Adeus



Hermione estava com as mãos e pés amarrados à grande poltrona da Mansão de Bellatrix. Ela não estava com medo. Sabia que Harry viria socorrê-la; e na pior das hipóteses, Malfoy. O que não era pior, naturalmente. Não era nem ruim. Era muito bom, pra falar a verdade. Adoraria ver tanto um quanto o outro. Não, como assim? Harry era seu namorado, ela tinha que preferir vê-lo a qualquer outro homem! Mas...será que ela realmente sentia isso? Será...?

~~*~~

Harry, Draco e Rony aparataram na Rua St. Broderick Lee. A rua estava silenciosa e vazia, e o sereno os deixava com frio. Mas o frio era a última coisa com a qual estavam preocupados naquele momento. Eles respiravam rápida e afobadamente, por causa do frio e do nervosismo. Ninguém falou, até Draco parar Harry de supetão.
- Nós precisamos de um plano.
- Não precisamos de plano nenhum – Harry tirou as mãos de Draco do seu ombro – Nós simplesmente entraremos na casa e tiraremos Hermione de lá.
- Precisamos de poção polissuco. Eu vou me transformar em você, Potter.
- Ficou louco? Não temos tempo para isso!
- Só me escuta. Voldemort estará lá. Ele provavelmente tentará te matar. E cuidará de mim mais tarde...eu o trai duas vezes! Eu não me importo se ele me matar...não tenho mais motivos pra viver. Meus pais morreram, e a pessoa que eu mais amo no mundo está predestinada a amar outro. – os dois se encararam. – Se eu me transformar em você, eu apareço e tento dar uma de herói, como você sempre faz, e deixo Voldemort me matar no lugar dela.
Os três ficaram em silêncio, um esperando o outro se pronunciar. Harry o fez:
- Por que você está fazendo isso?
- Porque eu a amo mais do que a minha própria vida. E se ela fica feliz ao seu lado, eu fico feliz por ela.
- Eu não posso deixar você morrer no meu lugar, Malfoy. Eu não te odeio tanto assim. E nenhum de nós precisa morrer. É só...
- Não adianta. Você não vai me convencer. Faça isso por mim; ou melhor, por ela. Pense que você vai poder passar o resto da sua vida ao lado dela.
Harry mordeu seu lábio. Rony não se pronunciara em nenhum momento na conversa.
- Por favor. – Draco estava quase chorando.
- Mas nós não temos tempo suficiente para esperarmos a poção ficar pronta!
- Eu tenho um pouco de poção pronta aqui comigo.
Harry não achava mais argumentos. Não queria que outra pessoa morresse em seu lugar, mas Hermione...
- Vamos lá, Potter. Dê-me um fio de cabelo seu.
Harry lentamente arrancou um fio seu e entregou a Malfoy, que pôs dentro de uma recipiente dourado e depois chacoalhou. Levou à boca e tomou um golão, fazendo uma careta ao engolir. Em alguns segundos sua mão diminui, seu nariz alargou, seus olhos aumentaram, seu cabelo se desarrumou.
- Os óculos, por favor. – depois que Harry o entregou, Malfoy realizou um feitiço para melhorar a visão de Harry. – Ótimo. Agora vamos. Potter, acho melhor você se transformar no Weasley. Só permaneçam embaixo da capa de invisibilidade.
Os dois se olharam e continuaram andando. De repente avistaram uma casa de madeira, bem simples. Ela tinha apenas um andar, com janelas baixas com cortinas rasgadas por dentro. Draco informou:
- Essa é a casa. – notando as expressões de interrogação de ambos, completou – Está sob um feitiço, a casa é uma mansão. Malfoy estendeu a varinha e deu duas chacoalhadas. Abriu uma porta invisível e esperou Harry e Rony passarem, para depois fechá-la. Assim que atravessaram a porta, o terreno da casa duplicou e aquela simples casinha transformou-se numa mansão enorme, com jardins verdes floridos, estátuas de deusas e chafarizes. Os dois pararam de caminhar, maravilhados.
