No Beco



--CAPÍTULO TRÊS--
No Beco

-Temos que nos apreçar.-disse Harry cumprimentado uma jovem bruxa, que passava por ele e lançava um olhar sedutor, com um aceno cordial com a cabeça e um sorriso malicioso.

-Vc não tem vergonha?-exclamou Hermione apôs perceber a cena.-Ela deve ser mais nova que vc três anos! Isso é pedofilia!

-Está com ciúme?-Harry perguntou voltando-se para Hermione com uma ponta de esperança.

-Não.-ela falou friamente.-Estou com nojo de vc.

-Nojo de mim? Não esperava esse sentimento vindo de vc.-falou Harry começando a andar para os fundos do Caldeirão Furado.

-Vc mudou Harry, não é mais o mesmo garoto que eu conheci.-falou Hermione com um pouco de tristeza na voz.

-Sou sim Hermione, a única diferença é que agora eu tenho barba e os meus olhos estão abertos para o que acontece ao meu redor. Aprendi a viver.

-Aprendeu a viver? Ficar dando em cima de menores de idade ou qualquer uma que cisca na sua frente, ser sarcástico com os amigos e metido como está sendo não é viver Harry!

-Se não posso ter a mulher que quero, também não vou ficar correndo atrás dela como antes.-Harry disse brutalmente.

Hermione olhou para os lados, tentado achar um modo de mudar de assunto, sentiu suas bochechas esquentarem, definitivamente não queria conversar com Harry sobre aquilo.

-Desculpe, está bem?-disse Harry percebendo o constrangimento da amiga.-Bom, acho melhor irmos logo.-falou segurando o braço dela e conduzindo-a para o pátio.

-Harry!-um homem de altura incrível e com uma barba que cobria quase todo o rosto deixando de fora apenas os olhos de besouro acenou para Harry do outro lado do Caldeirão Furado.

-Alô Hagrid!-cumprimentou Harry ao avistar o grande amigo.

Rúbeo Hagrid, o guarda-caças de Hogwarts vestia um longo casaco de pele de castor e sorria alegremente para Harry enquanto tentava passar pelos espaços entre uma mesa e outra que eram de tamanho pequeno comparado à largura do meio-gigante.

Hagrid parou na frente de Harry e abraçou o pequeno homem com uma força estupidamente grande. Apenas as pontinhas dos tênis de Harry tocavam o chão e ele poderia jurar que suas costelas estavam completamente moídas depois dessa demonstração de afeto.

-Como vai?-perguntou Hagrid ao soltar Harry no chão.

-Bem, e vc?-perguntou Harry massageando os pulmões.

-ótimo!-exclamou o guarda-caças.

-Olhe Hagrid, Hermione!-disse Harry enquanto puxava a tímida Hermione para perto de si.

O meio gigante examinou minuciosamente a estranha mulher a sua frente que lembrava vagamente alguém familiar, depois sorriu ao reconhecer a ex-pequena Hermione e a atual mulher que tinha o mesmo olhar tímido e determinado daquela garotinha que ele conhecera há anos atrás.

-Ah! Eu não acredito!-exclamou Hagrid abraçando Hermione do mesmo modo que havia abraçado o, agora dolorido Harry.

-Eh.-fez Hermione ao ser solta.

-Vc mudou muito!-ele exclamou pousando a mão pesada no ombro da garota fazendo seus joelhos cederem alguns poucos centímetros.-Melhor irmos!

-Também acho.-disse Harry olhando para Hermione que permanecia envergonhada.

Como da ultima vez que Hermione e Harry entraram no Caldeirão Furado o local permanecia praticamente vazio e das poucas pessoas que eles se lembravam à única que permanecia lá era Tom, o estalajadeiro enrugado e sem dentes.

O trio seguiu em silêncio para o pátio frio nos fundos do bar onde ficavam as latas de lixo. Hagrid à frente, parou em frente ao muro de tijolos e bateu em algum deles com a ponta do guarda-chuva cor-de-rosa. O muro se abriu dando passagem para uma rua tortuosa e de pedras.

O Beco Diagonal permanecia do mesmo modo dês da divulgação do retorno de Voldemort. Os enfeites brilhantes e animados davam lugar aos cartazes roxos e sombrios de aviso do Ministério da Magia, que era uma versão ampliada dos panfletos que ainda não haviam sido parados de ser entregues nas casas onde residiam bruxos. Nesses panfletos havia dicas de prevenção a Comensais da Morte e de prevenção a propagandas enganosas.

