Instintos Lupinos



06- Instintos Lupinos




04 de Outubro de 1976.





O crepitar das chamas acolhedoras da lareira era o único som que quebrava o silêncio daquele fim-de-tarde nebuloso.

-Sirius! - Tonks chamou, olhando o rapaz que estivera sentado, de braços cruzados, numa das poltronas da sala comunal. - Anda, Sirius, fala comigo, vai?!

O rapaz moreno ergueu os olhos de algum ponto nas paredes que só ele era capaz de ver, e olhou para a garota de cabelos vermelho-sangue à sua frente.

-Sirius, é sério, não fica chateado comigo não!

-Eu não estou chateado. - Ele respondeu. - Eu só estou... pensando.

Desde que Tonks comunicara a sua vontade de achar uma solução para a sua viagem no tempo, que ela sempre se deparava com um Sirius mais sério, taciturno, e... magoado também.

-Sirius...

Tonks o chamou novamente, e sentou-se num dos braços da poltrona onde o rapaz estava sentado. Abraçou-o carinhosamente pelos ombros, encostando a sua cabeça na dele, mechas negras e vermelhas misturando-se.

-Eu apenas estou pensando que logo você irá embora e... - Sirius suspirou. - Sei lá, já estava me acostumando com você por perto. Era quase como conviver com a Andie novamente.

E um sorriso se formou nos lábios da garota. Ela sentia um imenso orgulho em ser comparada com a mãe. Admirava mais do que tudo, a coragem que Andrômeda tivera em abandonar a família - que apesar de tudo era sua família - por causa de um amor, ir contra as crenças e convicções que lhe foram ensinadas desde criança, aceitar aquilo que os seus pais lhe ensinaram ser errado e desprezível.

Sim, Tonks admirava a mãe mais do que qualquer pessoa, pois abandonara a postura tacanha que suas irmãs Narcisa e Bellatriz tinham, e seguiu o seu coração, deixando de lado todo o preconceito.

-Ah, Sirius, não fica assim! Eu também adoro conviver com você e os outros, mas você tem que entender que eu não pertenço à sua época.

-Tudo bem, Tonks! - Sirius sorriu. - Meu bom Merlin, como eu ando emotivo!

O rapaz sacudiu a cabeça, como se estivesse afastando um mosquitinho particularmente chato e incomodo, e se pôs de pé agilmente. Tonks escorregou do braço da poltrona e acomodou-se rapidamente no lugar onde Sirius estivera sentado, observando o maroto andar de um lado para o outro, em frente à lareira.

-Bem, já que é assim, eu vou tentar te ajudar! - Ele falou, uma mão apoiada no queixo, parecendo pensativo. - Você acha que na biblioteca possa ter um livro que tenha o tal feitiço que você não sabe qual é e nem se ele existe. - Tonks abriu a boca, mas foi contida por um gesto do primo. - Pelo jeito, se esse livro estiver na biblioteca, ele está na sessão reservada, ou seja, no nosso objetivo.

-Nosso objetivo? - Tonks ergueu uma das sobrancelhas.

-Bom, eu estou te ajudando nisso, não é? Então também é meu objetivo.

Tonks suspirou. Aquele jeito decidido, dominador e ao mesmo tempo maroto, era um tanto... assustador. Bom, assustador para qualquer outra pessoa, mas a garota identificava ali um pouco de sua própria personalidade.

-Então o que nós vamos fazer, oh grande pensador? - a garota ironizou, enrolando uma mecha do seu cabelo colorido no dedo.

-Simples, minha cara Nymphadora. - Sirius estacou e lançou um olhar misterioso. - Nós vamos entrar na sessão reservada da biblioteca.

Aventura. Era isso o que Sirius queria ter. Já não achava o bastante dar um passeio com um lobisomem uma vez por mês. Ele também queria invadir a biblioteca e surrupiar um dos livros proibidos aos alunos.

-Eu já pensei nisso, tolinho! - Tonks replicou, mas com um sorrisinho debochado no rosto. - Mas acho que esse tem que ser o nosso plano B.

-E nós temos um plano A? - Ele perguntou.

-“Nós” não, mas “eu” tenho.

