Adormecer



- E não se esqueça de mandar uma coruja assim que chegar! - Molly recomendou uma última vez.

Percy apenas assentiu, sorrindo, antes de finalmente embarcar no expresso que o levaria ao seu primeiro ano em Hogwarts. Logo os cabelos ruivos da matriarca dos Weasley desapareceram das vistas do garoto, pouco antes de o trem começar a andar.

'- E então, Perebas? - ele sussurrou para o rato encarrapitado em seu ombro enquanto percorria o vagão em busca de uma cabine vazia - Pronto para o nosso primeiro ano letivo? Creio que vamos aprender muita coisa, não acha?

O rato não se dignou a abrir os olhos escuros e Percy, suspirou, não dando mais atenção a ele. Pouco depois o garoto finalmente encontrou uma cabine onde não havia grande algazarra; apenas uma loirinha um pouco menor que ele ocupava o camarote.

'- Eu posso ficar aqui? – ele perguntou timidamente.

Ela apenas assentiu, levantando a cabeça por breves instantes para vê-lo se sentar antes de concentrar-se novamente na paisagem.

A viagem foi transcorrendo em paz; a garota passou o tempo todo em silêncio. E o jovem Weasley também não puxou assunto, visto que estava por demais absorto em seu exemplar de "Hogwarts: uma história".

Tão concentrado estava nessa tarefa que não percebeu quando Perebas escorregou de seu ombro, pulando para o banco e deste para o chão. A loirinha, entretanto, o notou e, por alguns instantes, seus olhos se cruzaram com as orbes brilhantes do animago.

Logo o rato quebrou o contato visual, deixando a cabine para trás rapidamente, embrenhando-se por frestas, passando por corredores, vigiando sonserinos, atento a tudo o que escutava.

Aquele era seu grande prazer, sua mania desde que se transformara em um animago. A forma diminuta era a maior vantagem que tinha, sempre.

Passou pelo vagão dos monitores, pela salinha onde a bruxa dos doces descansava e onde todas as delícias que ela costumava vender eram guardadas, pelo vagão do maquinista...

Se estivesse em sua forma humana, Pedro certamente estaria rindo. Como sentira falta de suas “rondas”... Era tão divertido descobrir os segredos de todo mundo... Ninguém sequer desconfiava do rato gordo que entrava sorrateiramente nas cabines do trem ouvindo sobre as férias dos alunos antes de correr de volta para sua própria cabine.

Esse pensamento fez a alegria de Pedro desaparecer, e ele parou repentinamente, lembrando-se de sua presente condição. Não havia mais “sua própria cabine” para voltar, ele pensou com um peso no coração.

Meneando a cabeça o rato continuou a andar. Mas o peso que havia em seu peito não desapareceu.



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01º de setembro de 1973

Rabicho esgueirou-se uma última vez sob os bancos e sob os olhares dos dois amigos, voltou a sua forma humana.

'- E então, Rabicho, o que descobriu em sua ronda? – Sirius perguntou sorrindo, tirando uma mecha de cabelo do rosto.

Tiago também sorriu enquanto Pedro se largava no banco ao seu lado.

'- De quem vocês querem saber primeiro?

'- Você pode começar dizendo quem são os monitores-chefe desse ano para descobrirmos o que vamos enfrentar...

'- Ah, Pontas, daqui a pouco o Aluado volta da reunião e descobrimos isso. Eu quero informações mais interessantes... Como, por exemplo...

'- A Dearborn está bem queimada... – Pedro respondeu, rindo – Foi para a França nas férias. O pai dela chegou a cogitar a hipótese de deixá-la estudando em Beaubextons.

Sirius pareceu espantado.

'- Porque Beaubextons?

'- Parece que os aurores estão preocupados com uns ataques que andam acontecendo... Mas ela não quis ficar lá.

O moreno abriu um sorriso, os olhos azuis brilhando maliciosamente.

'- Lógico que não quis! Afinal, lá ela não teria Sirius Black!

Tiago meneou a cabeça.

'- E pra mim, Rabicho, você tem alguma notícia?

'- A Evans está na reunião de monitores. Quando eu saí, ela estava conversando com Gideão Prewett, o novo monitor-chefe. E, se quer saber da minha opinião, ele estava com o olho muito grande pro lado da ruivinha...

'- Andou xeretando de novo, Rabicho? – a voz de Remo veio da porta, divertida.

