incalculável.

O relógio bateu meia-noite e então todos os convidados foram indicados para um outro salão, um salão de brindes, em que este não era menos confortável ou aprazível, somente um pouco menor e íntimo.

Logo que estes passaram por um grande arco, se viram á volta de grandes mesas retangulares, em grandes bandejas prata e seus bordados, eram trazidos agora mais petiscos do que bebidas.

Todos se colocaram bem, alguns em pé, outros sentados. Um interlocutor subiu em um degrau, apontou a varinha para sua própria garganta e começara a falar. As conversas seriam uma roda mais viva e interessante do que uma orquestra murcha naquele momento.

Draco olhou para a mesa do jantar: Não era engraçado que não sentisse fome?

Sua atenção estava absorta, uma porção de pessoas começaram a levantar-se novamente, no tapete fofo e lustroso os arrastares de pés eram abafados. Algo ocorria de interessante, anunciação de algo que ele não pretendia saber. Olhou para os degraus e as mãos erguidas. Um quadro.

Ele percebeu o quanto aquele salão era pequeno, e logicamente, em lugares pequenos eram fáceis às probabilidades de se acharem pessoas.

Ponta á ponta, começou a sua ronda, como um lobo que caça a sua presa, muito cauteloso, muito atencioso e exultante.

Encontrou Gina de pé no outro lado do salão. Estava sozinha. Sua postura era normalidade, ambígua igual á ele dos fatos.

Ele não soube muito bem o porquê, mas tinha gostado de vê-la assim.

Uma nova movimentação de pessoas sacudiu os seus pés. Ela não o via.

Draco analisou a ruiva tão fora de alcance, rodeando a mesa retangular entre os drinques e as ressalvas, os brindes inúteis que todos desejavam afavelmente mas no fim pouco ligavam para seu futuro. Brinde ao anfitrião, brinde á vida, brindes aos Rices, Brooks, Hubbards, e etc.

Ele pegou uma taça por etiqueta, levantou-a e a esvaziou, colocando-a na mesa, enquanto algum orador estúpido servia de intermédio entre seu público e como o anfitrião queria que as coisas ocorressem. Estava bebendo demais para uma só noite.

O barulho de talheres e risadas continuavam, giravam em um entorpecente maligno de acontecimentos enquanto Gina mantinha a mão á altura do busto, segurando sua taça um pouco desejosa enquanto olhava os presentes e suas conversas incompreensíveis.

Viu um casal sair de uma porta ás costas dela, sabe-se lá o que estariam fazendo. Draco sorriu, imaginando que saberia.

Veio andando pelas suas costas, pois algo dizia que era melhor não ser visto. O seu ego dizia que ela também o estava procurando, ou no mínimo, tentando encontrá-lo para evitá-lo. Queria-a sozinha. As pessoas sempre atrapalhavam tudo. Até ali atrapalhavam.

Queria tocá-la mas o tempo tinha condensado os fatos, deixando-os com um amargo na boca seca.

O tempo estava sendo injusto mais uma vez. Passou a mão pelos cabelos, como se aquilo ajudasse á fazê-lo pensar. Por que estava fazendo aquilo? Era o orgulho Malfoy impregnando em sua mente mais uma vez. Por que ela não esqueceu? Por que ele queria?

Sabia o que então faria.

Malfoy se aproximou ás costas de Gina. Com uma mão pegou em seu braço, com a outra a virou, puxando a junto dele. Gina não tivera tempo de argumentar, sua taça caiu e estilhaçou, sentiu o cheiro, uma fragrância de algo, então ele tampou-lhe a boca com um sinal e em dois passos curtos, entraram á porta ás suas costas.

Foram somente cinco segundos para os dois entrarem na outra sala e não serem realmente notados por alguém. Talvez fossem notados, talvez alguém tivesse realmente visto o que acontecerá, um loiro calará uma ruiva e a levara á força para uma sala e este alguém soltaria então um sorriso malicioso, um misto de compreensão.

Com um empurrão, os dois entraram abruptamente pela porta da pequena sala. Um embolado de vestes, um vendaval dentro de uma sala calma com grandes móveis confortáveis e com a aparência de não ter sido habitada á séculos. Ela era habitada na realidade, e seu dono á achava um charme.

A ruiva parou um momento para respirar. Achara que sua presença passara despercebida no salão, mas agora, naquele momento e um tanto tardiamente sabia que não. Não pelo modo como ele a empurrara para aquela sala e o modo como a conduziu, violenta e rápida;

Não havia mais ninguém ali. Estava vazia e por alguns instantes o som dos drinques, os risos e as conversas dos outros bruxos no salão ao lado foram esquecidos, abafados pela porta que acabara de se fechar. Era ele que estava ali na sua frente, uma sombra, mas era ele. Estava de novo á seu delírio real. Draco segurou o pulso de Gina á frente durante toda a manobra, não apertando-a, mas conduzindo os dedos de forma ágil, não permitindo assim que ela escapasse.