-Uh, então quer dizer que a minha adorada Nymphadora andou planejando coisas pelas minhas costas. - Sirius deu uma fungada, parecendo falsamente choroso. - E qual seria o seu plano A?

Tonks se levantou e Sirius voltou a ocupar o seu lugar na poltrona.

-Eu acho que vou falar com o Slughorn. - ela disse com simplicidade. - Calma, Sirius, deixa eu falar antes. - Ela replicou, vendo que Sirius ia reclamar. - O Slughorn me adora...

-Você não é nada modesta, né?

A garota não deu atenção e continuou falando:

-...então eu vou tentar enrolar ele, pra ver se ele me dá uma autorização especial pra pegar um livro da sessão reservada. - E agora a garota exibia um sorrisinho malvado. - Eu ia adorar esfregar aquela autorização na cada da Madame Pince.

-Mas tem uma falha nesse seu plano. - Sirius estava com a testa franzida e os braços cruzados. - O Slughorn vai querer saber o motivo pra você querer o tal livro que nós nem sabemos se existe. Se ele descobre o que é, vai acabar contando pra McGonagall ou até mesmo pro Dumbledore.

-Sirius...

-Não, agora você vai ter que me ouvir. - Sirius fez uma pausa e limpou a garganta. - O Slughorn não pode saber pra que é esse tal livro, entendeu? Senão ninguém vai deixar você tentar voltar pra sua época sozinha, porque...

-...porque eu sou só uma estudante, porque tudo pode dar errado e eu parar na época em que Merlin nem tinha barbas e blábláblá...

-Exato.

Tonks começou a massagear a testa, como se assim, fosse capaz de extrair alguma solução de dentro da sua cabeça para o seu problema.

-Bom, mas se você quiser tentar, não custa nada - Sirius encolheu os ombros. - Se não der certo, a gente vai para o plano B.

A garota abriu um sorriso e jogou o seu cachecol no primo.

-É isso mesmo o que você quer, não é, seu tratante?! - Ela gargalhava. - Pois bem, se não der certo o meu plano, vou pensar se você vai comigo na sessão reservada.

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06 de Outubro de 1976.




Nunca em todos os seus dezessete anos de vida, Tonks fora tão cuidadosa em uma aula de poções. Cada movimento seu fora pensado e repensado, para que não ocorresse nenhum tipo de acidente.

Slughorn estava encantado. Achava que era mérito unicamente seu, o fato de Tonks estar sendo tão cuidadosa na sua aula. Ela não era uma brilhante preparadora de poções, mas conseguira preparar a sua de maneira correta e, pasmem, sem derrubar nada. Bem, ela dera uma ou outra tropeçada, mas isso já era esperado. Afinal, por mais cuidadosa que estivesse naquele dia, ela ainda era Nymphadora Tonks, a criatura mais estabanada do universo.

-Ah, meus caros, meus caros. - Slughorn andava pela classe, analisando as poções dos poucos alunos do sétimo ano que estavam na masmorra. - Resultados muito satisfatórios nessa aula.

Por detrás de seu enorme bigode, o Profº dera um sorriso de puro orgulho para Lilly e depois uma piscadela carinhosa para Tonks.

A garota parecia satisfeita e deu uma olhada para trás, onde Sirius, James e Remus dividiam a mesma carteira. Sorriu amplamente para Sirius, como se dissesse que tudo estava saindo conforme o planejado.

Naquele momento, o sinal que indicava o final das aulas daquele dia tocou. Os alunos rapidamente arrumaram as suas coisas, e começaram a sair. Propositadamente (e Tonks nunca achou que fosse fazer isso de caso pensado) ela deixou um dos vidrinhos com a sua poção para animar cair, deixando o chão repleto de poção e caquinhos de vidro.

-Precisa de ajuda?

Tonks, que estivera terminando de arrumar vagarosamente a sua mochila, ergueu os olhos e deparou-se com os olhos cor de âmbar de Remus Lupin, encarando-a com gentileza.

-Não precisa não, Remus. - Ela sorriu. - Eu consigo me virar sozinha

-É, Aluado, deixa a Tonks aí. - Sirius apareceu do lado do amigo, puxando-o pela manga das vestes. - Vamos logo pro salão principal que eu to morrendo de fome.

