Neblina



- Perebas, Perebas! – os dois gêmeos gritaram juntos, batendo palmas.

O cinzento e gordo rato corria de um lado para o outro, tentando se livrar da armadilha que as crianças lhe tinham preparado. Se com cinco anos Fred e Jorge Weasley estavam daquele jeito, o pobre Perebas não queria nem imaginar o que sofreria nas mãos daqueles dois dali a alguns anos.

A idéia era relativamente simples. Jorge tinha atraído Perebas com comida para uma gaiola de metal onde Fred tinha amarrado uma série de fogos filibusteiro. Depois de trancar o rato na gaiola, as duas crianças só tinham que observar o desesperado ratinho ao fugir das explosões.

- O que vocês pensam que estão fazendo? – Molly apareceu na sala nesse instante, segurando uma garotinha no colo – Vão matar o pobre Perebas, seus endemoniados! Deixem ele em paz!

Sem alternativa, Fred abriu a gaiola, deixando Perebas sair correndo. O rato ultrapassou a porta da toca, embrenhou-se no jardim e foi desembocar no pequeno bosque que circundava a casa dos Weasley.

A neblina rasteira anunciava a partida do inverno. O céu já estava escurecendo. Mas Perebas só foi deixar de correr quando chegou a uma clareira ainda desconhecida por qualquer pessoa que morava naquelas bandas.

Ali o rato parou. Para em seguida desaparecer, o corpo pequeno dando lugar a formas humanas.

Pedro Pettigrew.

O homem sentou-se numa pedra, olhando para a neblina que se condensava a seus pés. Passou a mão pelo cabelo ralo e virou-se para o céu. A lua cheia teimava em se esconder sob as nuvens e o vento frio dos últimos dias do inverno congelara o orvalho ao redor do animago.

Estava na casa dos Weasley há dois anos. Dois solitários anos... Percy, que “adotara” Perebas, passava os dias lendo. O responsável garoto de sete anos só olhava para o ratinho quando ele fazia um escândalo para que o alimentasse.

Os gêmeos, entretanto, não deixavam o “amiguinho” passar despercebido, sempre estavam pensando em novas experiências nas quais Perebas servia como cobaia. Aqueles dois pestinhas... Quando fossem para Hogwarts, poderiam competir em detenções com Sirius e Tiago.

Pedro estreitou os olhos, voltando-se novamente para a lua. Em algum lugar, também solitário, um lobo uivava para a lua.


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03 de outubro de 1969

- Ele sumiu de novo. – Tiago resmungou, deixando-se cair na cadeira.

Pedro, que estava sentado no chão, ergueu os olhos para o amigo e, em seguida, para a janela. Lá fora, a lua estava completamente cheia no céu quase sem nuvens. Sem que pudesse evitar, um arrepio percorreu sua espinha.

Sirius, que até aquele momento estivera em pé, escarrapachou-se no tapete, começando a brincar com o braseiro da lareira.

- Temos que encontrar uma maneira de ajudar o Remo. – Sirius observou.

Subitamente, Tiago levantou-se em um pulo.

- O que diabos é isso?

Pedro e Sirius voltaram-se para o amigo, que tirou do sofá uma pulseira prateada. Antes que qualquer um deles pudesse se perguntar como aquilo fora parar ali, uma sombra projetou-se sobre a cadeira.

- Potter? – Susan chamou com educação – Desculpe pela pulseira, eu a deixei cair mais cedo. Estava justamente procurando-a... Pode me devolver?

A italianinha estendeu a mão e Tiago a mirou com um meio sorriso. Nunca tinha tentado irritar aquela garota, seria uma excelente oportunidade para começar.

- Achado não é roubado, Timms. E eu gostei muito dessa pulseira.

- Devolva para ela, Potter. – uma outra voz soou logo atrás dos garotos.

Emelina tinha se aproximado da amiga. Um pouco mais atrás, ainda sentadas, Lílian, Alice e Selene observavam a cena, prontas para agir se fosse necessário.

- Isso foi uma ameaça, Vance? – Sirius perguntou, levantando-se.

A loira sorriu.

- Encare como quiser, Black.

- Bem, quem deveria ter medo de alguém por aqui são vocês. – Tiago observou, passando a mão pelo cabelo e sorrindo – Vocês já deviam conhecer nossa fama.

Lílian se levantou, aproximando-se o grupo.

