Procurando fantasmas



- E então? - perguntou Sirius, entrando no pequeno escritório.

Tiago levantou a cabeça encarando o amigo. Em seguida voltou à papelada que tinha para ler e assinar, como se ninguém tivesse falado com ele.

- Pontas?

- O que é? - perguntou Tiago, cansadamente.

- Você já se acertou com a Lily? - Sirius puxou uma cadeira, sentando-se de frente para o amigo.

- Mais ou menos.

- Como assim "mais ou menos"? Você falou com ela ou não?

- Falei. Ela queria que eu desistisse dela.

- E você? - o outro perguntou ansioso.

- O que você acha? É lógico que eu não vou desistir! Eu sou um maroto acima de tudo, Almofadinhas. E marotos nunca desistem. - Tiago disse sorrindo, embora seu tom fosse triste.

Sirius assentiu. A verdade é que Tiago jamais desistiria de Lílian porque a amava demais para isso. Mesmo que eles jamais pudessem ficar juntos de novo por causa daquela maldição, os dois não deixariam de se amar.

- E o que vai fazer agora?

- O primeiro passo é convencê-la a voltar pra casa. Eu posso cuidar dela perfeitamente bem, não é preciso que ela fique no chalé do Prewett. Depois... eu vou encontrar um jeito de reverter essa maldição. Afinal, eu sou Tiago Potter!

- Falou pouco, mas falou bonito. - Sirius observou sorrindo, batendo nas costas do amigo.

Nesse momento, outra pessoa apareceu à porta do cubículo onde Tiago trabalhava. Gideão.

- Estão chamando você na lareira, Potter. - Gideão sorria levemente - Sua mãe.

Tiago levantou-se, passando pelo "rival" sem olhar. Sirius ainda sorria.

- Ei, Prewett, obrigado pela dica. Eu falei com a Lily.

- O que ela disse?

- Tudo. E o Tiago também já sabe.

- Espero que isso seja o suficiente para ele não voltar a me socar. Eu não revidei da última vez, mas é bom que não haja uma próxima.

- Tenho certeza que não haverá.

Gideão acenou, saindo do alcance das vistas de Sirius. Pouco depois, Tiago estava de volta.

- Minha mãe quer que eu vá almoçar em casa. Você vem também?

- Não, eu vou sair com a Crockford.

- Dóris Crockford? Não é aquela colega da Susan? Cara, você realmente não perdoa um rabo de saia...

- Estou apenas unindo o útil ao agradável. Saindo com ela eu posso ouvir as coisas que estão sendo censuradas.

- Você podia perguntar para a Susan.

- Não teria a mesma graça... Eu não ia fazer com a Su o que vou fazer com a Doris depois de ouvir o que ela tem a dizer.

- E a Lílian dizia que eu é que era cafajeste... Mas, Sirius, e a Camille?

Sirius fechou a cara e Tiago meneou a cabeça. Por alguns instantes os dois amrotos permaneceram em silêncio até Sirius resolver voltar a falar.

- Tiago, eu estive pensando...

- Ei, essa é uma grande novidade!

Tiago se calou ao perceber o olhar do amigo e Sirius continuou.

- Voldemort sabia que Lílian é uma "guardiã da Antiga Magia". - o rapaz abaixou a voz sensivelmente para falar essa última parte - Mas ele não tinha como descobrir isso. A menos que alguém tivesse contado. Além de Lílian, só Dumbledore, você, eu e o Remo sabemos disso. Você e Dumbledore nunca diriam isso a ninguém, eu não fui, então, só sobra o Remo...

- Você está sugerindo que Remo esteja fazendo jogo duplo? - Tiago estreitou os olhos - Sirius, isso é ridículo! Ele nunca nos trairia! Seria mais fácil o Pedrinho dar uma festa para os sonserinos do que Remo nos trair!

- Eu não tenho tanta certeza sobre isso.

- Sirius, Voldemort tem muitos meios para descobrir o que quer. Dumbledore acredita que ele tenha passado anos estudando as artes das trevas. Considerando o quê os bruxos de antigamente pensavam da Antiga Magia e seus portais do inferno, Voldemort certamente se interessou pelo assunto.

- Mas, Tiago, como ele poderia saber que, entre todos os bruxos do mundo, Lílian é a guardiã? E como ele sabia exatamente como agíriamos e que isso levaria Lílian até ele? Tiago isso é muito suspeito.

- Dolohov, Sirius. Ele estava traindo o Ministério. Estão à procura dele já.

- Eu ainda tenho minhas desconfianças...

- Interrompo algo?

Os dois levantaram a cabeça, dando de cara com Pedro, que sorria.

- Rabicho! - Sirius levantou-se alegre - Há quanto tempo! Decidiu deixar a toca?

- O pessoal do jornal mandou eu vir aqui pegar uns documentos e eu aproveitei para visitá-los.

- O que mandaram você pegar? - Tiago perguntou interessado.

- As matérias revisadas. O Ministério está nos mantendo sob censura.