E Sirius saiu arrastando Lupin masmorra afora, dando um sorriso cúmplice à Tonks.

Além de ter demorado um bom tempo para arrumar a mochila, Tonks demorou mais ainda para limpar a sujeira feita por ela. Slughorn parecia distraído, corrigindo alguns trabalhos em sua escrivaninha.

Respirando fundo e esboçando o seu sorriso mais cativante, ela se aproximou da mesa do Professor. Até optara por uma aparência mais discreta usando cabelos castanhos e olhos azuis, para enredar o pobre Slughorn mais ainda em seus interesses.

-Ah, minha cara, ainda não foi para o salão principal? -Slughorn perguntou, curioso, quando ergueu os olhos de seu trabalho. - Vai perder o jantar.

-Eu queria dar uma palavrinha com o Senhor. - E Tonks abriu um sorrisinho afetado que, ela observara nas últimas semanas, fazia grande sucesso em sua tia Narcisa.

-Pois não? No que posso ser útil?

-Bem, eu gostaria de pesquisar um livro na biblioteca e... - Tonks dera uma pausa dramática, tempo suficiente para fazer um beicinho. - Eu não consegui achar. Fiquei realmente chateada e Madame Pince não me deixou pesquisar na sessão reservada.

-E o que eu posso fazer pela senhorita? - Agora o olhar do Profº encarava Tonks atentamente.

-Eu gostaria... se fosse possível, é claro, de uma... autorização pra entrar na sessão reservada.

-Uma autorização pra entrar na sessão reservada... - Slughorn repetiu lentamente, parecendo considerar o pedido.

Tonks notou que o Profº não iria fazer objeções a isso e parecia disposto a ceder ao seu pedido, quando uma batida na porta da masmorra foi ouvida.

-Entre!

Um rapaz alto, magro e pálido entrou. Por detrás da cortina de cabelos oleosos, um sorrisinho de escárnio se formou em seu rosto ao se deparar com Tonks na masmorra.

-Ah, Severus, que bom que você voltou. - Snape se aproximou e inclinou a cabeça cordialmente para Tonks, cumprimentando-a ironicamente. - São aquelas poções que estão no último armário que eu gostaria que você reproduzisse.

-Certamente, Profº - Snape encarou Tonks atentamente, levemente curioso. - Então eu posso deduzir que a Srta. Tonks irá me ajudar com as poções, estou certo?

Tonks respirou fundo e mordeu o lábio inferior.

-Ah, não, a minha querida Nymphadora só veio dar uma palavrinha comigo. - Slughorn falou para Snape e depois se voltou para a garota. - Só por curiosidade, qual o assunto da sua pesquisa?

-Eu... bem... - Tonks começou a gaguejar, ao notar que Snape parecia particularmente interessado no assunto. - Era sobre feitiços...

-Feitiços? - O profº encarou a garota, um leve sorriso no rosto. - Posso deduzir que seja alguma pesquisa escolar, não é mesmo?

“Merlin, porque esse interesse todo? É só rabiscar a sua autorização num pedaço de papel que fica tudo certo”

Tonks respirou fundo outra vez e abriu outro sorrisinho afetado. Quando abriu a boca para responder, a voz suavemente odiosa de Snape foi ouvida.

-Pesquisa de feitiços? Que interessante... - Ele murmurou. - Não me recordo de nenhuma pesquisa escolar que o Profº Flitwick tenha pedido aos alunos. Tem pesquisado algum assunto por sua própria conta, Srta?

“Juro que antes de voltar pro futuro eu lanço uma azaração bem potente nas fuças desse morcego gigante”

Tonks notou que se revelasse qual o assunto da sua pesquisa, Slughorn deduziria as suas intenções rapidamente e não poderia mentir (não mais do que já estava fazendo) senão não conseguiria obter a sua autorização.

-Bem, era só uma pesquisa boba, sabe. - Ela falou animadamente, ocultando o desejo assassino de azarar Snape. - Mas não era nada importante. Pode deixar, Profº Slughorn, vou tentar convencer Madame Pince outra vez.