- Faz-me rir, Potter. – ela sussurrou – Vocês é que deviam tomar cuidado. Não é porque não saímos azarando sonserinos por aí que somos menos capazes que vocês. Agora, devolva a pulseira.

Tiago ainda pensou em transfigurar o objeto de discórdia em algum ser asqueroso e fazer aquelas metidas saírem correndo assustadas, mas outra idéia lhe ocorreu. Pedro observou com curiosidade a face do amigo se abrir em um resplandecente sorriso.

- Fiquem com essa besteira para vocês. Pedro, Sirius... Vamos para o dormitório.

O garoto jogou a pulseira no ar, na direção de Susan. Sirius e Pedro se encararam e seguiram o amigo, deixando o grupo de grifinórias um tanto confuso.

- O que houve, Tiago? – Sirius perguntou assim que fechou a porta do dormitório.

- Eu já sei como ajudar o Remo. – os olhos dele brilharam – Animagia.


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Molly colocou mais café na xícara do marido enquanto tentava conter os gêmeos, que agora brigavam de guerra de comida. Gina balançou-se perigosamente na cadeirinha de assento alto, batendo palmas para os irmãos. Ao lado de Artur, Percy abria pomposamente o Profeta Diário para logo se perder na seção de classificados enquanto Rony atacava seu sanduíche com um garfo, tentando fazê-lo se mexer.

No meio do habitual caos matutino causado pelos cinco filhos mais novos dos Weasley, Perebas caminhava na direção do caderno principal do jornal que Percy deixara junto ao açúcar.

Nada de interessante. A manchete principal falava sobre um concurso de miss bruxa. Nenhuma nota sobre comensais ou sobre a volta d’Aquele-que-não-deve-ser-nomeado. Ou seja... Nenhuma esperança de vir a deixar de ser o “Perebas” nas próximas semanas.

- Hei, olha só... O Perebas tá lendo jornal! – Fred exclamou, apontando para o ratinho.

- Ele deve estar convivendo demais com o Percy... – Jorge respondeu, meneando a cabeça – Tisc, tisc, Percy, está levando nosso amiguinho para o bom caminho!

- Ah, não sejam idiotas! Ratos não sabem ler. – Percy levantou-se, tomando o rato em suas mãos – Não é verdade, papai?

- Hum? É, Percy, é sim... – Artur respondeu sem despregar os olhos do rádio-relógio trouxa que ele desmontava sobre a mesa.

Perebas percebeu que Molly não estava muito satisfeita com aquilo e que logo começaria a bronquear com o marido. Antes, porém que a discussão começasse, Percy saiu da cozinha, levando o rato consigo para depositá-lo numa das estantes da sala, onde uma série de fotografias piscavam e acenavam.

O rato observou seu dono se sentar no sofá e voltar a se absorver com a leitura do jornal. Em seguida, começou a passear entre as velhas fotografias, reconhecendo muitos dos rostos que sorriam das molduras.

Ele parou diante de uma que mostrava a dona da casa, em sua juventude, entre dois rapazes. Os três tinham muitos traços em comum. Não era à toa que dividiam o mesmo sobrenome: Prewett.

Se estivesse em sua forma humana, Pedro certamente teria suspirado ao lembrar-se de Fábio e Gideão Prewett, assassinados por comensais em dezembro do mesmo ano em que Harry Potter nascera.


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31 de outubro de 1969

Remo observou o céu vespertino com um suspiro. Era dia das bruxas e, para tristeza dele, teria que perder o banquete. Dali a poucas horas, a lua estaria cheia no céu. E a consciência disso era suficiente para deprimi-lo.

Os outros marotos também pareciam estranhamente tristes. Remo contara que sua avó tinha adoecido e por isso teria que viajar. Assim, os quatro permaneciam sentados no salão comunal vazio, esperando Madame Pomfrey chegar para levar Remo.

O quadro se abriu para dar passagem a um ruidoso grupo de garotas. Tiago ergueu a cabeça a tempo de encontrar os olhos de Lílian Evans. Sirius, ao seu lado, olhou-o com curiosidade.

- Ela está te olhando desse jeito desde o café da manhã. O que você andou aprontando, Tiago?

Ele virou-se para o amigo.

- Me olhando de que jeito?

- Como se desconfiasse de alguma coisa. - Sirius deu de ombros - Só você pode explicar, ora bolas.

