A última lembrança
Eles entraram no castelo e foram recebidos com aplausos e gritos de felicidade. O Salão Principal já estava todo enfeitado e Harry ficou admirado de ver como os elfos domésticos trabalhavam depressa.
O céu encantado do salão estava repleto de fênix que voavam em todas as direções. Fawkes cantava alegre pousado no respaldo da cadeira que era de Dumbledore e que, respeitosamente, havia sido colocada ali para a comemoração.
A Ordem teve muitas perdas, entre elas o auror Alastor Moody e o jovem Phillip Wells que, assim como todos os outros que deram suas vidas naquela guerra, foram devidamente lembrados com quadros nas paredes do salão.
A professora Minerva McGonagal estava bastante ferida, mas insistiu com Madame Pomfrey em ficar no Salão.
_ Oras, Papoula, eu não sou um dos alunos. Sou a diretora e você precisa me respeitar! Eu vou ficar aqui e comemorar com todos.
Madame Pomfrey ainda discutiu muito e só deu o braço a torcer quando a diretora prometeu ficar sentada e tomar todos os remédios e poções indicados por ela.
Mione e Rony ainda estavam na ala hospitalar. Os curativos de Rony precisavam ser trocados e Mione precisava de um revigorante. Lucius também foi levado para lá e recebeu o diagnóstico: anemia profunda provocada pela constante perda de sangue, seguida de um feitiço estuporante ultra concentrado. Precisaria de uma semana ali para se recuperar completamente.
Draco não saiu do lado do pai, e só comeu quando Harry levou algumas coisas da festa para ele.
Não se podia dizer que os dois tinham ficado amigos. Mas pelo menos não desejavam mais que o outro morresse. E até arriscavam fazer piadinhas ou conversar sobre quadribol.
A festa durou toda a madrugada. Mione vendo Tonks, que exibia um belo curativo verde na bochecha direita, combinando com a cor de seu cabelo, correu para a auror e perguntou:
_ Onde está Lupin? Por que não veio comemorar com a gente?
_ Mione, ainda é Lua Cheia, esqueceu?
_ Não, mas eu pensei que...
_ Pensou que se Fenrir morresse Lupin voltaria ao normal? Não, infelizmente isso não acontece com os lobisomens, só com os vampiros. O vampirismo é uma maldição que pode ser quebrado, mas o lupinus é como um vírus, uma vez infectado por ele não há mais cura. Mas não se preocupe, amanhã de manhã ele deve estar de volta.
A jovem bruxa voltou para perto do namorado e ambos pediram a Harry que contasse como tudo aconteceu. Ele ia narrando o que ouviu de Voldemort e qual foi sua reação. Contou aos amigos todos os detalhes da batalha e mostrou o saquinho de veludo que encontrou próximo de onde Lucius estava.
_ Você já sabe o que tem dentro? – perguntou Rony.
_ Ainda não. Não tive coragem nem de ler o pergaminho – respondeu Harry.
_ Então resolva isso de uma vez – pediu Gina impaciente.
Ele rompeu o lacre e desenrolou o pergaminho. Conhecia aquela letra mas não se lembrava muito bem de onde. Estava escrito:
Potter, não tive escolha. Ele queria lhe dar algumas explicações e me pediu para fazer isso. Por mim deixava tudo como está, mas a decisão não era minha. E não se preocupe em mudar seus sentimentos em relação a mim depois disso. Saiba que eu não vou mudar os meus.
Não havia assinatura. Dentro do saquinho Harry encontrou dois pequenos frascos de vidro com o que ele sabia ser lembranças de alguém.
Olhou para os amigos e saíram correndo em direção a sala de Dumbledore. Subiram as escadas apressados e logo Harry colocou a Penseira sobre a mesa do diretor.
Harry faria aquilo sozinho e contaria aos amigos depois o que vira. Abriu o frasco que tinha o número 1 trabalhado no vidro e despejou na Penseira. Depois, como de costume, mergulhou o rosto no líquido e se sentiu puxado para o passado.
