Academia de Magia Magfia
Capítulo 9
Academia de Magia e Bruxaria Magfia
Cláudia chegou.
Os quatro se abraçaram e sorriram longamente, parecia que eram amigos desde o nascimento. O diretor admirou a cena com interesse lembrando-se da juventude numa terra muito distante do Brasil, em que os perigos eram tão grandes quanto aqui, contudo a amizade era grande e bela em qualquer canto da Terra.
- Quatro! Vocês quatro passaram hoje por experiências extraordinárias e preocupantes para jovens da idade de vocês. – disse o diretor pausadamente e com olhar fixo em cada um dos quatro. – Vocês viram coisas que muitos jovens da idade de vocês e mais velhos jamais verão, e ainda muitas coisas que vocês não compreenderam e o meu dever é explicar algumas coisas, não tudo, porque até mesmo para a mente mais sábia é facultado todo o conhecimento. Antes de tudo, gostaria de dizer que agiram bravamente, todos, sem exceção. Depois quero alertar-lhes que estamos diante de algo que não é visto há muito tempo nesse país, muito menos na comunidade bruxa, estamos diante de uma Guerra. Há dois lados e não mais, há aqueles que são á favor de um novo mundo, em que os trouxas sirvam e sejam mortos pelos bruxos de alta linhagem, os sangues-puros e há um outro lado que defende a liberdade e a melhoria do que há, sem mortes inocentes e sem o fim de diversas culturas, como a querida arte indígena, não é Pedro? Mas vocês se perguntam e me perguntariam, o que isso tem a ver com o que aconteceu hoje a noite. Eu respondo-lhes, isso tem tudo a ver. Entendam, há muito tempo, por volta de uns quatrocentos anos, e deixo bem claro que em algum momento em uma aula de História da Magia isto será-lhes dito, aportaram nessas terras brasileiras, bruxos portugueses e espanhóis, que diferentemente da comunidade trouxa que veio pra cá desejavam descobrir o que havia nessa terra, quais magias se escondiam entre os povos, que por eles não eram considerados burros, mas sim seres que tinham determinada inteligência e que devia ser utilizada para o engrandecimento da magia. Foi então criada a Academia de Magia e Bruxaria Magfia para reunir todo o conhecimento e passá-lo aos novos bruxos. Contudo ao longo do tempo a mentalidade dos diretores foi evoluindo e perceberam que os negros e índios que antes ficavam a parte desse desenvolvimento deveriam estudar, sendo assim criou-se um famoso processo de seleção, invejado por algumas escolas de magia do mundo inteiro. Decidiu-se testar os alunos pelas capacidades iniciais dele e pelas características que eles traziam do mundo externo de uma forma diferente das escolas seletistas. Uma procissão de alunos seguiria pela floresta, veria animais, o céu amplamente estrelado, e caminharia descobrindo que durante esse percurso certas coisas estranhas estavam ao seu redor e ao tocar em algumas dessas coisas ele seria imediatamente escolhido em uma das quatro casas existentes em Magfia: Realex, Gainea, Anangangala e Phortgrum. Contudo hoje algo fora do previsto aconteceu, algo que nunca havia acontecido. Uma invasão, que impediu a chegada imediata de quatro alunos. Vocês. A partir desse ponto não tenho muito o que dizer, mas prestem atenção. Primeiro, não contem nada do que aconteceu com cada um de vocês a ninguém e segundo tomem cuidado, acho que nada irá acontecer dentro de Magfia, mas é sempre bom tomar cuidado. Não se preocupem, temos funcionários competentes e uma segurança fortíssima. Desculpem eu falar tanto, sou um velho já um pouco gagá e quanto á história de Magfia é que eu já fui professor de História da Magia e Metamorfia, mas isso já é passado... Vocês certamente estão cansados, por isso vão se deitar e não se preocupem, tudo está sob controle.
As crianças estavam realmente com muito sono, isso se mostrava nos rostos deles, então não fizeram nenhuma objeção ao diretor, contudo prestaram muito atenção ás palavras do diretor, principalmente quanto ao perigo e ao sigilo, por isso concordaram sem se falar que não contariam nada a ninguém além deles mesmos sobre os incidentes lá fora. Saíram calmamente da sala circular e viram quatro corredores amplamente iluminados, os quais tinham cores diferentes, uma imagem muito bonita, mas pouco explicativa para as quatro crianças.