Os três rapazes se viraram para encarar o recém-chegado, que se sentou ao lado de Sirius, tirando alguns papéis do bolso e guardando-os em uma sacola.

'- E aí, como foi a reunião, Aluado? – Sirius perguntou, virando-se para ele.

'- O mesmo de sempre. Prewett e Figg são os novos monitores chefes.

'- Um grifinório e uma lufa-lufa... Essa Figg é uma baixinha de olhos claros? – Tiago perguntou, coçando a cabeça.

'- Exatamente. Eu já fiquei com ela. – Sirius respondeu – Ela tem uma família um bocado complicada... Parece que a mãe é um aborto... E o pai dela morreu não faz muito tempo em circunstâncias meio esquisitas. Ninguém soube dizer o que aconteceu com o velho Figg.

'- Talvez tenha a ver com o que a Dearborn estava falando... Sobre um novo bruxo das trevas. Ela parecia meio preocupada com o pai. – Pedro chamou a atenção deles.

'- Meus pais estavam conversando sobre isso ontem... – Tiago também observou.

'- E eles pararam assim que entramos na cozinha para tomar café. – Sirius continuou – Voldemort, não é? O carinha que odeia trouxas.

'- Receio que ele seja mais que “o carinha que odeia trouxas”, Sirius. – Remo respondeu – Há qualquer coisa de estranha acontecendo; um clima de medo no ar. Bem, até agora nada foi confirmado. Mas talvez essa calmaria não demore muito a acabar.

Os quatro ficaram pensativos por alguns instantes. Pedro tinha a cabeça à toda velocidade. Já ouvira falar do tal bruxo, embora ele ainda não fosse muito conhecido. Meneou a cabeça. Enquanto estivesse com seus amigos, ele estaria seguro.

Sorrindo, ele encarou cada um dos presentes. Tiago tinha a expressão distante. Provavelmente estava pensando em Lílian. Sirius observava a paisagem, também parecendo preocupado. Já Remo tinha o semblante cansado. A semana anterior fora de lua cheia e ainda havia alguns machucados no rosto dele.

Alguém bateu à porta e eles levantaram o rosto, encontrando a face de Susan, Selene e Lílian. A ruiva fez uma careta quando seu olhar cruzou com o de Tiago, mas permaneceu em silêncio.

'- Vocês viram Emelina e Alice? – Susan perguntou sorrindo.

'- Eu não vi Emelina, mas Alice estava conversando com o Frank. – Pedro respondeu – Eles estavam no fim do trem.

'- Eu não disse! – Selene exclamou vitoriosa – Alguma coisa aconteceu durante as férias entre aqueles dois.

Lílian apenas meneou a cabeça, dando meio volta, mas antes que pudesse sair, a voz de Tiago a interrompeu.

'- Ei, Lily, quer sair comigo?

A ruiva arqueou a sobrancelha enquanto Susan e Selene se seguravam para não rir.

'- Não, obrigada, Potter, não estou disposta a ser presa por homicídio, mesmo que a idéia de esganá-lo com minhas próprias mãos me pareça muito tentadora. Passar bem.

E antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, Lílian desapareceu pelo corredor, quase correndo. Selene foi atrás dela enquanto Susan observava Tiago, com um misto de pena e riso.

'- Ela está de mau humor por causa da irmã. Releve por hoje, Tiago.

'- Ela sempre está de mau humor, Su. – Sirius respondeu pelo amigo, que se emburrara em seu canto – Mas não se preocupe, ele já está acostumado...

Susan riu mais uma vez, fechando a porta da cabine deles e desaparecendo também. Tiago suspirou.

'- Porque garotas têm que ser tão complicadas?

'- Pois é... Os homens são vítimas desses seres cruéis e sem sentimentos que são as mulheres... Nós somos pobres garotinhos indefesos na mão dessas... – Sirius começou.

'- Eu não consigo imaginar você como uma pobre vítima indefesa delas, Almofadinhas. Na verdade, eu sempre achei que fosse você o cara cruel e sem sentimentos. – Remo o interrompeu, sorrindo.

'- Bem, meu caro Aluado... – Sirius coçou a cabeça – Eu só não consigo deixar uma linda dama privada da minha companhia. Todas merecem um pouquinho de mim.

'- Na verdade, você não consegue resistir a um rabo de saia. Essa é que é a verdade.

