Hora de acordar
Capítulo 20 - Hora de acordar
Um baque surdo. Lílian abriu os olhos sentindo algo fofo abaixo dela e imediatamente levantou-se. Tiago, ainda deitado no chão e levemente tonto, observou com interesse que a ruiva tinha a face da cor dos cabelos, de vergonha por ter caído em cima dele. O rapaz balançou a cabeça e finalmente levantou-se, observando que estava de novo de pijama.
- Demoraste muito para atender meu chamado, minha senhora.
A voz cavernosa veio detrás deles. Lentamente, Tiago se virou, enquanto a luz do olho d'água se derramava pelo salão, mostrando o grande dragão em pé, com sua cabeça coroada de espinhos prateados quase batendo no teto e os grandes olhos azuis sombrios brilhando tristemente.
Lílian caminhou calmamente até ficar bem diante do dragão. Ele abaixou a cabeça ao nível dela e a ruiva estendeu a mão, tocando-o no focinho. Tiago observou em silêncio, de início receoso. No entanto, ele logo percebeu que tal receio era infundado, pois havia nos olhos do animal, além da tristeza, um brilho de carinho.
- Você é o mesmo Hades que vimos com Helena?
- Sim, minha pequena senhora. - ele respondeu, contorcendo a face em algo que parecia um sorriso.
- Mas como você deixou de ser humano? - Tiago aproximou-se, observando-o.
- Hopkins quase me matou. Helena salvou minha vida, mas não pode salvar meu corpo. Me transformei numa espécie de chave dos poderes dela, o último elemento da Antiga Magia.
- E onde está Helena?
Hades pareceu ficar ainda mais triste.
- Helena não mais existe. Ela agora não passa de uma sombra que guardo em meio às minhas recordações. Eu usei a imagem dela para chegar até você, Lílian.
- Porque? - ela perguntou ansiosa - Porque me perseguiu com aqueles sonhos e visões?
- As visões não foram interverência minha. Ela é um dos dons da Antiga Magia. E eu a chamei porque precisava de você. Agora és minha nova dona.
- O que está querendo dizer? - Tiago olhava confuso do dragão para a ruiva.
- Helena foi morta por Saint-Germain. Com o fim dela, ele acreditava que extinguira a Antiga Magia. Mas o poder dela é grande demais. Não pode ser destruído. Assim como eu, a magia dormiu por séculos até encontrar um sucessor digno de retomar sua tradição. E você, Lílian, é a sucessora de Helena. Por alguma razão, você tem a mesma aura daquela feiticeira, a mesma capacidade de manipular os elementos sem usar de sua varinha. - o dragão respirou fundo antes
de continuar - Acredito que seja porque, naquela época, como agora, a vida de muitos inocentes está em perigo.
- Do que está falando? - ela peguntou, ainda confusa.
- Voldemort. - foi Tiago quem respondeu, mirando com atenção os olhos de Hades.
- Esse bruxo planeja um massacre como o que Saint-Germain e seus aliados promoveram há séculos. Vocês talvez ainda não tenham percebido, mas aquilo que viram em minhas memórias era a Inquisição. Ela foi, de início, idéia de Saint-Germain. Eles a usaram contra aqueles que, como Helena, pertenciam à Antiga Magia, aliando-se aos trouxas, convencendo-os de que éramos um perigo.
- Mas os livros dizem que os bruxos que eram pegos pela inquisição se salvavam congelando o fogo e...
- Depois foi assim. De início, só quem morriam eram os bruxos como Helena, incapazes de reagir diante das turbas enfurecidas de quem eles acreditavam serem "inocentes". Deixaram-se morrer para não ter que matar. E seus Altos Magos acreditavam que eles eram uma ameaça...
- Os Altos Magos consideravam a Antiga magia uma ameaça porque acreditavam que algo tão ligado a emoções está sempre sujeito a sair de controle. - Lílian observou.
- Está sendo racional demais de novo, Lílian. - o dragão disse, olhando para a ruiva - Mas, mesmo que isso fosse verdadeiro, e o é em parte, não justifica as milhares de mortes que eles provocaram.
- Então tudo o que está nos livros de História da Magia é falso? - Tiago quis saber.
- Não. Eles "apenas" omitiram parte da história, como o fato de a Inquisição ter sido idéia de bruxos. Eles usaram os trouxas, mas depois de verem o que os bruxos eram capazes de fazer, os trouxas se voltaram contra eles também. - Hades suspirou - Depois da morte de Helena, eu perambulei por décadas até que, como quase tudo impregnado pela Antiga Magia, adormeci. Costruíram esse castelo sobre mim e de lá pra cá, meu sono só foi interrompido uma vez, há mais
de cinquenta anos, quando levaram dessa sala um ovo de fênix. Eu não cheguei a ver quem era e nem ele chegou a me ver, mas se conseguiu entrar aqui é porque tinha direito àquele ovo. Mas agora já é tarde. Passaram todo dois dias fora e devem estar preocupados com vocês. Rapaz, seu nome é Tiago Potter, não é?
- Sou.
O dragão assentiu.
- Não sei como conseguiu resistir aos feitiços que protegem a vinda de Lílian, mas agora já está envolvido e sabe demais. Deve guardar segredo se não quiser que algo ruim possa acontecer com sua amiga.
- Como assim "coisa ruim"? - Lílian perguntou.
- Se souberem sobre seus verdadeiros poderes, terão medo e o medo é o primeiro passo para a violência. Deve esconder sua visões e todos os dons que descobrirá com o tempo. Agora vão e voltem amanhã à noite.
Os dois assentiram, despedindo-se e voltaram ao primeiro salão, entrando no corredor que os levava de volta ao Salão Principal.
- Lily...
- O que quer agora, Potter?
- Ei, eu voltei a ser o Potter agora?
Ela sorriu maliciosa.
- Aqui você não é mais meu irmão.
O rapaz suspirou.
- Certo. Então vou deixar você pensar sozinha numa boa desculpa para o pessoal sobre termos passado dois dias juntos e sumidos.
Lílian gelou. Já tinha até idéia do que as garotas iam pensar...
E aqui temos mais um capítulo. A todos os que estão lendo, o meu muito obrigada, especialmente se estão comentando. E continuem comentando, não se esqueçam que quanto mais comentários, mais rápido eu escrevo. E para aqueles que andaram me ameaçando de morte depois de acabarem de roer unhas e dedos, não se esqueçam também que seu eu me for, também não tem mais história...
Beijos,
Silverghost.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!