- O que você está fazendo aqui?- perguntou ele de forma direta como queria, não ligando para as tentativas dela de se desvencilhar, contorcendo o braço freneticamente. Era uma posse e não era somente enfim curiosidade. Gina empertigou-se, contendo-se para não jogar-lhe na cara o que queria, que ele não poderia tratá-la á aqueles modos.

- Isto não é uma festa particular sua, não que eu saiba, Malfoy - ela por alguns instantes bufou e por fim, deixou sua ira de lado, relaxando um pouco o braço. Devia achar que o drinque que tomara tinha algum entorpecente ou qualquer outro efeito similar.

Era verdade. Era ele mesmo. Diluía o fato de Draco Malfoy estar ali á sua frente, saudável, inteiro, e lhe interrogando como se o tempo tivesse congelado desde a última noite, o que lhe proporcionava uma ruga na testa de indignação e raiva. Odiava ser interrogada.

A ruiva mais uma vez deu um puxão e ele soltou-a inesperadamente, quase fazendo com que ela perdesse o equilíbrio de seu salto.

Abriu a boca para falar mas estava incapacitada. Estava vendo bem agora, o silêncio a fazia compreender melhor. Estava vendo o mesmo Draco Malfoy, talvez só com algumas alterações bobas que os anos fazem nas pessoas, o rosto fino e pontudo, belos traços esquálidos, nos cabelos nenhum sinal de fio branco, e os olhos acinzentados lembravam cada vez mais um vidro fume de uma loja de luxo – ele podia ver o lado de fora, mas você não podia ver o lado de dentro. Tão alto e esguio quanto antes, tão arrogante, tão... Tão!

Draco sorriu e mordeu o lábio, indolentemente. Sabia que naquele silêncio foi ou estava sendo analisado.

As suas costas estavam junto da maçaneta, e com as mãos atrás do corpo verificou se a mesa estava fechada. Como tudo o que tinha, ele julgava suas palavras importantes, e não estava ali para gastá-las em vão.

- Você nunca veio em festas assim. – disse ele lentamente, não era uma pergunta e muito menos uma afirmação. Só queria ouvi-la falar. Talvez quisesse ganhar um certo tempo.

- Você não sabe. Duvido que saiba! – Gina perguntou com brutalidade atacando-o, enquanto cruzava os braços. O que ele sabia, ou julgava saber com aquilo? Achava que ele era a pessoa menos indicada á falar aquilo. Draco observou seus movimentos calculadamente, ela em seu longo de noite, o tom brusco e agitado que por alguns instantes parecia até fazê-la mais alta e inflada. Mas suas mãos eram pequeninas, suas sardas tinha um jeito infantil, provocante...

- Faz muito tempo. Mas eu me lembro das coisas, e como elas eram.

- Não te devo explicações. Saia da minha frente... – titubeou ela em resposta e depois acrescentou rápido e baixinho, enquanto baixava o olhar - por favor.

Draco via que ela hesitava em pegar a varinha, no entanto, não conseguia evitar, queria ver até onde ia seu ímpeto contra ele.

- Por quê? – perguntou ele inocentemente.

A respiração de Gina de repente se tornara mais pesada. Piscou levemente e respondeu o mais delicadamente que podia:

- Por que eu quero sair?

Draco deu um passo para o lado e abriu a porta. Cruzou os braços e a encarou, um olhar penetrante que fez Gina ter medo. Ao ver que ela colocara a mão na maçaneta, ele saiu em saiu em direção á janela. Sua expressão era pedra, pedra que não fora lapidada e olhava todas aquelas luzes lá de fora, a lua grande com as estrelas que pontilhavam o céu.

Passou por ela sem olhar para trás, a porta tão livre como ar. Gina olhou séria e ao sair, parou, sentindo o coração na boca. Para seu espasmo, ele desistiu de retê-la, ou o que assim pareceu-lhe,

Cinco anos. Era tão pouco se for ver que era a idade com que queimara a mão pela primeira vez. Doía pra caramba. Quantos dias tinham cinco anos? Droga, não era boa em cálculos. Mas era um bocado de noites mal dormidas e de olheiras mal disfarçadas, isso era.

Voltou e pensou enfim que estava em uma armadilha para si mesma, talvez em sua armadilha favorita e que tanto odiava horrendamente.

