O último pesadelo



Faltavam apenas três dias para a Lua Cheia. O relógio andava apressado aqueles últimos dias e todos evitavam imaginar o resultado do confronto que viria. Cada um procurava ocupar seu tempo, e sua mente, da melhor maneira possível. As aulas de novos feitiços foram trocadas por treinamento pesado.
Os elfos vermelhos, grandes estrategistas, passavam e repassavam as táticas escolhidas. As armaduras e espadas recebiam o último polimento. Os arcos eram encerados. As fadas tentavam espalhar um pouco de paz no coração dos bravos guerreiros que iriam se aventurar na batalha.
Harry já havia desistido de encontrar as horcruxes. O mais importante era enfrentar Voldemort na Lua Cheia e impedir que ele realizasse o ritual no Altar dos Portais.
No jantar daquela noite, Harry, Gina, Neville, Luna, Mione, Rony e, agora, Draco dividam uma mesa e conversavam sobre os planos de Voldemort.
_ Não vai ser muito difícil impedi-lo – observou Mione – afinal, ele não tem as três jóias.
_ Isso é verdade – assomou Rony – a terceira está muito bem guardada. E nós sabemos disso.
_ Mas por que ele está tão confiante? Por que marcar um ritual sem tudo o que é preciso para realizar? – perguntou Draco, que ainda não sabia de toda história.
_ Porque a sua tia Bellatriz disse a ele que tem a terceira jóia – respondeu Harry.
_ Ah! Quando ele souber, vai ser o fim do mundo para ela – comentou Draco, mais uma vez.
Eles se calaram e começaram a comer. O jantar parecia não ter gosto de nada, mas eles comiam por necessidade.
Tentaram ainda travar alguma conversa sobre outros assuntos, mas nada lhes vinha em mente e resolveram se deitar. Draco agora ocupava uma cama no mesmo quarto que Harry, Rony e Neville, apesar de ainda não se darem muito bem.
Eles se deitaram e ficaram em silêncio. O sono demorou a vir, tamanha era a ansiedade que sentiam. Assim, só depois de uma hora e meia rolando na cama é que adormeceram.
Com as meninas não foi diferente. Elas ainda conversaram sobre algumas trivialidades, como que roupa seria mais apropriada para usar sob as armaduras e se existia algum feitiço para prender os cabelos impedindo que eles caiam sobre os olhos durante a batalha.
A madrugada ia alta quando Harry percebeu que estava tendo um novo sonho. Era estranho, pensou o garoto, como ele poderia ter consciência de estar em um sonho e não conseguir controlá-lo ou, pelo menos, sair dele.
Harry andava por uma trilha numa floresta escura e densa. Não havia vento, e as árvores pareciam feitas de concreto.
Aos poucos ele reparou que naquele lugar não existia vida. Nada de insetos, de animais noturnos, nenhum barulho. Nem mesmo seus passos provocavam ruídos. A única coisa que conseguia escutar era seu coração batendo cada vez mais forte.
A trilha seguia praticamente reta. Algumas vezes fazia uma leve curva à direita ou à esquerda, mas não saía disso. Quanto mais ele caminhava, mais acreditava que aquilo não teria fim.
Seus sonhos, na maioria das vezes, costumavam ser cheios de ação e conflitos. Tanto que aquela falta de ação era angustiante.
Num certo ponto, a trilha começou a ficar mais larga. E foi se alargando até parecer uma estrada, onde poderiam passar tranqüilamente dois caminhões lado a lado.
Continuava tudo muito escuro e sem vida, apesar das árvores estarem mais distantes dele, que caminhava pelo centro da estrada.
A sensação era de que ele já havia caminhado quase 5 km naquela trilha. Até que à sua frente a estrada se transformou numa grande clareira.
Ele olhou para os lados e se dirigiu para o centro do local. Então, as árvores começaram a se mexer e fecharam a passagem que dava para a trilha. Harry estava preso naquela clareira.
A mesma sensação claustrofóbica que ele teve no labirinto, há três anos, invadiu sua mente. Será que mais uma vez ele enfrentaria Voldemort longe dos olhos e do alcance de todos?
Um movimento chamou-lhe a tenção e ele se virou.
Sentada a um canto estava uma pessoa, envolta em uma coberta, com o rosto entre as mãos.
Harry se aproximou devagar, com a varinha em mãos. A pessoa escutou sua respiração e levantou o rosto.
Era Gina.
A garota levantou-se rapidamente e, deixando o cobertor no chão, correu em direção a Harry e se jogou em seus braços.