-Mas, Nymphadora... - o Professor parecia confuso. - E a autorização?

Tonks suspirou e deu de ombros. - Deixa pra lá. É sério. Não era tão importante assim.

E antes que Slughorn pudesse indagar alguma coisa, a garota se despediu, tendo como resultado de seu “brilhante” plano A, uma bela frustração. Com passos pesados e desanimados, ela subiu vagarosamente até o salão principal, onde os alunos já estavam reunidos para o jantar. Alcançou a mesa da Grifinória e sentou-se num lugar vazio entre Sirius e Alice.

O maroto lançou um olhar de curiosidade à garota, que tinha um enorme bico no rosto.

-Pode ficar feliz, Sirius, porque o meu plano deu errado. - Ela sussurrou, perto do ouvido dele.

Ante o olhar indagador do primo, ela explicou rapidamente o que tinha acontecido. Apesar de ter xingado Snape na mesma proporção de Tonks e de ter jurado ajudá-la a azarar o sonserino, o maroto não pôde deixar de rir da cara de indignação que a garota exibia.

Quando terminaram de jantar, rumaram à sala comunal da grifinória, juntamente com os outros marotos. Tonks sentou numa das poltronas perto da lareira, mordendo o lábio inferior, parecendo pensativa, enquanto observava James e Peter disputarem uma partida de Snap Explosivo.

-Você não vai desistir de procurar esse tal feitiço, não é? - Sirius perguntou, sentando displicentemente numa poltrona.

-Não mesmo. - Tonks respondeu, decidida. - Eu vou entrar na sessão reservada e achar o tal feitiço. Você vai ver! - E a garota se ergueu rapidamente da poltrona com um sorrisinho de canto de boca. - E vou entrar lá hoje.

-Nós vamos entrar, você quer dizer! - Ele retrucou.

-Não, Sirius, eu vou entrar lá. E sozinha.

-Mas Tonks...

-Sirius - a garota suavizou a expressão. - Eu preciso que você fique por aqui e me dê cobertura, entendeu? Se alguém perguntar por mim, eu preciso que você arrume uma boa desculpa.

E nos minutos seguintes, os dois ficaram discutindo. Sirius queria a todo custo ir com Tonks à sessão reservada, mas a garota achava que era questão de honra ir sozinha. Queria provar à si própria que era capaz de alcançar o seu objetivo sem a ajuda de ninguém. Realmente, Tonks era teimosa e um pouco cabeça dura e nem mesmo Sirius conseguiu persuadi-la a desistir daquela idéia estúpida.

-Então fica aqui só mais um pouquinho que eu sei de algo que vai te ajudar. - Sirius falou, depois de ter desistido de convencer a teimosa da prima.

O maroto se levantou do lugar onde estava sentado, cochichou alguma coisa no ouvido de James e subiu para o dormitório masculino. Alguns instantes depois, ele estava de volta, com algo escondido dentro do suéter.

-Vem! - Ele murmurou, puxando a garota pela manga das vestes.

Os dois saíram pelo buraco do retrato e entraram numa sala vazia naquele mesmo corredor.

-Sirius, o que... - E Tonks se calou, ao ver Sirius retirar uma capa de tecido brilhoso e prateado de dentro do suéter.

-Eu pedi emprestado pro Pontas. - Ele explicou, jogando a capa por cima do ombro da garota. - Falei que você tinha um encontro e não queria que ninguém a pegasse no flagra.

Tonks arregalou os olhos quando olhou para baixo e viu que o seu corpo estava invisível.

-Maneiro! - Ela sorriu, mirando-se de todos os ângulos possíveis.

-Eu preferia que você ficasse com o mapa do maroto, mas o Aluado está com ele, sabe.

-Ai, Sirius... - Tonks enforcou o primo num abraço apertado. - Você é o máximo, sabia?

Sirius abriu um sorriso satisfeito e retribuiu o abraço.

-Claro que sei... - Ele se afastou e cobriu a cabeça da garota com a capa. - Agora vai, antes que fique mais tarde.

