As lembranças de Draco
Capítulo XI
Now I've held back a wealth of shit
I think I'm gonna choke
...Draco a encarava, pálido de surpresa.
“E-eu...” – Ele gaguejou – “Eu não vi nada.”
“Não seja idiota.” – Bella retrucou agressiva.
“Tudo bem” – Draco falou hesitante – “Não tenho nada a ver com a vida de vocês, certo? Você... Você sabe o que faz... Eu acho. Bom, eu acho que vou... Vou...” – apontou vagamente para cima.
“A aula acabou, Malfoy.” – Bella falou, dando as costas ao rapaz, mais para esconder o rosado que tingia seu rosto – “Nenhuma palavra sobre esse assunto”
“N-não, é claro que...”
“Não ouse contar uma palavra disso à sua mãe!”
“N-não...”
“SAIA DAQUI!” – gritou, e arremessou um vaso de plantas contra o garoto, que por pouco não foi atingido na cabeça.
Transtornada, Bellatrix deixou-se deslizar com as costas na parede; as mãos enterrando o rosto e os cabelos, controlando o próprio nervosismo. Tremia, afundada na própria vergonha. Será que Draco fora tão longe em suas lembranças quanto achava que ele fora? Será que ele pudera sentir o que ela sentira? Se aquilo vazasse...
E se Snape pudesse olhar na mente do garoto? Que seria dela? Dúvida e angústia competiam por espaço em seus pensamentos...
Quando viu um vulto fantasmagórico – sua irmã; Bella a reconheceria em qualquer lugar – movendo-se silenciosamente em direção à saída.
[...]
“Você vai precisar da sua varinha, Bellatrix.” – disse Snape friamente
Bella mal pôde segurar o próprio queixo. Snape, o porco traidor, fazer o Voto Perpétuo?
Ela a pegou, ainda parecendo atônita,
“E vai precisar chegar um pouco mais perto,” ele disse.
Ela deu alguns passos para que ficasse próxima a eles, e colocou a ponta de sua varinha nas suas mãos dadas.
Narcisa falou:
“Irá você, Severo, cuidar do meu filho Draco quando ele estiver tentando realizar o desejo do Lorde das Trevas?”
“Eu irei.” disse Snape
Uma fina labareda saiu da varinha e serpenteou-se envolta das mãos.
“E irá você, com o melhor de suas habilidades, protege-lo do perigo?'
“Eu irei.” disse Snape
Uma segunda labareda de fogo saiu da varinha e se ligou à primeira, formando uma bela corrente de luz.
'E, se necessário for... Se parecer que Draco irá falhar...' sussurrou Narcisa “irá você carregar o fardo que o Lorde das Trevas ordenou a Draco cumprir?”
Houve um momento de silêncio. Bellatrix assistiu, sua varinha sob suas mãos unidas, seus olhos bem abertos.
'Eu irei.' disse Snape.
O rosto pasmo de Bellatrix ficou vermelho com a chama de uma terceira labareda, que saiu da varinha, se misturou com as outras e ricocheteou envolta de suas mãos unidas, grossa como uma corda, como uma serpente de fogo.
“Ah, Severo!” – exclamou Narcisa, atirando-se nos braços dele, soluçante. – “Lhe sou tão grata...”
Bellatrix percebeu mesmo à luz fraca das poucas velas do castiçal que Snape corara levemente. Snape levantou uma das mãos – seu braço estava preso entre os de Narcisa – e deu tapinhas de leve nas costas da bruxa, embora sua intenção fosse muito mais afasta-la de si do que realmente consola-la.
“O que posso fazer para agradecer?” – perguntou Narcisa; o belo rosto lavado de lágrimas.
“Pode começar explicando a todos os coleguinhas de Lúcio tudo isso que eu lhes disse agora.” – Snape deu a volta e parou em frente a Bella, que também o encarou firmemente – “Aí a tem, Bellatrix: a prova de minha lealdade ao Lorde das Trevas. Que isso sirva a todos que cochicham às minhas costas.”
“Você não me engana, Snape! Toda essa historinha ensaiada pode ter convencido o Lorde das Trevas, mas...”
“Você se julga mais esperta que o Lorde das Trevas?” – perguntou Snape, erguendo uma sobrancelha.