- Você é um maldito. Fale o que você quer falar – disse ela vendo Draco de braços cruzados. Ele tinha andado e dava voltas enquanto andava lentamente, o mesmo andar arrogante de quem pouco se importava. Sorriu. Intimamente, gostou de vê-la voltar. Ele ergueu as sobrancelhas ao vê-la, talvez um pouco divertido.

- Nada. Só queria te olhar mais de perto – disse calmamente. Não estava preparado para falar algo. Nunca fora bom em palavras.

Gina acabou por pensar friamente em uma resposta. Queria ser ácida. Ou mesmo fria como um cubo de gelo, por mais que aqueles dois olhos á indagasse com certo atrevimento e sentisse o mesmo frio na espinha. Sentia ódio.

- Está me irritando, se foi só para isso.

- Eu sei.

Então subitamente ele franziu a cara como se pensasse em algo importante, e veio andando-lhe em sua direção, gingando;

- Sabe o que não entendo? – perguntou o loiro coçando o queixo, a expressão intrigada de quem acha algo curioso. Parou e como não obteve respostas andou na direção da Gina com agilidade e destreza e antes que a ruiva pudesse reagir, ele a puxou com um braço para si, ao mesmo tempo que a colocava contra a parede, com certa violência. A ruiva fechou os olhos com medo, imaginando por alguns instantes se quando batesse a cabeça fosse doer muito mas Draco evitou o baque no último momento, de forma travessa.

Não abriu os olhos. Sabia pela sua respiração que ele estava há milímetros de seu rosto, á sua frente. Achava que estava se sentindo zonza, os olhos só abriram até a metade, com receio de encará-lo.

- Desde quando me tornei Malfoy para você? – perguntou ele abruptamente, a voz baixa mas áspera, como uma necessidade. Seu rosto estava embrutecido, e um uma linha enviesada e fria saia dele.

- Está me machucando – resmungou Gina.

- Não estou não. – disse Draco carinhosamente soltando outra mecha ruiva detrás da orelha. Ele que estava com uma mão em sua cintura e outra em seu ombro continuou, vendo que ela não respondia – Antigamente, você até gostava que eu a puxasse para mais perto de mim assim – disse ele demonstrando, Gina achou que não iria agüentar mais permanecer com os olhos fechados por muito tempo, poderia ser perigoso. Ele baixou dois tons de voz e sussurrou em sua orelha – Parecia até ficar mais animadinha.

- Chega! – disse ela empurrando-o com raiva, o coração meio acelerado, lançando-lhe um olhar gelado enquanto ele o inquiria com olhares maliciosos.

- Ah, sabia que iria abrir os olhos com isso. Ainda quer voltar à mesa de brindes? – perguntou Draco soltando-a e brindando com uma taça imaginária de forma sarcástica.

- Eu vou voltar. Vejo que vai ser o mesmo. Um beijo e até cinco anos depois. – ela respondeu batendo os dentes e pousando a mão na maçaneta. Seu rosto sardento estava indisfarçavelmente marcado

Draco jogou o cabelo para trás e considerou com um aceno de cabeça o que ela dissera.

- Então vamos fazer assim: Eu não vou beijá-la. Vou somente observá-la da forma que mais te irrita, ou como convier, pois farei que você me observe também. – Ela sentiu por alguns instantes que a voz de Draco parecia uma hipnose, que a fazia ceder lentamente. Ele parou e então em um estalo, acabou por completar – Ah, Não, retiro o que eu disse. Acho que não preciso fazer com que você faça isso. – sua voz cheia de ironias estava fazendo cedê-la novamente, Gina mantinha seu rosto impassível embora cada vez mais fosse difícil querer sair; Era proposital - Será que você fugiria de mim aqui? Sabe, sempre gostei de observá-la...

Ele á olhou de seu rosto cheio de sardas até seus pés com algum interesse enquanto ela sentia seu coração acelerar involuntariamente. Se não saísse logo, estaria na mesma armadilha, pois ele sempre conseguia seu intento, devia ser a aura de perigo que emanava dele, que mexia de certa forma com seu emocional. A sensação de prazer dele era tirá-la do sério, de seu controle estável.

- Esta fazendo isso propositalmente, não?

- De jeito nenhum – respondeu ele irônico em um gesto provocante que dizia com todas as letras “é claro que sim”.

- Isto não vai mais funcionar comigo. – respondeu ela. O rosto do loiro á sua frente permaneceu inalterado. Por alguns instantes, achou que tinha acertado algo nele.

- Por mim, tudo bem. Afinal, por que...

- Draco, por favor... Cale a boca! – gritou ela desesperada.