~~//~~//~~//~~

Uma das coisas que Remus Lupin mais gostava por ser monitor era o poder de ficar vagando pelos corredores de Hogwarts à noite. Era um dos raros momentos onde ele conseguia ficar sozinho e divagar livremente, sem ter que justificar os seus pensamentos à ninguém. A sensação de paz e tranqüilidade que sentia nos corredores silenciosos à noite era muito reconfortante.

Caminhava à esmo, as mãos enfiadas dentro dos bolsos da calça e os ombros encolhidos, tentando se proteger da corrente de ar frio daquela noite gélida de outono.

Já passava das dez horas da noite, ele constatou, ao olhar para o seu relógio de pulso. Soltou um bocejo preguiçoso e antes de retornar à torre da grifinória, resolveu dar uma espiada no mapa do maroto, para saber se não tinha nenhum aluno em algum lugar inapropriado.

Os olhos percorreram a extensão amarelada do mapa rapidamente, até deterem-se num ponto que estava na biblioteca: Nymphadora Tonks.

Remus franziu as sobrancelhas, confuso. O que aquela garota estaria fazendo àquela hora na biblioteca?

Mesmo que ele não fosse um monitor, teria ido até lá de qualquer jeito. Aquilo o deixara extremamente intrigado. Guardou o mapa novamente dentro do bolso interno da capa e se encaminhou para lá.

Enquanto isso, Tonks estava encarrapitada no alto de uma escada, revirando uma das prateleiras mais altas da sessão reservada da biblioteca. O único livro que estava mais próximo do que ela buscava, era um que falava sobre métodos para reverter feitiços acidentais.

A garota já estava cansada, a varinha acesa presa entre os dentes, tentando enxergar alguma coisa na pouca iluminação do aposento. Tendo a certeza de que o máximo que ela conseguiria fazer era reverter o suposto feitiço que a levou ao passado, ela se deu por satisfeita com o livro que tinha conseguido. Já estava se preparando para descer, quando...

-Lumus!

... uma nesga de luz recaiu sobre ela. Piscando bobamente, ela protegeu os olhos com as costas da mão, até poder se acostumar com a luz que incomodava a sua vista. Quando conseguiu enxergar melhor, viu Remus parado ao pé da escada onde ela estava, a varinha acesa em punho, um olhar de curiosidade lançado a ela.

-Hum...olá! - Ela respondeu inocentemente, como se fosse comum visitar a sessão proibida tarde da noite. - Beleza, Remus?

-O que você está fazendo aí, Tonks? - Ele perguntou calmamente.

-Não me peça pra explicar isso pra você, Remus. - Tonks soltou um suspiro cansado. - É complicado demais!

-Então é melhor você descer logo daí, senão nós dois podemos nos encrencar. - ele advertiu, olhando para os lados, como se a figura mal-humorada de Madame Pince fosse surgir de dentro de um livro.

-Tudo bem!

Tonks começou a descer lentamente os degraus da escada alta. Mas em se tratando dessa desastrada metamorfamaga, isso não poderia acabar bem. A capa de invisibilidade de James estava pendurava num dos degraus da escada e Tonks, sem querer, acabou pisando ali e como o tecido era muito leve e liso, acabou fazendo com que Tonks escorregasse.

Foi tudo muito rápido.

Num momento, Tonks descia as escadas, sendo assistida por Remus. E no momento seguinte, ele tentava amparar a queda da garota, segurando-a pela cintura. Mas mesmo assim, ele não conseguiu evitar a sua queda.

Lupin desequilibrou-se, batendo as costas dolorosamente no assoalho da biblioteca, com Tonks caindo por cima dele. Com o impacto da queda, os dois ficaram alguns segundos imóveis, ofegantes, tentando se recuperar do susto.

E não sei se foi mais por causa do susto ou algum outro motivo, os dois começaram a rir. A gargalhada de Tonks - Lupin observou - era viva, alegre, despreocupada. Definitivamente contagiante. E ele se pegou rindo como não fazia há vários dias.

Mas logo as risadas cessaram e olhando para o lado, Lupin viu a varinha ainda acesa de Tonks caída e iluminando uma das paredes da biblioteca. A sombra dos dois projetada ali, mostrava os dois numa posição um tanto suspeita: Lupin deitado no chão, com aquela garota deitava por cima do seu corpo. E ele deu graças por estar escuro o suficiente para ocultar o quanto aquilo o deixara corado.

