Coma Lesmas!



— CAPÍTULO CINCO —
Coma lesmas!




A primeira aula do dia e do semestre era Herbologia. Estudariam agora na estufa três, que guardava plantas muito mais perigosas e interessantes. Neste dia trabalharam com mandrágoras. Hermione ganhou dez pontos para a Grifinória ao responder corretamente que a mandrágora era “um tônico reconstituinte muito forte, capaz de trazer de volta ao normal pessoas transformadas ou enfeitiçadas; e ainda outros dez ao dizer que apesar de seus poderes a mandrágora era perigosa, pois seu grito era fatal.
As plantas com que estavam trabalhando eram muito jovens, por isso seu grito causava danos mas não a morte. Neville provavelmente não tinha usado corretamente os abafadores de ouvido distribuídos pela professora, pois acabou desmaiando.
Logo depois tiveram aula de Transformações, com a profa. Minerva McGonagall, que foi um desastre para Rony. No incidente com o carro voador, sua varinha tinha se partido, e embora ele a tivesse remendado com fita adesiva, ela não funcionava bem. Quando conseguia lançar algum feitiço, era contra o dono.
— Qual a próxima aula? — perguntou Harry, quando os três já almoçavam no Salão Principal.
— Defesa Contra as Artes das Trevas — Hermione respondeu, olhando seu horário. De súbito, Rony tomou-o de suas mãos.
Por que — perguntou ele — você sublinhou o nome de Lockhart com coraçõezinhos?
Hermione corou loucamente. Ninguém deveria ver aquilo, desenhara os corações num momento de distração... Ignorou a pergunta e retomou o horário com a mesma violência de Rony. Manteve o olhar fixo no prato até o fim do almoço, como se tivesse sido repreendida por uma falta terrível.
Após o almoço os três seguiram para a sala da aula de Defesa Contra as Artes das Trevas, que estava toda decorada com fotos de Gilderoy Lockhart pela parede. Elas piscavam e sorriam para os alunos conforme eles passavam. O próprio Lockhart usava vestes azuis muito bonitas, numa combinação perfeita com seus olhos...
— Sejam bem-vindos! — exclamou ele, quando todos já se encontravam sentados. — Eu sou Gilderoy Lockhart, Ordem de Merlin, Terceira Classe, membro honorário da Liga de Defesa Contra Forças do Mal e ganhador do Prêmio Sorriso Mais Atraente cinco vezes consecutivas, mas não falo disso.
Hermione observava o professor, encantada. Rony esbarrou nela de repente, ao que ela respondeu com um olhar furioso. Ele alternava seu olhar de nojo entre ela e o professor.
— Fique quieto. — resmungou ela, desdenhosamente.
Rony ainda detestaria mais o professor; no final da aula, Lockhart soltou diabretes pela sala de aula e ordenou que os alunos os prendessem de volta na gaiola.
— Ele só queria nos dar uma experiência direta — disse Hermione, em defesa do professor.
Direta? — retrucou Rony. — Ele se escondeu debaixo da mesa, não tinha a menor idéia do que fazer!
— Não diga bobagens, Rony. É só ler os livros dele, veja só todas as coisas que ele fez...
— Que ele diz que fez.
Hermione não respondeu, pois sabia que seria de uma forma bem grosseira se o fizesse. Como Rony se atrevia a duvidar de um bruxo como Gilderoy Lockhart?


No sábado, o time de quadribol da Grifinória realizaria seu primeiro treino do ano. Enquanto Harry foi para o vestiário trocar-se com os outros jogadores, Hermione e Rony foram sentar-se para assistir.
— Onde sentamos? — Hermione perguntou, para quebrar um silêncio prolongado entre os dois.
— Ora, Mione, onde mais? Nas arquibancadas! — respondeu ele, como se ela tivesse feito a pergunta mais estúpida que ele já ouvira. Ela, naturalmente, enfureceu-se.
Lógico, Ronald. Eu quis dizer em que parte da arquibancada.