- Acho que ela não me perdoou pela peça do ano passado. Lembra? A operação abóbora rosa?

- Ela podia ter te metido numa enrascada se tivesse contado para a Minnie... - Pedro observou, em voz quase sussurrada.

- Eu preferia que ela tivesse contado para McGonagall. Desde aquela época essa maluca me persegue, disposta a defender todo mundo que cruza o meu caminho. Acredita que no outro dia ela me impediu de azarar o Snape!

Os outros apenas concordaram com a cabeça como se aquilo fosse mesmo um grande absurdo, ao mesmo tempo em que as meninas subiam para seu dormitório. O silêncio voltou a dominar o salão comunal, deixando Remo se perder em seus próprios pensamentos.

Meia hora depois, não agüentando mais aquela imobilidade, Sirius levantou-se, batendo com força na mesa diante do amigo.

- Remo... Quando vai nos contar a verdade?

O outro garoto empalideceu, mas não alterou a expressão.

- Que verdade?

Foi a vez de Tiago se levantar, suspirando. Era melhor deitar logo todas as cartas do jogo.

- Não adianta mais mentir, sabemos que é um lobisomem.

Remo fechou os olhos, tentando absorver o impacto da revelação. Eles sabiam. Não tinha mais o que fazer além de ir atrás de Dumbledore e pedir para voltar para casa. Mas antes que ele pudesse se levantar, um forte tapa ecoou em suas costas e ele reabriu os olhos. Sirius começou a rir alto, enquanto Pedro, embora obviamente assustado, sorria.

- E aí, lobinho, porque nunca nos contou? Podíamos ter nos livrado do Ranhoso!

- Sirius! - Tiago cruzou os braços. Tudo bem que eles eram brincalhões, mas aquela não era a hora mais propícia para isso...

- Ah, Tiago, vai dizer que você também não teve essa esplêndida idéia?

- Você é um idiota... - o moreno de óculos respondeu, coçando a cabeça - Remo, nós entendemos que você quisesse esconder isso de todos, mas queríamos ajudar de alguma forma. Passamos os últimos meses pesquisando e descobrimos como fazer isso.

- Vocês estão dizendo que não vão deixar de ser meus amigos?

- Tá brincando! - Sirius disse sorrindo - É lógico que não! Como disse D'Artangnan, um por todos e todos por um!

- Quem é D'Artangnan? - Pedro perguntou curioso.

- Não sei. Estava num livro da Evans. Quando eu tentei abraçar ela, o livro caiu e eu li essa frase antes de levar um tapa.

- VOCÊ ABRAÇOU A EVANS!

- Foi. Porque, Tiago, tá com ciúmes? - Sirius riu maliciosamente.

- Ora, seu...

Remo levantou-se.

- Tiago, você disse... Você disse que passaram os últimos meses pesquisando... Há quanto tempo sabem disso?

- Desde o fim do ano passado. - foi Pedro quem respondeu.

- Mas essa não é a melhor parte, Aluado. - Sirius continuou rindo.

- Aluado! De onde você tirou essa? - Remo perguntou, espantado.

- Ué... Você vive no mundo da lua... E agora nós já sabemos porque, não é verdade. Assim, você agora é o Aluado.

Os outros rapazes balançaram a cabeça.

- Sirius e suas idéias brilhantes... Ninguém merece... - Tiago resmungou - Mas, como ele mesmo disse, essa não é a melhor parte. Nós descobrimos como te ajudar.

Remo meneou a cabeça.

- Isso é impossível, garotos.

- Não é não.- Sirius sorriu, abraçando o amigo pelos ombros - Lobisomens são perigosos apenas para seres humanos. E nós vamos virar animagos.

- Vocês O QUÊ!

- É isso mesmo que você ouviu, Remo. – Tiago continuou – E não adianta tentar nos impedir, porque nós vamos até o fim.

- Mas os professores nunca vão permitir e... – Remo continuou, tentando dissuadir os amigos daquela idéia absurda.

- Eles não precisam saber. – Sirius respondeu – Não vai haver problemas, afinal, nós somos os caras mais inteligentes dessa escola. E nem precisamos estudar para isso...

Remo ficou em silêncio. Estava cansado demais até mesmo para discutir. Ele se levantou, indo para o retrato da Mulher Gorda.

- Quando eu voltar, vamos conversar sobre isso. Espero que até lá, o juízo de vocês tenha voltado.