Tiago e Pedro caíram na gargalhada enquanto Sirius tentava encontrar algum argumento para aquilo.

'- Certo, certo, eu me rendo. As mulheres são meu ponto fraco. Satisfeito com a confissão, Aluado?

'- Satisfeitíssimo, meu caro Almofadinhas. Pena que elas não estejam satisfeitas, não é verdade?

Dessa vez Sirius decidiu se manter calado. O silêncio predominou por alguns instantes na cabine até que Tiago se lembrou de um pequeno detalhe que deixara escapar.

'- Remo... O Prewett estava dando em cima da Lílian ou foi só impressão do Rabicho?

Foi a vez de Remo coçar a cabeça, pego de surpresa.

'- Olha, Tiago, eu não sei... A Lily costuma atrair muitos olhares, mas até onde eu saiba, ela nunca deu atenção especial a ninguém além de você. Se é que os gritos dela podem se chamar de atenção especial...

Tiago enrubesceu levemente enquanto os outros marotos riam. Pedro observou os amigos, sentindo-se extremamente leve. Mesmo não sendo tão bom quanto os outros três, sabia que eles gostavam dele, que o estimavam.

Não havia como negar. A amizade dos marotos era uma dádiva. E ele esperava que ela fosse eterna.


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Estava novamente em Hogwarts. Quantos anos tinham se passado desde que deixara a escola para trás? Não importava. Não era como se pudesse voltar atrás em tudo o que fizera.

Pedro se esgueirou pelas passagens secretas que conhecia de cor, observando as sombras que se projetavam na noite. Tantas foram as vezes em que caminhara por aqueles corredores sob a capa de invisibilidade de Tiago... Cada uma daquelas paredes parecia esconder um dos muitos segredos dos marotos.

Passou por corredores onde muitas vezes tinham emboscado Snape ou algum outro sonserino desavisado. Por salas onde Tiago e Sirius se escondiam com suas namoradas de fim-de-semana enquanto bolavam planos para fazer Lílian e Camille ficarem com eles. A biblioteca, reino do sempre estudioso Remo.

Enfim chegou ao salão principal, agora em sua forma animaga. Não podia se arriscar a andar pelas áreas comuns do castelo.

Fora ali que toda a confusão começara. Lílian se tornara “guardiã”, e, por causa dela, Tiago mentira, confiando apenas em Sirius para contar o que realmente acontecera. Fora aquilo que quebrara a amizade deles.

Não... Pedro sabia que a culpa não era só deles. Se Tiago e Sirius o tinham deixado de fora, não era porque não confiavam nele, ou não teriam feito dele fiel do segredo. A culpa era dele e de sua covardia.

O medo... Sim, o medo fora seu mais fiel companheiro. Tudo fizera por medo. Medo de ficar sozinho. Medo de morrer. De falhar com aqueles que acreditavam nele...

Quase riu. O medo não o impedira de falhar espetacularmente com as pessoas que tinham sido as mais importantes em sua vida...


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16 de novembro de 1973

'- Porque a gente tem que vir também? – Pedro perguntou bocejando.

'- Porque se o Pontas se encrencar, alguém tem que estar por perto para ajudá-lo. – Sirius respondeu, puxando a capa para mais junto do corpo.

'- Almofadinhas, a gente passou todas essas madrugadas acordados por causa da lua cheia... Não dava para vocês seguirem a Evans semana que vem, depois de termos reposto o sono?

'- Ah, Rabicho, você tá muito mole. Se o Remo não estivesse na enfermaria, aposto que ele tinha vindo.

Pedro suspirou e decidiu ficar quieto. Um pouco mais à frente deles, Tiago se esgueirava nas sombras, sem fazer barulho. Não muito longe, sovam os passos suaves de Lílian. Estavam quase no salão principal, talvez dessa vez pudessem entender o que estava acontecendo com a ruivinha.

Assim que entraram no salão, a primeira coisa que Pedro notou foi a lua minguante que se recortava contra o céu do teto encantado. A alguns passos de distância, Tiago parara. Assim como Lílian, que encostara as mãos à parede. De onde estava, Pedro pode perceber um brilho prateado começar a surgir ao redor das palmas dela.

Como se achando que aquilo já fora longe demais, Tiago, aproximou-se, colocando uma mão sobre o ombro dela.

'- Lílian? Lílian, acorde!