Ele deixou-se interromper, sem entender. Como um gesto inconscientemente ou reprimido, ou até mesmo impulsivo, Gina deixou-se levar fechando os olhos, a mão subindo pelo peito até chegar á nuca de Draco, hesitando de puxá-lo pela gravata. Draco percebeu seus gestos e sentiu-se satisfeito e antes que ela o beijasse, ele murmurou baixinho:

- Cale-a por mim.

E Gina o calou. Ela não o calou por um capricho e sim por uma necessidade, de ter sua boca espremida contra a dele, de tê-lo junto á ti enquanto enlaçava seus braços por seu pescoço e os descia lentamente, querendo explorá-lo, e ele queria ser explorado, ele deixava isso bem claro quando mordiscava de leve seu lábio inferior, como se a castigasse, pois era um grande sorvo em que se afogava, ele a puxava e ela queria ir, ele a provocava e logo, ela o provocava também, mesmo que de repente se sentisse fraca, como se suas próprias pernas fossem uma outra instância.

Calou-o até sentir sua tensão ir, até sentir que teria que respirar e que ambos os hálitos de bebidas alcoólicas eram um só, que amortecia a boca, assim como a consciência.

Afastaram os rostos levemente e quando abriram os olhos, era como se soubessem que cada um deles já era há muito um ser diferente, mas a essência era a mesma. A essência não muda.

- O que você fez durante todo este tempo? Você mudou. – perguntou ela. O loiro a observou com os cabelos um pouco desarrumado e achou engraçado. Em cinco anos ela não mudou o shampoo.

- Não me parece que você tenha mudado - mas ele tinha frizado a palavra 'parece' de uma forma excessiva.

- Eu quero saber o que ocorreu.

- Dois. Mas é uma longa história. – Gina franziu a testa não se convencendo – Grande – acrescentou ele logo em seguida – Chata – Ela sorriu, e vendo que ela não se convencia, desistiu de seu próximo adjetivo.

- Esta festa encerra quando?

- Pra mim já acabou. Mas tem um lugar onde poderia contá-la á você.

E pelo olhar dele, o trejeito de intimação em que as mãos pousaram na calça, e seu ar que suspendeu levemente, ela pareceu saber do que ele falava.

- O quê? Mansão Malfoy? – perguntou descrente, quase pulando para trás - Não, não, não... – seu tom mudou – Sabe o que isso me lembra? Aquelas armadilhas em que um lobo convida uma ovelha para sua casa. Definitivamente, não!

Draco pareceu pouco se importar com armadilhas.

- Ok. Dê a sua sugestão então. Sua casa? – sugeriu, agora sim o que Gina captou como maliciosidade.

Ela ficou um tempo em silêncio, pensando.

- Me encontre daqui á meia hora no térreo – falou por fim saindo com desenvoltura e um farfalhar de tecidos, deixando Draco quase sem ação. Saiu também para o salão e observou o que a ruiva fazia.

Gina despediu-se de Mrs. Charmann com dois beijinhos estalados no rosto, de forma afetada. Talvez soubesse que estivesse sendo observada, então sorria e prolongava as afetações, por vontade.

Draco estava com sua quarta bebida da noite. Não sentia sono e nem fome. Ela terminou o que fazia. Passou á sua frente propositalmente e tirou-lhe-a a taça de sua mão, bebendo dois goles e entregando-a novamente, com um floreio.

- Não está degustando isso rápido demais? - perguntou ela provocando-o.

- Aprendeu a degustar vinho comigo – murmurou ele em resposta.

Andou á frente, saindo de salão para salão e descendo as escadas. Draco á seguiu.

O vento da noite era fresco, lá fora os pios das corujas eram soturnos. Elas estavam livres para voar, para viver. Pararam no Hall. Gina sentia algo á fisgar-lhe pelas costas, mas era ele que adentrava em seus pensamentos com um olhar, e manipulava-a como uma peça. Ficaram frente á frente.

- Então iremos conversar. – murmurou ela, uma brisa mais forte perpassou pelos portões, fazendo suas capas sacudirem. Eram quase estranhos, mas estranhos com passado.

Ele riu.

- Só conversar? – duvidou ele observando as folhas virem á seus pés no chão ladeado e logo depois para ela, tentando-a. Gina tinha um gravíssimo problema na opinião dele: nunca se lembrava do óbvio.

- Isto vai ser diferente...

Não se surpreendeu pela sua resposta firme, como se visse algo que ele não alcançasse, mas sentiu que poderia confiar até o fim que ela faria está frase se tornar realidade.

Havia algo quando ela tinha pronunciado-a, um quê de força.

Alguns minutos depois eles aparataram.





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