Almas Perdidas
Rever Neville foi tão doce e doloroso quanto rever Harry. Era a mesma mescla de sentimentos: rever um pedaço de seu passado que tinha sido bruscamente entrecortado por uma tragédia. O menino a olhou pela primeira vez com uma expressão de quem vê um morto ressuscitar, porque a vida toda tinha ouvido sua avó lhe falar que sua madrinha tinha morrido antes mesmo de seus pais terem sido torturados e enlouquecido.
Mas depois do primeiro momento de susto, ele assimilou bem a novidade de vê-la ali. Depois de tomarem café juntos conversaram por um longo tempo e Mel acabou sabendo de muitas das “aventuras” de Harry na escola através de Neville. Ele ia contando o que havia acontecido em seu quinto ano, quando a avó do garoto os chamou pra almoçar. Depois disso a Sra. Longbottom perguntou se Mel gostaria de ir ao St. Mungus visitar Alice e Frank.
Uma sensação ruim se apoderou de Mel: revê-los...? Ver os rostos de seus amigos mais uma vez, mas tendo a certeza de que eles não se lembrariam dela...? Engoliu em seco, mas concordou.
Então, algum tempo depois, parada na porta do quarto que eles habitavam, Mel viu e sentiu suas mãos tremerem. Neville estava ao seu lado, com um olhar calmo e reconfortante, como se dissesse “tudo bem, não é tão ruim quanto você imagina”. Ela respirou fundo, tomou a mão do afilhado e segurou firme, entrando.
Ela caminhou até o fim do quarto, em direção a duas camas que estavam envoltas em cortinas, sendo guiada pelo afilhado. Quando chegaram até lá, Neville puxou as cortinas e então Mel entrou.
Ela nunca pensou que se sentiria tão triste na vida. Era ainda pior que contemplar o túmulo com o nome do seu irmão. Encontrou o rosto de Frank que estava deitado na cama, fitando o teto calmamente, um olhar vago e perdido. Ele tinha o rosto muito mais magro e marcado pelo tempo do que Mel poderia imaginar. Mel foi até ele e lhe tocou a face, retirou os cabelos dele, agora muito mais brancos, da testa e lhe deu um beijo. Ele nem sequer esboçou uma reação, continuou ali parado, olhando...
Na cama ao lado estava Alice, como se estivesse alheia a tudo. Uma lágrima silenciosa rolou dos olhos de Mel ao fitá-la: ela havia retirado algumas margaridas amarelas de um vaso que ficava na cabeceira de sua cama e tentava entrelaçá-las pra fazer uma coroa de flores, mas sem sucesso. Mel sentiu Neville ao seu lado e olhou pra ele, que tinha um olhar indagativo pro que a mãe fazia.
- Quando estávamos em Hogwarts, eu, sua mãe e Lily costumávamos fazer coroas de flores sentadas a beirada do lago, todo domingo de manhã... – Mel sussurrou pra ele, com mais lágrimas escapulindo pro seu rosto.
Ela foi até a cama e sorriu pra Alice, que por sua vez a olhou de um jeito desconfiado.
- Olá... – Mel disse pra ela baixinho – posso te ajudar com isso...?
Alice não respondeu, então Mel pegou as margaridas e com certa agilidade manual as entrelaçou formando uma coroa, que ela colocou na cabeça da amiga. O tom amarelo das margaridas contrastavam muito com os cabelos brancos de Alice. Alice sorriu quando recebeu a coroa e, como uma criança faz quando ganha um presente, se inclinou na cama e deu um beijo no rosto de Mel.
Foi quando um medibruxo entrou, com dois copos cheios de poção e pediu licença pra medicar seus pacientes. Mel se manteve um pouco longe, e não resistiu a abraçar Neville fortemente.
- Oh... – ela disse entre soluços que não podia controlar – quem fez isso com eles Neville...? Quem seria tão maligno a esse ponto...?
- Bellatrix Lestrange. – ele respondeu prontamente, um grande tom de amargura na voz – Foi ela.
- Ela...? – Mel sentiu suas mãos se fecharem fortemente, sem que ela tivesse planejado fazer isso – Ela fez...?
- Fez. E tentou fazer o mesmo comigo, quando estivemos no ministério, no nosso quinto ano... disse que queria ver quanto eu agüentava antes de enlouquecer como meus pais... Se não fosse algumas pessoas terem chegado naquela hora e....
Neville falava, mas Mel não ouvia mais. Bellatrix Lestrange. Ela de novo, sempre entrando em seu caminho, sempre a ferindo. Perguntou-se se ela poderia a odiar mais do que a odiava exatamente naquele momento. Mas outras palavras do seu afilhado a fizeram despertar:
- ... e pouco depois ela matou Sirius Black. Ele era padrinho de Harry, você devia o conhecer, não?
- Foi ela que matou o Sirius? – Mel sentiu seus poderes se descontrolando, tamanha sua raiva. Fechou os olhos e respirou profundamente várias vezes pra se acalmar.