Ele a sacudiu de leve, fazendo-a se virar para ele. E, no instante seguinte, sem que ele ou Sirius pudessem atinar no que estava acontecendo, Tiago estava no chão, de joelhos. Os olhos verdes de Lílian brilhavam sinistramente na escuridão enquanto a pele do rapaz começava a adquirir uma tonalidade estranhamente azulada.

'- DROGA! – Sirius gritou, jogando a capa para trás e correndo até o casal – Tiago!

Pedro se aproximou assustado. Tiago estava sufocando. Sirius tentava ajudar o amigo, desesperado, enquanto Tiago massageava o pescoço, tentando puxar ar. Lílian permanecia em pé, uma pálida aura a envolvê-la.

'- PEDRO, FAÇA ALGUMA COISA!

'- Mas o quê?

'- EU NÃO SEI!

Mordendo os lábios, Pedro pensou em chamar alguém. Mas sabia que não daria tempo, Tiago já dava mostras de estar perdendo a consciência. Foi quando ele percebeu que parte da aura de Lílian também envolvia o amigo. Era um elo tão fraco que quase não se podia perceber.

Respirando fundo, ele tirou a varinha do bolso e aponto para o elo, torcendo para que aquilo desse certo.

'- Diffindo!

Imediatamente Tiago sorveu todo o ar de que era capaz, caindo nos braços de Sirius, que se ajoelhara ao lado dele. Lílian, por sua vez, encostou-se à parede, os olhos verdes piscando com força, como se ela estivesse acordando de um longo sonho.

'- O que... O que está acontecendo? – ela balbuciou com esforço, tentando se colocar em pé.

Sirius, Tiago e Pedro viraram-se para ela. Lentamente, Lílian foi empalidecendo escorregando para o chão. Tiago, mesmo fraco, tentou se levantar, mas Sirius o segurou, levantando-se para caminhar até a ruiva.

'- Você está bem, Evans?

'- O que aconteceu? – ela perguntou de novo.

'- Você agora acredita no que dissemos sobre você estar tendo crises de sonambulismo? – Tiago perguntou com esforço.

'- Você está bem? – ela perguntou, embora tentasse não demonstrar preocupação.

'- Tirando o fato de que você quase o matou asfixiado... – Sirius respondeu com um meio sorriso – Ele vai ficar bem. E você, o que está sentindo?

Ela fechou os olhos, fazendo uma careta.

'- Só estou um pouco tonta.

'- É melhor levarmos os dois para a ala hospitalar. – Pedro observou.

Sirius assentiu enquanto recolhia a capa de Tiago, guardando-a no bolso.

'- Ajude o Pontas, Pedro. Quanto a você, senhorita Evans... Parece que sempre se aproveita do meu cavalheirismo, não é? – ele observou, levantando-a no colo.

Lílian ficou levemente vermelha enquanto Tiago fazia uma careta. Pedro passou um braço pelos ombros do moreno e os quatro caminharam em silêncio para a enfermaria, onde Madame Pomfrey estava acordada, medicando Remo. Ela imediatamente se levantou, enquanto Remo observava espantado os amigos.

'- O que aconteceu? – a enfermeira perguntou se aproximando – E o que pensam que estão fazendo a essa hora perambulando por aí?

'- Eu estou sofrendo de crises de sonambulismo, Madame Pomfrey. – Lílian respondeu antes que a enfermeira pudesse pensar alguma besteira – Os meninos me seguiram para que eu não me machucasse...

'- Mas ela acabou machucando o Tiago mesmo dormindo... – Sirius continuou – Ele quase morreu sufocado.

'- Não exagera, Almofadinhas... – Tiago disse com a voz cansada.

A enfermeira assentiu.

'- Deixe-os nas macas, eu vou ver o que posso fazer. E voltem para sua sala comunal.

'- Não podemos ficar com eles? – Sirius ainda perguntou em tom suplicante.

'- Não senhor. Pode ir dando o fora, senhor Black.

Sirius suspirou e seguiu Pedro para fora da Ala Hospitalar. Os dois penetraram em silêncio na torre dos leões, deixando-se cair nos sofás junto à lareira. Lá acabaram por adormecer até que, quando o dia já quase começava a raiar, Tiago reaparecesse.

'- Sabia que vocês são uma gracinha quando dormem sem roncar? – ele perguntou, sentando-se ao lado de Pedro.