Hermione se lembrara da pilha de panfletos que havia jogado fora na semana anterior.

Junto dos enormes cartazes também apareciam fotos de Comensais da Morte que ainda não haviam sido capturados pelos aurores do Ministério. Ainda mais lojas estavam fechadas e com tabuas em suas vitrines desgastadas.

As pessoas continuavam a não parar para conversar, permaneciam em grupo e concentrados no que faziam.

O barulho maior eram as vozes dos vendedores pilantras de artigos a autoproteção, amuletos, anéis, poções, animais mágicos que não sabia nem o que estavam fazendo ali. Alguns se jogavam na frente dos compradores sacudindo os braços cheios de amuletos pendurados fazendo ofertas altas para aos artigos de baixa qualidade.

Harry se lembrou do novo trabalho que o Sr. Weasley recebeu apôs o novo Ministro da Magia ser eleito, Scrimgeour, que consistia em confiscar novos problemáticos produtos mágicos que estavam sendo vendidos dês daquele ano.

-Por que Hagrid está aqui?-Hermione cochichou para Harry.

-Ele é nossa proteção.-falou Harry.

-Então Harry, para onde nós vamos primeiro?-perguntou o meio-gigante bastante animado.

-Hum, gostaria de ir ao Gringotes primeiro.

-Pra que vc precisa de mim para ir ao Gringotes?-perguntou Hermione intrigada.

-Vc tem um cofre lá, não tem?-perguntou Harry parando no meio do caminho.

-Tenho, mas...

-Ótimo! Então vamos mudar o percurso, tenho que ir a Travessa do Tranco primeiro.-Falou Harry dirigindo-se a Hagrid.

-Por que?-perguntou Hermione. Estava ficando enjoada de usar tantos por quês durante um período tão curto de tempo.

-Porque,-disse Harry pausadamente, a calma que restava estava saindo pela culatra.-se vc tem um cofre eu posso guardar o que eu quero na Travessa do Tranco lá dentro.

-E por que tem que ser no meu cofre, por que não no seu?-falou Hermione cruzando os braços.

-Porque ficaria óbvio de mais!-brandiu Harry tentando controlar a fúria que rastejava com incomodo em seu pescoço.

-óbvio pra quem?

-Ah!-bufou Harry.

-Iremos a alguma lanchonete que esteja aberta.-falou Hagrid antes que Hermione respondesse algo, enquanto olhava ao redor a procura de alguma lanchonete.

-Está bem, vou indo.-disse Harry seguindo silenciosamente por entre as pessoas agitadas que passavam.

-Hagrid, vc sabe de alguma coisa?-perguntou Hermione seguindo Hagrid.

-N-não Hermione.-disse Hagrid olhando agoniado para Hermione.

-Sei...

-Ali!-disse Hagrid apontando para um pub praticamente vazia em uma esquina praticamente vazia.

***

-Como assim vc vendeu?-berrou Harry ao Sr. Borgin.

-Vendi, garoto, vendi!-trovejou o homem corcunda.-Surgiu uma proposta maior e eu vendi.

-Eu dobraria a proposta!-disse Harry.

-Sinto muito, negócio cancelado.-falou o Sr. Borgin balançando a cabeça.

-Qual era o nome da pessoa que o senhor vendeu?

-Não vou dizer o nome, são as normas!-disse o velho começando a contar as moedas espalhadas sobre o balcão.

-Ah, isso é ótimo!

-Mas o Sr. só queria aquele? Existem tantos outros aqui.

-Não venha empurrar para mim suas mercadorias medíocres.-disse Harry começando a sair da loja.

-Poderíamos negociar por algum outro...

Harry caminhou rápido até a porta, abriu-a e logo a fechou na cara do Sr. Brugin escutando apenas o tilintar do sininho que avisava quando um cliente chegava ou saia.

Como vou dizer isso a McGonagell? Harry pensou caminhando com passos rápidos e largos para fora daquele lugar imundo.

***

-Olha lá o Harry.-disse Hermione ao avistar os cabelos negros e os olhos verdes do garoto no meio dos compradores.

-Então?-fez Hagrid quando Harry se sentou na mezinha redonda e para quatro pessoas junto a ele e a Hermione.

-Ele vendeu.-falou Harry.

-Como assim vendeu?-espantou-se Hagrid.

-Fiz a mesma pergunta. Apareceu uma nova proposta, mais alta, então ele vendeu.-disse Harry sem muito entusiasmo.