- Ah, é, como vocês podem perceber cada um está em uma casa diferente. Olhem cada em seu respectivo objeto colhido na Floresta de Magfia. A cor indica o corredor a ser seguido, tomem cuidado que ás vezes ele prega peças aos transeuntes, e, ah, nessa noite não precisarão de senhas, mas se informem com os coordenadores das suas casas amanhã. Boa noite para vocês. – disse o diretor com pantufas já no pé e um touca de dormir. Ele entrou calmamente na sua sala e sentou-se na poltrona e antes de dormir disse: Mas porque eles quatro?
Uma garota de cabelos vermelhos fogo, um garoto bronze de cabelos em cuia, uma menina negra de cabelos encaracolados e um garoto magro e não muito alto, os quatro de frente á quatro extensos corredores olhando para objetos em suas respectivas mãos.
- O que vocês ganharam? Eu tenho uma hiena numa cabeleira. – disse Cláudia alegremente.
- Eu tenho um leopardo numa fruta. – disse Pedro.
- Eu tenho um pedaço de madeira com algum pássaro desenhado. – disse Robson.
- Eu tenho um ratinho bem parecido comigo, cheio de medo. – disse Susana também feliz de estar entre amigos. Todos riram e olharam-se com extrema felicidade.
- Acho que o meu corredor é o terceiro da esquerda pra direita, tem a mesma cor da minha fruta que é verde brilhante. – disse Pedro olhando para o longo e profundo corredor.
- O meu é o primeiro da esquerda, é todo dourado. – disse Robson.
- O meu é o segundo, tem bastante azul. – disse Susana.
- E o meu é o quarto, todo prata, finalmente alguma coisa que não é vermelho, né? – disse com alegria Cláudia. – Vamos todos juntos no três? Até amanhã, no salão, aí a gente vê como conversar. Boa noite. Um, dois, três. – Todos caminharam sonolentamente e vagarosamente até seus corredores.
O corredor se estendia enorme á frente de Pedro e seu pequeno leopardo. A cor verde ao seu redor era intensa, ele se mesclava em tarjas de verde mais claro com um verde mais escuro. Pedro ia lentamente até o seu quarto que deveria indicar sua sala assim como os outros, até que ele viu um líquido da mesma cor da parede escorrendo até o chão, parecia ranho, corrimento de nariz mesmo, de um verde ácido, e não era em uma parede só que isso acontecia, isso acontecia ao longo de todo o corredor. Pedro não se assustou foi perto da parede de onde escorria o líquido nojento e notou que havia algo escrito na parede em letras finas e rebuscadas: Cutuque! O garoto obviamente nada tinha entendido, mas olhou novamente e leu outra coisa: Está esperando o que?
- A parede ta falando comigo? – ele pensou.
Sim eu to falando com você seu trouxa, agora me cutuque! – A parede dizia. O garoto pegou sua varinha no cós da calça e cutucou a estranha parede, e um vento intenso com um cheiro horrível levou ele pelos ares num audível som de espirro: Atchiiiimmmm!! Na hora em que levantou do chão estava todo molhado da gosma verde e ele presumiu que a parede estivesse resfriada, algo nada incomum numa escola de magia, também percebeu que tinha caído bem em frente á seu quarto: 1º Ano Anangangala. Entrou lentamente, se arrumou e descansou desse longo dia.
Susana percorreu um corredor entre o azul escuro celeste e azul marinho. Havia pequenas estrelas brilhantes nas paredes que eram em faixas assim como no outro corredor. Tinha também uma certa marola em algumas faixas como se fosse o mar dançando numa tarde quente. A água parecia real, indo para a direita e para a esquerda, acima e abaixo na parede do corredor azul. Com medo, mas curiosa ela tocou na parede com o dedo para saber se era real e foi como se ela tivesse feito um furo na parede, porque a água começou a escorrer para o chão e começou a encher o corredor todo.
- E agora o que eu fiz? – pensou Susana.
Mas ela não teve tempo de pensar muito a água começou a carregá-la para frente e a envolvê-la, ela fechou os olhos e começou a afundar na água que levava ela longe, até que ela viu um tampão como de pia e tentou se aproximar dele até tirá-lo, não foi difícil e a água toda desceu pelo buraco em poucos segundos, porém haviam dois pés muitos molhados e calças velhas que pingavam muito no chão e não eram as dela, ela levantou os olhos e viu pelo rosto da pessoa que ela não era de muitos amigos.