'- Ah, Pontas, não enche. – Sirius respondeu, tentando acordar – Você já está melhor?

'- Razoável. Mas parece que a Lílian tentou sair da enfermaria de novo durante a noite, apesar do remédio que Madame Pomfrey deu para ela. A velha tá querendo que a ruivinha se mude permanentemente para a Ala Hospitalar.

'- Como assim, a Lily ter que se mudar para a Ala Hospitalar? – a voz de Susan soou do alto das escadarias que levavam ao dormitório feminino – O que vocês andaram aprontando com a minha amiga?

'- Calminha aí, Senhorita Timms. Nós não aprontamos nada com ela. Ao contrário, foi a Evans que quase matou meu amigo asfixiado. – Sirius respondeu, levantando o rosto para ver a italianinha, que acabava de descer os degraus, revelando-se no salão.

'- Onde ela estÿ

'- Na enfermaria. – Pedro respondeu – Ela está tendo crises de sonambulismo. Vocês não estavam sabendo?

Susan estreitou os olhos e caminhou até a saída, logo desaparecendo através do retrato. Entreolhando-se, os três marotos a seguiram. A morena praticamente invadiu a Ala Hospitalar, parando diante da maca onde Lílian estava parcialmente deitada, conversando com Remo, do outro lado do cômodo.

'- Susan?

'- Porque não me disse que estava doente? – Susan perguntou, observando a ruiva, tentando encontrar algum sinal do “mal” da amiga.

'- Hã... Porque eu não sabia?

'- O que vai ser de mim agora? – Susan perguntou dramaticamente, abraçando a ruiva que fez uma careta por trás da amiga – Como vai ser quando eu tiver pesadelos? Para cama de quem eu vou correr? Quem vai me consolar?

Os quatro marotos estavam se controlando para não rir, enquanto Madame Pomfrey, atraída pelos quase gritos de Susan, entrava na enfermaria.

'- Su... Olha o escândalo... – Lílian sussurrou, começando a ficar mais vermelha que seus cabelos.

Susan apenas sorriu, içando-se para a maca da amiga.

'- Você está bem, maninha?

A ruiva sorriu carinhosamente.

'- Não se preocupe, não vai se livrar de mim tão fácil. Eu só vou ter que ficar na enfermaria de noite, durante o dia, aulas normais, então nem pense que vai conseguir me convencer a gazear por causa da minha “saúde”.

Nesse momento Sirius não conseguiu mais se controlar e caiu na gargalhada.

'- Vocês são muito engraçadas...

Lílian fez uma careta, embora tivesse um tênue sorriso nos lábios.

'- Obrigada por me chamar de palhaça, Black.

'- Conte sempre comigo.

Pedro virou-se para Remo, que também sorria. O amigo parecia estar bem melhor. Madame Pomfrey caminhou até ele, fazendo-o beber algum remédio que, pela cara que ele fez, certamente não tinha um gosto muito bom. Em seguida deu alta para os dois grifinórios.

Ele observou que Tiago lançava discretas olhadelas para as duas garotas, que caminhavam um pouco mais à frente deles enquanto iam para o salão principal. Riu em silêncio, meneando a cabeça.

Aqueles dois ainda iam render muitas confusões...


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Percy virou mais uma folha do livro enquanto Perebas observava entediado a chuva bater nas vidraças do salão comunal. Porque aquele Weasley tinha que ser tão irritantemente estudioso?

Sentia falta da Toca. Lì pelo menos, tinha Gina e Rony com quem se divertir. As duas crianças o tratavam com carinho, com ternura... Coisas que ele não sentia há muito tempo.

Pulou da mesa, aproximando-se um pouco mais da lareira. E, fechando os olhos, deixou a mente vagar até dias um pouco mais alegres de sua tão insignificante existência.



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29 de abril de 1974

Pedro correu o mais rápido que podia até o salão principal, parando ao lado de Tiago, que parecia imerso em pensamentos.

'- Tiago, o Sirius... A Dearborn mordeu o Sirius.

Tiago apenas assentiu em silêncio, continuando a olhar para o nada. Pedro revirou os olhos. Sinceramente, Tiago merecia muito mais o apelido de Aluado do que Remo. Suspirando, o rapaz deixou novamente o salão, transformando-se em um rato tão logo deixou as vistas dos alunos.

