Semelhanças proclamadas



Capítulo 9 – Semelhanças proclamadas



Draco está doente.



Eram as únicas palavras naquele pequeno pedaço de pergaminho. Pronto. Eram suficientes para deixá-lo com os pensamentos a mil, imaginando todas as possibilidades possíveis. O que o garoto tinha? E ainda: o que ele tinha a ver com isso? Por que ela tinha escrito a ele? Por que Lúcio não fazia alguma coisa com o seu próprio filho?

Não conseguiu pensar em mais nada naquele domingo de manhã. Fazia muito frio e, após um rápido banho, vestiu sua capa de veludo negro e resolveu sair. Ninguém parecia ter acordado no castelo, nem os fantasmas. Viu somente uma fumacinha saindo da chaminé da cabana de Hagrid ao passar pelos portões, e em um girar de calcanhares aparatou em Londres, na frente da mansão dos Malfoy. Quase ao mesmo tempo, um minúsculo ser apareceu à sua frente, com os olhos do tamanho de balaços.

- A minha senhora avisou sobre a sua vinda, senhor.

- Quem é você? – Snape perguntou, encarando aqueles olhos enormes e amedrontados.

- Meu nome é Dobby, senhor. Dobby é o elfo doméstico dos Malfoy, senhor.

Irritado ao ficar somente alguns poucos segundos ao lado de tal criatura, perguntou por Narcisa e o pequeno o acompanhou, enquanto entrava na residência. Poucas vezes já tinha ido ali, mesmo quando Voldemort ainda estava vivo, em qualquer uma de suas inúmeras festinhas para Comensais. Nunca teve interesse em lidar com aquela gente como se fossem sua família ou mesmo amigos. Não eram.

Um imenso tapete negro levava da porta à escadaria, esculpida em mármore verde escuro e ornamentada por peças de ouro branco e prata em toda a sua extensão. Um lustre enorme com mil velas pairava sobre sua cabeça, quando percebeu o elfo doméstico deixando a sala. Não esperou muito tempo até perceber o vulto de Narcisa descendo as escadas, os cabelos longos e lisos caídos sobre o rosto, as olheiras em seu rosto aparentando alguém que não dormia há dias.

- Eu sabia que você viria – ela disse, encarando Snape com a voz sussurrada de sempre – Como está?

Snape engoliu seco, apreensivo, esperando que dissesse logo o que acontecera com o menino. Não podia perder seu tempo ali. Tinha que ir embora, queria ir embora, precisava...

E foi então que Narcisa começou a chorar. Mais uma vez. Ele virou os olhos e, olhando para a escada, como que procurando algo, perguntou:

- Onde está o menino?

Ela apontou para cima e ele subiu correndo, como se já soubesse o que tinha acontecido. Alguma coisa no corredor gelado à sua direita lhe chamou atenção, e ele viu quando Dobby, o elfo, apontou para um dos dormitórios, indicando aquele onde Draco estava.

Ao entrar no quarto, sentiu um imenso calafrio tomar-lhe a espinha. Aproximou-se do berço onde estava o garoto, e viu um bebê pálido e magro envolto em um grosso cobertor de pele de urso. Não se mexia.

Pousou com cuidado dois dedos sobre a testa do bebê e o sentiu arder em febre.

- Lúcio não está – disse Narcisa, parada à porta. Snape levou um pequeno susto ao ouvir sua voz, como se tivesse esquecido de que estava em sua casa..

- Onde... – disse Snape virando-se, mas foi interrompido pela mulher.

- Precisou viajar a mando do Ministério, mas não tenho idéia de onde possa ter ido. Já consegui falar com ele, mas...

Seus olhos marejaram novamente.

- Mas...? – perguntou Snape, esperando que a loira continuasse.

- Mas ele disse que não poderia fazer nada, e que eu procurasse você – falou, levando um lenço de seda aos olhos e voltando a chorar, abaixando o rosto – Você é o padrinho dele, Severo, eu pensei que...

