O Casamento - Parte I



Dali a minutos o casamento começaria.

Mel se olhou no espelho, sentindo-se imensamente estranha. O vestido que McGonagall tinha lhe arrumado pra que ela vestisse naquela noite de festa era muito parecido com o vestido que tinha usado no casamento de James e Lily: tinha um tom amarelo perolado e era longo, talvez somente o corte se modificasse um pouco, porque até o tecido era suave e esvoaçante como naquele vestido antigo.

Com um movimento displicente da varinha prendeu seus cabelos – agora cortados na altura do ombro – no alto da cabeça, algumas mechas enroladas caindo pelo seu rosto.

Pensou que daria sua alma pra poder voltar ao passado.

Resolveu sair do quarto em que estava e se reunir aos outros, antes que começasse com pensamentos depressivos ou assassinos de novo.

Ia virando um corredor quando ouviu vozes e paralisou, percebendo Gina e Harry parados no meio do corredor. Eles estavam de costas, e não a viram, mas se ela se mexesse um centímetro sequer faria barulho e os despertaria de sua conversa particular.

Sem ver outra opção Mel se tornou invisível e ficou, quase prendendo a respiração, se culpando por invadir a privacidade do menino.

- Eu só queria ter certeza de que essa noite não acabaria. – Gina disse, encarando Harry nos olhos. A menina vestia um belo vestido cor de ouro claro, longo que se acomodava perfeitamente no corpo (também perfeito) dela. Os cabelos estavam presos em um penteado trabalhado, o rosto destacado com uma maquiagem suave. – Eu não vou mentir pra você: eu seria mais feliz se o tempo parasse.

- Mesmo...? – o tom de voz de Harry era estranho, como quem pressente que uma conversa séria estava pra chegar e não queria enfrentá-la. Ele desviava o olhar. – Eu achava que você não estava feliz com o casamento de Gui.

- Não seja idiota, Harry. – ela disse em tom firme – Não tem nada a ver com o Gui.

- Tem a ver com o que então? – ele resolveu olhá-la.


- Tem a ver comigo, e com você.

- Eu achei que isso tinha sido resolvido. – ele falou um pouco oscilante.

- É, digamos que você me notificou de que nosso namoro estava acabado, há algum tempo atrás, no enterro de Dumbledore. – ela não demonstrava sinal de fraqueza e mantinha o olhar dele.

- Eu te expliquei minhas razões.

- E eu não as contestei em respeito a você. Mas me pedir pra ser feliz longe da tua presença é um pouco de mais, você não acha Harry?

- Eu só não posso arriscar que...

- Que eu saia machucada, eu sei. – ela disse impaciente – Que eu morra. Só que é injustiça sua, pensar que eu também não vou me machucar se ficar esperando você dar notícias, dizer se está vivo ou morto enquanto essa guerra acontece.

Ele não tinha como contestar essa frase e se resignou a olhar pro chão, calado.

- Eu só queria te falar... – ela continuou em tom mais doce, enquanto se aproximava dele. – que você não vai poder me poupar de sofrimento, entende? – ela entrelaçou seus dedos aos dele – Depois dessa noite você vai sair por aí... fazendo sabe-se lá o que pra tentar se livrar de Voldemort e meu coração vai contigo.

- Gina... – ele sussurrou vendo ela muito perto.

- Ahhh, quer saber Harry...? – ela se aproximou mais – Eu sei que nada que eu te falar vai te fazer mudar de idéia, então... – Ela se aproximou do menino, tocando o rosto dele com as mãos e lentamente seus lábios se colaram em um beijo apaixonado. Depois do beijo ela olhou profundamente nos olhos verdes dele. – Se essa noite tem que ser a última... ela vai a ser a nossa noite.


E o beijou, sendo retribuída avidamente pelo menino.

Mel não sabia o que fazer, ficou ali parada, olhando pros lados, calada e literalmente invisível. Depois sorriu da sua situação e olhou o casalzinho ali, se beijando. Quase pôde reviver a noite em que acabou presenciando o primeiro beijo de Lily e James... e olhando daquele jeito, bem que Harry e Gina se pareciam muito com eles.

- Gina! – a voz da Sra. Weasley os interrompeu, vinda da escada ali perto. Eles se separaram rapidamente. – Venha aqui em baixo, por favor!

A menina ajeitou um pouco o vestido, puxou Harry pela mão e eles saíram dali.
Mel se tornou visível de novo e, pensando no teor da conversa que eles levaram, desceu pouco depois que eles.



Mel ia atravessando a cozinha escura e vazia dos Weasley pra se dirigir aos jardins, onde aconteceria o casamento, quando mais uma vez se tornou invisível: dessa vez foi por causa do susto.

Ela atravessava a cozinha silenciosa quando a porta se abriu abruptamente, e ela que agora estava sempre em estado de alerta ativou seus poderes e desapareceu, esperando quem quer que fosse que entrasse.

E era Remo, que tinha entrado pela porta. Mas ele não estava sozinho. Uma Mel completamente abobada percebeu Tonks entrar na cozinha de mãos dadas com ele.
“Pronto... agora eu vi... vou ficar tropeçando nos casaizinhos... !” ela sorriu pra si.