— Ah — murmurou ele, perdendo a fala a seguir.
Hermione suspirou com impaciência e sentou-se na arquibancada mais próxima. Rony sentou-se a seu lado, e ela pôs-se a pensar o quanto seria desagradável ficar ali com ele, naquele silêncio. Descobriu subitamente que sem Harry eles não conversavam; não tinham assunto um com o outro. Ela sentia-se extremamente desconfortável.
Como que para salvá-la, o time da Grifinória apareceu. Logo atrás deles, porém, apareceu um grupo de jogadores da Sonserina, devidamente uniformizados. No mesmo momento, iniciou-se uma discussão entre os dois grupos.
— O que eles estão fazendo aqui? — Hermione murmurou, apreensiva.
— Olha aquilo, Mione... — exclamou Rony, apontando. — Malfoy!
Draco Malfoy fazia parte do grupo. Hermione e Rony entreolharam-se com uma decisão silenciosa; levantaram-se e andaram apressadamente até onde estavam os jogadores. Rony chegou logo inquirindo:
— O que está acontecendo? Por que vocês não estão jogando? O que ele está fazendo aqui?
— Weasley! — exclamou Draco, com fingido entusiasmo. — Já sabe das boas novas? Eu sou o novo apanhador da Sonserina.
— E nós é que vamos treinar aqui hoje. — anunciou outro jogador da Sonserina. —Portanto, podem cair fora.
— De jeito nenhum! — vociferou Olívio Wood, capitão do time da Grifinória. — Eu reservei o campo!
— Temos uma autorização de Snape — o adversário mostrou a Wood um papel em que Snape dizia que era direito da Sonserina treinar seu novo apanhador.
— Mas vocês podem varrer o placar, se quiserem. — disse Malfoy.
— Aliás, — disse ainda um terceiro jogador da Sonserina. — falando nisso temos mais uma notícia. O pai de Malfoy comprou vassouras novas para todo o time... A nova linha Nimbus 2001.
Hermione viu claramente os olhos de Rony cintilarem ao olhar para as vassouras.
— Estas vassouras valem mais que a sua casa, não é Weasley? — provocou Malfoy.
Com isso, Hermione teve vontade de quebrar-lhe a vassoura na cabeça. Postou-se na frente de Rony, como que para protegê-lo da humilhação, e disse indignada:
— Pelo menos nenhum jogador da Grifinória precisou pagar para entrar no time; entraram por puro talento.
— Ninguém pediu a sua opinião, sangue-ruim. — retrucou Malfoy, com impacto. Todo o time da Grifinória alvoroçou-se contra ele; Rony avançou nele subitamente, furioso.
— Você me paga! — gritou ele, sacando a varinha e apontando-a para Malfoy. Porém, a luz amarelada que saiu dela atingiu o próprio Rony na barriga, e derrubou-o alguns metros mais longe.
— Rony! — Hermione gritou imediatamente, correndo até onde ele estava caído. Harry e os outros jogadores da Grifinória a seguiram, enquanto os da Sonserina rolavam de rir.
Rony tentava levantar-se, mas se desequilibrava nas interrupções feitas por arrotos dos quais saltavam-lhe enormes lesmas da boca. Hermione teve vontade de abraçá-lo por tê-la defendido, de estapeá-lo por ter usado a varinha quebrada, mas acima de tudo queria que aquelas lesmas parassem de lhe escapar boca afora.
— Vamos levá-lo à casa de Hagrid — disse Harry, decidido, e os dois levantaram o amigo, enlaçando-o pela cintura. Saíram a andar depressa na direção da cabana onde Hagrid morava.
Ao chegarem lá, viram Gilderoy Lockhart saindo da cabana, o que fez Harry suplicar que se escondessem.
— Não quero que Lockhart me veja de jeito nenhum, porque sempre que isso acontece, ele vem me dar conselhos insuportáveis sobre fama...