- Matou.
Pronto. Segundos tinham se passado e Mel conseguia odiar Bellatrix ainda mais.
- Olha, eu não sei muito mais do que você. – Harry disse, se levantando do sofá em que estava. Estava achando irritante que Nicolas Delacourt o seguisse pra todo lado, fazendo perguntas sobre sua tia – Pode parecer estranho, mas eu não sei muito sobre ela, eu sequer sabia que ela existia. Então eu não posso te dizer mais do que eu já te disse, ok?
- Você não sabia que ela existia...? – ele perguntou, levantando uma sobrancelha. – como isso é possível?
- Olha, não me peça pra explicar a minha vida, até hoje eu não consigo fazer isso... – ele resmungou, saindo de perto do menino.
Quando ia alcançando a porta da cozinha e ouvindo os passos de Nicolas que continuava a segui-lo, Harry viu sua tia chegar. Ela tinha a expressão carregada e se soltou numa das cadeiras da mesa.
A Sra. Weasley, mesmo estando com mil coisas pra fazer agora que o casamento só levaria algumas horas pra acontecer, parou ao lado dela, enquanto oferecia um copo de suco.
- Obrigada Molly... – Mel tomou alguns goles
- Como foi com Neville...? – Molly perguntou, se afastando pra cuidar de uma bandeja com alguns doces.
- Bem, foi tudo bem. – ela tinha a voz fraca, e percebeu Harry que vinha em sua direção – Nós fomos visitar Frank e Alice no St. Mungus.
A Sra. Weasley deixou escapar um gemido triste, entendendo finalmente porque a expressão de Mel estava tão carregada.
- E Neville me contou quem fez aquilo com eles... – Mel sibilou, olhando fixamente o copo – Bellatrix Lestrange, Molly. Ela de novo. O que essa mulher quer? Destruir cada ínfimo pedaço da minha vida...?
- Ela é horrível... – Molly sussurrou, enquanto ajeitava algumas coisas no fogão.
- Harry... – Mel se virou pro sobrinho, que tinha se sentado ao seu lado. Ela estava tão atordoada que nem percebeu que Nicolas estava parado a alguns passos deles, os observando – foi ela quem matou o Sirius...??
Harry não teve muita coragem de encará-la quando respondeu isso, e olhou o tampo da mesa enquanto dizia:
- Sim.
O copo que estava na mão de Mel se espatifou em vários pedaços, num descontrole dos seus poderes. Um caco pontudo de vidro se enterrou na mão dela.
Harry se adiantou pra ajudar, mas Mel retirou o pedaço de vidro da mão, deixando se ver um corte fundo.
- Tudo bem Harry, eu cuido disso... – ela disse, enquanto puxava a varinha pra fechar o corte – eu acho que preciso ficar sozinha um pouco. Meus poderes estão se descontrolando, isso acontece sempre que eu fico muito nervosa...
- E o que se pode fazer sobre isso...? – Harry perguntou, preocupado com ela.
- Talvez eu deva extravasar um pouco dos meus poderes, pra me acalmar... agora que recuperei minha espada talvez eu devesse tentar treinar um pouco com ela. – Mel se levantou – Você se importa se eu usar seu jardim Molly...? Prometo que não destruo nada.
- Claro querida – Molly respondeu rapidamente, parando para olhá-la – nós temos um pequeno campo ali a alguns metros. É cercado de árvores e você terá toda privacidade que precisar.
- Obrigada minha amiga... – Mel se levantou, deu um beijo em Harry e se dirigiu pro jardim dos Weasley.
E ela tinha a mente tão cheia que sequer percebeu que alguém a seguia.
Mel tirou a espada da bainha e respirou fundo, concentrando seus sentimentos e pensamentos, mantendo a mente o mais leve que conseguia, pra que não saísse queimando as árvores a sua volta. Sentiu a ponta dos seus dedos formigarem enquanto sua energia acumulada “esvaia-se” por eles.
Depois começou a manusear a espada lentamente, simulando golpes de defesa e ataque alternadamente, tentando manter sua mente longe dos pensamentos assassinos que lhe ocorriam a cada segundo e estava se controlando bem, podia dizer, até que o rosto de Bellatrix Lestrange apareceu em sua mente.
Seus golpes se tornaram cada vez mais rápidos e ferozes, enquanto ela imaginava as melhores maneiras de torturar Bellatrix até a morte, como fazê-la sofrer cada perda que ela tinha sofrido, como fazê-la sentir cada pedaço de si doendo e se desmanchando até que a morte cessasse o sofrimento.
Mel acertou o tronco de uma árvore com o fio da espada, tirando uma grande lasca da mesma e parou, a respiração ofegante.
Fechou os olhos apertando com força o punho da espada.