- E você acha que ela está bem agora...? – Tonks perguntou, enquanto ajeitava a gravata de Remo.

- Ela parece bem... – ele disse, uma das mãos pousadas carinhosamente na cintura da garota – mas... tenho medo que ela se envolva com esse garoto, que ache que ele é o Tony e depois acabe se decepcionando. Ela já teve decepções de mais.

Mel fez uma careta quando percebeu que falavam dela. Tinha que acabar com esse terrível “costume” de ouvir as conversas dos outros... era muito desagradável quando presenciava as pessoas falando dela assim.

- Mas... não há nenhuma possibilidade desse garoto ser o filho dela...? – Tonks tinha uma expressão de pena, ou algo parecido. – Quero dizer, ele realmente não se parece com os familiares... é até um pouco estranho.

- Eu não sei... – ele murmurou, exasperado enquanto ela ajeitava uma mecha dos cabelos dele – eu só acho que ela pode ficar paranóica com isso... A Mel já tem muito com o que se preocupar.

- Sabe, acho que é melhor irmos. – Tonks ouviu alguns acordes de música do lado de fora da porta. – Já deve ter começado. Ainda não a vi... ela já sabe de nós dois...?

- Mmm... – eles se deslocavam pra porta, de mãos dadas – ainda não tive tempo de comunicar isso pra ela.

- Sei. – Tonks disse e depois riu, antes de sair – como você acha que ela vai reagir quando souber?

- Se conheço bem a irmã de James Potter... – Remo disse com um leve sorriso – ela vai zoar com a minha cara até não poder mais...

A porta da cozinha se fechou atrás deles e Mel voltou a aparecer, rindo sozinha:

- É claro que vou zoar.... – ela sussurrou pra cozinha vazia, começando antes mesmo que ele pudesse ouvir – Seu aliciador de menores...! Remo John Lupin, quem diria...! Tá muito saidinho pro meu gosto!

E saiu, sorrindo feito uma boba.



Mel fechou a porta da cozinha atrás de si e visualizou a enorme tenda onde aconteceria o casamento. O espaçoso jardim dos Weasleys tinha sido totalmente decorado e ornamentado, uma tenda enorme e bem iluminada tinha sido montada, onde havia um pequeno altar e vários bancos espalhados a frente. Em meio aos bancos um corredor por onde a noiva provavelmente entraria, tudo muito bonito e arrumado, em tons de ouro claro. Muitas pessoas já haviam tomado seus lugares e uma música suave envolvia o lugar, vinda de uma banda que tocava ao fundo.

Quando se dirigia pra lá, Mel foi interceptada por Harry:

- Eu ia te procurar... – ele falou meio sem jeito – você estava demorando.

Mel sorriu:

- Eu sempre demorei pra me arrumar. – achou melhor não explicar o real motivo do atraso – O Sirius vivia reclamando disso.

- Eu vou me sentar ali na frente, com Rony e Hermione. Você vem?

- Mmm... – Mel olhou ao redor e encontrou Remo e Tonks sentados juntos, em um canto. – Você se importa se eu me sentar ali com Remo...? É que eu tenho algumas palavras pra trocar com o velho Aluado...

Um sorriso quase maldoso se passou pelo rosto de Mel, e Harry consentiu:

- Tudo bem... er... nos vemos depois então.

- Ok. – ela deu um beijo no sobrinho e viu ele se afastar um pouco, mas ele parou e se virou pra encará-la.

- Você sabia que ele e a Tonks... estão...

- Namorando? – ela riu

- É.

- Fiquei sabendo a pouco tempo, - ela tinha uma expressão marota – e é exatamente sobre isso que eu quero falar com ele. Eu preciso encher o saco dele, senão perde a graça!

Harry sorriu pra ela e se afastou. E pensando o quanto James adoraria estar ali pra zoar com o amigo, Mel se sentou ao lado de Remo:

- Boa noite Sr. Remo John Lupin. – disse pra ele, formalmente.

- Ih... – Remo a olhou, ele ainda estava segurando a mão de Tonks, que sorria calmamente pra Mel – Que foi Mel...? Toda vez que você me vem com essa cara de quem é séria pode saber que tem alguma coisa errada...

- Olá Tonks. – Mel se inclinou pra dar um beijo no rosto dela.

- Olá Mel.

- Sabe o que é, Sr. Aluado... – Mel continuou, olhando o amigo – é que certa pessoa ainda não pôde me comunicar que está namorando. – ela fez uma pausa, olhando a cara dele – Que está namorando a filha da prima do Sirius.

- O que que eu te disse...? – Remo perguntou, olhando pra Tonks

- O que ele te disse Tonks? – Mel perguntou, desentendida

- Me disse que você ia zoar com ele até não poder mais.


- É claro! – Mel riu – Isso é praticamente a minha função! Você já parou pra pensar, Aluado, o que meu irmão diria se estivesse aqui...?

- É, eu imagino que James diria... – Ele tinha uma cara de quem tentava não se divertir.