- Não – ele disse, olhando para o pequeno elfo na porta – Me chame de Severo.

Ela pareceu entender o que ele quis dizer e calou-se, olhando para Draco. Snape suspirou, desta vez preocupado, e virou-se também para o garoto, que continuava adormecido. Tirou sua varinha do bolso e, com um leve toque sobre sua testa e o cantarolar suave de algumas palavras em uma língua diferente, fez o bebê abrir os olhos. Eram azuis como os do pai, mas já possuía a mesma tristeza dos olhos da mãe. E, pela primeira vez em toda a sua vida, ele sentiu pena de alguém.

- Ele precisa ser hospitalizado – disse simplesmente – Está muito fraco.

- Não posso levá-lo para o hospital, Sev... Snape – sussurrou Narcisa, encarando-o – Não posso tirá-lo de nossa casa.

- Talvez ele esteja assim justamente por esse motivo, Narcisa – lamentou, apertando os olhos - O garoto precisa sair daqui.

- Não! – ela insistiu – Eu pensei que você pudesse curá-lo, Snape. Alguma poção talvez, não sei...

- Não sou medibruxo, Narcisa – ele respondeu rispidamente, apesar de falar baixo, para não assustar o garoto – Não posso diagnosticar um bebê e dar-lhe algo que possa inclusive matá-lo. Ele deve ser tratado adequad...

Draco fez um barulho esquisito e, quando os dois olharam, este havia vomitado algo de consistência vermelha, bastante semelhante à sangue.

- O que é isso? – Snape perguntou.

- Eu... eu... tentei dar um pouco de suco de frutas para ele, mas ele quase não bebeu, não sei o que pode ser... Severo, ai, Snape, por favor, faça alguma coisa.... Eu lhe imploro.

E Snape, ainda preocupado, olhou para Dobby e lhe perguntou onde ficava o jardim, e desceu com o elfo para procurar algumas ervas que poderiam suspender ao menos o vômito do bebê.

- O senhor precisa salvar a vida do pequeno Draco, senhor! Dobby faz qualquer coisa para ajudar, senhor!

- Cale-se – disse Snape simplesmente, cortando algumas plantas com as mãos e colocando sobre seu colo, enquanto o pequeno elfo doméstico pulava de um lado a outro, levando as mãos à cabeça, desesperado.

- Tome – disse Snape – Prepare um chá forte com estes ramos e leve lá em cima. Não tenha pressa. Cozinhe por quinze minutos depois que ferver.

E voltou para dentro da casa, enquanto o elfo corria para dentro da cozinha dos Malfoy.



- Oras, Snape, vai me dizer que não dará a honra de sua visita à minha casa, esta noite? – riu Lúcio Malfoy, tirando do rosto a máscara negra que lhe cobria as feições – Narcisa faz questão que esteja lá.

Snape simplesmente permaneceu quieto.

- Será um jantar simples, somente para a família – Lúcio continuou – Quero que conheça o Draco. Sinceramente, Snape, acho que deve ir.

Snape lembrou-se do que acabara de acontecer com Bellatrix Lestrange, em um duelo infantil que quase a levou à morte, e se levantou. Lúcio, percebendo sua aflição, segurou seu braço, no que Snape virou.

- Bellatrix não estará lá.

- Não me importo com Bellatrix – respondeu rispidamente. Ainda estava com sua máscara e somente os olhos negros podiam ser vistos, atravessando a alma de Lúcio como se ela fosse inexistente.

O loiro largou seu braço devagar, afastando-se com um olhar apreensivo, surpreso.

- Eu o aguardo a partir das sete horas – disse quase sem voz. E, girando o corpo, desapareceu, deixando um Snape perdido em seus pensamentos.

A tarde chegou como em um estalo. Logo o vermelho do crepúsculo tomou conta do mundo, misturando-se com a cor acinzentada que saía das chaminés da rua onde ficava sua casa. Ele só viu a cor do céu e a lua aparecendo no horizonte quando saiu e trancou a porta. Todas as janelas ficavam fechadas desde a morte de sua mãe.

