Socorro



Cap. 8 - Socorro

Carlinhos

Oi. Sou eu, Tonks. Sei que faz séculos que não escrevo, mas acho que dessa vez eu realmente precisava de alguém para conversar. As coisas não estão indo muito bem por aqui. É ele. Você sabe de quem eu estou falando, não é? Remus Lupin, o cara mais velho, lembra? E você me aconselhou o tempo todo a ficar longe dele...

Bom, ele voltou, e aconteceram umas coisas, acho que não dá para contar por carta. Mas queria muito que você viesse para cá. Eu realmente preciso de alguém para conversar e você é o melhor amigo que eu tenho.

Me mande uma resposta por carta, certo? Estou esperando você por aqui, se você puder.

Beijos, sua grande amiga, Tonks.


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Havia dois dias que ela não o via. Os dias que ela havia usado para colocar as idéias em ordem. Agora que se acostumara com isso já não achava tão impossível que ficassem juntos mesmo com esses pequenos “obstáculos”. Mas ainda estava chateada com ele pelo modo como falara com ela. Nunca imaginou que ele pudesse ser tão... insensível. Mas de algum modo teriam que resolver as coisas. Trabalhavam juntos na maior parte do tempo, e não podiam dar-se o direito de ficarem brigados.

Mas não seria ela quem pediria desculpas. Não era uma pessoa muito orgulhosa, mas nesse caso, ele é quem precisaria implorar seu perdão. A briga só começara por causa dele e seus segredos estúpidos! Tudo teria sido muito simples se ele tivesse lhe contado tudo desde o início. Definitivamente, a culpa era dele.

Se bem que ela também acabara se descontrolando...

Hoje Carlinhos provavelmente chegaria. Ela mal podia esperar! Precisava mesmo de alguém com quem pudesse conversar francamente. E ele com certeza saberia o que fazer. Ele sempre sabia, desde os tempos de escola, livra-la das encrencas em que se metia. Agora não podia ser diferente.

Ouviu a campainha tocar e o quadro da Sra. Black começar a gritar escandalosamente. Rapidamente se levantou e correu para a porta. Finalmente um pouco de consolo! Saiu do seu quarto, hoje com os cabelos azuis espetados e jeans, e, ignorando totalmente a mulher histérica que berrava, foi abrir a porta.

Ali estava ele. Os cabelos ruivos, o sorriso no rosto, a aparência perfeitamente igual ao que ela se lembrava. Vê-lo ali a fez esquecer, por um instante, os problemas pelos quais estava passando, e seu coração se encheu de uma felicidade momentânea por ver seu grande amigo depois de tanto tempo. Durante uma fração de segundo ela nem pôde falar. Então, como se tudo voltasse em uma avalanche, ela lembrou o porquê de ele estar ali, e atirou-se sobre ele, com lágrimas nos olhos, em um abraço apertado, que ele retribuiu.

- Que bom que você chegou – ela disse chorosa – Estava com saudades.

Ele sorriu e afagou seus cabelos com ar extremamente protetor, como se fosse seu irmão mais velho.

- Também estava sentindo saudades suas, sua doida. Mas sabia que logo ia se meter em alguma encrenca e eu ia precisar salvá-la!

- Não seja chato – retrucou, meio rindo, meio chorando – Eu sei me virar sozinha...

- É, estou vendo – ele riu. E então passou um dos braços de modo reconfortante ao redor da cintura dela e guiou-a para dentro da casa – Vamos preparar um chá e você me conta o que aconteceu.

- Certo – fungou – Ah, Molly não sabe que você vem, eu esqueci de contar... mas ela vai ficar contente em te ver...

- Claro. Mas vamos nos concentrar no problema. Ele está por aqui?

- Não. Não o vejo desde que brigamos, faz uns três dias – ela entrou na cozinha e começou a procurar xícaras, enquanto ele esquentava a água em uma chaleira – Deve ter fugido, para variar – resmungou amargamente.

O silêncio reinou na cozinha escura e fria enquanto eles preparavam a bebida. Tonks pegou também um pote cheio de biscoitos de chocolate e eles subiram de volta até seu quarto. A Sra. Black já tinha se calado.

- E então? – perguntou sentando-se na cama dela de modo despreocupado e mordendo um biscoito – Pode contar tudo. O que aconteceu?

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Ela acordou de repente quando percebeu a ausência de seu corpo ali. Onde será que ele estava?

