Pedido de casamento

Pedido de casamento



Fechando os olhos, podia sentir de novo o peso dele sobre ela, as mãos dele desabotoando sua blusa, os lábios queimando a pele... Embora estivesse sozinha, as sensações eram tão reais que quase podia sentir o cheiro dele impregnando o travesseiro em que ela se apoiava.

Levou a mãos aos lábios, que estavam vermelhos, úmidos, dolorosamente saudosos...

Como tanta coisa podia mudar em apenas uma noite? Até o dia anterior estavam brigados, sem se falarem. E, de repente, ele tinha novamente os braços ao redor de sua cintura enquanto tentava sufocá-la com seus beijos.

Lentamente, ela percorreu com as mãos a trilha de fogo que ele deixara em seu corpo. Podia sentir cada músculo contraindo-se, na ansiosa espera dele tocá-la.

Preguiçosamente, ela se levantou e seguiu para o banheiro enrolada no lençol. Lavou o rosto e encarou-se no espelho. Podia ainda sentir o hálito quente dele sobre seu pescoço, sussurrando-lhe no ouvido as doces mentiras que enganavam a todas... Até mesmo a ela.

"Eu quero casar com você, ruiva. Estou cansado de viver sem você."

Sorriu amargamente para sua imagem. Porque ele tinha que ser tão cruel? Por que tantas promessas vazias, tanta mágoa, se tudo o que ele queria era tão somente seu corpo? Ele conseguira dobrá-la, como conseguira com todas as outras. Por que ainda tripudiar dos seus sentimentos?

Meneando a cabeça, ela soltou o lençol e entrou na banheira. Logo estava mergulhada na água quente, com a espuma quase a escondê-la.

Aos poucos, Lily foi relaxando e não demorou para que a mente dela voltasse a vagar pelas lembranças da noite anterior. Podia se ver novamente abrindo a porta e sendo simplesmente "atacada" antes que tivesse tempo de fechá-la na cara dele. Os beijos que simplesmente a desarmaram enquanto as mãos corriam rapidamente sob a blusa até alcançar o fecho do sutiã. As roupas abandonadas na sala e o longo caminho até o quarto dela, onde uma foto dos dois juntos denunciava que todos os protestos dela de que já o tinha esquecido eram falsos.

E depois, dormirem uns nos braços do outro, entre murmúrios e carícias gentis. Seus dedos já tinham até mesmo decorado o traçado do rosto dele.

Suspirando resignadamente, ela puxou o roupão, vestindo-o sem se enxugar, voltando para o quarto. A visão da cama desfeita fez com que se lembrasse de quando acordara. Sozinha. Porque continuava a acreditar nas mentiras dele?

Quase sem querer, ela se aproximou da janela, puxando as cortinas para deixar o sol radiante passar. Uma brisa fresca passou por ela, bagunçando os cabelos ainda úmidos. Mordeu os lábios ao respirar profundamente. O cheiro dele estava impregnado nela também... E no próprio vento.

- Quanto falta para você acabar de me enlouquecer? - ela perguntou para si mesma, apoiando a cabeça no batente e observando o céu.

O barulho de uma chave girando na fechadura arrancou-a de seus devaneios. Ela se virou para a porta no exato instante em que ele entrava por ela, como se estivesse tudo devidamente cronometrado, rigorosamente ensaiado e soberbamente orquestrado pelo destino de ambos.

Encararam-se por alguns instantes até que ele tirou uma caixinha preta de veludo do bolso do sobretudo, depositando-a sobre a cama.

- Eu não vou pedir duas vezes. - ele sussurrou - Não vou implorar, nem me humilhar de novo. Eu estou cansado de assistir você negar o que sente e o que eu sinto. Estou cansado de sentir você tentando esquecer o que existe entre nós. Cansado de vê-la fugir de mim quando obviamente me ama tanto quanto eu te amo.

Voltando a morder os lábios, ela se aproximou, percebendo agora que a caixinha estava aberta, revelando um aro dourado.

Ele não mentira. Não fizera nenhuma promessa vazia. Estivera errada o tempo todo, desdenhara do amor que ele sempre lhe oferecera... Porque? Porque ele ainda insistia? Porque ele não desistira dela e de sua teimosia?

Levantando o rosto dela, ele pareceu ler todas aquelas dúvidas no olhar que se fixava em seu rosto.

- Não escolhemos as pessoas que queremos amar. - ele murmurou - Eu poderia ter qualquer uma aos meus pés. Você era a única que me era indiferente. E foi justamente por você que eu fui me apaixonar. Eu sei que já machuquei você, assim como você me machucou. Dizem que Deus gosta de jogar dados com o universo. Eu acho que ele está se divertindo muito com nós dois.

Ela sorriu de leve, brincando com a aliança por entre as mãos.

- E mesmo sabendo quem eu sou, você quer se arriscar. - ela respondeu - Pensei que era eu quem devia vir com manual de instruções... Eu não entendo você.

- Seria covardia fugir sem ter tentado.

- Como eu fugi. - ela retrucou, sem olhar para ele.

Ele se ajoelhou ao lado dela, olhando-a sério.

- Lils... Eu só quero uma chance de provar que podemos ficar juntos.

A aliança escorregou por entre as mãos dela, encaixando-se com perfeição no anular dela. Lily se levantou, encarando-o com altivez.

- Você está assumindo um risco que vai contra todas as probabilidades. Sabe que não vai dar certo e mesmo assim...

- Só não vai dar certo se você não quiser. - ele respondeu levantando-se - Você sabe que eu não sou mais a mesma pessoa que você conheceu... Lily, eu só vou perguntar uma vez... Você quer casar comigo?

Ela olhou para a aliança em seu dedo e para os olhos escuros do rapaz em pé a sua frente. Respirando fundo, ela tirou a aliança, entregando-a de volta à caixinha.

- Eu sinto muito, James. Eu não posso arriscar.

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