Ele se viu na escola, numa sala que hoje é ocupada pela professora McGonagal. Mas na época a qual pertencia essa lembrança, a sala era ocupada por outra pessoa. Sentado em uma cadeira estava Dumbledore, bem mais moço e mais vivo. Tinha um livro entre as mãos, mas parecia distraído, olhando para o nada.
Então alguém bateu na porta.
_ Está aberta, pode entrar – respondeu Dumbledore e Harry percebeu como sua voz era vibrante.
Um jovem casal entrou. A mulher tinha cabelos compridos e lisos, tão negros quanto seus olhos. O homem também tinha olhos e cabelos escuros, era alto e magro, e olhava para todos os lados completamente encantado com tudo o que via.
A jovem ainda exibia uma barriga de quase sete meses de gravidez e sorria feliz para Dumbledore.
_ Professor, há quanto tempo! – falou com uma voz arrastada, porém sincera.
_ Eileen, que bom ver você! Este deve ser seu marido.
_ Exatamente! Este é Tobias. Querido, este é o professor Dumbledore, de quem lhe falei.
_ Encantado, porfessor! – disse o homem, dando a mão a Dumbledore.
_ Nota-se, Tobias – respondeu Dumbledore bem-humorado. – Mas diga, Eileen, o que a traz aqui? Desde que recebi sua carta que não penso em outra coisa.
A mulher sorriu. A imagem se distorceu um pouco e logo Harry viu uma grande bacia de pedra, como se fosse uma Penseira, mas os escritos eram diferentes. Dentro dela um bebê estava sentado, com água até na cintura. Dumbledore segurava um jarro de prata e molhava a cabeça do menino. A criança riu, bateu as mãozinhas delicadas na água e encharcou a barba de Dumbledore, que riu satisfeito.
O líquido da Penseira acabou e Harry se viu novamente no escritório de Dumbledor, ao lado dos amigos, que estavam ansiosos para saber o que eram aquelas lembranças.
Harry não respondeu a nenhuma pergunta. Queria entender logo o que era tudo aquilo. Abriu o vidro com o número 2, despejou seu conteúdo e entrou mais uma vez nas lembranças.
A sala agora era a mesma em que Harry estava. Os objetos dispostos do jeito que ele já conhecia e o diretor sentado na sua cadeira, com a mão machucada submersa numa poção estranha que soltava pequenos espirais de fumaça.
Seu rosto revelava um cansaço além do normal. Um barulho chamou sua atenção e ele agitou a varinha para abrir a pesada porta de madeira.
_ Ah, Severo! Que bom que é você. Precisamos conversar.
O ex-professor de Poções sentou-se diante do diretor e esperou que esse falasse primeiro.
_ Já descobriu o que eu pedi?
_ Ainda não, mas falta pouco.
_ Não demore, por favor!
As imagens se misturaram mais uma vez e agora Dumbledore caminhava de um lado para outro. Agitava um pergaminho no ar. Parecia zangado com alguma coisa. A porta se abriu e novamente Snape entrou.
_ Como se atreveu a fazer isso, Severo?
O rosto do ex-professor ficou branco.
_ Não sei do que está...
_ Você foi atrás de Abeforth. Não devia ter feito isso. Não devia ter metido meu irmão nessa história toda.
_ Mas foi ele quem se ofereceu para fazer isso!
_ Você não entende, Severo! Abeforth não pode se misturar com esse mundo. As magias dele são limitadas. Ele tem um pequeno distúrbio, e coloca-lo em contato com esse tipo de magia pode acabar com ele.
_ Mas se não for assim, quem vai sair acabado é o senhor – respondeu Snape com um tom de desespero na voz.
Dumbledore olhou para o homem ali de pé. Havia compaixão em seu olhar.
_ Não há outra alternativa!
_ E se eu não fizer? – disse Snape desafiante.
_ Então tudo estará perdido, meu menino.
Aquele tratamento ao professor era diferente de todos os que Harry já vira o diretor dar.
