Flertando com o inimigo



- Alguém viu o Pontas? - Remo perguntou enquanto eles saíam da primeira aula do dia: trato de criaturas mágicas.

- Não... Pensando bem, ele sumiu desde a hora do café, quando foi atrás da Evans. - Pedro observou.

- Esqueçam. Ele provavelmente está fazendo propaganda boca a boca. - Sirius respondeu, coçando a cabeça displicentemente e arrancando suspiros de suas leitoras - Literalmente.

Os outros dois marotos deram de ombros e continuaram a caminhar para a aula seguinte, que seria com o professor Flitwick. Estavam já na metade da aula quando Remo jogou um bilhete no colo do amigo cachorro.

"A Lílian também não está aqui."

Sirius coçou o queixo com a ponta do pergaminho e logo a resposta era passada para Remo.

"Ela certamente não está com o Pontas. Talvez esteja em alguma reunião da monitoria. Você está ficando paranóico, lobinho."

Remo meneou a cabeça ao ler a resposta. Pedro leu o pergaminho por cima do ombro do amigo e mandou mais um bilhete para os dois amigos.

"E se eles estiverem juntos?"

Sirius tentou segurar uma risada.

"É o mesmo que dizer que você é um forte concorrente nessas eleições, Rabicho..."

Enquanto isso, atrás de uma tapeçaria onde unicórnios pastavam tranqüilamente no corredor da sala de transfiguração, Lílian e Tiago permaneciam entalados.

- Certo... Animal com a letra e? - ela perguntou, pensativa.

Tiago fechou os olhos. Quando tentara beijar a ruiva (e chegara a dar um selinho nela), recebera uma violenta canelada. Depois de dez minutos em que ela gritou sobre a cara de pau dele e vários outros defeitos que ela julgava que ele possuía, enquanto os dois se cortavam nas paredes de pedra devido às tentativas de movimento dela, os dois tinham feito um trato de silêncio, mas ela não conseguira cumpri-lo e acabara convidando-o para um jogo.

- Erumpente. - ele respondeu.

- Elefante. Agora com a letra f.

- Lílian, será que não existe nada mais interessante que esse jogo?

Ela suspirou.

- Certo, eu também estou cansada. O quê quer fazer?

Tiago olhou para ela espantado. Ela estava dando o braço a torcer e perguntando o que ELE queria fazer? Aquilo seria um convite? Ele meneou a cabeça. A dor em suas canelas ainda estava bem fresca em sua memória.

- Não sei... Será que não podemos conversar? Acho que foram raras as vezes em que conseguimos conversar alguma coisa que não tenha terminado em gritos.

Ela fechou os olhos e apoiou a cabeça na parede. Tiago tentou afrouxar um pouco o abraço mas só o que conseguiu foi se arranhar ainda mais. Lílian riu e meneou a cabeça.

- É melhor não tentar se mexer. Nas duas últimas horas isso só provou que vamos nos machucar um bocado. Aliás, você já está todo machucado.

- Não é nada demais. Quando se joga quadribol, a gente tem que se acostumar com isso.

Lílian assentiu e voltou a se apoiar na parede, acabando por trazer Tiago junto de si. O garoto recuperou o equilíbrio antes que pudesse cair totalmente sobre ela e prendê-los ali ainda mais. O som alto das respirações de ambos preencheu o pequeno cubículo enquanto Tiago tentava levantar a cabeça do pescoço da ruiva.

- Tiago, espera, se você se levantar agora vai bater a cabeça... Isso parece uma estalagmite!

Ele não respondeu, ocupado que estava em se controlar para não atacar a curva alva do pescoço da garota. Lílian tentou empurrá-lo com o corpo e finalmente eles conseguiram se equilibrar de novo. Ele voltou a levantar a cabeça e encarou os olhos da ruiva com um sorriso trêmulo.

- Você me chamou de Tiago.

Foi a vez de ela rir.

- Bem, se até hoje de manhã eu dizia que você não tinha intimidade suficiente para me chamar de Lily, acho que agora tenho que morder a língua. Depois de duas horas entalada com você aqui, seria ridículo se eu continuasse a chamá-lo de Potter.

