Marlene
Lílian depositou os óculos escuros sobre a mesa, enquanto Tiago se deixava desabar no sofá. O espelho do hall lhe permitiu ver as profundas olheiras em seu rosto, assim como os olhos ainda brilhantes de lágrimas. Tinham acabado de chegar do enterro de Raymond Potter.
A ruiva aproximou-se do sofá, onde Tiago permanecia sentado, o rosto enterrado entre as mãos. Ela carinhosamente coçou a cabeça dele, observando pela janela o céu, que começava a escurecer.
Quando ela acordara, depois do ataque, estava deitada na cama do quarto que fora de Tiago na época em que ele morava com os pais. O moreno estava sentado numa poltrona virada para ela, dormindo, e em seu rosto havia marcas de lágrimas. Mais tarde ela soube que, após a morte do pai, Tiago enfrentara Voldemort, e só não morrera também porque um esquadrão de aurores chegou na hora.
- Tiago... - ela sussurrou baixinho - Venha comer alguma coisa. Precisa se alimentar, você esteve de vigília desde ontem de manhã.
Ele olhou para ela tristemente e Lílian sentiu um peso no coração. Nunca tinha visto aquele olhar em Tiago, um misto de sofrimento e impotência. Ela podia entendê-lo porque também passara por aquilo. A visão que tivera antes de atacar Bellatrix martelou-lhe a mente, e ela escorregou para o sofá, sentando-se ao lado do marido.
Tiago encostou a cabeça no colo dela, como se pedisse proteção. Lílian o abraçou, sentindo as lágrimas quentes dele escorrerem pela sua blusa. Ela também chorava. Como não choraria? Sentia a mesma dor do rapaz. E, no fundo de seu coração, a ruiva sabia que aquela não seria a última vez que choraria daquela maneira. Anos negros se aproximavam, podia sentir isso.
- Lily...
A ruiva abaixou a cabeça, encontrando os olhos de Tiago. Sabia o que ele ia perguntar. Não era preciso palavras para saber o que os dois pensavam naquele momento.
- Eu sempre vou estar aqui pra você, Tiago. Sempre.
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Pedro tremeu involuntariamente enquanto ouvia os passos pesados de seu lorde.
- Então não pode falar o que ouviu na reunião... Aquele velho ainda é muito esperto... E os Potter me escaparam pela terceira vez...
O rapaz encolheu-se quando o homem passou novamente por ele. Passara as três últimas horas sendo torturado, até Voldemort se convencer que, mesmo que quisesse, Rabicho não podia revelar os segredos da ordem que ouvira.
- Muito bem, se não posso usar os planos de Dumbledore contra ele mesmo, vou eliminar os aliados dele. Diga-me, pettigrew, quantos membros a Ordem possui atualmente, fora você?
- Vin-vinte e dois, milorde.
- Dumbledore e o irmão idiota dele, os Longbottom, os Prewett, Lupin, Black, os Potter... Refresque minha memória, Rabicho.
- Olho-Tonto Moody, chefe dos aurores; Dédalo Diggle do departamento de transportes mágicos; Emelina Vance do escritório de relações trouxas; Beijo Fenwick da diretoria do St. Mungus; Edgar Bones e seu sogro Carátaco Dearborn, aurores; Rúbeo Hagrid; Elifas Doge, chefe da Lílian Potter; Susan Timms, que está na Itália; Dorcas Meadowes, auror e Marlene Mckinnon, inominável.
- Bem, acho que devemos começar com as damas... Meadowes escapou de minhas masmorras, dessa eu quero cuidar pessoalmente. E a Mckinnon, é a telepata, não?
- Sim, milorde. - Pedro respondeu sem se mexer.
- Ela usa algo para inibir os próprios poderes?
Pedro forçou a memória. Marlene costumava usar uma tiara prateada na testa, uma tiara para controlar seu poder, ou enlouqueceria tendo a mente invadida pelos pensamentos daqueles que estavam ao seu redor.