O calor de junho parecia anormal para um país como a Inglaterra, mas ele ouviu, ao passar por uma residência, que o noticiário trouxa havia notificado ter sido aquele o dia mais quente de todos os verões na Grã-Bretanha, desde 1925.

Já era noite quando chegou à mansão dos Malfoy. Estava contrariado. Não sabia, na verdade, porque estava indo. Não sabia se era por um pedido de Narcisa ou por simples curiosidade em conhecer o menino.

Não.

Sabia que não era curiosidade. Mas assim passou pelos portões e resolveu pagar para ver o que aconteceria naquele jantar, devido à insistência de Lúcio. Pôde ver como o garoto era parecido com o pai, quando Narcisa o trouxe nos braços, mas ele ainda tinha os olhos fechados. Ouviu o mesmo blábláblá de Lúcio sobre os infortúnios do Ministério enquanto jantavam, ao passo que todos olhavam de esguelha para Snape, pelo acontecido com Bellatrix.

O que acontecera fora uma simples maturação de saco cheio pelo que já havia há tempos. Bellatrix era impulsiva e demonstrava um afeto especial pelo Lorde das Trevas. Não era segredo para ninguém, sequer pelo seu próprio marido, Rodolfo Lestrange. Este, por sinal, parecia pouco se importar. Aquele havia sido obviamente um casamento armado pelas duas famílias, como é tão comum entre famílias puro-sangue – termo que Snape odiava. Abominava aquele mundo, aquela coisa toda de estirpe, linhagem, pois sabia que todos ali eram medíocres. E foi por isso que, quando Bellatrix falhou, ele fez questão de delatar a Você-Sabe-Quem, causando sua ira e, portanto, quase a morte da mesma, quando esta tentou atacar-lhe e recebeu defesa de seu próprio amo.

Apesar de ter sido defendido pelo próprio Voldemort, Snape não se sentia satisfeito. Pouco se importava. Ele poderia ter acabado com Bellatrix em segundos, se quisesse, mas sentia pena daquela mulher. Ficou muitíssimo mais satisfeito, sim, ao ver seu rosto quando o Lorde das Trevas a torturou, arremessando-a em seguida contra a parede de sua própria casa. Levantou o canto direito dos lábios ao se lembrar da feição aterrorizada da bruxa no chão, tal qual fora seu prazer na hora. Lúcio percebeu o momento de Snape e virou-se em sua direção, na mesa.

- Ora, ora, Snape, vejo que, mesmo relutando, está apreciando este jantar? – disse, enchendo sua taça com vinho tinto com um toque da varinha e um olhar desafiador no rosto – Ou será que está feliz por algum outro motivo?

O velho Abraxas curvou-se na ponta da mesa para escutar a resposta de Snape, enquanto o resto dos presentes esperava curioso pela resposta.

Mas ela não veio.

Snape levantou-se e, curvando-se em sinal de educação, mas mostrando desprezo em seu olhar, afastou-se da mesa, sinalizando a Lúcio que ia embora. O loiro levantou-se e foi atrás.

- Espere, Snape, aonde vai? – disse, pegando-o já com o casaco nas mãos e com extrema ironia na voz – Eu de alguma maneira lhe ofendi?

Snape virou os olhos.

- Está tarde. Tenho um compromisso.

Lúcio olhou bem nos olhos de Snape e começou a rir.

- Compromisso? – disse – Com quem, a esta hora?

- Nada que interesse a você.

- Está bem, Snape, não vou insistir – disse, ainda rindo – Mas creio que Narcisa queira lhe dar uma palavrinha antes de ir. Pode ser?

Snape continuou parado enquanto Lúcio se afastava. Parou ao perceber que não estava sendo seguido.

- Oras, o que está esperando? Venha!

