A Suposta Profecia



--CAPÍTULO CINCO--
A Suposta Profecia


Como em quase todas as noites, há dez meses, Harry se revirava na cama tendo pesadelos repetitivos e deprimentes.

Sentia muito frio ao mesmo tempo em que tinha suor descendo de sua têmpora, seu coração batia acelerado, sua respiração arfava rapidamente, suas mãos procuravam agoniadas algo para se segurar, algo para apertar e descarregar seu medo, sua ansiedade, sua fúria inexplicável.

Uma corrente de ar frio invadiu o quarto pela fresta formada pela pequena abertura na janela, percorreu o quarto suave até resvalar sobre o peitoral de Harry coberto por uma camiseta branca trazendo-o de volta a realidade escura do seu quarto.

Abriu os olhos com um susto e começou a respirar fundo e rápido enquanto tentava trazer alguma coisa do sonho a tona. Como todas as vezes que teve esse sonho, ele não se lembrava o que ocorrera nele, lembrava-se apenas de imagens difusas e tremulas onde ele segurava firme na mão um objeto do tamanho de uma bola de tênis, transparente, redondo, e com alguma substancia verde e esfumaçada dentro, e havia uma rachadura em forma de raio em uma de suas extremidades cortando uma figura estranhamente familiar.

Sentou-se na cama, acalmando a sua respiração, enquanto alisava o peitoral que ainda tremia com as batidas fortes do seu coração. Olhou para os lados e passou as mãos tremulas nos cabelos úmidos de suor. Levantou-se após decidir que tomaria um copo de leite frio antes de voltar a dormir.

Desceu as escadas devagar escutando apenas o ranger do soalho. Olhou de relance para o quadro na sala onde o casal, sentados nas duas cadeiras e as crianças deitadas no chão de grama dormiam profundamente em baixo da árvore. Sentia o carpete tocar nos seus pés descalços quando se aproximava da porta da cozinha para abri-la devagar observando bem para não correr o risco de se deparar com alguém.

Como já era de se esperar a cozinha estava deserta, havia uma jarra de leite fresco sobre a mesa e alguns copos já limpos no escorredor metálico de louças. Foi até lá, pegou o copo fazendo barulhos de vidro se esbarrando e sentou-se na mesa enchendo seu copo ao máximo.

Passou um bom tempo dando bebericando no copo tentando se lembrar o que aquele objeto significava, por que ele lhe provocava aquela agonia tão grande?, como tudo que estava acontecendo tinha alguma relação com ele? Porque era óbvio, doze dias depois do fim do seu namoro com Hermione este sonho começou a lhe perturbar á noite, e agora estava pior, ele lhe tira a vontade de dormir por horas até achar mais alguma informação.

De tanto fazer esse mesmo ritual: acordar assustado, se sentar na cama assustado, descer os degraus da escada desconfiado, beber leite pensativo, ele acabou deixando mais nítida a imagem do tal objeto que segurava nas mãos. Parecia ser uma das profecias que ele vira quando invadiu o Ministério da Magia quando estava em Hogwarts, mas era pouco provável, afinal, nada parecia dizer respeito a uma profecia...nada.

Assustou-se ao escutar o barulho de gente descendo a escada, mas não tinha a mínima vontade de se levantar e tentar impedir que essa pessoa lhe vice ali, ficou parado olhando para a porta que se abriria a qualquer momento.

-Ah...! O que vc está fazendo aqui?-perguntou Hermione ao entrar animada na cozinha e se deparar com Harry fitando-a.

-Tive um pesadelo.-ele murmurou olhando para o liquido ralo e branco em seu copo.

-Ah bom...-sussurrou Hermione mais para si mesma do que para Harry.

-E vc?-perguntou Harry girando o copo com as pontas dos dedos sobre a palma da mão.

-Não consegui dormir...-disse Hermione indo até a mesa.

-Por quê?

-Não sei...

Depois dessa pequena conversa o silêncio pairou no ar. Hermione se sentou na frente de Harry, olhando-o com curiosidade enquanto tentava decifrar através de suas feições o que se passava na cabeça dele.

-Boa noite.-disse Harry se levantando.

-Boa.-murmurou Hermione num tom de decepção.

Olhou uma última vez para Harry, viu apenas suas costas cobertas pela camiseta antes da porta se fechas e o silêncio invadir a cozinha dando uma sensação de solidão terrível em Hermione.

***

-Vc não acha que seria uma boa idéia cortar esse cabelo?

-Como assim?-perguntou Harry.-Não há problema algum com meu cabelo!

-Claro que há!-exclamou Rony colocando o blazer surrado dentro do guarda-roupa.-Acha que com essa juba vc vai conquistar Hermione novamente?

-Ela não reclamou.-falou Harry com desdém fitando o soalho.

-Claro que não! Ela não iria reclamar nada em vc!-falou Rony como se seu comentário fosse óbvio.

-E por que não?

-Porque, com toda a certeza, ela lhe acha perfeito!