A lua cheia veio e passou e logo Remo estava de volta.Entretanto, os três marotos, ou melhor, Sirius e Tiago, não haviam desistido de sua “idéia insana”. Enquanto Remo estava fora, os dois amigos tinham vasculhado livros e mais livros, feito pedidos de artigos para poções, treinado feitiços e estavam quase prontos para dar seu primeiro passo em direção à animagia.

Assim, quando Remo decidiu passar o dia na biblioteca para repor as matérias perdidas, eles aproveitaram para pôr seu plano em prática. E Pedro, que mais atrapalharia que ajudaria, foi designado para vigiar o amigo lobisomem.

Era por isso que naquele glorioso fim de tarde, Pedro observava o amigo sob a capa de invisibilidade de Tiago.

O garoto encolheu-se contra as estantes quando Lílian Evans passou por ele. A biblioteca estava razoavelmente cheia, já que o vento frio do outono começava a prenunciar o inverno. Pedro suspirou. Porque, quando podia estar na cozinha se empanturrando de doces, tinha que estar na biblioteca vigiando Remo?

Lílian parou na entrada do corredor, observando o ambiente. As mesas estavam todas ocupadas. Sem alternativa, ela teve que rumar para a única onde havia cadeiras sobrando. A mesa onde Remo Lupin estava sentado.

- Com licença, Lupin... Será que eu posso ficar aqui?

O outro garoto apenas levantou a cabeça, assentindo. Lílian não pode deixar de notar o quão abatido ele parecia estar. Ela mordeu os lábios de leve. Não devia se preocupar com um maroto. Mas ele estava tão...

- Você está se sentindo bem? – ela perguntou meio incerta.

Dessa vez, Remo abriu um tímido sorriso.

- Estou. Essa aparência é só porque tive uma gripe meio forte semana passada...

Lílian observou os pergaminhos que ele copiava.

- Por isso você não estava nas aulas durante a semana... Está tentando recuperar a matéria? – ela perguntou, solícita.

- Estava tentando decifrar os garranchos dos meninos, mas estou quase a ponto de desistir... – Remo coçou a cabeça.

A ruiva puxou a mochila para si e tirou um maço de pergaminhos dela, entregando-os para o colega.

- Não perca seu tempo com esses hieróglifos. Pode ficar com as minhas anotações. Pelo tempo que for preciso.

- Obrigado. – Remo aceitou, meio surpreendido pelo tom carinhoso da colega.

Lílian apenas sorriu em resposta e mergulhou em seus próprios estudos. Pedro os observou em silêncio. Tiago e Sirius pareciam ter se esquecido dele... Aliás, não havia porque ele estar vigiando Remo, nem em sonhos o amigo desconfiaria que aqueles dois malucos continuavam com a idéia de se tornarem animagos para ajudar o lobisomem nas noites de lua cheia. Provavelmente ele achava que isso era impossível.

Mas nada era impossível para Tiago e Sirius, Pedro pensou com certo orgulho.

Finalmente Sirius apareceu na porta da biblioteca. Com uma última olhada para Remo e Lílian, Pedro deixou a biblioteca para ir juntar-se aos outros marotos.

- E então? – ele perguntou assim que se viu livre da capa, já em uma das passagens secretas que eles haviam descobertos em dois anos naquele castelo.

- A poção está pronta. – Sirius respondeu – Agora só o que temos de fazer é tomá-la e... Só Merlin sabe o que acontece...


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O pequeno Perebas saiu quase correndo do quarto dos gêmeos, passando por um assustado Rony e pela senhora Weasley. Percy tentou aproximar-se para pegar seu rato, mas não teve tempo. Perebas saiu correndo desabalado pela porta, embrenhando-se no jardim da Toca.

Pedro ainda ouviu Molly tentar consolar o filho, dizendo que o rato certamente voltaria, enquanto ralhava com os gêmeos, que apareciam com as caras sorridentes igualmente cobertas de fuligem.

O rato logo deixou o jardim, chegando ao pequeno bosque que circundava a propriedade. Lá, ele voltou a sua forma humana, já bastante maltratada sem as idéias mirabolantes dos gêmeos.

Ele sentou-se numa pedra, observando a neblina que pairava sobre o bosque. Aquela neblina parecia sempre acompanhá-lo quando visitava aquele lugar. Por algum motivo, lembrou-se da Floresta Proibida e dos amigos.