E, esfregando a boca com uma das mãos, contrariado, seguiu Lúcio até outra ala da casa, onde a mulher estava de costas sentada com o bebê no colo. Era uma sala alta, com papel de parede vermelho-sangue e chão negro, com diversas cortinas negras caindo pelas janelas e um imenso piano de cauda no centro. Em frente à lareira, um tapete de pele de leão confortava os pés de Narcisa Black, agora Malfoy.

Lúcio se jogou no sofá e fez um sinal com a mão para que Snape se sentasse. Somente a luz de velas iluminava o ambiente, porém estava bastante claro, pois elas eram milhares, sobre eles. Snape reparou no ornamento que Narcisa trazia na testa, reluzindo como o de uma princesa.

- Presente da minha mãe – Lúcio disse, com uma intimidade que Snape jamais pensou presenciar entre eles. Tinha a leve sensação de que estava no lugar errado, que era a pessoa errada, e que finalmente tudo aquilo parecia muito errado para ele, que jamais freqüentava eventos sociais de tal estirpe.

- Sr. Malfoy – disse um elfo doméstico bastante idoso à porta da sala – Eles precisam do senhor.

- Oras, mas que... droga! – ele disse, levantando-se e saindo pela mesma porta pela qual entrara com Snape, deixando este sozinho com Narcisa e o bebê e sem a menor idéia do que dizer. Após alguns segundos, no entanto, Narcisa se manifestou.

- Estou feliz por ter ficado – ela sussurrou.

- O quê?- ele disse, pego de surpresa sem ter ouvido direito.

- Disse que estou feliz por ter ficado.

Durante mais alguns momentos, a sala ficou em silêncio. Houve um barulho em outro cômodo, mas nada significante. Narcisa parecia estar bastante confortável naquela situação, mas Snape já começara a ficar ansioso. Batia o dedo indicador direito sobre a mão esquerda, esperando algum sinal de vida naquele lugar.

- Você precisa ir embora? – ela perguntou, vendo-o daquele jeito.

- Confesso que seria mais agradável do que ficar deste jeito – ele disse, inclinando a cabeça para o lado – O que você queria, afinal?

- Queria que você conhecesse o Draco.

- Já conheci. E agora?

Narcisa olhou novamente para Snape, tentando lhe dizer com o olhar para que ele pudesse entender.

- Como você ficou diferente, Severo – ela lamentou – Mas não foi só você. Todos eles estão – disse, se referindo aos Comensais da Morte.

“Eu me lembro”, ela continuou, “quando você e eu costumávamos conversar na escola, lamentar o quão medíocres nossas vidas eram. Mas jamais pensei que chegaríamos onde chegamos. Nunca seria capaz de imaginar que estaria sentada nesta casa, casada com Lúcio, especialmente depois... Bem, você sabe.”

Narcisa balançou o pequeno Draco em seu colo, quando este fez um esquisito barulho com a boca, simulando acordar.

- Eu ainda o estimo muito, Severo, por tudo o que passou. Sei que você é diferente.

Snape não dizia uma só palavra. Apenas mirava seu olhar no piano á sua frente e escutava com atenção o que aquela mulher estava dizendo, sem contanto adivinhar onde ela desejava chegar.

- E é por isso que eu... Eu gostaria que...

Snape encarou a mulher, esperando a continuação da frase.

- Eu gostaria que você pudesse proteger o Draco, Snape.

- Proteger como? – ele perguntou, de repente muito surpreso.

- A pergunta correta seria “de quem?”, e você sabe disso – ela lamentou, já com os olhos cheios de lágrimas – Não quero que meu filho se torne um Comensal da Morte, Severo! E não posso pedir isso a Lúcio, visto que é o que deseja a seu próprio filho! Sabe o que ele me disse hoje? Que Draco será o mais poderoso dos Malfoy, deixando o Lorde das Trevas com seu melhor serviçal em seu tempo! Como ele pode dizer isso, do próprio filho?Como, Severo?

