Propaganda política em buracos
O salão comunal da grifinória estava relativamente cheio apesar da hora. O sol apenas começara a se levantar no horizente e, no entanto, todos pareciam muito bem acordados. Junto às escadas que levavam aos dormitórios femininos está a maior aglomeração.
- Aqui, garotas! Fotos minhas autografadas! E atrás minha plataforma de campanha! Vamos, peguem, e não se esqueçam, votem em mim!
A voz de Sirius era bem audível, mas o rapaz estava praticamente invisível, graças às muitas garotas que pareciam gravitar ao seu redor e tentavam pegar o maior número possível das fotos que ele distribuía.
Não muito distante do amigo, Tiago, sorridente, conversava com três meninas do primeiro ano, que certamente derreteriam em alguns minutos de tão vermelhas que estavam. Infelizmente, para elas, o rapaz percebeu uma certa pessoa que acabava de descer as escadas e que não se intrometera no bolo que havia ao redor de Sirius.
Lílian observou as colegas com um certo desprezo enquanto puxava os cabelos até a nuca, tentando prendê-los num rabo de cavalo. Aquilo era totalmente ridículo. Não, chegava a ser asqueroso! Como Dumbledore pudera permitir que eles colocassem aquela idéia em prática?
- Bom dia, Lily!
A garota revirou os olhos. Porque ele tinha que testar a paciência dela tão cedo?
- Potter, você tem algum tipo de defeito na cabeça? Quantas vezes eu disse que nunca te dei e nem vou dar intimidade para me chamar de Lily? É Evans. Quer que eu soletre para você?
O rapaz não se alterou.
- Não precisa, Lily. Você pode pedir centenas de vezes que eu não vou chamá-la de Evans. Vamos ficar velhinhos, capengando e você vai repetir "É Evans!" e eu vou continuar dizendo "Oi, Lily!".
Ela bufou.
- Muito bem então. O quê quer, Potter?
- Eu só queria saber... Você vai votar em mim, não é?
A ruiva abriu um meio sorriso sarcástico.
- Você está gastando meu tempo por causa disso?
- Tempo quem gasta é relógio. - ele respondeu prontamente.
Lílian mordeu os lábios para não rir.
- Não é com piadas que vai conseguir comprar meu voto, "querido". - ela respondeu com a voz mais gelada que conseguia produzir.
- Então... Você podia aceitar aquele convite que eu fiz para sair comigo. Acho que seria uma excelente maneira de discutirmos minha plataforma de campanha... - ele respondeu com seu sorriso mais galante.
- Hum, deixe-me pensar... - ela fez uma cômica cara de reflexiva - Não sei, Potter, não tem espaço na minha agenda para "seres" como você. Quem sabe no dia em que o Snape decidir nos jogar num buraco escuro e profundo eu possa pensar em ter um encontro com você.
Sem dar chance de resposta, Lílian caminhou para a saída, logo desaparecendo de vista. Tiago suspirou. Mais um fora para sua lista. Pelo menos ela era criativa. Nunca levara um fora igual a outro. Grande consolo, na verdade...
Enquanto isso, Remo e Pedro observavam os amigos. O sexto ano deles estava próximo do fim, e, para variar, numa das intermináveis tardes que Sirius achava um tédio, o moreno tivera uma brilhante idéia.
- "Brilhante", sem dúvida. - Remo respondeu a Pedro, que relembrava como toda aquela história começara - Eles adoram esse tipo de coisa para massagear seus egos. "O cara mais gato de Hogwarts"? De onde é que o Sirius tira essas coisas, pelo amor de Merlin?
- Bem, Remo, você pode até achar ridículo, mas não podemos negar que a idéia foi um sucesso. As meninas estão super alvoroçadas com a proximidade das eleições e os atos de campanha deles. Ajudou a movimentar um pouco o marasmo que estava na escola. Admita, a idéia, no fundo, é legal.
Antes que Remo pudesse responder, uma garota extremamente vermelha aproximou-se deles.
- Ei, Lupin... Eu vou... Eu vou votar em você.
Foi a vez de Remo ficar vermelho, enquanto Pedro se contorcia no sofá, tentando não rir.
- É, bem... Obrigado. Eu acho...
A garota deixou o salão, assim como a maioria dos ocupantes da torre, e, por fim, só sobraram os quatro marotos.
- Sabe, Almofadinhas, não é muito justo você prometer que vai sair com todas elas se for eleito. Assim não vai sobrar nenhuma para mim, ora bolas...
- Oras, o que posso fazer se sou irresistível?
Tiago revirou os olhos. Remo e Pedro se entreolharam, divertidos enquanto os outros dois se sentavam junto deles.
- Então, como vai a concorrência? - Remo perguntou - Eu soube que o Diggory da lufa-luga e o Sttebins da corvinal também estão levando muito a sério a eleição. E na sonserina...
Sirius bufou.
- Meu irmão tem quase a totalidade de votos de lá. Mas isso é só porque ele é extremamente parecido comigo. E, para não terem que dar o braço a torcer, as meninas de lá vão votar nele, só para não votarem num grifinório.
- E o Ranhoso, será que não vai conseguir nenhum voto? - Pedro perguntou.
- No dia em que uma garota achar o Ranhoso bonito, a Lily aceita sair com o Pontas. - Sirius respondeu.
