Castigos



Capítulo IX


You're not some little boy
Why you acting so surprised?



Havia falhado. Inegável e miseravelmente Bellatrix havia falhado. A Profecia estava para sempre perdida.

“Eu acho que lhe expliquei satisfatoriamente a razão dessa profecia ser tão importante?” – O Lorde das Trevas falava baixinho, olhando-a de cima.
“Sim, Milorde” – ela respondeu, enquanto uma lágrima escorria por suas pestanas para ir cair no piso de madeira escura.
“O que você tem a dizer, Bellatrix Lestrange?”
“N-não foi minha culpa, mestre, juro...”
Crucio!

Bella gritou e gritou, sentindo facas em brasa perfurarem sua pele; suas entranhas se rompendo, cada gota de seu sangue ardendo em agonia...

De repente a dor parou.

Foi sua culpa, Bella. Eu tive de entrar no Ministério e revelar meu retorno. Você acha isso bom?”
“N-não...”
Crucio!

A dor penetrou por cada poro novamente, fazendo mais de suas exclamações agoniadas ecoarem por todo a sala, reverbendo nos móveis e fazendo cada partícula do ar ao redor dela se contrair para dar lugar às vibrações de poder intenso que emanavam dela...

Bella cravou as unhas no tapete sob si, contorcendo-se, abafando os gritos com a outra mão, até que um corte antigo já quase cicatrizado abriu-se, deitando o sangue escarlate por todo o chão.
As lágrimas fluíam, misturando-se à substância escarlate, escorrendo por entre seus dedos...

Bella podia sentir a magia fluindo dentro de si, expandindo-se, rompendo os próprios limites de sua alma. Virou-se de barriga para cima, curvando a espinha num arco estreito; erguendo o pescoço para encara-lo. Um sorriso de puro sadismo cruel enfeitava as pálidas feições de seu mestre. Ele então fez um rápido movimento com a varinha, e a dor parou quase tão subitamente quanto começara.

“Você ainda acha que não é culpada, Bellatrix?”
“Desculpe, senhor” – ela soluçou – “Sei que sou culpada, prometo nunca mais errar, nunca mais desaponta-lo...”
“Mas as suas promessas somente não são suficientes, Bella.”

Uma nova quantidade de lágrimas escorreu de seus olhos cinzentos. Bella tornou a abaixar a cabeça para encarar o velho tapete puído, desejando nada além da mais absurda, cruel e intensa dor, como sempre desejara no seu mais íntimo ser, embora a razão e a lógica, e mais agora seu corpo ferido e exausto, insistissem que ela devia procurar tão somente a paz e o alívio...

Crucio!

Pela terceira vez seu corpo foi tomado pelas ondas de magia, sacudido, queimado, perfurado...
E Bella sentiu que não agüentaria mais. Era seu limite, e iria explodir. Mas antes que o fizesse, o feitiço cessou mais uma vez.

“E agora, Bellatrix, o que você espera que eu faça? O que você quer?” – Ele perguntou, andando em círculos à sua volta, enquanto Bella tremia no chão.
“Eu quero...você.” – ela disse sofregamente .
“Como?” – perguntou Voldemort num tom debochado e agachando-se ao seu lado. – “O que você disse que quer?” – Ele enxugou uma das lágrimas que corriam pelo rosto de Bella com o dedo e ergueu seu queixo para encara-lo, fazendo-a ajoelhar-se diante dele.
“Você” – ela sussurrou, fechando os olhos para não encara-lo. – “O senhor me disse um dia que eu poderia pedir o que quisesse. É o que eu peço: eu o quero”.

Voldemort crispou os lábios finos num sorriso irônico e a fez levantar-se; Bella, no entanto, manteve os olhos fechados, dos quais ainda escorriam lágrimas silenciosas.

“Lord Voldemort é um homem de palavra, Bellatrix Lestrange. O que você deseja, você terá. Apenas tenha cuidado com o que você deseja.”