- Acalme-se, Narcisa – disse Snape, percebendo o desespero da mulher e olhando para as portas – O que quer que eu faça?

- Quero que cuide dele!! – ela gritou – Não deixe que ele se torne um Comensal da Morte, Snape! Não quero que meu filho vire um assassino!

E desabou a chorar sobre o filho recém-nascido, que sequer tinha aberto os olhos. Snape olhou para a porta – nada de Lúcio. Narcisa pareceu adivinhar seus pensamentos.

- Ele deve ter ido em qualquer “missão” – ela disse, colocando o máximo de ironia que pôde nessa última palavra. Snape, no entanto, sentiu que a mulher corria um grande perigo e resolveu alertá-la, aproximando-se.

- Narcisa, escute com atenção – disse, se ajoelhando à sua frente – Se o Lorde das Trevas souber, se ele tiver a mínima desconfiança de que você pensa assim, você poderá ser morta, e duvido muito que Lúcio poderá detê-lo, se assim for seu desejo. Eu, por fim... não tenho idéia de como posso ajudar o Draco. É o destino dele.

- Você pode ajudá-lo, Severo... – Narcisa disse, levantando o rosto rosado e molhado pelas lágrimas – Só você pode...

- Me diga o que eu tenho que fazer para ajudá-lo e eu digo se posso ou não, Narcisa! – ele disse, nervoso - Mas você precisa me dizer!

- Pois bem – ela disse, entregando o menino a Snape – Eu quero que você segure o Draco. Vamos! – insistiu, quando o rapaz arregalou os olhos.

Snape segurou sem jeito o pequeno bebê em seu colo, ainda de olhos fechados e com um medo absurdo de deixá-lo cair ou qualquer coisa semelhante.

- Eu quero – Narcisa disse – Que você seja o padrinho dele.

- O quê?! – Snape perguntou perplexo, mas abaixou a voz com medo de que o garoto acordasse – Você está delirando?

- Não – ela respondeu – Quero que você seja padrinho do Draco – disse com convicção.

- Mas... eu... não...

- Shhh – ela interrompeu, pegando a mão direita de Snape e colocando-a sobre o coração do garoto. A luz alaranjada das velas iluminava a cena: o jovem rapaz de negro no chão, ajoelhado, com o pequeno Draco em seus braços, e Narcisa, alva e loura, sentada à sua frente.

Ela pousou sua mão sobre a de Snape e, olhando para o bebê, sussurrou:

- Que todas as entidades mágicas do mundo presenciem e autorizem este momento.

O coração de Snape palpitava cada vez mais forte, mas ele não fez menção de interromper.

- Pelos poderes da água, da terra, do ar, do fogo, e em nome de Slytherin, eu, a mãe, proclamo Severo Snape o padrinho de meu filho Draco Malfoy, filho de Lúcio e Narcisa Malfoy, para que seja protegido e abençoado por este em todos os momentos de decisão, alegria, tristeza, morte e recomeços.

Uma luz verde começou a sair das mãos sobre o coração do garoto.

- Eu, a mãe, proclamo Severo Snape o padrinho de meu filho Draco Malfoy, filho de Lúcio e Narcisa Malfoy, para que seja protegido e abençoado por este em todos os momentos de decisão, alegria, tristeza, morte e recomeços!

Um forte vento pareceu passar pela sala naquele momento, envolvendo os três bruxos em uma névoa verde vivo. Um som pareceu tocar ao fundo, no que Snape reconheceu como uma bela canção cantada por ninguém. Narcisa falaria pela terceira e última vez:

- Eu, a mãe, proclamo Severo Snape o padrinho de meu filho Draco Malfoy, filho de Lúcio e Narcisa Malfoy, para que seja protegido e abençoado por este em todos os momentos de decisão, alegria, tristeza, morte e recomeços!

E assim, finalizando o feitiço, a névoa se fortaleceu e com a mesma intensidade que veio ela se foi, deixando uma Narcisa cansada caída no sofá, e um Snape ofegante segurando um pequeno bebê que agora chorava, mesmo sem abrir os olhos.