Uma lágrima correu pelo rosto rechonchudo. Aqueles tempos felizes nunca mais voltariam. E a culpa era toda dele. A culpa era dele se os rostos sorridentes nas fotografias da sala de estar dos Weasley já não mais existiam.

A culpa era toda dele...

Pedro acabou por adormecer ao relento. Acordou com o sol já alto. Sentou-se no chão, sentindo fome. E, para sua surpresa, ouviu um choro baixinho vindo de não muito longe.

Voltando a se transformar em rato, ele voltou-se na direção do choro. E, para sua surpresa, encontrou o pequeno Rony.

O ruivinho parou quase que imediatamente de chorar ao ver o rato diante de si. Os dois se encararam por alguns instantes antes de Rony tomar Perebas nos braços, estreitando-o contra o peito.

- Eu estava procurando você. – Rony confessou com a voz infantil ainda marcada pelo choro – E acabei me perdendo...

O rato movimentou a cabeça, como se dissesse algo. Em seguida escapou do abraço da criança, pulando para o chão. Rony coçou a cabeça enquanto Perebas o encarava como que pedindo alguma coisa.

- Você sabe voltar para casa?

Se pudesse sorrir, o ratinho certamente o teria feito. Rony levantou-se, enxugando o rosto.

- Você na frente, Perebas! – ele exclamou, já mais animado.

Perebas o guiou para fora do bosque, até o jardim, onde Molly já o esperava preocupada.

- Ronald! Onde você esteve? Seu pai e seus irmãos passaram a noite te procurando!

Ela estreitou o filho nos braços, segurando-se para não chorar novamente. Passara a noite em claro assim que descobrira que Rony não estava em sua cama. O sol nascera a pouco e, enquanto esperava que o marido voltasse com alguma notícia, chorara diante das fotografias de sua família.

- Perebas me trouxe de volta. – ele respondeu, tentando se soltar da mãe.

- Nunca mais faça isso, Rony. – Molly pediu, soltando-o, antes de murmurar para is mesma – Eu não quero perder mais ninguém...

O ratinho baixou a cabeça ao ouvir o sussurro da mulher.

Sua culpa...


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29 de novembro de 1969

- Sirius... – Pedro puxou a barra da capa do amigo.

- Pedrinho, eu já disse que agora não! O Tiago está quase...

- Sirius, é sério!

O outro menino finalmente desviou o olhar do jogo para fixar as orbes azuis na face do amigo.

- O que é afinal?

- Problemas. – Pedro respondeu, apontando para um ponto atrás das arquibancadas, já fora do campo.

Sirius estreitou os olhos, reconhecendo algumas das silhuetas que estavam lá. E uma delas era de seu amigo Remo Lupin.

- Vamos. – Sirius comandou, levantando-se e passando pela multidão para deixar a arquibancada.

Pedro seguiu o amigo, tomando cuidado para manter-se atrás de Sirius, que abria caminho quase grosseiramente. Após muitos empurrões, finalmente estavam fora do campo, correndo para descobrir o que estava acontecendo.

- Oras, MacFusty, gostaria de saber o que seu velho pai teria a dizer se soubesse que anda se misturando com mestiços e sangues-ruins. – Malfoy observou com um sorriso superior.

Susan crispou o punho, disposta, se possível, a repetir a mesma façanha do primeiro ano, quando quase quebrara o nariz daquele sonserino. Enquanto isso, Alice tentava ajudar Lílian, que caíra no chão com a perna direita em um ângulo muito estranho, a se levantar. Remo murmurou um feitiço, fazendo uma tala aparecer na perna da ruiva e ajudou Alice a colocar a amiga em pé. Lílian mordeu os lábios para não gritar.

Alice finalmente voltou-se para Lúcio, pronta para responder. Mas antes de pudesse fazê-lo, Sirius estava atrás do sonserino, a varinha encostada ao pescoço dele.

- Ei, seu limão azedo... Ninguém mexe com o pessoal da nossa casa e sai impune. – Sirius estreitou os olhos – Não sabia que as cobras tinham decaído ao nível de mexer com pobres donzelas indefesas.

- Você é um idiota, Black. – Lúcio voltou-se lentamente para encarar o garoto – Acha que um mero segundanista pode contra mim?

- Que tal então seis, Malfoy? – Susan perguntou, aproximando-se.

Lúcio riu, mas guardou a varinha.