Correu de volta para o lugar onde tinha deixado Sirius, mas ele não estava mais lá. Ao invés dele, Rabicho encontrou um grupinho de sonserinos. Bellatrix Black, a prima de Sirius, estava lá também.

'- O Lorde está cada vez mais poderoso. – a morena sussurrou – Pensem bem de que lado vocês querem ficar quando começar.

'- Você logo vai receber a marca, não é mesmo, Bella? – uma garota perguntou com um sorriso malicioso – Será a primeira mulher a recebê-la. Está orgulhosa?

'- Com toda a certeza, Rosier. E, creia-me, assim como eu e como seu irmão, você poderá em breve recebê-la.

Os outros assentiram e Rabicho sentiu um esgar de pavor. Estavam falando do bruxo das trevas sobre quem ele e os amigos tinham conversado na viagem do trem... Assustado, ele correu para a torre da Grifinória.

Sirius estava lì sentado em uma poltrona, conversando com Lílian. Ela enfaixou o machucado que Camille fizera na mão do moreno, enquanto o ouvia atentamente. Rabicho respirou fundo, deixando novamente a torre. Embora quisesse falar com o amigo sobre o que ouvira, talvez não fosse a hora mais adequada.

Era melhor fazer uma visita à cozinha. Comer alguma coisa gostosa certamente o acalmaria. E depois ele poderia conversar com os amigos.

Só bem mais tarde ele voltou para a torre, muito depois de todos se recolherem. O rapaz deixou seus olhos correrem pelo quarto. Remo estava na enfermaria, para variar e Frank dormia profundamente, tão profundamente que qualquer um diria que ele fora enfeitiçado. As camas de Tiago e Sirius não haviam sido tocadas.

Com um suspiro, o loiro deixou-se cair em sua cama. Fora deixado para trás de novo. Ele reconhecia que não era tão corajoso quanto os amigos, mas ficava magoado todas as vezes em que o deixavam sozinho.

Meneou a cabeça. Eles tinham razão em deixá-lo. Se tivessem perguntado se ele queria ir, certamente teria dito que não. Assim, tentando esquecer do sentimento de ter sido excluído pelos amigos de alguma grande aventura, ele trouxe à mente as informações que ouvira naquele dia, em especial as de um certo grupo de sonserinos.

Poder... O Lorde das Trevas cada vez mais forte, o rapaz pensou com um tremor de medo. De repente uma pergunta invadiu seus pensamentos... O que ele faria se tivesse poder e grandeza?

Sirius e Tiago eram populares... Em Hogwarts, isso era sinônimo de poder. Por isso eles conquistavam tantas garotas, eram respeitados, temidos até. Desperdiçavam muita desse poder em truques, em meras peças contra seus desafetos.

O que aconteceria quando deixassem Hogwarts? O próximo seria o último ano deles ali... Pedro fechou os olhos, acabando por adormecer. Não precisava se preocupar com isso, pelo menos por hora.

Quando acordou, os dosséis das camas de Tiago e Sirius estavam fechados. Deviam ter chegado muito tarde; ele não se lembrava de tê-los ouvido entrar. Levantou-se em silêncio, observando que Frank já se levantara.

Provavelmente o rapaz já estava na biblioteca. Apesar de ainda terem um ano pela frente para os N.I.E.Ms., Frank agia como se eles estivessem muito próximos. Não à toa, já que tinha que conseguir pontos suficientes para ser Auror.

O dia se arrastou lentamente. Aula de Feitiços e, depois, História da Magia. Pra que diabos ele continuara com História da Magia quando podia ter desistido dessa matéria no quinto ano?

Dormitara durante toda a aula, ouvindo de longe Tiago matraquear sobre Lílian e algo que acontecera naquela manhã. Quando é que ele ia perceber que gostava da ruiva e tomaria uma atitude de uma vez por todas?

Finalmente, na hora do almoço, seguiram para a Ala Hospitalar, para visitar Remo. Ele e Tiago entraram, mas Sirius só foi aparecer um pouco depois, com um sorriso de orelha a orelha. Provavelmente aprontara alguma.

Marcaram para se encontrar pouco antes de a lua sair. Aquele seria o último dia de transformação de Remo. E dessa vez fariam uma bela excursão pela Floresta Proibida. O restante da tarde também se passou devagar até que ele foi tomar banho enquanto Tiago esperava Sirius. A noite já começava a cair.