- Isso é realmente um avanço. - ele sorriu - E então, sobre o que íamos conversar mesmo?

Nesse exato instante, Sirius e Amos Diggory conversavam com a professora McGonnagal na frente da tapeçaria de unicórnios.

- A senhora é a única pessoa em que podemos confiar para isso, professora! - Diggory repetiu.

- Mas isso é... ridículo! Como eu posso...

- Minnie, você só tem que tomar conta das urnas e contar os votos. - Sirius a interrompeu - Vamos lá, por favor!

Minerva suspirou resignadamente. Se Dumbledore permitira aquelas eleições, ela tinha o dever de ajudar.

- Muito bem então. Mas da próxima vez em que me chamar de Minnie, senhor Black, eu vou providenciar uma detenção para você.

- Como quiser, Minnie. - ele respondeu sorrindo e logo desaparecendo pelo corredor.

O horário do almoço passou, assim como o das aulas da tarde e, a cada minuto, Remo parecia mais preocupado com o desaparecimento de Tiago e Lílian. Finalmente, pouco depois do jantar, Sirius cedeu aos apelos do amigo.

- Ok, Aluado, vamos procurar aqueles dois. Se essa é a única maneira de você se acalmar... - Sirius virou-se para Pedro - Rabicho, pegue o mapa lá no dormitório.

Pedro assentiu e logo subiu as escadas quase correndo.

No nicho da parede atrás da tapeçaria, Lílian e Tiago conversavam.

- Então sua irmã odeia magia? - ele perguntou curioso.

- Abomina. - ela respondeu, assentido com a cabeça para reforçar suas palavras.

- E como é que você convive com ela?

- Não é nada fácil. Petúnia vive procurando maneiras de me manter longe do meu material quando estou em casa, me chama de anormal e outras coisas muito "simpáticas"... - Lílian suspirou - Por isso eu sempre passo os feriados em Hogwarts quando posso.

- É, deve ser difícil para você. Eu nunca tive um irmão de verdade, mas o Sirius...

- Falando de mim, companheiro?

Tiago não pode se virar para ver o que estava acontecendo, mas pode enxergar nos olhos de Lílian a silhueta do amigo.

- Sirius, até que enfim, cara! Estamos entalados aqui desde o café da manhã!

- E como foi que vocês conseguiram essa proeza? - o rapaz perguntou com um sorriso malicioso.

Lílian viu Remo e Pedro colocarem a cara para dentro do buraco também.

- Snape. - ela respondeu simplesmente - Será que podem nos tirar daqui? Estamos machucados, essa porcaria de pedra está nos cortando sempre que tentamos nos mexer.

- É pra já, Lily. - Remo respondeu, tirando a varinha do bolso - Engorgio!

As paredes se alargaram magicamente e Tiago pode finalmente soltar Lílian, embora parecesse um pouco relutante em fazer isso. Já do lado de fora, sob a luz das tochas, os outros marotos puderam ver os vários cortes nos braços do casal.

- Vocês deveriam ir para a enfermaria. - Pedro observou.

Lílian pegou sua varinha no chão e apontou para Tiago e depois para si. Uma luz dourada apareceu e pouco depois os cortes se fecharam.

- Escutem, da próxima vez que encontrarem o Snape, por favor, façam alguma coisa realmente inesquecível. - Lílian falou enquanto guardava a varinha - Eu prometo que dessa vez eu não vou me intrometer.

A ruiva se virou para ir embora, mas antes que pudesse fazer isso, Tiago a segurou pelo pulso.

- Lily? É... Eu ainda posso te chamar de Lily, não é?

Ela sorriu.

- Pode, Tiago. - em seguida estendeu a mão - Amigos?

O rapaz assentiu, apertando a mão que ela lhe oferecia.

- Amigos.

Ela sumiu no corredor e Tiago sentiu o braço de Sirius abraçar seu pescoço enquanto o amigo observava o lugar por onde a ruiva fora.

- É, Tiago... Acho que você nos deve agora muitas explicações...

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