- Ei! - Tiago se levantou da cadeira, magoado - Você está querendo dizer que eu sou tão repulsivo quanto o Seboso?
- Não. Só que a sua amada ruivinha é a garota mais difícil que eu conheci na face da Terra. E olhe que eu conheci muitas garotas...
- Certo... Será que podemos agora ir tomar café? Vocês estavam tão ocupados em fazer campanha que quase esqueceram o café da manhã. - Pedro resmungou, levantando-se.
- Você sabia que um dos sete pecados capitais é a gula, Rabicho? - Remo observou.
- O que são os sete pecados capitais?
- Esquece. Não vale à pena explicar. Vamos logo tomar esse café.
Eles seguiram para o salão principal, e tão logo chegaram lá, algumas meninas rodearam Sirius, tendo pranchetas cheias de gráficos na mão.
- Sirius, na lufa-lufa você está quase empatado com o Diggory, mas já abriu uma pequena vantagem...
- E na sonserina algumas garotas disseram que vão votar em você, já que a eleição é secreta e a Bella não vai desconfiar que elas não votaram no Régulo.
- A corvinal é quase unanimidade sua.
- "timo. Estão liberadas agora, meninas, depois venham receber seu pagamento.
Enquanto se sentavam, Remo e Tiago viraram-se curiosos para Sirius.
- Você está pagando para que elas façam esse ibope de você nas outras casas? - Remo perguntou.
- Lógico.
- Quantos galeões? - Tiago perguntou, reflexivo.
- Eu não estou pagando em galeões.
- E como está pagando então?
- Em beijos.
O som alto de talheres de metal se entrechocando com a porcelana dos pratos preencheu a mesa e Tiago virou-se a tempo de ver que a pessoa que estava sentada ao seu lado estava se levantando com uma cara muito feia. E essa pessoa era, nada mais, nada menos, que Lílian Evans.
A ruiva deixou o salão parecendo extremamente enfezada. Os quatro marotos se entreolharam por alguns instantes e Tiago enfiou um pão de qualquer jeito na boca antes de sair do salão, tentando passar despercebido.
Quinze minutos passou perambulando pelos corredores até encontrar a ruiva. Só que o que viu não o agradou muito. Lílian estava em pé diante de Severo "Ranhoso" Snape, embora não parecesse ter conhecimento disso. Mas, a pior parte é que ele estava com a varinha apontada para ela.
- CUIDADO!
A rajada vermelha veio no exato momento em que Tiago se jogou na frente dela, abraçando-a para protegê-la com o próprio corpo. O impacto fez com que ela acordasse do torpor em que Snape a mergulhara. Ela arregalou os olhos enquanto os dois eram empurrados pela magia do sonserino para um nicho na parede.
- Confortáveis? - Snape perguntou, sorrindo - Espero que sim. Porque não vão encontrá-los tão cedo. A tapeçaria vai se encarregar de escondê-los e eu coloquei um feitiço muito interessante que vai impedir qualquer um de ouvi-los. Não gastem a garganta então. Ah... E tenham um bom dia!
- Snape, volta aqui! - Lílian gritou, desesperada.
Tarde demais. A tapeçaria voltou ao seu lugar, escondendo o nicho da parede. Tiago levantou a cabeça levemente. O lugar era extremamente apertado e, para complicar, os dois estavam entalados lá dentro. Suas mãos estavam nas costas de Lílian e as mãos dela estavam presas, apoiadas no peito dele. E ele não podia se mover sem arranhar os cotovelos na pedra nua.
Lílian também parecia ter percebido isso ao notar que um fio de sangue já corria do braço do rapaz. Ela olhou para cima, encontrando os olhos dele e Tiago percebeu com estranheza que havia um brilho de preocupação naquelas orbes verdes.
- Você consegue tirar sua varinha? - ele perguntou.
- Lumus! - uma luz fantasmagórica veio de chão - A minha caiu no chão e eu não tenho como me abaixar. E a sua?
- Está no bolso de trás da calça. Sem condições de alcançar.
Ela suspirou, voltando a abaixar a cabeça.
- Potter... o que é isso que está na minha perna?
Tiago percebeu na penumbra que a ruiva estava ficando vermelha.
- É um espelho de duas caras. - ele respondeu, tentando segurar o riso - Se eu pudesse alcançá-lo, poderia chamar o Sirius. Quer tentar?
Lílian tentou abaixar a mão, mas isso fez com que eles ficassem ainda mais enroscados um ao outro.
- E isso agora é alguma lanterna? - a ruiva perguntou, agora com a mão presa na cintura do rapaz.
- O que é uma lanterna? A propósito, Lily, será que você pode parar de se mexer? Eu realmente não quero ser inconveniente. - ele respondeu, envergonhado por seu turno.
- E o que vamos fazer agora? - ela perguntou, se aquietando.
- Eu tenho algumas idéias. Para começo de conversa, você pode aceitar sair comigo. Lembra do que disse mais cedo?
- Potter, não me provoque.
O rapaz abaixou a cabeça, percebendo que dessa maneira ficava muito próximo do pescoço dela. A ruiva sentiu um calafrio.
- Não temos mais o que fazer... Então, eu acho que vou te provocar. - ele respondeu, levantando a cabeça e deixando-a bem perto do rosto da ruiva.
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