Quando saiu do banheiro, encontrou Sirius sentado sozinho no salão comunal.

'- Hei, Almofadinhas... O que está fazendo aqui? – ele perguntou, notando que Sirius estava extremamente concentrado no mapa do maroto aberto à sua frente.

Sirius levantou a cabeça para ele, pálido.

'- Acho que eu fiz uma besteira.

'- Como?

Sem responder, Sirius levantou-se, deixando o salão comunal. Pedro puxou o mapa para si e, para sua surpresa, notou que o pontinho Tiago Potter estava ao lado de Severo Snape perto do Salgueiro Lutador.

Rapidamente ele levantou-se, deixando a torre e transformando-se no pequeno Rabicho. Atravessou passagens e mais passagens, tentando encontrar aquela que poderia levá-lo ao escritório do diretor.

Quando finalmente chegou lì Dumbledore acabava de fechar a porta para Tiago e Severo. O diretor sentou-se sozinho no silêncio de sua sala, observando a fênix empoleirada não muito distante de sua mesa.

'- Parece que temos um grande problema, Fawkes...

Rabicho concordava plenamente com ele. Voltou para a torre pelo mesmo caminho, mas lá chegando, não encontrou nem Sirius, nem Tiago. Apenas Lílian velava silenciosamente no salão às escuras.

Desistindo de sua procura, ele subiu para o dormitório. No dia seguinte teriam visita a Hogsmeade; talvez então tudo se acertasse. Entendia agora o porquê do sorriso malicioso de Sirius mais cedo.

Ele realmente aprontara...

Quando acordou, o dormitório estava novamente vazio. Pensou em ir até a enfermaria ver Remo. Mas lembrou-se do que acontecera na noite anterior. Não queria ser ele a dizer ao amigo o que Sirius fizera, mesmo porque ainda não tinha certeza de nada.

Vagou pelo castelo até a hora de ir para Hogsmeade. Assistiu aos alunos embarcarem nas carruagens, desaparecendo em direção ao vilarejo. Suspirando, ele se deixou ficar. Não vira nenhum dos amigos, e também não estava com muita vontade de se divertir.

Já passara da hora do almoço quando viu da janela de seu dormitório dois vultos entrarem na Floresta Proibida. Não precisava ser um gênio para descobrir quem eles eram. Assim, logo se transformou, seguindo pra lá também.

Pode ouvir os gritos de longe, percebendo de dois outros vultos também tinham sido atraídos pela confusão. Em silêncio, embrenhou-se atrás de algumas moitas, observando os dois amigos. Tiago estava furiosamente vermelho e Sirius, mais do que nunca, tinha o olhar parecido com o deu um cachorro abandonado.

'- Tiago, por favor, me deixa explicar.

'- Explicar? EXPLICAR! NÃO TEM EXPLICAÇÃO, SIRIUS! Você traiu a confiança de todos. VOCÊ ENTREGOU O REMO AO SEBOSO!

'- Eu não queria criar problemas para o Aluado. Eu queria justamente tirar o Ranhoso do caminho e...

'- Será que não passou nem uma vez pela sua cabeça que se acontecesse algo ao Snape, o Remo ia ser o culpado?

Nesse momento, Lílian entrou na clareira, puxando Susan pela mão e parando na frente de Tiago.

'- Porque você não pára um pouco para escutar, Potter, só pra variar? Eu não sei o que está acontecendo aqui, mas o Sirius está claramente arrependido. Vocês são amigos. Porque não tentam se entender sem fazer todo esse escândalo?

Tiago mordeu os lábios.

'- Eu não quero me entender com ele. E não somos mais amigos, Evans. - ele fez questão de frisar o nome dela - Licença.

Ele falou quase cuspindo as palavras e passou por Susan como se não a notasse. Lílian virou-se para Sirius.

'- Você quer conversar?

'- Mais tarde, Lily. Eu... preciso pensar um pouco...

Rabicho observou Sirius também sumir. Acontecera exatamente aquilo que ele tinha deduzido. Pior que isso. Aparentemente, depois de anos, a amizade dos marotos tinha acabado. O Ranhoso, mesmo que indiretamente, tinha conseguido o que queria.

E ele teria que escolher um lado. Teria que ficar ou com Sirius... Ou com Remo e Tiago. Suspirando, ele também voltou para o castelo.