Bellatrix corou furiosamente e pela primeira vez abaixou a cabeça.
“Eu...”
“Não há mais nada a dizer ou fazer, Narcisa.” – Disse Snape em tom de quem encerrava uma longa conversa – “Devemos esperar e ver o que acontece. Não subestime seu filho; ele pode ser bastante engenhoso quando quer.”
“Severo, eu...” – Narcisa recomeçou.
Snape levantou uma mão, impedindo-a de prosseguir.
“Boa-noite, Narcisa.” – completou imperiosamente.
Narcisa tornou a levantar o capuz da capa; Bella fez o mesmo. Então ambas desaparataram sem dizerem mais uma única palavra.
[...]
Draco encarava o teto de seu próprio quarto, pensativo. Achava-se deitado com os braços por debaixo da cabeça, totalmente vestido exceto pelos pés descalços e o cobertor puxado cobrindo metade de seu corpo, debaixo do qual estivera isolado, tentando organizar os próprios pensamentos. Puxou o lençol para o lado, jogando-o ao chão. Estava agitado.
Ter a mente penetrada continuamente; os pensamentos arrancados violentamente, e o pior: ser bombardeado por lembranças alheias, não fora uma experiência agradável. De fato, tirando o fato de ter tido lembranças íntimas vasculhadas abertamente por sua tia, teria sido uma experiência no mínimo curiosa.
Tudo bem até aí – ele pensou. Certamente não fora agradável saber que sua tia presenciara (será que aquilo era presenciar?) momentos singulares de sua relação com Pansy, mas ele tinha um palpite no mínimo razoável de que Bellatrix não dava a mínima para a vida de qualquer outra pessoa que não a dela mesma. E do Lorde das Trevas.
E aí é que está o problema...
Quer dizer, tudo bem ver a tia torturando um cachorro, arrancando os cabelos de sua mãe, invadindo a sessão reservada, tomando banho no banheiro dos monitores (ele fez uma nota mental de prestar mais atenção nesse tipo de detalhe da próxima vez) e outras coisas perversas do tipo, mas... O que diabo tinha sido aquela última lembrança?
Por Slytherin, foi perturbador!
Quer dizer, dava para ver e ouvir tudo...
É claro que já sabia dos boatos que corriam entre os Comensais sobre Bellatrix e uma relação no mínimo suspeita com o Lorde das Trevas. Mas Draco simplesmente não ligava. Lhe parecia tão absurdo, tão surreal... E francamente, era falta de respeito.
Draco sentiu as faces pálidas esquentarem conforme o sangue afluía para suas bochechas.
Constrangedor, no mínimo.
Ele prometeu a si mesmo não tornar a pensar naquilo, e rezava para não ser obrigado a presenciar mais cenas daquele tipo nas próximas aulas.
Então, de repente, ouviu batidas na vidraça de sua janela que o fizeram se assustar. Draco voltou o olhar na direção do barulho: uma coruja-de-igreja marrom o encarava, altiva, do outro lado, levando uma carta amarrada à pata. Draco reconheceu imediatamente uma das corujas de Azkaban que seu pai lhe mandava semanalmente. Ele desamarrou o pergaminho e o leu.
Não que fosse permitido aos prisioneiros escreverem cartas, mas ele era Lúcio Malfoy, não? Não seria privado daqueles pequenos confortos.
Nada demais - pensou Draco. – Apenas o de sempre. Roupas, dinheiro (Draco se perguntava o que o pai fazia com dinheiro em Azkaban, mas nunca ousara perguntar) e comida. Em outras ocasiões Draco não acharia nada comum pedidos do pai por roupas e comida, mas isso fora antes de... Bem, antes do Santo Potter arruinar sua vida.
Ah, mas isso terá troco! - pensou novamente, e reconfortado com a idéia, tornou a deitar na cama e a brincar de atirar fagulhas verdes com a varinha para o teto.
[...]
“Qual é a sua com o Snape?” – perguntou Bella à irmã assim que ambas aparataram na Mansão Malfoy.
Narcisa não respondeu imediatamente. Despiu a capa e atirou-a para o lado, em seguida caiu molemente no sofá e soltou os cabelos já desarrumados do rabo-de-cavalo que descia por suas costas.