_ Escute, Severo, isso é muito importante! Você precisa fazer, porque o Draco não vai ter coragem. E se você não fizer sabe o que vai acontecer.
_ Mas eu não posso, não o senhor! Por favor, não me peça isso!
_ Eu não estou pedindo, Severo, estou mandando – Dumbledore parecia estar perdendo a paciência – Agora, vou lhe dar uma coisa para entregar ao Harry. Cuide para que tudo saia bem.
Snape não respondeu. Fez cara de nojo quando ouviu o nome de Harry. Como se lesse os pensamentos de Snape, Dumbledore se virou e falou o mais firme que conseguiu:
_ Eu jurei no dia do seu batizado que protegeria você a qualquer custo, Severo. Depois, refiz meu juramento no leito de morte de sua mãe e de seu pai também. Não vai ser a sua teimosia que vai por o meu juramento a perder.
_ O senhor não entende, eu vou ter que...
_ Vai ter que me matar. Eu sei, eu sei. Mas eu já vivi muito. Estou fraco, velho, machucado. E no fim das contas, qual exército que entra numa batalha e sai sem nenhuma perda? É um sacrifício válido. Se for essa a sua missão, faça. E vai deixar seu padrinho aqui mais orgulhoso que nunca.
Snape parecia ter um pedaço de bolo feito por Hagrid preso em sua garganta. Respirou fundo para esconder uma lágrima que teimava em aparecer no canto de seu olho direito e estendeu a mão para Dumbledore. Este pegou a mão estendida e puxou o ex-professor para um abraço apertado.
_ Agora, faça o favor de entregar isso ao Harry. Não quero que ele pense mal de você.
A lembrança acabou. Harry estava de boca aberta. Não conseguia dizer uma única palavra. Será que eram memórias verdadeiras? Mas estavam muito nítidas, não poderiam ser falas.
No fundo ele sentia que era tudo verdade. Mas não queria admitir. Chamar Snape de covarde era a única coisa que aliviava sua frustração pela morte de Dumbledore.
_ Então ele era... – falou Mione atônita.
_ Afilhado dele, isso mesmo! – afirmou Harry contrariado.
_ Nossa, quem diria! – comentou Rony – Dumbledore padrinho do Seboso.
_ Por falar em padrinho, onde está o Sirius, Harry? – perguntou Gina.
_ Ai, quase me esqueci. Preciso encontrá-lo no corredor da Sala Precisa.
Harry saiu correndo deixando todos para trás. Chegou na Sala Precisa afobado e encontrou seu padrinho junto com os outros dois bruxos que carregavam o Portal do Véu.
_ Então, é agora – disse Sirius.
Harry passou em frente à “porta” da sala três vezes mentalizando um lugar. Logo uma enorme passagem se fez visível e Harry entrou por ela seguido de perto pelos outros.
_ Acho que aqui é um bom lugar – falou apontando para um campo todo verde e cheio de flores.
Markus e Monterrey colocaram o Portal no chão e despediram de Harry. Entraram pelo Portal e desapareceram.
_ Bem, vamos para o Salão - chamou o rapaz – ainda deve ter muita coisa boa para comer.
_ Harry, espere um instante. Eu não vou!
_ Como assim? Não vai para o salão? Mas você deve estar faminto.
_ Não, Harry. Eu não vou ficar aqui, neste mundo. Sabe, Aurillan é linda, eu fiz amigos lá...
_ Mas você tem amigos aqui também. Tem Lupin, os Weasley e tem a mim.
Harry olhava desesperado para o padrinho. Ele não podia ir. Não podia deixá-lo.
_ Harry, você já é adulto, e pelo que eu fiquei sabendo, já tem a sua própria família. E eu sou mais feliz lá do que fui em toda a minha vida.
O jovem olhava ainda aturdido para Sirius.
_ Agora preciso ir. E tem mais, com a decisão que tomou, você pode ir me ver.
Ele balançou a cabeça. Não agüentava mais chorar aquela noite, deu um abraço rápido em Sirius e saiu correndo para o Salão Comunal da Grifinória. Queria descansar.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!