Voldemort se aproximou, segurando suas mãos nas costas e amarrando-as. Bella sentiu um rubor conhecido subindo por entre suas pernas, e outro ainda pior tingindo suas bochechas de vermelho. As lágrimas, no entanto, não paravam de cair.

“Se vamos fazer isso será do meu modo...” – Ele sussurrou em seu ouvido, enquanto descia as mãos por seu corpo até deter-se na cintura.

Desceu o zíper lentamente, desnudando as costas, cujos pelos se arrepiaram ao toque dos lábios. Ele desceu com a boca do pescoço, onde os fios negros se enrolavam para formarem um amontoado de cachos que Bella jogava para frente, arfante, a fim de liberar a passagem dos lábios pelos caminhos de pele macia que se arrepiavam ao menor toque; percorrendo sua coluna com os beijos úmidos até a pequena curva onde tinha início a única parte do corpo de Bella que ainda estava coberta.

Com um puxão rápido que rasgou suas vestes, ele terminou de despi-la, e Bella se deu conta de que estava totalmente nua na frente dele, suspirando, embora muda, mas sua respiração falava o que as palavras seriam incapazes de expressar.

Ainda de pé, ofegando, os beijos vieram para a frente, e Bella sentiu seus seios sendo tocados suavemente; enrijecendo sob o toque dos dedos e dos lábios que havia tanto queria experimentar...

E de repente, tudo parou. As sensações todas pararam. Ao abrir os olhos, Bella se deu conta de que Voldemort estava a quase três metros de distância; um sorriso ainda mais debochado brincando nos lábios, e apreciava a admirável cena de Bella nua, o corpo exposto, suspirando e ofegando; os olhos fechados e encostada na parede, como se toda a sua vida dependesse tão somente da concretização daquilo que ela tão insensatamente tentava fazer.

“Agora já chega, pode ir” – Voldemort disse.

Bella sentiu como se um iceberg tivesse sido jogado sobre sua cabeça. A pergunta mais óbvia pipocou em sua mente: Por quê?; mas antes que a verbalizasse, Voldemort a respondeu.

“Porque eu falei que ia ser do meu modo, não do seu. Agora, se me dá licença, tenho coisas importantes para resolver”

E fechou a porta. Bellatrix sentiu que o iceberg tinha se transformado num caldeirão de óleo fervente, prestes a despejar sua fúria no primeiro que aparecesse à sua frente.
Urrando de ódio, chutou a porta com toda a força que reuniu em si, mas tudo o que ouviu foi uma risada do outro lado.

[...]

Bella,

Preciso falar com você. É urgente.

Narcisa.


Bellatrix lia e relia o bilhete recebido àquela manhã, duas seguintes ao ocorrido no Ministério da Magia. Relia não porque sua compreensão fosse difícil, mas por que não conseguia acreditar no tamanho da cara de pau de sua irmã. Depois de tudo o que tinha acontecido, Narcisa ainda ousava lhe pedir algo?
Mas seu instinto de irmã mais velha falava mais alto, afinal. Sempre fora muito zelosa com suas irmãs.

Às oito horas, emergia novamente nas labaredas verdes do pó-de-flu, rodopiava vertiginosamente e era jogada na lareira da sala de estar da Mansão Malfoy.