- Já é a sétima vez hoje que isso acontece, não sei porque o Zacarias ainda permite isso nessa escola? Na época do Eliazar Rudh não havia nada disso, mas agora é esse velho que está aí e permite que absurdos como esse aconteçam. – disse a mulher gorda e totalmente molhada, com uma expressão de ojeriza pela cena que via. Ela tinha marcas no rosto, parecia um buldogue velho e briguento, tinha um olho faltando e nesse orbital que faltava havia um olho de vidro azul com um pingo dourado dentro. – Já pra cama, isso não é horário de nenhum aluno ficar fora dos quartos. Principalmente em dias como os de hoje em que nunca se sabe com quem lida. – disse com olhos de quem ameaça.
A menina olhou para a porta á sua frente e percebeu que na porta também azul, mas de um escuro profundo estava escrito: Phortgrum: 1º Ano. Ela entrou rapidamente com medo da mulher, olhou para ela uma vez mais antes de fechar a porta e percebeu a carranca da mulher e o feitiço que ela lançava no corredor para secá-lo.
Robson andava correndo pelo corredor dourado, um rinoceronte do chifre dourado percorria atrás dele, isso aconteceu depois que ele andava calmamente pelo corredor até que viu num vão á esquerda muitas jóias de outro, um verdadeiro tesouro, foi tocar pra ver se era de verdade, então do vão á direita saiu um enorme rinoceronte que corria desembestado atrás dele, mas também tropeçava e batia nas paredes de forma que o garoto conseguia manter uma certa distância. O problema é que ele já estava cansado e não havia perspectivas de escapatória, a não ser que ele encontrasse seu quarto. As inscrições na parede da Casa de Realex indicavam tudo menos o quarto do 1º ano. Já estava cansado daquele dia e não ia agüentar mais, até que viu um homem com uma espingarda dourada também á sua frente, com um chapéu de caçador e roupa de caçador, o problema é que não dava pra saber se ele apontava para o garoto ou para o bicho.
- Me ajude, tem um rinoceronte enorme atrás de mim no corredor. – disse Robson ofegante sem parar de correr.
- Espera um pouco. Eu não sabia de rinoceronte nenhum. Mas deixe-me ver. – olhou melhor e viu o enorme rinoceronte reluzente desembestado na sua direção. – Toma a arma, atira nele, você vai acertar, eu confio em você, agora eu tenho que ir, tchau. – saiu correndo fugindo da enorme besta enlouquecida.
Robson percebeu que não ia ter outro jeito a não ser tentar. Apontou bem na boca do bicho, ou pelo menos o mais próximo possível e atirou. Nada. Apontou novamente e apertou o gatilho. Nada. Tentou uma terceira vez e como se fosse um daqueles filmes de bang bang só estava ele e seu oponente, um olhando ao outro. A besta se preparava para uma nova investida cruel e mortal. O seu oponente tentava dissimular uma confiança e tentaria acertar o inimigo. Pedro apertou pela terceira vez o gatilho e agora como se estivesse dentro de um desenho animado em que tudo é possível e comigo apareceu a famosa bandeirinha: BANG. A besta veio correndo de encontro á ele e o impacto foi enorme e ao mesmo tempo não abalou tanto, Robson apenas desmaiou por alguns segundos, e quando acordou estava em frente a uma porta dourada onde estava escrito: 1º ano Realex.
A manhã seguinte foi iniciada pelo alto canto do galo, que acordou todos os alunos. A Academia de Magia e Bruxaria Magfia era todo um complexo subterrâneo e arquitetônico, que além do grande vão interno que o compunha, tinha um campo imenso na superfície, casas, salas de lazer e estudo, tudo isso no alto de um grande planalto que era protegido por feitiços poderosíssimos. No centro de todo esse complexo havia o Grande Salão onde eram realizadas festas, cerimônias além de refeições dos alunos. Nesta manhã não seria diferente e todos os alunos se direcionaram pelos corredores e portas para o salão, contudo Pedro, Robson e Susana desconheciam o caminho até o Salão e foram seguindo a massa humana que percorria os vastos corredores e salões até o Grande Salão. Ele era formado por quatro entradas laterais, duas postadas atrás da mesa dos professores e duas atrás das mesas dos alunos, o salão formava um imenso semi-círculo, que continha cinco grupos distintos. Os professores ficavam na mesa a frente da parede, á frente deles, mais a esquerda da mesa dos professores ficavam as mesas de Phortgrum, ao seu lado Realex, do lado direito mais próximo Anangangala e ao lado direito mais distante da mesa ficava Gainea.
Todos estavam animados pelo início do ano letivo, uma escola mágica não era como uma escola comum, em que geralmente não se aprende tudo por não poder ver na prática sempre o que se vai aprender, lá eles tinham contato constante com a magia, em todos os cantos que se olhava se via vestígios de uma cultura mágica antiga, encantamentos, sortilégios e até mesmo um mistério se escondia sob as paredes profundas de Magfia.