Uma semana se passou. Nem Remo, nem Tiago conversavam com Sirius. Pedro nunca vira os amigos tão abatidos. Quanto a Sirius, ele agora vivia na companhia das garotas e de Frank. Todas na escola teorizavam sobre o que tinha acontecido, e muito tinha divertido Pedro saber que a mais aceita era que Sirius estava saindo com Lílian e Tiago se irritara com isso.

Como eram tolos de achar que os quatro poderiam se separar por causa de uma garota... Sirius jamais daria em cima de Lílian; ele a conhecera ainda no trem e, mesmo quando não eram amigos, ele sempre a defendia. De certa maneira, o que ele tinha com a ruiva era quase um carinho fraternal.

Meneou a cabeça, observando o salão principal. Era hora do jantar, todos estavam ocupados com seus pratos. Ele observou Sirius, do outro lado da mesa. Lílian, que geralmente estava por lì não tinha aparecido. Ele virou-se para Remo, a fim de comentar que Tiago também desaparecera.

Mas os olhos de Remo estavam fixos na mesa dos professores, onde Dumbledore acabara de se levantar.

'- Infelizmente eu tenho hoje uma notícia não muito boa para lhes dar. Creio que alguns de vocês, principalmente aqueles que têm parentes no Ministério, já ouviram falar de um novo bruxo das trevas. Até agora, havia apenas relatos isolados de mortes ocorridas nas sombras, atribuídas a fatalidades ou coisas do tipo.

Um burburinho tomou conta do salão enquanto Dumbledore tomava um longo gole de água da sua taça. O diretor parecia muito fraco, mas seus olhos brilhavam com uma determinação febril.

'- Até agora... Ontem à noite houve um ataque numa cidade trouxa perto de Londres. Aqueles que se auto denominam Comensais da morte deixaram afinal as sombras e marcaram a noite de ontem com seu símbolo de terror. Uma de nossas alunas perdeu os pais por conta dos “ideais” desses Comensais e de seu Lorde.

Pedro virou-se para o fim da mesa, onde Sirius acabara de se levantar. Susan e Emelina logo o seguiram. As outras garotas e Frank aproximaram-se deles. Remo também se levantou enquanto Dumbledore continuava seu discurso.

'- Foram os pais da Lílian. – Alice disse, tentando conter um soluço – Hagrid foi chamá-la na sala. Lembram de quando a professora Minerva empalideceu ao chamá-la? E ela foi ver o diretor e depois disso desapareceu...

'- Ela é filha de trouxas... – Pedro sussurrou.

'- É hora de acabar com essa idiotice de andarmos separados. – Remo observou – Vamos atrás dela.

Eles deixaram o salão ao mesmo tempo em que Dumbledore terminava seu discurso.

'- Peço que façamos um minuto de silêncio aos pais de nossa colega Lílian Evans. Aos primeiros inocentes que caem diante de mais uma guerra.

A maior parte dos alunos se levantou. Na mesa da Sonserina, Severo Snape e Bellatrix Black também se levantaram, deixando o salão.


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O Salgueiro Lutador imediatamente se aquietou quando ele apertou o nó sob as raízes. Rabicho deslizou pelo alçapão, voltando à forma humana assim que se viu na segurança do corredor que levava à Casa dos Gritos.

Subiu as escadas que levavam ao quarto onde Remo costumava se transformar. Lì ele deitou-se na cama quase desmontada, observando os móveis roídos e quebrados. Seus olhos subiram ao longo da parede, onde muitos desenhos tinham sido feitos com a ponta do canivete de Sirius.

Ele observou as assinaturas deles, além do carimbo de suas patas que Tiago havia esculpido ali.

Marotos eternamente.

Pedro sorriu ao lembrar-se de Sirius observando o quão piegas era aquilo enquanto Tiago marcava a madeira. Fechando os olhos, o homem suspirou.

Tudo o que queria agora era adormecer. Para sempre.


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Mais um capítulo pronto. Demorei um pouco mais do que pretendia, mas cá estamos, não? Tentem entender o meu lado, escrever sob a visão do Pedro é complicado... Mas o importante é que o capítulo está aqui e no próximo teremos mais Remo para vocês.

Bem, é isso, pessoal. Qualquer coisa, sabem onde me encontrar, não? O próximo capítulo trará mais Remo. E algumas das melhores lembranças da época de Hogwarts...

Beijos,

Silverghost.

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