- Sim, milorde.
- Ótimo. Ela sequer saberá de onde veio o golpe. É hora de começar a arrebentar os elos mais fracos de Dumbledore. Chame Travers. Vamos fazer uma visita essa noite.
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Sirius entreabriu os olhos, sonolento. Um vulto estava sentado diante dele, passando a mão sobre o seu rosto carinhosamente.
- Susan? Você não estava...
A italianinha sorriu enquanto Sirius se sentava na cama, acabando de acordar.
- Eu voltei hoje à tarde. A Lílian conversou comigo pouco depois de eu acabar de desarrumar as malas. Ela me contou o que aconteceu com o senhor Potter.
Sirius abaixou a cabeça.
- O pai de Tiago sempre foi um pai para mim também.
- Lílian disse que o Tiago está arrasado. Ela também não me pareceu nada bem.
O moreno estendeu a mão, puxando Susan para o lado dele e deitando-se no colo dela.
- Eu estou me sentindo uma criança perdida, Su. Ontem, no enterro, o olhar da tia Miriam... E tem havido dezenas de ataques, só essa semana dizimaram duas aldeias trouxas. Não houve um sobrevivente, Susan, eu...
- Shhh... Vai acabar tudo bem, Sirius. - ela começou a fazer cafuné nele - Teve reunião da Ordem há duas semanas. O que foi discutido?
- Fenwick fez mais um de seus intermináveis discursos sobre a importância do St. Mungus e que precisam de mais recursos, Moody alertou sobre "vigilância Constante", o sr. Doge mostrou um monte de tabelas e gráficos sobre os últimos ataques, Tiago enfeitiçou o peru de natal para dançar toda vez que as meninas iam colocá-lo no forno, Lílian teve uma crise histérica... Nada fora do usual.
- Nenhuma novidade?
- Fora o fato de que estamos de pés e mãos amarrados até o próximo passo de Voldemort, não.
O silêncio voltou a cair no quarto. Susan observou o rapaz piscar os olhos, sonolento, até dormir completamente, deitado em seu colo. Com um sorriso, ela encostou a cabeça à parede e adormeceu.
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- É veneno sim, Marlene. - Alice respondeu, enquanto balançava um frasco onde um liquido transparente lentamente ia se tornando verde-escuro - E forte. Não há antídoto pra esse aqui. Onde o encontrou?
- Foi apreendido pelo Edgar na última missão dele. Ele achava que era Veritaserum. Eu estava com Camille quando ele chegou, e perguntou se eu conhecia alguém que pudesse analisar a substância. Se fosse realmente Veritasserum, poderiam usar no Ministério. A poção está em falta e também está em falta bons mestres de poções para fazê-la.
Marlene virou-se para a lareira de sua casa e viu Frank aparecer.
- Alice, você já acabou?
A baixinha assentiu com a cabeça.
- Vocês não querem jantar comigo? - Marlene perguntou sorrindo para o casal.
- Sinto muito, Marlene, mas ultimamente eu não tenho tido muito apetite. Na verdade, tudo o que eu como sai antes que possa chegar ao meu estômago.
- Enjôos de grávida. - Frank sorriu, abraçando a esposa - A curandeira que nos atendeu disse que é normal nos primeiros meses.
- Camille não teve enjôos... - Marlene observou - Bem, se é assim então, até breve.
- Até...
Alice não chegou a acabar de se despedir. Uma a uma, as vidraças das janelas explodiram. Frank empurrou as duas mulheres para o chão ao mesmo tempo em que ele também se jogava. Confundindo-se com a escuridão da noite de lua nova, dois vultos surgiram.
- Parece que não somos os únicos a querer visitar a senhorita Mckinnon essa noite. É um prazer revê-los, Longbottom.