“Bella!” – Narcisa exclamou.
Bellatrix levantou-se, espanando a fuligem das vestes, ligeiramente irritada consigo mesma por ter se obrigado a voltar àquele lugar.
“Achei que não viesse. Sente-se, e aceite uma bebida...”
Bella reparou que a irmã parecia positivamente nervosa. Sua mão tremia tanto que derrubou mais hidromel fora do que dentro do copo, e quando falou, havia uma nota de desespero em sua voz.
“Não me agrada estar aqui.” – disse, olhando enojada ao seu redor.
“Sei que não fui muito gentil da última vez que esteve aqui, mas tente entender, Lúcio...”
“...me acha uma desequilibrada, maluca da pior espécie.”
Narcisa tomou um golinho de sua bebida e não respondeu.
“É sobre o Draco. O Lorde das Trevas lhe deu uma missão suicida. O Draco, ele tem que...” – Narcisa conteve um soluço – “Matar Dumbledore. Mas...”
Narcisa pousou o copo na mesa, tremendo tanto que a mesinha foi quase jogada ao chão.
“Nem o Lorde das Trevas teve sucesso, Bella, você acha que um mero garoto de dezesseis anos será capaz...?”
“Não sei.” – respondeu Bella, dando de ombros – “E o que você quer que eu faça?”
“Talvez, Bella, talvez se você pudesse persuadi-lo...” – falou Narcisa, quase num sussurro, chorosa.
Bella apenas riu.
“Você acha que eu serei capaz de persuadi-lo? O Lorde das Trevas não...”
“Mas você é amante dele!” – Narcisa gritou, começando a entrar em desespero – “Por que não tenta...?”
“Essa é a missão de Draco, Narcisa. Você sabe que é castigo pelo erro de Lúcio, não sabe?”
“Mas...” – ela retrucou já com lágrimas nos olhos.
“Se seu marido não fosse tão tolo, talvez as coisas pudessem estar melhores.”
“Isso não é justo!” – Narcisa gritou – “Você só não foi presa porque o Lorde das Trevas a salvou!”
“Se ele me salvou, é porque não fui tão tola quanto seu marido!” – desdenhou.
“Acho que ele só a salvou porque você dorme com ele!” – Narcisa gritou em resposta.
Mas dessa vez, Bella apenas sorriu.
“Eu acho que não é da sua conta com quem eu durmo ou deixo de dormir. E quanto a Draco... Pode não ser justo que ele pague pelos crimes do pai, Narcisa, mas você deve aprender que no Universo, alguém sempre paga pelos crimes cometidos, mesmo que seja um inocente.”
“Ótimo, então! Eu falarei com Snape!”
Você não ousaria! Aquele porco imundo, traidor...”
“O Lorde das Trevas confia nele, não confia?” – desdenhou Narcisa.
“Snape é um traidor!” – vociferou Bella
“Severo é leal ao Lorde das Trevas!” – respondeu Narcisa.
“Então vá atrás daquele morcego e peça para que ele tente salvar a própria vida antes da dos outros, porque eu vou estar de olho nele!”
“Ótimo, então! Volte para a cama do Lorde das Trevas!” – Narcisa gritou
“Voltarei, e com muito prazer!”

Furiosa, e sentindo-se mais afrontada do que nunca, Bella encerrou a breve visita dando as costas à irmã e entrando no fogo da lareira, prometendo a si mesma nunca mais voltar àquela casa.

[...]

A Marca Negra ardia.

Bella acordou no meio da noite com o antebraço esquerdo em chamas, perguntando-se porque Ele os estaria chamando àquela hora. Com mais um ardor particularmente intenso, Bella decidiu que era melhor atender ao chamado. Rodolfo, no entanto, roncava alto ao seu lado, sem parecer sentir nada.
“Rodolfo, acorde!” – Sussurrou, chacoalhando o braço do marido.
“Que é?” – ele resmungou
“Não está sentindo a Marca Negra arder?”
“A Marca Negra? Não, está fria como uma pedra de gelo... A sua arde?”
“Está ardendo. Ele deve estar chamando só a mim...”
“Claro que não.” – retrucou Rodolfo, mal-humorado – “Ele ainda deve chamar mais umas duas pessoas, assim a festinha fica mais animada, não? Que pena que ele não me chamou, ando precisando de diversão...”
Bella deu um muxoxo de impaciência e trocou o camisola por belas vestes de veludo vermelho. Aparatou diretamente na sala de estar da Mansão Riddle, encontrando-a vazia.