-Como?-exclamou Harry levantando-se da cama.-Claro que não!

-É! Não percebi como ela olha para vc?-disse, novamente com seu tom óbvio.

-Ela olha normal para mim.-Harry disse caminhando devagar e pensativo até a janela.

-Claro que olha!-disse Rony sarcasticamente revirando os olhos para o teto.

-Como ela olha para mim?-perguntou Harry cheio de curiosidade, mas tentando manter sua voz a mais normal possível.

-Como se lhe desejasse.-disse Rony começando a desabotoar a camisa.-Pelo menos é isso que pareci...-falou parando pensativo.

-É?-exclamou Harry esbanjando um grande e animado sorriso esquecendo de se manter sério.

-É, mas como vc não vai cortar o cabelo...-disso Rony apenas para provocar.

-Vou hoje!

-Ótimo, então aproveite para fazer a barba também!

-Vou fazer!-disse Harry saindo apressado do quarto de Rony.

Harry desceu as escadas sorrindo com a remota possibilidade de reatar o namoro com Hermione. Mas algo lhe incomodava, não havia entendido o que um simples corte de cabelo e a retirada de sua barba iria ajudar em conquistá-la novamente. Mesmo assim, o que custava tentar?

Gina subia as escadas de dois em dois degraus, ainda usava seu pijama e parecia com raiva.

-O que houve?-Harry perguntou parando-a.

-Hermione saiu sem mim...-murmurou.

-E por que ela fez isso?

-Mamãe disse que quando ela havia se acordado o sol ainda nascia, por isso não me acordou...Deixou isso sobre a mesa da cozinha.-ela murmurou cruzando os braços depois de entregar o bilhete de duas linhas de Hermione.


Desculpe por não lhe acordar, Gina. Não estava conseguindo dormir, por isso resolvi sair mais cedo do que o combinado. Hermione.


-Ah, não se preocupe, ela irá lhe levar outro dia.-disse Harry carinhosamente.

-Espero que sim.-disse Gina amassando o bilhete entre os dedos e voltando a subir a escada de dois em dois degraus.

Ele assanhou ainda mais o cabelo enquanto abria a porta do seu quarto e se deparava com sua bagunça habitual. Caminhou até o guarda-roupa e abriu a porta onde havia um espelho embutido. Sorriu para a imagem vagabunda do espelho reconhecendo apenas seus olhos verdes e seu sorriso.

***

Hermione caminhava devagar, os dedos batendo de leve em seu queixo e lábios enquanto observava atentamente os livros enfileirados e grandes embutidos nas prateleiras.

Estava um pouco chateada com sigo mesma. Prometera a Gina que a levaria até a biblioteca de Houf Log, mas não cumprira com o combinado, em vez de acordá-la havia saído de fininho antes das cinco da manhã. Ficou caminhando pensativa pelas ruas já bastante movimentadas da cidade e agora estava com quatro livros grossos e velhos abertos em uma das mesas redondas da biblioteca e procurava mais um para se divertir.

-Aqui novamente, Granger?-a voz arrastada de Draco Malfoy rastejou pelo rosto de Hermione provocando-lhe um arrepio incomodo.

-Essa pergunta está mofando na sua boca, Malfoy.-disse Hermione olhando-o pelo canto dos olhos.

-Pois que mofe...-disse começando a caminhar cautelosamente até Hermione.

-Que quer?-perguntou Hermione observando cada passo do seu falso amigo.

-Se disser o que quero não será mais surpresa quando acontecer.-ele falou chegando cada vez mais perto.

Hermione passou a se perguntar por que não movia um músculo enquanto via Draco se aproximar com aquele sorriso maroto nos lábios rosados. Será que ela queria que acontecesse algo entre os dois? Queria descobrir como é ser tocada por ele? Mas suas dúvidas logo se foram quando ele levantou a mão para tocar seu rosto e ela desviou com agilidade e voltou a se mover, andando rápido até a mesa onde estavam os livros.

-Não me faça rir!-exclamou.

-Ah, que bom! Eu faço vc rir?-disse Draco seguindo-a.

Ela se virou e olhou nos olhos de Draco como se dissesse que era, talvez, até mais que evidente que ele não a fazia rir.

-Está certo.-disse Draco entendendo o recado.

Hermione voltou a andar.

Juntou todos os livros e começou a repor nas devidas prateleiras.

-Vc vai embora?-perguntou Draco.

-Acho que é isso que pareci, não é?-disse Hermione.

-Sabe, às vezes acho que vc me ama!-murmurou Draco completamente provocador.

-Como?-exclamou Hermione, que de tanta raiva solto um risinho estranho e parou subitamente passando a encarar Draco.

-É o que pereci, não é?-disse Draco.-Quando chego vc está indo embora, pereci que tem medo do que eu possa fazer a vc...Medo do que minhas mãos poção fazer a vc...

-Rá!-fez Hermione voltando a organizar os livros.-Por favor, me poupe do seu convencimento.