- Aproveitem enquanto podem. Não demorará muito para que vocês baixem essas suas cristas.

O rapaz deixou o grupo sem olhar para trás. Sirius ainda pensou em mudar a cor do cabelo do sonserino para azul bebê, mas acabou desistindo ou as garotas iam acabar se voltando contra ele também.

- Evans, você está bem? – ele perguntou, observando a perna dela.

- Ela quebrou a perna, Sirius. – Remo respondeu – Não há como ela estar bem.

- Isso não é verdade... – Lílian tentou dizer, mas foi desmentida por um gemido de dor.

Sirius suspirou, olhando para o campo, onde o primeiro jogo da temporada e de Tiago como apanhador estava se desenrolando. Era uma manhã de sábado fria, mas o céu estava sem nuvens e o sol dardejava suavemente sobre o campo. Tiago certamente se daria bem.

Afastando da cabeça a preocupação com o amigo, Sirius aproximou-se de Lílian, passando a mão pelas costas dela para em seguida levantá-la no colo.

- Ei, o que pensa que está fazendo? – ela perguntou indignada, esperneando com a perna boa.

- Se você se comportar para não cairmos, eu pretendo levá-la na enfermaria.

Remo também aproximou-se.

- Vamos dar uma trégua, sim? Você não pode colocar força nessa perna. Deixe ele te carregar.

A ruiva deu um suspiro de resignação e o grupo se pôs em direção ao castelo.

- Afinal, o que aconteceu? – Pedro perguntou, curioso.

- Nós estávamos indo para o campo assistir ao jogo.Aí o Malfoy apareceu do nada, deu um esbarrão na Lily e começou a me criticar. O Remo chegou pouco antes de vocês. – Alice suspirou – Ah, como eu queria ter respondido àquele idiota!

- Não faltarão oportunidades, MacFusty. – Sirius observou.

- Alice. Pode me chamar de Alice. – a baixinha respondeu.

O restante do caminho foi feito em silêncio. Finalmente chegaram à ala hospitalar e Sirius depositou a ruiva em uma das macas.

- Temos que chamar Madame Pomfrey. – Remo observou enquanto ajudava a amiga a se deitar.

- Ela está no campo de quadribol. – Pedro respondeu – Chegou pouco antes de sairmos.

- Pedrinho, quantos olhos você tem? – Sirius perguntou, dando um soquinho de leve na cabeça do amigo – Você vê tudo o que acontece em 360º. Qual o seu segredo? Olhos na nuca?

Pedro ficou ligeiramente vermelho enquanto os amigos riam. Notando o embaraço dele, Remo tratou de mudar de assunto.

- Temos que denunciar o Malfoy. Ele está começando a perseguir as meninas.

Lílian meneou a cabeça.

- Ele vai dizer que foi só um esbarrão, que não me empurrou de propósito. Além disso, ele é monitor. A palavra dele vale mais do que a de um bando de pirralhos, incluindo a de renomados encrenqueiros.

Sirius sorriu.

- Parece que nossa fama já depõe contra nós... Mas ele vai se arrepender. Só quem pode mexer com vocês é a gente. Não se preocupem, meninas, eu mesmo vou cuidar daquela abóbora albina.

A ruiva suspirou, fechando os olhos enquanto Alice e Susan riam. Remo virou-se para Pedro.

- Parece que o jogo acabou.

Sirius caminhou rapidamente até a janela, de onde podia ver o campo. Os alunos começavam a voltar para o castelo e pela “animação” do time dos leões, Tiago não se saíra muito bem...

Poucos instantes depois, a porta da enfermaria foi aberta e Madame Pomfrey entrou, acompanhada de uma maca e da professora de transfiguração, que tinha muitas mechas do sempre impecável coque a cair soltas sobre o rosto rubro.

- Isso é completamente inadmissível, uma afronta a todas as regras e...

Sirius aproximou-se da maca, arregalando os olhos.

- Tiago! Mas o que foi que aconteceu?

- Um dos batedores da sonserina... – o garoto murmurou com uma careta de dor – Ele...

- Eu vou fazer aquele idiota pegar detenções até se formar! Como ele se atreve! – Minerva continuava, já um tanto descontrolada – Ele não podia rebater o braço do apanhador, os balaços estavam do outro lado do campo! Isso é inadmissível!

- Quadribol é um perigo. – a enfermeira resmungou por seu turno – Deveria ser proibido!