- Pra começar... – Mel começou, como se Remo não tivesse respondido – ele ficaria mais ou menos meia hora te encarando, com cara de bobo por você não ter contado isso antes, depois te xingaria um pouco por você ter demorado a contar e então, logo após a um acesso de risos de vários minutos iria falar que você é um maroto muito mais esperto do que ele esperava por estar “pegando” garotinhas como a Tonks!

- Mel! – ele tentou repreender a amiga, mas sorriu, porque se James estivesse vivo ele sabia que era exatamente assim que ele agiria.

- E safado também! – Mel completou, vendo Tonks gargalhar.

- Melanie. – Remo tentou ficar menos risonho

- E sabe o que o Sirius diria se soubesse disso?

- Hei, pula essa parte porque eu tive tempo de apreciar as gracinhas do Sirius... – Lupin disse – Ele, bem... ele ficou sabendo que eu estava gostando da Tonks, antes de – ele pulou a palavra morrer – e ficou me enchendo um século por causa disso.

- Eu posso imaginar... – Mel disse, sorrindo mais ternamente, depois se virou pra Tonks – Sabe, eu vou comprar um troféu pra você. Houveram pouquíssimas garotas que conseguiram a façanha de namorar esse maroto.

- E eu posso te garantir que não foi fácil. – Tonks afirmou

- Eu sei, ele fica usando desculpas idiotas, sempre foi assim.

- Mel! – Por mais que soubesse que era inútil, Remo tentou controla-la.

- Eu tive que gastar muita saliva pra convencê-lo de que nada ia me tirar do pé dele. – Tonks resolveu conversar com Mel como se Lupin não estivesse ali

- Tonks! – Remo tentou apelar pra namorada, mas em vão.

- Tenho certeza que ele usou a diferença de idade de vocês como um obstáculo. – Mel disse, também ignorando Remo.

- Usou, dentre muitos outros. – Tonks ria.

- Sabe, não é a toa que toda vez que James e Sirius o pegavam com uma garota eles faziam uma festa enorme. Era uma cena tão rara! Da ultima vez que eu vi isso acontecer eles criaram os dizeres “VIVA, FINALMENTE, ATÉ QUE ENFIM!!!” com fogos, no céu. – Mel se fingiu de pensativa – Talvez eu faça isso no fim da festa, o que você acha?

- Eu adoraria! – Tonks concordou muito animada.

- Nem pense nisso, Melanie! – ele falou por fim, se fazendo perceber. Virou-se pra Tonks – E você pode parar de dar corda pra ela??

- Ok, ok... – Mel riu – eu me calo por enquanto, só porque o casamento vai começar. Mas depois nós voltamos à idéia dos fogos!

- Combinado. – Tonks riu.

Remo se resignou a balançar a cabeça negativamente, sabendo que estava perdido.

Ajeitando uma mecha dos cabelos Mel olhou pro altar e percebeu certa movimentação que sugeria que a cerimônia ia começar. Viu Gui lhe acenar discretamente de lá e retribuiu o aceno sorrindo entusiasticamente pra ele. Carlinhos que era seu padrinho, estava ali também, tão risonho quanto o irmão.

Foi nesse instante que a Sra. Delacourt, linda e bem vestida, passou por eles, quase literalmente arrastando em uma de suas mãos um entediado e enfurecido Nicolas.

Aquela expressão de aborrecimento e desdém que o garoto tinha era tão típica de Sirius que Mel se perguntou como Remo ainda tinha a coragem de dizer que ele não era Tony.

Ela cutucou Remo e apontou o menino pra ele. Remo o observou por um longo tempo, enquanto a Sra. Delacourt tentava fazê-lo se sentar num banco muito próximo ao altar e então os dois começaram a discutir avidamente em voz baixa.

- Como você pode me falar que ele não é o Tony? – Mel perguntou em tom muito baixo pro amigo – Você conhece essa expressão? Me diz que não é o mesmo que ver o Sirius aborrecido e irritado?!

Remo não respondeu, mas era visível pela sua expressão facial que ele tinha se balançado também, ao ver a cena.

- Eu só quero que você pare de me enganar e diga a verdade! – Mel pôde ouvir essas palavras, quando Nicolas se alterou um pouco mais, na discussão.

- Sente-se Nicolas e conversaremos depois. – a voz da Sra. era rígida.

- Não. – ele puxou o braço da mão dela – Eu não quero me sentar aqui e não vou me sentar aqui.

Exatamente quando Gabrielle e Gina adentravam o corredor entre os bancos, logo atrás de Fleur que ia a direção a altar sendo guiada pelo pai, Nicolas se sentou num lugar vago ao lado de Mel.

- Ela está me deixando louco. – ele murmurou em inglês de sotaque carregado, olhando pra Mel. Depois estendeu o punho que a mulher estivera apertando, que estava vermelho e irritado.

Mel tomou a mão dele e acariciou o punho machucado, como se assim pudesse curar o garoto. Ele sorriu e não se afastou, deixando que ela segurasse a mão dele, enquanto a cerimônia começava.

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