-Você está legal, Tonks? - Ele perguntou e se surpreendeu ao notar o quanto a sua voz saíra rouca.

Apesar de ter parado com o ataque de risos, Tonks ainda tinha um sorriso leve nos lábios, que logo se tornou um sorriso maroto e um tanto provocante. Obviamente ela notara o estado perturbado em que deixara o rapaz.

Seus olhos e seus olhares
Milhares de tentações


E porque não...aproveitar um pouquinho?

Ela tinha a firme certeza de que Remus tinha aquela postura séria e um pouco tímida só de fachada. E ali estava ela, com a chance de provar que tinha razão. Porque não se divertir um pouquinho? Não seria sacrifício nenhum, já que ele era um dos caras mais legais que ela já conhecera.

A respiração dela tornara-se mais lenta, enquanto escorregava o braço direito, tateando o chão, em busca da sua varinha. E, também, ficando perigosamente próxima do rosto do rapaz.

Meninas são tão mulheres
Seus truques e confusões


-Eu estou sim. - Ela respondeu após vários segundos desconfortáveis para Remus. - E você?

Lupin engoliu em seco. Não conseguia raciocinar com muita clareza estando daquele jeito. Os olhos negros de Tonks tinham um brilho tão peculiar, que ele se viu preso naquele olhar, sem conseguir desviar a vista, totalmente à mercê daquela garota. E também havia aquele sorriso, que era um misto de inocência e malícia.

-Eu...eu acho que sim. -E Lupin odiou como a sua voz estava falha. - Tonks... er...você ainda está encima de mim...

-Jura?!

E o rapaz não conseguia desgrudar os seus olhos daquele olhar travesso de Tonks. Mal conseguia piscar. Notou que a cada segundo ela ficava ainda mais perto e não conseguiu conter um arrepio, quando ela roçou os seus lábios no dele, bem de leve.

Garotos não resistem
Aos seus mistérios


Lupin ofegou e aproveitando isso, Tonks deslizou a sua língua para dentro da boca do maroto, acariciando-a. As mechas cor-de-rosa do cabelo da garota escorregaram para o lado, caindo um pouco sobre o rosto dele.

E inevitavelmente, as palavras que ela dissera alguns dias antes, começaram a flutuar na mente de Remus seguidamente, como se uma voz lânguida e sedutora estivesse sussurrando-lhe ao pé do ouvido:

“se divertir um pouco mais” “Viver o momento” “se soltar um pouco mais”

Garotos nunca dizem não
Garotos como eu
Sempre tão espertos


E inclinando a cabeça levemente para o lado, Lupin deixou os lábios se encaixarem, como se tivessem sido moldados um no outro. Se tudo o que aquela garota tivesse lhe dito anteriormente fosse verdade, não haveria problema algum. Aliás, ele achava que realmente fazia algum sentido. Quanto mais ele deixasse de se envolver emocionalmente com alguém, melhor seria. Se fosse apenas algo sem compromisso, seria mais fácil não se envolver seriamente e enquanto ele estivesse livre de sentimentos, sabia que não iria sofrer.

Mas uma coisa ele não podia negar: o fato do beijo daquela garota ser uma das coisas mais inacreditavelmente boa que ele já provara. Era um beijo doce, mas com uma pontada de vivacidade, que ele não encontrara em garota alguma.

Ainda sem se afastar dos lábios dela, ele ergueu uma das mãos e acomodou uma mecha daquele cabelo cor-de-rosa atrás da orelha dela, enquanto a outra mão pousava na cintura da garota.

-Nympha... - Ele murmurou, mas não conseguiu terminar de pronunciar o nome dela, pois Tonks voltara à beijá-lo.

Perto de uma mulher
São só garotos


Ela estava plenamente satisfeita, afinal, as suas suspeitas se provaram corretas e com resultados infinitamente agradáveis.