-Ao Gringotes agora?-perguntou Hermione sem entender nada do que estava havendo.

-Não, para casa.-disse Harry.-Já esta quase na hora do almoço.

-Mas vc disse...

-Não tem necessidade de ir ao Gringotes se não tem o que guardar no cofre do Gringotes.-disse Harry sem paciência começando a se erguer.

-Não se preocupe Hermione, ele anda assim já faz um tempo,-cochichou Hagrid-me disseram.-acrescentou ao ver que Hermione iria lhe perguntar como ele sabia.

Hermione quase corria seguindo Harry que parecia querer voar de tão rápido que andava, e Hagrid que a cada uma passada eram duas da garota. Entraram novamente no Caldeirão Furado e pararam em frente a uma lareira velha cheia de cinzas.

-Vamos por aí?-perguntou.

-É.-disse Harry enquanto mostrava o vaso de flor cheio de um pó brilhante, Pó de Flu, que estava pendurado ao lado da lareira.-Sweit Gan Street, Nº 25.

-Sweit Gan Street Nº 25.-repetiu Hermione para si mesma.

Já havia viajado de Pó de Flu algumas poucas vezes com seus pais para ir ao Beco Diagonal, mas Hermione ainda sentia um certo friozinho na boca do estomago que lhe deixava com um incômodo medo de errar.

-Pronta?-perguntou Harry carinhosamente a Hermione.

Ela confirmou nervosamente com a cabeça pondo-se na frente da lareira.

-Então repeti: Sweit Gan Street Nº 25.

-Sweit Gan Street Nº 25.

-Boa sorte.-disse Hagrid dando mais um longo e dolorido abraço em Hermione.

-A Sra. Weasley vai lhe receber.-disse Harry sorrindo.

-Está bem.

-Até daqui a pouco.

Ela jogou o pó dentro da lareira que havia sido acesa pelo guarda-chuva cor-de-rosa de Hagrid segundos antes. Respirou fundo. Suas mãos soavam. Mas ela tentava se manter calma; as chamas ficaram verdes, Hermione entrou e sentiu a brisa morna tocando suas pernas.

-Sweit Gan Street Nº 25.-ordenou com a voz firme e clara.

Uma sensação já conhecida de estar sendo sugada invadiu Hermione subitamente quando as chamas verdes a envolveram e os ruídos ensurdecedores começaram a soar. Prendeu com firmeza todas as partes do corpo e segundos depois foi arremessada em um chão de tabuas de madeira cor tabaco.

Levantou-se olhando em volta enquanto sacudia a roupa tentando tirar as cinzas de seu rosto e corpo. Parecia ser uma casa antiga, os moveis eram grandes e clássicos havia um grande quadro com duas cadeiras bem no meio em baixo de uma árvore que sombreava o sol forte que parecia fazer, no que parecia, ser uma grande fazenda.

-Por Merlin! Hermione!-uma voz esganiçada soou a alguns metros ao lado de Hermione.

A Sra. Weasley aparecera a uma porta ao lado da lareira, enxugava as mãos apressadamente no avental florido andando apressada até Hermione com um largo e maternal sorriso.

-Como vc está linda!-ela exclamou descendo o rosto de Hermione - que crescera alguns centímetros a mais que ela – até seus lábios dando beijinhos carinhosos em suas bochechas em seguida.

-Obrigada.-falou Hermione correspondendo o abraço dado pela senhora.

-Onde está Harry?-ela perguntou olhando para a lareira.

-Vem aí.
Segundos depois as chamas acenderam de repente e Harry foi arremessado alguns poucos centímetros pelo chão de madeira.

-Ah, meu querido, deixe-me lhe ajudar.-disse a Sra. Weasley segurando um dos braços de Harry.

-Bem, chegamos antes do almoço não foi?-falou Harry bastante animado limpando o casaco.

-Ainda bem, estava começando a ficar preocupada! Vamos para a cozinha, conversar.-acrescentou fazendo sinal para que Harry e Hermione a seguissem.

***

Draco lia incansavelmente um livro trouxa de mistério e romance, se imaginava sendo aquele homem corajoso do livro que conquistara o amor daquela mulher que parecia ser tão incrivelmente maravilhosa.

Parou por alguns instantes, marcando a pagina onde estava lendo com o dedo, olhou sorrindo para o teto sobre sua cama. Estava lendo uma cena de pleno amor entre o casal principal do livro, essa cena lhe lembrara o que poderia acontecer se, caso um dia, viesse a ter algo com Hermione.