“Mas talvez eu não dê a ela a morte...” Mel pensou, enquanto voltava a praticar movimentos lentos e ritmados “A morte é algo muito piedoso para ser dado a ela...”.
Pensou em todos os anos de agonia que ela tinha passado, sem saber sequer o seu nome, às vezes sem se lembrar até mesmo como ela tinha conseguido levantar da cama de manhã.
Isso era sofrimento o bastante pra Bellatrix? Os movimentos de Mel voltaram a ser mais vigorosos e rápidos, algumas folhas das arvores voavam longe ao serem atingidas, cortadas ao meio.
Não, isso não era o bastante pra ela. Bellatrix tinha que se lembrar de todo o mal que fez e pagar por ele. “O inferno seria um playground pra ela...”
Ela tinha a opção de torturar Bellatrix até o ultimo dos dias, até que uma das duas morresse. Ou também poderia lançar uma das muitas maldições dolorosas e duradouras que tinha aprendido durante os anos em que estivera com Angie. Era uma idéia tentadora...
Um movimento muito brusco e um galho relativamente grosso foi ao chão e Mel achou melhor parar mais uma vez.
Sirius iria rir se visse aquela cena: Mel tentando desesperadamente se controlar, pra não arrasar o jardim de Molly.
“Talvez ele dissesse que isso era inútil... E ia zoar com a minha cara falando que eu sou estressadinha e que minha raiva nunca vai passar...” ela pensou “E talvez... ele esteja certo...”.
Sirius... Como doía pensar nele... Como era ruim repetir pra si mesma que ele estava morto e que, por mais que fantasiasse, ela não iria o encontrar rindo da cara dela e dizendo que era tudo uma brincadeira de mau gosto pra assustá-la...
Morto. Sirius estava morto. E Bellatrix tinha o matado.
Em um acesso de raiva ela fez um movimento forte com a espada e da ponta dela se projetou um raio de fogo, que acertou a árvore mais próxima. Rapidamente Mel apagou o fogo antes que ele se alastrasse.
Caiu sentada no chão, mordendo fortemente o lábio pra se impedir de chorar. Ela não ia chorar mais, tinha cansado! Cansado de derramar lágrimas, agora ela ia derramar sangue.
Forçou-se a ficar de pé, ainda com a espada na mão e ouviu passos atrás dela.
Virou-se muito bruscamente, a espada em posição de ataque apontada pra quem quer que fosse que estivesse atrás dela.
E era Nicolas. O garoto estava tão próximo que a ponta da espada tocava seu peito.
- Desculpe...! – ele tinha os olhos arregalados – Eu só achei que você não estava bem!
- Oh, me perdoe! – Mel abaixou a espada no mesmo momento. Era seu filho! Por que ela estava apontando a espada pra ele? Ela o puxou e o abraçou – Desculpe, eu pensei que era outra pessoa, que poderia ser um inimigo... – ela embainhou a espada e tomou o rosto do garoto em suas mãos – Me desculpe, Tony...
Ele tinha um olhar meio assustado, meio impressionado. Abriu a boca, ficando um longo tempo assim, antes de falar:
- Você me chamou de...?
- Nicolas! – era a Sra. Delacourt. Vinha desabalada em direção a ele, uma expressão maligna lhe deformando o rosto.
Ele deu um passo pra trás, se desvencilhando das mãos de Mel, e olhou pra mãe parecendo dividido.
- Não, por favor... – Mel sussurrou. Ele era seu filho, ela tinha mais do que certeza. E então uma idéia lhe ocorreu – Você viu o que eu estava fazendo aqui? Você estava me observando?
- Estava. – ele respondeu firme, mas haviam milhares de dúvidas passando pelos seus olhos.
- Você pode fazer alguma dessas coisas...? – ela perguntou em tom baixo, se aproximando dele, mas com os olhos na Sra. Delacourt, que se aproximava, marchando. – Você pode queimar as coisas...? Ou mover objetos sem tocá-los...? Ou até mesmo se tornar invisível quando quer...?
- Nicolas, eu já disse que não quero você longe da casa! Quantas vezes eu tenho que lhe dizer isso! – a mulher vinha até eles gritando
O menino olhou pra Mel e dela pra sua mãe, indeciso.
- Por favor, só me responda isso... – Mel murmurou, desesperada. Se ele fosse Tony ele deveria ter os mesmos poderes que ela.
- NICOLAS!!!! – A Sra. parou, o olhando muito severamente, as mãos tremendo descontroladas, os lábios curvados em uma expressão má. Uma visão assustadora. – Eu quero você aqui, AGORA!
- Por favor... – Mel implorou mais uma vez ao menino tocando suavemente o braço dele.
- Me desculpe... – ele sussurrou, se afastando – me desculpe.
- Não...!
Nicolas se afastou, olhando pra Mel tristemente e então emparelhou com sua mãe e eles sumiram de vista.
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Enfim, para comemorar mais um fds de trsiteza: um capitulo!
Espero que gostem : *
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