“E põe agradável nisso”

Não havia nenhum motivo especial para ela ter feito o que fez. Era o tipo de coisa que Tonks fazia. Fazia parte dela ter esse jeito desencanado, vivo, alegre, vibrante. E ela se sentia levemente atraída por aquele rapaz de sorriso compreensivo e olhar doce. Atração apenas. Só isso. Até porque era inevitável não se cativar por aquele jeito de maroto enrustido de Remus Lupin.

Lupin sentia o seu rosto cada vez mais quente. Achava que o calor que irradiava, seria capaz de aquecer o salão principal inteiro. A essas alturas a capa grossa que usava para se proteger do frio parecia absurdamente incomoda. E as mãos pareciam ter vida própria, tornando-se ainda mais ousadas.

Mas então, algo chamou a atenção do rapaz, fazendo com que os seus instintos de lobo entrassem em ação.

-O que aconteceu, Remus? - Tonks perguntou, quando o rapaz interrompera o beijo.

Ele tentou se levantar, afastando a garota gentilmente de si. Parecia que o frio do inverno inteiro havia envolvido o seu corpo, e ele já conseguia pensar com mais clareza. Levantou-se e apurou os ouvidos.

-Eu acho que tem alguém vindo pra cá. - Ele sussurrou, o rosto tenso, tateando os bolsos, até encontrar o mapa do maroto. -Juro Solenemente que não Pretendo fazer nada de bom!

E o mapa revelou a presença de Filch no andar de baixo, enquanto Madame Nora se aproximava da biblioteca.

-Definitivamente, o Filch sabe quebrar um clima! - Tonks murmurou, ajeitando as vestes amassadas. - E agora?

Lupin olhou ao redor e viu a capa de James pendurada num dos degraus da escada.

-Vista a capa. - Ele falou, guardando a varinha dentro das vestes. - Deixa que eu me viro com o Filch.

A garota obedeceu e apanhou o livro que achara, escondendo-o embaixo da capa.

Os dois se esgueiraram para fora da biblioteca e começaram a descer as escadas que levavam ao andar inferior. Esquecendo-se de consultar o mapa novamente, Lupin dera de cara com o zelador quando virou um corredor.

-Sr. Lupin? - Filch ofegou, parecendo satisfeito. - Passeando a essa hora pelos corredores?

-Eu? Não, imagina... - Lupin respondeu calmamente, imaginando a cara que James e Sirius fariam ao vê-lo mentir tão descaradamente. - Estava fazendo a minha ronda.

-A sua ronda costuma acabar às dez horas da noite! - O zelador rebateu.

A essas alturas, a odiosa gata de Filch entrara naquele corredor, enrodilhada nos tornozelos magros de seu dono.

-Bem, eu escutei um barulho vindo da biblioteca e fui averiguar. - Lupin disse. E basicamente, fora isso o que acontecera. Filch parecia desconfiado, olhando atentamente o rosto do rapaz. -Não tenho certeza, mas acho que foi o Pirraça.

E Tonks que estava escondida na capa de James, teve que sufocar as risadas, ao ver Lupin mentir tão facilmente.

-Pirraça?! - Filch estreitou os olhos. - Eu sabia, minha querida. - Ele falou para a gata, que olhava fixamente para um ponto no meio do corredor. - Certo, Sr. Lupin, volte para o seu dormitório, antes que eu me arrependa de lhe castigar.

E Filch saiu resmungando, sendo seguido por sua gata cor de poeira.

Lupin soltou um suspiro longo e pesado de alívio. Voltou a enfiar a mão nos bolsos e caminhou rapidamente pelo outro lado do corredor. Achou que tinha dado tempo suficiente para Tonks ter voltado à sala comunal da Grifinória. E desejou fervorosamente que isso tivesse acontecido.

O som dos seus passos apressados ecoava no chão de pedra e reverberava no corredor vazio, produzindo o eco de vários passos. Quando estava próximo do corredor que levava à entrada da Mulher Gorda, Lupin sentiu um par de mãos cobrindo-lhe a boca e sussurrar no seu ouvido:

-Buuu!!!

Ele arregalou os olhos e quando se voltou, viu a massa cor-de-rosa dos cabelos de Nymphadora Tonks surgir por debaixo da capa de James com lágrimas nos olhos de tanto rir.

-Garota, você é louca? - Ele indagou.