Nesse dia todos os professores se postavam sentados na mesa, com excessão da professora de Adivinhação. Costuma-se dizer que os professores de Adivinhação e em geral os ciganos, videntes entre outros são muito reclusos, sejam charlatães ou não, essa é uma característica que segundo eles distingüe quem possui a Visão Interior e quem não possui. Olhos interiores á parte, Zacarias como sempre se sentava ao centro da mesa, acompanhado ao lado direito por Gadelha Galatéia, professora de Feitiços, com seus cabelos leitosos e o olhar sempre materno, o qual foi acompanhado por Robson. Ao seu lado sentava-se o professor Wilson Wandré, que ensina Alquimia, lidando com elementos mágicos e suas propriedades, as escolas européias costumam chamar essa matéria de Poções. Ao lado dele sentavam Efigênia, a bela professora de Herbologia, e Magali Kate, a taciturna professora de Astronomia. Do lado esquerdo do diretor estavam o sombrio professor de Defesa contra as Artes das Trevas, Juscelino Zambak. O pequeno e rápido professor de Metamorfia, Basileu Leucoplasto, ao lado dele estavam Heródoto Wenceslau, o professor de Tradições Arcaicas e a divertida e não menos importante Dagoberta dos Santos que ensina História da Magia, ainda havia mais uma pessoa ao lado da professora de História da Magia, a qual contudo não tinha o mesmo distintivo dos professores e anotava alguma coisa em um caderno.
Como cada um dos quatro migos haviam entrado em casas diferentes eles apenas se cumprimentaram rapidamente com um aceno e se sentaram para comer o café da manhã. Havia os mais variados pratos nas mesas, tudo que se imaginasse que um ser humano pudesse fazer de alimento, na verdade por padrão há uma cozinha mágica em que trabalham elfos domésticos em grandes locais públicos, como Centros Mágicos, Escolas, Departamentos Governamentais, Assémbléias entre outros em que uma grande quantidade de pessoas da comunidade bruxa se reúne, os pratos são preparados de acordo com o gosto de quem vai comer. Havia tapioca, bolo de fubá, cuzcuz, frutas, sucos, guloseimas, de tudo nas mesas, além de pratos típicos de algumas regiões do país e estrangeiros também. Susana se maravilhava a cada comida que surgia do nada nos pratos a sua frente, cada momento era um grande espetáculo para a garota que nasceu trouxa, cada encanto, cada magia conjurada, a chegada de pássaros que entregavam as correspondências, e não só corujas que eram a maioria, mas também pássaros nacionais, e de certa forma uma grande quantidade de araras das mais diversas cores e tamanhos, era incrível cada segundo, contudo ela percebeu que todos olhavam prestando muita atenção ao diretor que vestia uma longa capa de um azul tão real e tão profundo que era hipnotizante.
- Meus queridos estudantes, este é o primeiro dia do ano letivo, espero que tenham descansado bastante para aprender um pouco mais nesse ano que se inicia, para alguns de vocês este é o primeiro ano, por isso não se preocupem, não tenham medo, dúvidas, elas irão surgir, mas não se sintam satisfeitos enquanto cada uma e todas elas sejam satisfeitas pelos professores. Outros de vocês estão no último ano letivo, sendo assim, recomendo... - O diretor parou seu discurso quando foi chamado pela mesma mulher que estava do lado da professora de História da Magia, ela tinha olhos profundos e olheiras tremendas por trás de um óculos circular, havia uma carta em sua mão que fora entregue segundos antes por uma coruja. Ela disse algo ao pé do ouvido do diretor, o qual olhou para ela agradecendo, disse duas palavras á ela e mais três a Gadelha que retornou aos alunos enquanto o diretor saía pela porta do lado esquedo do Salão.
- Alunos, o diretor teve que sair para resolver um assunto, mas não há muito mais o que dizer, apenas que os horários dos alunos do primeiro ano serão entregues pelos monitores de cada casa depois do café da manhã e que as aulas se iniciam amanhã, não se atrasem e tenham um bom dia.
Os alunos foram saindo lentamente do Salão, bem como os professores, e finalmente Robson, Pedro, Cláudia e Susana se encontraram pela primeira vez depois da noite anterior.
- Então, o que você achou Susana do colégio? - perguntou Pedro.
- Show, muito legal, é tanta magia que eu nem tô acreditando. Não vejo a hora das aulas começarem. - respondeu Susana.
- Que tal a gente caminhar por aí?Hoje não vai ter aula mesmo.
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