- Nós já sabíamos disso. - Sirius observou.

Nesse momento uma mulher passou correndo pelo corredor, batendo a porta de Moody com toda a força. Tiago levantou-se a tempo de vê-la sumir no escritório do chefe dos aurores.

- É mcKinnon. - o rapaz disse.

- Ela é uma inominável, não é? - Pedro perguntou.

- É, mas, como diz a Lily, ninguém sabe se ela trabalha lá ou se ela é alguma cobaia do Departamento de Mistérios. - Tiago respondeu.

- Como assim?

- Você não sabe, Pedrinho? Marlene é uma telepata. - Sirius respondeu - Ah, me lembrei agora, você não estava com a gente quando ela nos ajudou com a Liy, numa das várias vezes em que a ruivinha acabou com o Pontas.

O rosto de Pedro se iluminou ao receber essa informação. Ele virou-se para Tiago.

- Falando em Lílian, ela continua na missão da Ordem?

Tiago confirmou com a cabeça, olhando para o relógio.

- Se não se importam, eu prometi almoçar com minha mãe. Tchau pra vocês.

Sirius e Pedro acenaram com a cabeça e o rapaz saiu do cubículo. Sirius virou-se para o amigo.

- Eu convidaria você pra almoçar comigo se já não tivesse um compromisso.

- Sem problemas. Eu vou indo então.

Os dois se despediram, Pedro pensando sobre a nova informação que obtivera inocentemente através dos amigos e Sirius ainda se perguntando sobre a fidelidade de Remo.



--------------------------------------------------------------------------------


Tiago deixou a mesa pouco antes dos seus pais. O almoço ocorrera quase que em completo silêncio. Havia um clima de melancolia no ar e Tiago não conseguia dizer se aquilo era por causa de seu problema com Lily ou se seus pais também tinham alguma coisa a preocupá-los.

Ele percorreu a mansão Potter, as mãos nos bolsos da capa, lembrando de quantas vezes ele e Sirius tinham corrido por aqueles corredores na época da escola. Sentia muitas saudades daquele tempo...

Sem perceber, acabou na galeria de retratos da família, um corredor cheio de quadros das sucessivas gerações dos Potter. Ele contemplou cada um daqueles rostos, sentindo uma pontada de ansiedade. Foi quando ele parou diante do último quadro, o maior de todos, onde o patriarca da família o observava displicentemente com seus cabelos muito negros e os olhos escuros.

Os olhos de Tiago se esbugalharam. Como pudera se esquecer dele?! Correndo, o moreno voltou ao salão onde seus pais conversavam após o almoço.

- Onde você vai, Tiago? - Miriam perguntou preocupada com a afobação do filho.

A resposta dele foi um beijo rápido no rosto dela e outro na cabeça do pai. Ele tirou um velho casaco do vestíbulo e aparatou, ressurgindo na estrada que levava ao chalé dos Prewett. Ele correu até a casa, tirando do bolso uma pequena chave dourada, a mesma que Dumbledore lhe dera quando saíra do St. Mungus.

Ele entrou rápido, assustando-se com o silêncio que havia na casa. A porta do quarto estava cerrada. Tiago atravessou a sala, abrindo-a. Uma nuvem de vapor saía do banheiro, junto com o barulho do chuveiro. Sorrindo, ele entrou no banheiro.

Lílian não o percebeu, já que estava com a cabeça sob a água. Através do box enfumaçado, ele pôde observar o corpo da namorada, o corpo que tanto adorava e que por tantas noites dormira próximo ao dele. A ruiva desligou o chuveiro, puxando uma toalha para enrolar-se, ainda sem se virar para ele. Mas Lílian já sentira a presença de Tiago.

Lentamente, ele levantou a mão, colocando-a sobre o vidro, na altura da face dela. Lílian fechou os olhos tentando se lembrar como era sentir os dedos dele sobre sua pele. Ela também levantou a mão, colando-a a dele, embora o vidro os separasse.

As lágrimas começaram a correr, juntando-se à água que escorria dos cabelos encharcados. Ela afastou-se, abaixando a mão.

- Saia, Tiago.

- Lílian...

- SAIA AGORA!

O rapaz respirou fundo, dando as costas a ela.

- Eu estou te esperando no quarto.

Ele saiu do banheiro e a ruiva encostou-se na parede, escorregando para o chão, sentindo como se estivesse se partindo por dentro.

Sentado na cama, Tiago apoiou os braços sobre os joelhos, escondendo o rosto com as mãos. Se Voldemort os tivesse matado, não seria tão doloroso... Enquanto não tivesse a ruiva de volta, ele jamais poderia ser ele mesmo.

- O que está fazendo aqui? - ela perguntou ríspida, saindo do banheiro - Eu já disse que...

- Eu tenho que repetir, Lily? Eu não vou desistir de você.

- E o que pretende fazer? - ela perguntou cruzando os braços.

- Eu conheço alguém que pode nos ajudar, que conhece a Thanatus.

Os olhos dela brilharam, febris. Ela sentiu a boca secar de nervosismo. Tiago estaria falando a verdade?