Narcisa olhou mais uma vez e, vendo aquela cena, depois de muitos anos um sorriso apareceu em seu rosto.




- Ele já está um pouco melhor – Snape disse por fim, cobrindo o bebê que agora tinha um ano e meio de idade – Mas eu ainda acho, Narcisa, que você deveria levá-lo para o hosp...

- Obrigada – ela interrompeu, segurando em seu braço, que ainda afofava o cobertor dentro do berço – Obrigada, Severo.

Snape não fez questão de corrigir. Estava exausto, depois de horas cuidando do garoto. Viu pela janela que a noite caíra há tempos e percebeu que desejava somente dormir, dormir e dormir. Daria aula na manhã seguinte e sequer havia separado o material que entregaria aos alunos.

- Preciso ir – disse sinistramente, sem olhar para Narcisa. Esta, no entanto, segurou a manga de seu casaco.

- Você não precisa ir – ela disse. Snape olhou para a porta para ver se não havia ninguém e voltou-se à mulher, sem entender.

- O quê?

- Eu... Draco pode precisar de você – ela disse, quase suplicando – Por favor, fique. O elfo já arrumou um aposento de hóspedes para você e...

- Não posso, Narcisa – ele disse, fazendo questão de salientar a frase seguinte – E não quero. Draco está melhor. Se acontecer alguma coisa, estarei aqui amanhã – e ia saindo pela porta, quando Narcisa o interrompeu novamente.

- Você prometeu que o ajudaria.

Snape a olhou com uma premissa de raiva. Será que ela jogaria na cara dele toda vez, dali em diante, que deveria cuidar de Draco quando este estivesse com dor de barriga ou tivesse quebrado uma unha do pé, por exemplo?

- Me deixe ir embora, Narcisa. Chega.

- Você prometeu, Snape! – ela disse, em desespero – Você prometeu a mim que o ajudaria!

- Narcisa, cale-se – ele disse, fechando a porta para que ninguém os ouvisse – Já fiz a minha parte. Draco está bem. É óbvio que sempre irei ajudá-lo quando houver algum tipo de problema, mas não há nada mais a ser feito.

- E se ele morrer? Ahn? O que você vai fazer? – ela continuou, fazendo Snape virar os olhos e dar meia volta para ir embora – Você vai embora? Vai abandoná-lo à sua própria sorte?

A voz de Narcisa ecoou pelo corredor enquanto Snape continuava andando em direção à escada, a mulher em seu percalço segurando a saia do vestido para conseguir correr.

- Você o deixaria morrer, Severo? – ela dizia, enquanto Snape, irritado, descia cada degrau com particular pressa – Eu pensei que você fosse diferente! Eu pensei que você se importasse!

Snape parou e virou-se de repente, para a surpresa da mulher que o provocava.

- Já prometi ajudar. Eu sou o padrinho dele, Narcisa – ele disse friamente – O que mais você quer que eu faça, um Voto Perpétuo?

A mulher o encarou com olhos desafiadores e perguntou:

- Você faria?

- Não seja infantil – ele disse, voltando-se em direção à porta.

- Não estou sendo infantil, Severo, só estou perguntando – ela continuou, em um tom muito mais ameno que anteriormente.

Ele a encarou enquanto esta se aproximava, esperando a sua resposta. Fuzilando-a com o olhar, aguardou ainda alguns segundos para que ela ficasse mais aflita e lhe disse, com simplicidade:

- Pare de jogar sobre a criança a pena que sente de si mesma.

E, batendo a porta atrás de si, saiu da mansão Malfoy para voltar a Hogwarts, deixando uma Narcisa desesperada sentada à escada de sua própria casa, tão perdida como se tivesse sido deixada em outro país, sozinha, nua e no escuro.



********************************************


Obrigada a todos que leram e comentaram! :)

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.