- Vamos logo! – Malfoy apressou-os. Eles foram se esgueirando, quase se arrastando pela grama perfeitamente cortada, úmida por causa do sereno da noite. Malfoy pediu licença, e apontou sua varinha para o chão, que se tornou uma porta de alçapão. Eles entraram e foram tateando no escuro, até acharem uma parede empedrada. Malfoy passou levemente o indicador por entre os pedaços irregulares de paralelepípedos. A parede foi virando-se para a direita, silenciosamente. Os três se esgueiraram pelo pequeno espaço entre a parede rotatória e o limite da direita, e entraram em uma sala vazia sem portas ou janelas. O loiro sussurrou um feitiço, e uma escada proveio do teto. Os três subiram lentamente, tentando fazer com que a capa cobrisse todos as partes de seus três corpos. Malfoy estava na frente. Olhou por cima do corrimão e avistou Hermione amarrada, com a cabeça entre os joelhos. Simplesmente alegou “não saiam daqui e não façam nenhum ruído”, e saiu de baixo da capa de invisibilidade, e correu até Hermione.
- Hermione! – sussurrou, pondo as mãos nela.
A garota levantou a cabeça e agarrou-o.
- Harry, eu sabia que você viria! – Ela falava baixinho. Malfoy achou errado enganá-la, mas quando Hermione beijou sua boca, ele esqueceu toda a ética que tinha para poder continuar beijando-a. Como isso era bom, ele pensou. Nem pensou sobre a fúria que se formou dentro de Harry naquela hora. Estava beijando-a ainda quando começou a ouvir palmas descompassadas, vinda do corredor. Virou-se e viu Voldemort flutuando, em sua direção. Sentiu uma dor em sua cicatriz.
- Sabe Harry. Acho que eu sou a pessoa que mais te conhece. Estava contando os segundos para a sua chegada.
Malfoy apertou os olhos e disse:
- Faça o que quiser comigo, só não encoste nela.
- Você está se entregando para mim, Harry Potter?
Malfoy respirou fundo. Agora não tinha mais volta.
- Estou. Mate-me, só, eu imploro, não faça nada com ela.
- Harry, não faça isso! – Hermione não entendia nada.
Malfoy lançou um olhar a ela. Um simples olhar, tentando explicar tudo a ela. E por mais impossível que pareça, ela entendeu. Hermione entendeu que aquele era Draco Malfoy, e não Harry. Mas isso não mudava as coisas para ela, tampouco queria que Malfoy morresse.
- Muito bem, Harry. Acho que estamos finalmente nos entendendo. Mas não vou matá-lo agora, naturalmente. Ou você se esqueceu do nosso encontro anterior? Ainda não desisti daquilo. Mas sabe...você já me fez sofrer muito. Tudo em que eu pensava cuidadosamente, lá estava você para estragar. Acho que, como parceiros de agora em diante, devemos acabar nossas dívidas, não acha? Temos que nos tornar quites. Infelizmente para você, o único jeito que vejo para compensar tamanha crueldade de sua parte, é matando sua querida namoradinha.
- Não! Por favor, não faça isso! – Malfoy começou a chorar. – eu faço tudo que quiseres!
- Ah, Harry...eu sei que fazes...mas não adianta, agora já me decidi. – ele começou a apontar a farinha quando Malfoy apontou a sua também, e logo estavam duelando. Harry cochichou a Rony que iriam, sincronizadamente, escorregar até onde Hermione estava para desamarrá-la de lá, sem que ninguém percebesse. Mas enquanto se descuidaram, Bellatrix apareceu do escuro, e depois disso, só ouviu-se um grito de dor.
E vinha de Hermione.
Bellatrix tinha cravado sua adaga no peito de Hermione, pegando coração e pulmão ao mesmo tempo.