Sentou-se na cama, olhou para o sol que já parecia prestes a começar a se por, tinha uma esperança de encontrar Hermione na biblioteca novamente, e estava tentando ver o momento certo de partir a procura dela.

Correu o olho sobre o tapete vinho sobre o chão e visualizou um pergaminho amassado. A alegria que tinha se esvaziou com incrível facilidade. Quero sua presença a Mansão Malfoy apôs o por do sol. Relembrou o que sue pai escrevera na mínima carta.

Levantou-se devagar pondo o livro sobre a mesa de cabeceira, foi até o canto do quarto onde estava o pergaminho e apanhou-o na mão. Ficou observando ele durante alguns segundos que pereceram, para ele, durar minutos incontáveis. Desamassou o pergaminho com as pontas dos dedos enquanto voltava a ver a letra de Lúcio a sua frente.

-Isso é uma sina amaldiçoada!-murmurou encarando o pergaminho.

Seu dia estava indo incrivelmente bem até aquele momento. Pansy parecia querer uma trégua das inúmeras brigas que eles tinham diariamente, havia dormido com um pouco de dificuldade no começo, mas o resto da noite fora tranqüila e reconfortante, o amanhecer havia chegado com a cantoria dos pássaros e seu almoço havia sido esplendido, sua tarde parecia querer tomar o mesmo rumo, mas esse pergaminho, que ele se condenava por não ter jogado fora, estragara suas esperanças de um dia perfeito.

Decidiu por fim, que iria. Seja o que fosse ele queria enfrentar. Caminhou devagar até o guarda-roupa e vestiu algo mais recatado: um blazer preto sobre uma calça social também preta e uma camisa cor de pele de mangas longas e de botões. Olhou-se no espelho do banheiro uma última vez antes de descer para comer algo antes de sair, parecia está tudo perfeito. Pegou a varinha e a guardou no bolso interno do blazer.

-Para onde vc vai?-Pansy perguntou com um sorriso simpático examinando o amigo dos tênis sociais até o cabelo bem penteado.

-Lúcio me chamou para ir até a Mansão Malfoy.-disse Draco sem muito entusiasmo.

-E por que vc está tão arrumado? Aposto que vc não quer passar uma boa impressão.

-É justamente isso, irei desse modo porque sei que ele irá se incomodar.-disse Draco sorrido ao escutar o que acabara de dizer.

-Vai jantar ao menos?

-Vou.-disse sentando-se na cadeira da mesa quadrada.-Vc irá sair hoje.?

-É, umas amigas me chamaram.-disse ela servindo-se de batatas assadas.

Draco se levantou, pegou um prato qualquer e talheres. Abasteceu-se bem da comida que Pansy fizera. Permaneceram em silêncio até a hora de sua saída.

-Tenha cuidado, sim?-aconselhou Pansy colocando os pratos dos dois dentro da pia.

-Vou ter, não se preocupe.-disse Draco tocando de leve o ombro dela.

Apôs sair do banheiro e descer as escadas, Draco se despediu de Pansy com um aceno suave com a mão, olhou para o sol que já estava quase desaparecendo e aparatou.

As ruas já estavam completamente escuras, Draco escutava apenas o som de seus tênis na areia úmida do clima firo do começo de noite.

Draco caminhava devagar e pensativo com as mãos nos bolsos da calça. Uma curiosidade perturbadora invadiu seus sentimentos junto com um medo de rever seu pai depois de tanto tempo.

Já conseguia ver no alto da colina a sua antiga casa. A Mansão Malfoy aparentemente parecia está vazia, exceto por uma luz difusa e alaranjada que parecia vir de uma lareira e sombras, que pareciam se mover dentro do quarto na torre leste, uma das mais altas.

-Vai sair tudo bem.-ele murmurou quando chutou uma pedra no chão.

Finalmente, depois de dez minutos cansativos, Draco chegou ao grande portão de madeira gasta, ladeado por águias gigantes que pareciam gritar com as asas e bicos abertos. Tocou as correntes abertas do portão, sentiu um calafrio fantasmagórico.

-Vamos lá.-murmurou.

A pequena estradinha de pedras até o portão de marfim estava deserta e cheia folhas das árvores do pequeno jardim que seus pais fizeram, que há anos atrás estava incrivelmente lindo, mas agora as arvores estavam mortas e secas, a escuridão que as envolvia dava um toque de medo ainda maior nas entranhas de Draco.

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