Talvez estivesse na cozinha, e estivesse preparando um café da manhã para ela. Sim, seria tão lindo! E era bem possível, vindo de alguém tão atencioso e carinhoso como ele, pensou feliz e sorriu contra o travesseiro.

Na realidade não se lembrava de jamais ter se sentido tão feliz e tão... completa, talvez fosse a palavra certa. Era como se a vida toda a tivesse levado para aquele momento, junto a ele. Lembrar da noite anterior fazia um arrepio percorrer todo o seu corpo, cheia de prazer. Era quase impossível acreditar que tinha sido real. Nem em um sonho poderia ter sido mais perfeito. Mas, em seus sonhos, ela nunca estivera com Remus Lupin.

Enrolou-se nos lençóis e suspirou em um misto de prazer, conforto e preguiça. Abraçou seu travesseiro e bocejou. Abriu os olhos. O quarto estava vazio, como esperara. Tudo bem. Ele provavelmente a esperava no andar de baixo.

Levantou-se, tomou um banho rápido e se vestiu. Parou em frente do espelho e decidiu-se por cabelos loiros, ondulados, os olhos verdes. Desceu correndo as escadas.

- Bom dia! – exclamou entrando na cozinha.

Mas a cozinha estava vazia. Perplexa, ela analisou cada canto como para se certificar de que ele realmente não estava lá. Havia apenas um pergaminho em cima da mesa, que ela apanhou, desinteressada, sem dar qualquer atenção. Devia ser apenas uma correspondência. Ela leria mais tarde. E então deu meia volta, indo para a sala. Mas esta também, não tinha ninguém, nem o menor vestígio de que alguém passara por lá.

- Remus? – chamou hesitante. Ninguém respondeu – Remus, você... você está aí?

O coração começou a aumentar o ritmo, e ela ofegou. Ele não teria apenas... ido embora, teria? Não faria uma coisa dessas com ela! Foi até o banheiro e bateu na porta. Sem resposta, abriu a porta. Mas ele não estava ali. Olhou no jardim da casa, esperando que ele talvez lhe estivesse fazendo uma surpresa. Mas, e agora ela já não estava mais tão surpresa, ele não estava lá.

Subiu as escadas novamente, sentindo toda a felicidade com que acordara se dissipar. Verificou seu quarto, o escritório do pai, o outro banheiro, cada canto mais improvável, as esperanças haviam partido.

Então voltou para o quarto da mãe. Olhando para os lençóis desarrumados, sentiu os olhos marejarem. Continuou olhando para o quarto quase como se tivesse sido petrificada, quando notou que ainda tinha um pedaço de pergaminho entre os dedos, agora um tanto amassado.

Sentando-se desolada na beirada da cama, ela o abriu e começou a ler. Não se sentiu tão surpresa vendo a letra de Remus. Começou a ler a carta, enquanto um nó parecia se formar em sua garganta, mas ela não ia chorar. Não ia chorar por um cara que simplesmente ia embora assim, deixando uma carta para se explicar, sem nem encara-la e lhe dizer tudo francamente. Terminou de lê-la e leu ainda mais duas vezes, até que conseguisse assimilar tudo.

E então, tomada de indignação, amassou a carta e atirou-a longe com raiva. Virou-se para sair quando viu a rosa branca. Mas, dessa vez, ao contrário da última, ela não lhe causou nenhum sentimento bom. Foi até lá e apanhou-a rispidamente, como se isso fosse ferir não a flor, mas Remus. Como se ele sequer soubesse o que ela estava fazendo. Só apanhou o pergaminho do chão por que temeu que sua mãe o lesse. Levou ambos, a carta e a rosa, até o jardim e, numa atitude furiosa e impulsiva, tirou sua varinha do bolso.

- Incêndio!

Viu a flor pegando fogo juntamente com o pergaminho, com um misto de raiva, mágoa e uma estranha satisfação. Então, quando mo lugar deles havia apenas um monte de cinzas, ela sentou-se na grama e chorou.

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- Você foi magoada, Tonks. É absolutamente normal você se sentir assim.

- Disse a mesma coisa da outra vez – ela o lembrou – Quando ele foi embora, lembra? Você e Hanna ficaram conversando comigo umas cinco horas direto, no Salão Comunal, logo que voltamos a Hogwarts. E depois acabamos dormindo na primeira aula de História da Magia e na de Feitiços...

- É... – disse ele, a expressão fechando ao lembrar-se da outra amiga – É, e Hanna disse que... como era mesmo? Alguém que te faz sofrer não pode ser o amor da sua vida. Acha que ela estava certa?