~~*~~

Hemione arregalou os olhos e levou suas mãos ao lugar onde a adaga estava. Começou a respirar mais forte e todo mundo se congelou. Ela olhou suas mãos e as viu encharcada com seu próprio sangue. De repente, elas ficaram pesadas. Ela viu sua própria imagem no espelho a sua frente sucumbir aos poucos.

~~*~~

Harry e Rony assistiram Bellatrix deslizar até Hermione e atravessá-la com uma adaga. Em um primeiro segundo se petrificaram mas, num reflexo, livraram-se da capa, o que causou um tremendo choque em Bellatrix e Voldemort, que não acreditavam em seus olhos. Dois meninos iguais; e vindos do nada? Rony correu até Hermione e a abraçou, assim o fez Malfoy. E Harry, simplesmente ficou cara a cara com Voldemort, e rangeu seus dentes
- Surpresa.
Malfoy se juntou a Harry e, com um simples olhar combinaram: como se contassem até 3, em sintonia perfeita, lançaram um Avada Kedavra direto no peito de Voldemort. Que simplesmente fraquejou seus joelhos e caiu em cheio no chão, e agora quem gritava era Bellatrix. Com esse berro, Harry se lembrou que teria que matá-la também; mas Malfoy foi mais rápido: torceu os calcanhares e usou o mesmo feitiço que antes. Sem nem olhar para trás, correu até Hermione, junto com Harry.

~~*~~

Hermione estava gelada. Rony a abraçava e chorava, e agora Harry e Draco tinham vindo se juntar a eles. Todos os quatro choravam, Harry manteve suas mãos quentes e suadas no rosto frio como mármore de Hermione. Beijou sua boca e afundou seu rosto no peito dela. Malfoy esquentava sua mão gelada e a beijava também. Rony fazia cafuné em seus cabelos.
Hermione se esforçou o máximo que podia para pronunciar as palavras:
- Eu amo vocês...todos vocês...- ela falava devagar e com dificuldade – muito obrigada por tudo.
- Hermione, agüente! Vamos, todos se dêem as mãos, vamos para Hogwarts! – Harry chorava descontroladamente
- Não, Harry...está tudo bem. Estou morrendo ao lado de quem eu amo, diga a meus pais que eu os amo também.
- Não diga isso, você vai sobreviver! – Harry tentava soar convincente, mas não sabia se ele mesmo acreditava em suas próprias palavras.
- Harry...me dê um último beijo...- ela ofegava. Harry obedeceu.
Malfoy se abaixou para beijá-la também e em um quarto de segundo, Harry sentiu sua raiva subir; mas Draco a beijou na bochecha, e assim fez Rony. Assim que o último reergueu a cabeça, a menina não mais respirava.
- NÃO!!! HERMIONE, NÃO! AGÜENTE, POR FAVOR... – as duas últimas palavras perderam o volume: ele tinha sido vencido. Agora chorava convulsivamente afundado em Hermione fria como uma pedra, e Rony e Draco choravam muito também. Por quase meia hora, eles ficaram lá; chorando, sem trocar uma palavra.
QUINZE DIAS DEPOIS


Harry se olhou no espelho. Estava pálido, magro, inchado. Desde a morte de Hermione tinha se isolado de tudo e todos; só saia do seu dormitório para assistir às aulas (e às vezes nem isso) e chorava o tempo todo quando permanecia nele. Não teve coragem de ir ao seu funeral, e agora se arrependia disso. A única pessoa com quem conversava fora Rony era, surpreendentemente, Malfoy. Ele identificava a sua dor com a de Malfoy, sabia que a sua perda era tão grande quanto para ele também. Não falavam muito sobre Hermione; embora ela tenha permanecido em seus pensamentos por um longo tempo. Abriu a cortina lentamente e olhou para fora. O céu estava cinza. Havia nuvens carregadas, como se ameaçassem um temporal, e as árvores estavam sem folhas nenhuma, como no auge do outono. Harry calçou os sapatos e saiu do quarto.
Foi desviando por todos; não queria encontrar ninguém. Finalmente chegou aos jardins, mas logo se arrependeu: eles traziam muitas memórias da sua amada. Pensou em voltar mas, ao olhar para os lados, não notou nenhuma presença muito perto. Lentamente observou o lago cinza escuro e foi caminhando, devagar, até sua borda. Encarou-o. Olhou para o céu e sussurrou as palavras “Eu te amo, Hermione”, e afundou. Deixou a água gelada petrificar seus músculos, e foi afundando lentamente, vendo cada vez mais o pedaço de céu se afastar dele. Enquanto seus pulmões gritavam por ar, ele sorria: a dor ia passar, e logo ele estaria do lado da pessoa que ele mais amava no mundo: Hermione.

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