“Ele é o melhor amigo de Lúcio, oras. E o professor preferido de Draco.” – Narcisa respondeu, enquanto conjurava um serviço de chá e servia a xícara da irmã.
“Mas é suspeito de traição” – retrucou Bellatrix com ar de quem sabe das coisas
“Como você pode dizer isso, depois de tudo que Severo falou?”
“Não sei. Ele pode ter planejado tudo aquilo, pensado em cada mínima desculpa, não? E é um excepcional Oclumente, segundo todos dizem...”
“Isso é porque ele precisa enganar Dumbledore. Francamente, como você pode ter tanta certeza assim da lealdade de Severo?”
“Para certas coisas não se precisa de Legilimência” – disse Bellatrix sombriamente.
“O que eu acho é que você está subestimando o Lorde das Trevas... E por falar nisso, como anda a relação...? Desculpe, eu sei que você não gosta de falar sobre isso.” – completou Narcisa rapidamente ao surpreender o olhar severo da irmã.
“Nós...” – começou Bellatrix com um ar empertigado. De repente, não pôde reprimir um ligeiro sorriso que não passou despercebido pela irmã.
“O que foi?” – perguntou Narcisa olhando desconfiada o sorriso suspeito no rosto de Bella.
“Nada.” - respondeu, embora seu sorriso se alargasse – “Devo ir agora, está realmente tarde...” – pousou a xícara cheia de chá no pires e se levantou.
“O que deu em...?” – perguntou Narcisa, atônita, para a irmã que acabara de partir.
[...]
A primeira coisa que Bellatrix percebeu quando aparatou na própria casa é que ela estava escura e fria como jamais estivera. Estava acostumada a sempre encontrar a velha casa cheirando a mofo e empoeirada, sim, mas em geral haviam uma ou duas lareiras acesas que iluminavam os longos corredores e projetavam sombras sinistras dos objetos mais velhos e empoeirados ainda nas paredes. De tal modo que quase podia sentir a ausência de vida do lugar. Mas fosse porque estava tão acostumada àquela sensação de vazio, ou fosse porque ainda insistia em cultivar aquela imprudência típica de seus dias plenos de Comensal da Morte, Bellatrix continuou a seguir pelos corredores.
“Rodolfo?” – Perguntou baixinho para a noite. Ninguém respondeu.
Alarmada, Bellatrix empunhou a própria varinha; sua intuição gritando em sua mente.
“Lumus!” – E a sala iluminada finalmente entrou em foco diante de seus olhos.
Seu queixo caiu.
Os móveis estavam todos quebrados; o papel de parede arrancado em diversos pontos e um liquido vermelho que lembrava muito sangue espirrado no chão, onde formava poças em alguns lugares. Um relógio de pêndulo de aparência sinistra tivera seus ponteiros arrancados (eles agora jaziam dentro do que um dia havia sido um aquário) e pequenas fadas-mordentes voavam ao redor do piano cujas teclas tinham sido arrancadas e pareciam ter sido lançadas cada qual numa direção oposta. Grandes chamuscados manchavam as tapeçarias e uma velha senhora gritava horrores de seu quadro:
“...eles destruíram a casa, macularam o nobre lar dos Lestrange, mancharam nossa pureza secular; ó mestiços imundos, filhos da sujeira, amantes de trouxas, que ardam todos no Hades por toda a...”
“O que foi que a senhora disse?” – perguntou Bella assustada.
“...os mestiços sórdidos, sangues-ruins, anomalias, abortos...”
“Pode pular essa parte” – falou Bella zangada – “o que aconteceu aqui?”
“Aurores, filha, aurores! Amantes de trouxa imundos invadiram a casa agora pouco... Dois deles.”
“Onde está Rodolfo?” – perguntou rapidamente.
“Fugiu” – a velha respondeu simplesmente – “Fugiu, não faço idéia de para onde. Mas os aurores foram atrás... Ou talvez tenham batido em retirada; um deles saiu ferido... Acho que o seu nome era...”
Mas qual era o nome do auror, Bellatrix jamais ficou sabendo, porque no momento seguinte entrava naquela incômoda sensação de aperto pela terceira vez naquele dia e segundos após, aparatava em frente aos portões da velha Mansão Riddle.