A porta do escritório no sótão, no entanto, estava aberta e vazia, ela verificou. Ele não se encontrava em nenhum dos cômodos da casa. Estranhando, mas ainda sentindo a Marca arder intensamente, Bella seguiu andando pelos corredores da casa; nervosa, os passos ecoando lentamente, e a luz de sua varinha era a única coisa que iluminava a casa. Bella olhou o relógio na parede e se deu conta de que era realmente muito tarde – quase duas da manhã.

E então, com um arrepio bem característico, ela viu a última porta no corredor do segundo andar aberta e com uma luz que vazava de dentro.

“Entre, Bella.” – Soou a voz grave do outro lado, antes mesmo que Bella estivesse perto o suficiente para abrir a porta.
“Mestre, o senhor queria ter comigo?” – ela perguntou hesitante.
“Feche a porta” – ela assim o fez – “Tire a roupa e se deite na cama”
“O q-quê?” – Bella engasgou-se com a própria surpresa
“Isso que você ouviu. Tire a roupa e deite na cama. Preciso ser mais explícito?”
“Mas...” – Bella estava tão confusa e surpresa que mal sabia o que falar.
“Eu falei que isso iria ser do meu jeito. Esse é o meu jeito. Agora, pela última vez: tire a roupa e deite na cama.”

Bella olhou-o, chocada. Voldemort estava de costas e sequer a encarava, preferindo analisar a parede. Suas mãos trêmulas então alcançaram o fecho das vestes, que desabotoou desajeitadamente.

O que está acontecendo, por Merlin?

Bella terminou de tirar a última peça de roupa íntima, sem saber exatamente para onde olhar, ou o que sentir. A única coisa que sabia, ou melhor, sentia, é que aquilo definitivamente não estava certo... Onde estavam os múltiplos arrepios que sentia apenas de escutar sua voz? E os beijos carregados de desejo com que ele lhe despertara havia apenas alguns dias? Será que ele havia preparado tudo para ser assim, o mais frio possível?

Bella deitou-se na cama, acuada, sentindo-se como uma virgem na noite de núpcias, sem saber o que a esperava.
Voldemort virou-se, finalmente e Bella sentiu um novo arrepio – de medo misturado com um tanto de repugnância – quando percebeu o volume nas calças do bruxo.
Ele despiu-se mecanicamente, atirando as vestes para o lado, e deitou-se ao seu lado na cama, silenciosamente, sem dar uma única palavra.

Ele passou um braço por suas costas forçando-a a virar para o lado, desviando o olhar e mecanicamente, como tudo o mais que ele fazia, escorregou para dentro dela, sem um único beijo ou carícia, daqueles que ele havia distribuído naquela mesma noite do castigo.
Bella fechou os olhos, enquanto mais lágrimas vazavam de seus olhos conforme o movimentos bruscos e ritmados seguiam-se, parecendo demorar mais que uma eternidade. Nem um único ruído, além da respiração ligeiramente alterada dele, quebrava o silêncio sepulcral em que ambos estavam imersos. Era como se estivesse anestesiada, sentindo o corpo dormente e a mente em outro plano, distante daquele quarto, daquela cama, distante do sexo, planando em um outro Universo mais tranqüilo e sem os pesares daquele a que estava acorrentada...

Um movimento ligeiramente mais rápido, um tremor, e ela se viu livre do corpo que a pressionava incomodamente contra o colchão. Cobrindo-se, Voldemort virou-se para o lado e fingiu – por que Bella tinha suficiente experiência em fingir dormir para reconhecer alguém em ação – cair num sono profundo.

Enxugando as lágrimas, e sem se importar com seu estado de total desolação física e mental, Bella desaparatou na Mansão Lestrange.

O silêncio sepulcral não tinha cessado em sua própria casa, porém. Trêmula e sentindo-se mais frágil e derrotada até do que quando saíra de Azkaban, retornou para seu próprio quarto, onde Rodolfo também fingia dormir. Deslizou para dentro dos lençóis, muda; o choro já cessado.

“O que o Lorde das trevas queria com você?” – Rodolfo perguntou.
“Me foder”.

Rodolfo não respondeu.




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