- Quem?

- O fantasma de meu antepassado, fundador da família Potter, o Conde de Saint-Germain.



--------------------------------------------------------------------------------


Dumbledore observou com atenção o casal à sua frente. Lílian parecia muito distante, com suas mãos enluvadas sobre o colo, os cabelos presos numa trança caindo pelo ombro, enquanto Tiago tentava argumentar a seu favor. Ele já tinha visto aquela cena muitas vezes, protagonizadas por aqueles dois, embora tivesse sido em tempos mais felizes.

- Eu já disse que ela não pode simplesmente ir sozinha! A viagem é muito longa, como ela ia se virar sem mim?

- Eu não sou uma incapaz, Tiago. - Lílian falou baixo - Sei muito bem me cuidar. Além do que, eu já disse que seria perigoso você ir comigo. Que parte ainda não entendeu?

- Eu não vou deixar você ir sozinha. - Tiago respondeu, virando-se para o velho diretor - Por isso viemos, professor. A única pessoa que consegue convencer essa teimosa a alguma coisa é o senhor.

Dumbledore sorriu.

- Tiago, eu realmente duvido muito que Lílian precise de mais bom senso do que já tem. Mas, eu devo concordar com você que seria melhor que ela não fizesse essa viagem desacompanhada.

- Mas professor... - ela ia começar a argumentar.

- Vocês poderiam ir de navio, já que é muito longe para ir aparatando ou através da rede de Flu. - Dumbledore continuou - É o único transporte em que vocês não teriam que ter contato com outros passageiros. Lílian poderia ficar sempre na cabine e Tiago poderia levar tudo o que precisasse lá.

Tiago sorriu vitorioso enquanto Lílian apenas acenava com a cabeça, obviamente chateada.

- Eu vou providenciar as passagens hoje mesmo. - Tiago levantou-se - Obrigada, professor.

Lílian levantou-se em silêncio e acenou com a cabeça para Dumbledore antes de sumir pela porta do escritório, seguida de perto por Tiago. O rapaz observou com atenção enquanto ela descia degrau por degrau, sorrindo ao sentir o cheiro de lavanda que se desprendia do corpo dela.



--------------------------------------------------------------------------------


O navio balançava como louco em meio à tempestade mas, graças a Merlin, Lílian não sentia enjôos. Ela estava deitada, tentando não notar o intenso barulho da cabine vizinha. Quando entrara com Tiago nas memórias de Hades, Tiago reconhecera Saint-Germain, mas ela não tivera cabeça para perguntar ao rapaz de onde ele conhecia o bruxo.

Estranha ironia do destino. Há muitos anos, o mais antigo antepassado de Tiago rogara a Thanatus sobre Helena e agora era Tiago quem se via envolvidona mesma maldição... Um barulho isistente na escotilha fê-la levantar levemente a cabeça. No meio da chuva, uma imponente coruja vocejava.Ela resistiu ao impulso de abrir o vidro e deixar a coruja passar. Provavelmente a ave a tocaria e ela não queria isso.

- Tiago! - ela chamou em voz alta.

A porta da cabine se abriu e ele apareceu, logo percebendo porque fora chamado. A ruiva afastou-se quando ele passou, abrindo a escotilha, deixando Apolo entrar. A coruja se arrepiou, molhando o móvel sobre o qual pousara, e estendeu a pata para Tiago, que imediatamente retirou o grosso rolo de pergaminho dele. O silêncio imperou por alguns minutos enquanto ele lia o conteúdo da carta.

- É do Sirius. - ele disse quando terminou - Estão atrás de você. Parece que Voldemort se cansou de dois meses de inatividade e atacou Frank e Alice.

- Eles estão bem? - ela perguntou preocupada.

- Sirius diz que sim. Uma das plantas da Alice atacou ele... Bem, o importante é que eles conseguiram fugir.

Lílian deu um sorriso fraco. Até seus amigos estavam sendo envolvidos naquela história, mesmo sem nada saber da Antiga Magia. Nesse momento, navio deu um solavanco e ela foi jogada contra a parede. Ela fechou os olhos para receber o impacto. Quando os reabriu, encontrou Tiago lívido, diante dela. Ele também fora arremessado, só que para cima dela. Por sorte, ele segurara na parede e seus braços estavam a centímetros da cabeça dela.

Os dois se encararam, deixando seus olhos se perderem um no outro e Tiago, sem perceber, inclinou-se na direção dela. Há dois meses não chegava tão perto da ruiva. E era tão bom sentir o calor dela de novo...

- Eu... eu acho melhor você voltar para sua cabine. - ela disse num sussurro, fazendo esforço para controlar os próprios impulsos.

Tiago imediatamente aprumou-se e, pegando a coruja do amigo, saiu, não sem antes dar uma última olhada na ruiva. Ah, nem que fosse a última coisa do mundo, ele ia encontrar Saint-Germain e ia cabar com aquela maldição. Ou ele não se chamava Tiago Potter!

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.