-Remus, você me surpreendeu! - Um sorriso divertido surgiu no rosto dela, enquanto duas covinhas se formavam em cada lado de seu rosto.

-Eu menti pra livrar você, sabia? - Ele falou, parando em frente ao quadro da mulher gorda. Disse a senha e adentrou a sala comunal. - Eu poderia ter entregado você pro Filch, dizendo que te encontrei na sessão reservada da biblioteca.

-Mas não fez isso, né? - Tonks parou em frente do maroto e procurou o olhar dele. - Ei, não fica bravo comigo não. Por favor. Diz se não foi divertido hoje à noite?

Lupin encarou os sapatos, sentindo o seu rosto esquentar. Ele nem era louco de negar que havia sido interessante aquela noite. E notou que era só isso o que Tonks quis com ele naquela noite: diversão!

-Eu não vou ficar bravo! - Ele murmurou, as mãos no bolso.

-Que bom! - Ela sorriu novamente, achando extremamente fofo o modo como deixara o rapaz levemente corado. - Valeu mesmo, Remus!

Ela acomodou o livro que pegara na biblioteca debaixo do braço e entregou a capa nas mãos de Remus. - Agradece o James por mim?

-Claro! - Lupin sorriu levemente. Não havia como ficar bravo com aquela garota. E... bem, ela não havia feito nada de grave, havia?

-Obrigado. - Ela se pôs na ponta dos pés e depositou um beijo suave no rosto de Remus. - Boa noite.

E antes de subir para o dormitório masculino, Remus ficou parado, apenas observando as longas mechas cor-de-rosa de Tonks ondulando às suas costas, enquanto ela rumava para o dormitório das garotas.

Ainda confuso com o que acontecera nos momentos anteriores, ele subiu para o dormitório.

-Ei, Aluado, você demorou hoje, hein? - Sirius perguntou deitado em sua cama.

Lupin meramente largou a capa de invisibilidade encima da cama da James, que exibia uma expressão tão confusa quanto a de Sirius, e começou a se despir lentamente, trocando o uniforme pelo pijama.

-Alô, alô, terra para Aluado! - James se levantou e estalou os dedos na frente de Remus. - O que aconteceu cara?

-Nada não. - Ele murmurou, encaminhando-se para a própria cama. - Ah, e a Tonks pediu para eu te agradecer pela capa, ok?

Sirius e James trocaram um olhar malicioso, mas antevendo o comentário maldoso que viria daqueles dois, Remus logo explicou:

-Eu a encontrei lá embaixo e ela me pediu para eu te entregar isso, James.

E antes que os amigos o provocassem com piadinhas, Remus Lupin se fechou em um estado de mutismo, cerrando as cortinas do dossel de sua cama. Deu um “boa noite” aos amigos, antes de afundar nos travesseiros, enquanto as palavras de Tonks pareciam sussurrar provocativas em seu ouvido: “Você é um cara jovem ainda, tem que aprender a viver o momento.”

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Notas do Remus: Eu estou me sentindo...estranho. Não sei, mas aquilo que aconteceu na biblioteca me deixou esquisito. Claro que não é a primeira vez que eu beijo uma garota, principalmente algo descompromissado, mas... não sei explicar ao certo.
Acho que agora sei como as garotas com que o Almofadinhas sai, se sentem depois. Ok, péssima comparação, mas é estranho ficar com uma garota assim, feito a Tonks.


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é, eu sei que acabei apressando as coisas entre os dois, mas...sabe quando uma cena fica martelando na sua cabeça? Pois é, foi isso o que aconteceu com a cena da biblioteca. Sem contar que a música tema do capítulo influenciou bastante (garotos - Leoni).
Enfim, no próximo capítulo teremos: “o dia seguinte” e...hum, não posso revelar mais coisas.hehehe

Thanks à: Anna Raven, Srta Granger, Sônia Sag, Sally Owens (bem vinda de volta!), Ana Luiza, Mrs. Radcliffe, Charlotte Ravenclaw, Sophie Tonks, Carolzinha, Hellen e Anna Black (mesmo sem ter lido o cap. anterior, mas agradeço a fofura)

Beijokas e até o próximo.


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