O grupo observava a explosão das duas mulheres de boca aberta. Mas, finalmente, McGonagall percebeu que tinha platéia.

- E vocês, o que estão fazendo aqui? – ela perguntou mal-humorada.

- Eu... Caí de mau jeito, professora. – Lílian respondeu, perguntando-se o que a professora Minerva faria se soubesse que um sonserino a atacara. No atual estado dela, provavelmente Lúcio Malfoy seria cozinhado a fogo baixo...

A mulher pareceu se contentar com essa resposta e deixou a enfermaria para tomar providências. Enquanto Madame Pomfrey procurava remédios para seus pacientes, Sirius começou a cochichar com Tiago.

Pedro observou os olhos verdes de Lílian faiscarem sinistramente na direção dos dois marotos quando Tiago sorriu, concordando com alguma coisa que Sirius dissera. Provavelmente os dois estavam planejando “a vingança”.

Ele meneou a cabeça, sorrindo. Era bom ter aqueles dois como amigos.


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A árvore de Natal estava quase pronta. Só faltava a estrela dourada com que Gina brincava sentada no chão, próxima a escada. Artur desceu os degraus, cuidadosamente.

- Ei, pequena... Eu vou precisar disso agora. – ele apontou para a estrela, enquanto fazia um carinho na cabeça da filha.

Gina apenas assentiu, sorrindo, e logo estendeu a estrela para o pai. Artur voltou a se levantar e a ruivinha voltou sua atenção para Perebas, que dormia no sofá.

- Perebas? – ela chamou, cutucando-o de leve nas costelas – Perebas?

O rato abriu os olhos preguiçosamente, encarando Gina com curiosidade.

- Você quer brincar? – ela perguntou, delicada.

Perebas apenas abriu e fechou os olhos, virando-se de barriga para cima. Gina coçou a barriga descoberta dele, mas o rato continuou sem se mexer. Ela suspirou, caindo sentada aos pés do sofá.

- Você nunca quer brincar comigo, seu rato chato!

Nesse instante, os gêmeos e Percy desciam as escadas, discutindo acaloradamente sobre alguma coisa que parecia se relacionar com os livros de Percy. Perebas não deu atenção, mas abriu os olhos, observando a movimentação da casa.

Molly ia e vinha da cozinha, tentando preparar o almoço e pendurar as guirlandas na sala ao mesmo tempo. Os dois filhos mais velhos, Gui e Carlinhos, tinham chegado de Hogwarts no dia anterior e jogavam quadribol nos fundos da casa, assistidos por um entusiasmado Rony. Gina continuava sentada no chão, mas agora parecia se divertir em colocar as botinhas de um Papai Noel em miniatura na boca.

- Gina! – Molly exclamou, tirando a menina de perto dos enfeites – Não pode comer isso! Se estava com fome, era só ter pedido...

Perebas seguiu interessadamente mãe e filha para a cozinha. Molly instalou Gina junto à mesa e colocou um enorme bolo na frente dela.

- Pronto. Agora coma à vontade.

Perebas pulou para cima da mesa com alguma dificuldade, enquanto Gina observava a mãe sair da cozinha.

- É, agora você vem atrás de mim, seu rato comilão. – ela resmungou quando Perebas surgiu no colo dela – Você quer bolo?

Gina tirou uma fatia para si e colocou outra diante de Perebas, que comeu avidamente. De repente, música começou a vir da sala. Perebas e Gina voltaram a cabeça para a porta, observando o resto da família reunida.

Ele voltou a se encolher, olhando para o bolo já sem grande vontade. Sua mãe ainda seria viva? Como ela estaria passando o Natal?

- Vem, Perebas! – Gina pediu, já no chão – Estão esperando a gente.

O ratinho pulou para o colo dela. Gostaria de poder enterrar o passado e fazer de conta que era realmente um rato, vivendo pacificamente com a família Weasley. Gostaria de, pelo menos por uma noite, esquecer a culpa.

Lá fora, a neblina passeava rasteira em mais um começo de inverno.


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E cá estamos novamente com o segundo capítulo de Doze Anos. Espero que, apesar de não gostarem do Pedro, você tenham aproveitado o capítulo.

Bem, por hoje é só. Já me alonguei demais. Ainda tenho que destrinchar Schopenhauer para um seminário de filosofia... Beijinhos!

Silverghost.

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