Quando o professor já estava longe, Hermione e Harry saíram do esconderijo levando Rony, e bateram à porta. Hagrid abriu com impaciência.
— Oh, são vocês! — disse, mudando de expressão imediatamente ao vê-los. — Pensei que fosse Lockhart outra vez... Estava mesmo imaginando quando viriam me ver; entrem.
E ele se afastou para dar-lhes passagem.
— Precisamos de sua ajuda, Hagrid — disse Hermione apreensiva. — Algo terrível aconteceu com o Rony, ele...
Ela não precisou explicar mais, pois nesse momento Rony vomitou três lesmas enormes, como que para ilustrar o que ela dizia. Hagrid trouxe um balde onde Rony pudesse vomitar, acomodou-o no sofá e disse:
— Infelizmente, tudo o que temos a fazer é esperar. Não irá demorar muito a passar... Agora me digam, quem ele estava tentando enfeitiçar?
— Draco Malfoy. Mas como a varinha dele está quebrada, o feitiço veio na direção oposta... — respondeu Hermione, olhando com muito pesar a cena deprimente que era Rony segurando o balde e vomitando incontáveis lesmas dentro dele.
— Ele disse alguma coisa da Mione que deixou Rony furioso... — disse Harry.
Rony respirou fundo e falou, pela primeira vez desde que tinham chegado ali:
— Ele chamou a Mione de sangue-ruim! — disse, com indignação na voz.
— Ele não fez isso! — disse Hagrid.
— Fez sim. — disse Hermione. — Não sei exatamente o que significa, mas sei que é uma grosseria muito grande...
Rony outra vez fez um esforço para falar:
— É a pior maneira de ofender um bruxo nascido trouxa! Algumas famílias de bruxos gostam de se chamar de “sangue-puro”, mas hoje em dia a maioria dos bruxos é mestiça; se não tivéssemos nos casado com trouxas teríamos sumido do planeta. Esse preconceito é uma idiotice, vejam o Neville por exemplo, ele é de família bruxa mas não tem o menor talento...
— E ainda não inventaram um feitiço que a nossa Mione não saiba fazer — disse Hagrid, terno. Hermione sentiu o rosto quente, devia estar corada. Sorriu, fizera-lhe bem ouvir aquilo dos amigos.
Com o passar do tempo, a freqüência com que Rony vomitava lesmas diminuiu, assim como o tamanho delas. Hagrid ofereceu aos três chocolates e mostrou-lhes sua plantação de abóboras.
— Sua irmãzinha esteve visitando minhas abóboras — disse Hagrid a Rony. — Mas desconfio que ela queria encontrar outra coisa quando veio aqui... Ou melhor; outra pessoa.
Hermione olhou diretamente para Harry, que corou ao perceber que era dele que Hagrid falava.
— Mas que bobagem — foi o que ele disse, voltando a entrar na cabana.
Quando os três já voltavam para a escola, acabaram encontrando a profa. McGonagall.
— Aí estão vocês, Weasley e Potter. — disse ela. — Vocês cumprirão sua detenção hoje à noite. Weasley, você vai ajudar o sr. Filch a limpar os troféus da escola; e você, Potter, ajudará o prof. Lockhart a responder as cartas dos fãs.
A detenção devia-se ao incidente com o carro voador do pai de Rony. Hermione sentiu pena dos dois, mas afinal de contas, eles mereciam... Não disse nada, porém, enquanto eles reclamavam.
— Filch vai me prender lá a noite toda! E McGonagall ainda disse que nem vou poder usar mágica para limpar os troféus...
— Eu trocava com você, se pudesse — disse Harry. — Responder cartas de fãs com Lockhart vai ser um pesadelo...
— Venham, meninos. Vamos almoçar. — Hermione enroscou o braço nos braços dos dois. Olhou de canto para Rony; as orelhas dele estavam absurdamente vermelhas. Ela sorriu.
Rony parou e desvencilhou-se, de súbito, assustando os outros dois. Com uma tosse forte, vomitou uma lesminha.

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