Marlene foi a primeira a se levantar. Mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, um feitiço jogou-a contra a parede. O fecho da tiara se abriu e ela caiu no chão. E ela gritou de dor. De todos os lados, sussurros, gritos... E uma risada fria, aguda... Estava ouvindo os pensamentos de Voldemort.
A garota mordeu os lábios. Embora não soubesse, o lorde acabara de dar a ela uma arma. Só precisva se concentrar o suficiente e poderia tentar um contra ataque mental. Mas primeiro tinha que tirar Frank e Alice dali.
- Legilimens. - ela sussurrou, ampliando seu próprio poder.
Travers assistiu impotente Voldemort cambalear ao seu lado, enquanto Marlene apontava a varinha na direção deles.
- Os gritos... faça parar os gritos... - Voldemort ordenou - FAÇA PARAR OS MALDITOS GRITOS!
Travers aproximou-se, mas Frank foi mais rápido.
- EXPELLIARMUS!
O comensal foi arremessado para a parede. Alice tentou se aproximar de Marlene.
- NÃO! - a telepata gritou - Fujam, eu não vou conseguir me controlar por muito tempo. FUJAM AGORA!
- Mas, Marlene...
Frank observou a amiga por alguns instantes. Os olhos de Marlene estavam brilhantes de dor e lágrimas. Ele segurou a mão da esposa.
- Vamos, rápido!
Voldemort assistiu os Longbottom sumirem ela lareira, enquanto os gritos daqueles que tinham sido vítimas dele ecoavam dentro de sua cabeça.
- Satisfeito, Voldemort? - Marlene perguntou com desprezo, uma veia saltando na têmpora. Poucas vezes ela tinha usado seu poder de maneira tão completa.
- IMPEDIMENTA!
A garota foi novamente jogada contra o chão. Voldemort se endireitou e a varinha de Marlene voou para a mão dele.
- Você poderia ser tão grande se estivesse ao meu lado...
Ela levantou a cabeça para responder, mas nesse momento o olhar dos dois se cruzou e novamente ela foi invadida pelos pensamentos dele. Dor, ódio... traição.
- Pettigrew... a Ordem... - ela murmurou.
- É uma pena que não vá viver o suficiente para dizer aos seus companheiros o que descobriu, senhorita Mckinnon. Talvez, se em vez de inibir tivesse aproveitado seus poderes, a traição de um dos membros de sua Ordem tivesse ficado mais clara. - os olhos de Voldemort se estreitaram - Adeus, Marlene. Avada Kedavra!
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- BLACK!
Sirius acordou de um pulo e Susan bateu a cabeça violentamente contra a parede.
- É a voz de Moody. - o rapaz falou enquanto vestia um roupão por cima do pijama - Aconteceu alguma coisa.
Os dois desceram as escadas, encontrando a cabeça de Olho-Tonto flutuando entre as chamas da lareira.
- O que aconteceu? - Susan foi a primeira a perguntar, aproximando-se.
Alastor olhou curioso para ela, e meneou a cabeça antes de se concentrar em Sirius.
- Houve um ataque na casa de Marlene Mckinnon. Os Longbottom estavam com ela, acabaram de chegar. Vá direto para lá, o esquadrão já está chegando.
Sirius assentiu e Moody desapareceu. O rapaz tirou a varinha do bolso e transfigurou o pijama em roupas normais.
- Você fica aqui, Su. É melhor não arriscar, ainda pode haver comensais por lá.
Ela assentiu e Sirius aparatou, aparecendo diante da casa de Marlene. A marca negra flutuava sinistramente sobre a rua, e muitos trouxas observavam aquilo incrédulos, o que significava muito trabalho para os obliviadores. O primeiro esquadrão de aurores já chegara, e eles levavam um prisioneiro. Sem se importar com isso, o rapaz entrou, encontrando Tiago parado junto ao sofá, enquanto Lílian estava ajoelhada ao lado de um corpo, as mãos no pescoço de Marlene. A ruiva levantou a cabeça, balançando-a tristemente.
- Ela está morta.
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