Correu pelo jardim, rezando para que seu palpite estivesse correto, e então, quando chegou à porta entreaberta dos fundos, desatou a correr ainda mais até o corredor de quartos de hóspede no segundo andar. Uma das portas estava aberta e a luz acesa, e um homem estava sentado na cama, enfaixando o braço embora o outro também sangrasse.
“Rodolfo!” – exclamou Bellatrix, indo acudir o marido – “O que foi que aconteceu? A casa está toda destruída...”
“Os aurores nos acharam. Nós duelamos; acho que nocauteei um deles, mas o outro me lançou uma maldição, e eu não paro de sangrar... Eles não costumam usar Artes das Trevas, mas não consigo fazer isso parar...”
Ele abriu uma das faixas mostrando o ferimento de que jorravam jatos de sangue manchando o tecido. Bella pousou a varinha no corte e sussurrou algumas palavras; logo o corte estava fechado e limpo.
“Obrigado. Ei, aonde você está indo?” – porque Bellatrix acabara de sair pela porta sem dizer uma única palavra.
Ela tomou o caminho da suíte principal, pisando duro. Abriu a porta sem bater e entrou.
“Muito esperto da sua parte!” – falou em tom debochado.
“Do que está falando?” – Voldemort virou-se. Olhava vagamente pela janela, observando algo misterioso e invisível no céu que ele parecia achar muitíssimo interessante.
“Você mandou que atacassem a casa para que eu tenha de vir para cá, não foi?” – perguntou Bellatrix sagazmente.
“Claro que não” – ele sorriu – “Já disso que não preciso usar golpes baixos; não nesse tipo de jogo pelo menos.”
“No amor e na guerra valem tudo...” – Bella retrucou, cruzando os braços no peito.
“Acontece que não estamos tratando de amor, minha cara.” – Voldemort falou, rindo – “Estamos falando de algo muito mais interessante”.
Ele se aproximou dela e pousou as mãos delicadamente em seus ombros para em seguida beijar o pescoço alvo. Bellatrix manteve-se o mais indiferente possível, o que foi uma missão muito difícil, considerando que suas pernas pareciam ter virado sorvete...
“O que é mais engraçado é que, se considerarmos todo o trabalho que você teve... Por que as mulheres estão sempre atrás do que não podem ter?”
“Eu não posso ter você...” – Bella sussurrou.
“Não pode, e, no entanto, quem pede sou eu... Isso não faz sentido.” – ele sussurrou em resposta; as mãos deslizando por dentro da blusa até encontrar o fecho do sutiã.
“Não faz...” – disse, e se assustou com o som de sua própria voz. Novamente, era como se sua vida estivesse por um fio e ele o segurasse entre os dedos; os quais ele ainda corria pela pele sob a roupa.
“Tudo bem, eu admito, mandei os falsos aurores. Não contava com que seu marido sobrevivesse, mas ele se saiu melhor do que eu imaginava...”
“Que tipo de jogo estamos jogando, se você diz que não comete golpes baixos?” – disse, e passou a mão pelo pescoço dele, virando o seu rosto para que ele a encarasse. Sentia a própria respiração acelerada.
“É o que estamos prestes a descobrir, não?” – ele retrucou; o rosto tão próximo que podia contar as pequenas sardas no nariz mal ocultas pela maquiagem.
“Acho que prefiro um jogo limpo” – disse, e soltou a mão que agarrava possessivamente sua cintura, libertando-se do abraço apertado.
Bella pôde observar os olhos do Lorde das Trevas passarem do castanho normal para o vermelho ameaçador. No entanto, ele apenas sorriu, embora seu olhar quase soltasse faíscas.
“Boa-noite, Bella.”
“Boa-noite, milorde.”
“E, ah... Haverá um baile de Halloween no próximo mês. Você sabe que eu não sou muito chegado a... a esse tipo de manifestação social..., mas seus colegas acharam uma boa idéia; levantar a moral. Apareça por lá.”
“Sim, senhor.”
“Se preferir não incomodar seu marido, o quarto próximo ao meu está desocupado.” – ele disse; o sorriso um verdadeiro enigma, e fechou a porta.
Não ocorreu a Bellatrix perguntar o que teria acontecido com outros doze quartos da casa.
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