- Não totalmente. Só sofremos por quem realmente gostamos, não é? Se for alguém com quem não nos importamos, somos indiferentes. Mas concordo que a gente não devia ficar com alguém que não faz a gente se sentir bem. Não é saudável.

Um silêncio desconfortável tomou conta do quarto. Ela se arrependeu de ter mencionado a amiga. Ela e Carlinhos tinham se tornado namorados no fim do sexto ano. E um ano após terem saído de Hogwarts, a garota fora morta por Comensais da Morte, aqueles que continuavam livres e às vezes gostavam de relembrar os velhos tempos. Fora uma infelicidade ela estar por perto. Era de família trouxa e eles conheciam os “sangue-ruim” de longe.

Carlinhos ficara muito abalado na época, e Tonks lhe dava toda a razão. Ela também passara semanas sentindo-se mal, mas sabia que o amigo devia sofrer muito mais que ela. Então se dedicou ao máximo a consolá-lo na época.

- Desculpe – murmurou ela – Eu não devia ter dito...

- Tudo bem.

- Então, o que acha que eu devo fazer? Não posso falar com ele. Não depois de tudo que ele me disse... e de tudo o que não me disse, principalmente. Quer dizer, ele escondeu aquilo de mim durante séculos!

- Mas você tem que tentar ver pelo lado dele. Quero dizer, ele é muito discriminado por causa disso, é compreensível o modo como agiu, não acha?

- Não, não acho – disse como uma criança teimosa – Isso só mostra o quanto ele é inseguro, o quanto é mentiroso, e que ele não confia absolutamente nada em mim! Se ele acha que eu sou o tipo de pessoa que deixaria ele por uma coisa assim... mas foi ele quem foi embora, afinal! Francamente, eu não entendo vocês, homens! Em um minuto parecem perdidamente apaixonados e no outro deixam uma carta ridícula na mesa da cozinha dizendo que nunca mais vão voltar!

- E eu não entendo vocês, mulheres – disse Carlinhos rindo novamente e atirando nela um travesseiro. Aquele parecia um hábito imutável em uma discussão deles, desde a infância – Ou estão rindo e fazendo piadas, ou estão queimando rosas no jardim.

Ela corou. Ia se arrepender para o resto da vida por ter lhe contado isso.

- Aquilo foi só uma vez – ele agora gargalhava da expressão embaraçada dela – Pare de rir! – disse subindo também na cama e praticamente sufocando-o com o travesseiro – Se você não parar juro que vou matar você, seu... seu... – mas aparentemente ela não conseguia achar um insulto à altura – Que tipo de amigo é você afinal?

Agora ela ria também. Era contagiante, quase como nos seus velhos tempos de escola. Divertindo-se, ele fez cócegas nela e ela caiu deitada e encolhida, tentando em vão escapar. Não agüentava cócegas. Mas ele era mais forte e não a deixou fugir.

- Você se rende? – perguntou ele minutos depois

- Sim, sim, sim, me rendo! – ofegou, ainda em meio à gargalhadas – Pára com isso.

Ele parou. E ela continuou deitada, fechando os olhos e sorrindo, tentando fazer a respiração voltar ao normal. Quem visse os dois poderia muito bem dizer que eram namorados. Mas eles eram acostumados a conviver um com o outro há tanto tempo que eram como irmãos. A proximidade entre eles, tanto em mente como física, não os constrangia. Por isso, mesmo ele estando sentado ali, com um braço de cada lado dela, o rosto acima do dela, ambos sabiam que era apenas brincadeira, apenas um ataque de cócegas, e não estava rolando clima algum.

Mas, como disse, eles sabiam disso. Não quem os observava à porta.

*

N/A: Capítulo chato, eu sei... mas eu precisava fazer isso, para "emendar" o próximo capítulo, que acho que vocês vão gostar um pouco mais. E tenho uma notícia horrível: provavelmente eu vou deletar a fic "O Diário de Ninf... Tonks". Me desculpem mesmo, sei que a maior falta de profissionalismo que já existiu, mas não adianta mais ficar enrolando vocês, e eu não estou mais conseguindo escrevê-la. Mil, milhares, milhões de desculpas. Me perdoem por favor! :'( Não me odeiem! Não me lancem um Avada Kedavra! Eu juro que nunca mais vou fazer isso com nenhuma outra fic, é a primeira e última vez que faço isso!
Obrigada mesmo a todos que comentaram, me deixaram muito feliz! Beijos e até o próximo capítulo.

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