-Isso é o mais evidente.-disse Draco dando de ombros.

Hermione voltou a mesa após guardar cada livro em suas devidas prateleiras, jogou o caderninho de rascunho, as penas e os tinteiros dentro da mochila e vestiu o terninho aveludado e rosa claro. Observou mais uma vez a mesa completamente vazia verificando se havia esquecido de alguma coisa e começou a andar determinada até a saída da biblioteca.

-Para onde vai agora?-perguntou Draco seguindo-a.

-Vou andar.-disse Hermione jogando a mochila sobre o ombro.

-Posso lhe acompanhar?

-Tanto faz.-disse Hermione dando de ombros.

Como? Tanto faz?, pensou Hermione. Ficou louca?

Infelizmente para Hermione, o mal já estava feito e ela não tinha a mínima vontade de corrigi-lo. Draco passou a segui-la ao seu lado, sorridente e com as mãos nos bolsos da esportiva calça cor cáqui. Talvez não fosse ser tão mal assim, afinal, ele parara de perguntar a ela coisas e mais coisas, e fazer comentários sem sentindo ou incômodos.

Apesar de parecer mais doce ele ainda tinha o seu sorriso perverso e olhos maliciosos que davam agonia em Hermione. Mas, para sua surpresa, acostumara-se a ter Draco ao seu lado na biblioteca ou em uma lanchonete trouxa qualquer. Até parecia ter brotado um sentimento companheiro no peito de Hermione. Ficou se perguntando como seria se ele um dia resolvesse parar com essa brincadeira de gato e rato e deixá-la em paz, ou será que em paz ela já estava há muito tempo, só não havia percebido isso antes?

Depois de muito caminhar, devagar e em silêncio pelas ruas cheias de carros e gente apressada, Hermione percebeu que a hora do almoço se aproximava e ela tinha que achar um restaurante, já que havia resolvido que não voltaria para Sweit Gan Street, Nº 25 antes do anoitecer. Olhou para Draco que ainda tinha um sorriso bobo nos lábios e pensou se seria loucura levá-lo para almoçar.

-Bem, acho que agora vc terá que ir, não é?-perguntou Draco com a voz um tanto triste sem deixar seu tom seco e sarcástico de lado.

-Não, estive pensando em almoçar por aqui...-Hermione sorriu por dentro ao ver a expressam não muito evidente de Draco.

-Então irei almoçar com vc!-disse.

-Quê!-exclamo Hermione desistindo da idéia de convidá-lo.

-Claro! Conheço um ótimo restaurante não muito perto daqui, é trouxa, mas a comida é muito boa!-disse Draco começando a puxar Hermione pela mão para forçá-la a andar mais rápido.

-Não!-disse Hermione alto de mais.-Quer dizer, não, eu vou almoçar sozinha.-disse ela puxando o braço para que Draco a soltasse.

Draco parou ficando um pouco pensativo: havia duas opções, voltar para casa e se lamentar por não ter o amor de Hermione ou segui-la como costumava fazer. Passou a mão sobre o rosto tirando os fios loiros que caiam sobre seus olhos, jogando-os para trás. Observou Hermione sair decidida, arrumando a mochila sobre as costas enquanto atravessava a rua e começou a andar na direção dela sorrindo com o seu cinismo.

***

Harry tentava arrumar o seu quarto. Dobrava as roupas espalhadas de mau jeito e as deixava separadas em seus devidos grupos sobre a cama, camisas de manga longa no local onde tinham camisas de manga longa, calças sociais em ombreiras e calças surradas ou jeans em outras. Quando a porta do quarto se abriu e a Sra. Weasley entrou no quarto observando atentamente o que o rapaz fazia.

-Não precisa de ajuda?-perguntou.

Harry fez que não com a cabeça enquanto sorria para ela.

-Bem, como foi na Travessa do Tranco?-perguntou a Sra. Weasley parecendo bastante ansiosa.

-Péssimo!-exclamou Harry parando de dobra um moletom.

-O que houve?-perguntou ela

-Bom, ele vendeu o objeto...-murmurou Harry.

A senhora tampou a boca com as mãos e arregalou os olhos num gesto de terror e surpresa, depois, se deixou cair sobre a cama cheia de roupas de Harry olhando perplexa para a parede a sua frente.

-Por Merlim!-sussurrou.

-É, Sra. Weasley, a senhora está bem?-perguntou Harry sentando-se ao lado dela.

-Estou, estou...E para quem ele vendeu, vc sabe?-perguntou olhando atentamente para Harry.

-Ele não quis dizer...-disse ele sem querer respondê-la.

-Ah...-Sra. Weasley solto um gemido triste voltando a admirar a parede e levar as mãos à boca.

Ela se levantou subitamente e saio do quarto, ainda perplexa, fechando a porta com uma roça exagerada, deixando Harry completamente sem noção do que estava havendo.

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Desculpem a demora!

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