_ O que é isso tudo, Harry? O que você faz aqui no meu sonho?
_ Este sonho é meu, Gina. Como chegou aqui?
_ Por uma trilha, eu segui uma trilha e ela veio parar aqui. Quando tentei voltar não encontrei o caminho. Como você chegou?
_ Do mesmo jeito... Acho que estamos presos aqui! – refletiu o jovem enquanto olhava tudo ao redor.
Depois de um longo período de observação, ele falou:
_ Gina, você trouxe sua varinha?
Ela olhou desconcertada para Harry.
_ Não... eu estava dormindo, Harry. E não costumo dormir agarrada a minha varinha.
Harry não respondeu. Puxou sua varinha apontou para o alto e berrou:
_ Accio varinha da Gina.
Nada aconteceu. Nenhum sinal de que o feitiço tinha funcionado.
_ Lummus – disse Harry.
E mais uma vez nada aconteceu. A escuridão continuou a mesma.
_ Isso é péssimo! Sem magia como vamos sair daqui? – desesperou-se Gina.
Harry queria acalmar a garota, mas estava tão preocupado quanto ela.
_ Não pode ser, Giny. Tem que haver uma saída daqui. Vamos procurar.
Eles começaram a procurar uma brecha entre as árvores. Mas estas pareciam não querer deixá-los sair. Tapavam cada centímetro com folhas e galhos, investiam contra eles e uma delas chegou a mandar Gina longe, de costas ao chão.
Era uma luta injusta. Os galhos cortavam os rostos e as mãos dos dois e um cipó conseguiu tirar a varinha da mão de Harry.
O que mais os deixava apreensivo é que além da respiração ofegante de ambos devido ao esforça de lutar contra aquelas árvores, nenhum outro som era produzido.
_ Se não estivéssemos respirando – falou Harry – ia jurar que estamos perdidos numa floresta no meio do vácuo.
_ Não pense em nada, Harry, vamos continuar! Por favor, eu quero sair daqui – falou Gina se desesperando novamente.
Nesse momento um novo som se fez ouvir. Uma risada. Amarga e forçada. O som vinha de todos os lugares, passava entre as folhas e cercava os dois jovens bruxos.
_ Quem está aí? – berrou Harry.
Novamente a mesma gargalhada estranhamente sinistra tomou conta do ar. Harry e Gina se olharam e um abraçou o outro na tentativa de procurar abrigo e proteger ao mesmo tempo.
_ É extasiante – disse a voz – ver que finalmente você tem um medo real de mim, Potter.
Harry olhou para o alto. Esperava encontrar o dono da voz em algum lugar e sua intuição dizia que a voz vinha do alto.
_ Pode procurar a vontade, Potter. Você não vai me encontrar, a não ser que eu queira.
A voz começou a ficar familiar. Harry conhecia aquele tom enojado, aquele jeito superior e frio de falar. Foi a risada, nunca ouvida antes, que confundiu seus sentidos.
_ Snape, seu maldito, apareça! – berrou Harry com toda força.
_ Ora, ora, ora... Mas até aqui, em meus pensamentos você tem a audácia de me insultar, Potter? Acho melhor se controlar, se não quiser que eu...
_ Que você o quê? Me mate como fez com Dumbledore? Vamos lá, todos já sabem o covarde que você é. Não vai fazer diferença se matar nós dois.
_ Chega, Potter! Já lhe disse para NUNCA me chamar de covarde! Agora cale-se. Você está na minha mente. Eu trouxe o casalzinho para cá e aqui tenho controle de tudo. Posso transformar este num sonho maravilhoso, veja.
O céu até então escuro se abriu por completo. Era uma manhã agradável. A floresta agora tinha vida. Pássaros cantavam. Havia borboletas e flores e eles puderam sentir o vento novamente.
_ Ou então – falou Snape novamente – posso fazer isto virar um pesadelo do qual vocês nunca em toda sua vida irão esquecer.
O céu voltou a se fechar. Sem estrelas, luas ou qualquer outra luz. Havia apenas escuridão até que um brilho verde cortou o ar como um cometa. No mesmo instante centenas de dementadores rodearam os dois jovens. Eles sentiam as forças se esvaindo, mesmo tendo certeza de que aqueles não eram dementadores de verdade.
As criaturas começaram a rodar em volta dos dois cada vez mais rápido. Iam mudando de cor até se tornarem um imenso borrão verde que começou a subir e tomou a forma do rosto de Voldemort.
A imagem do Lorde das trevas abriu a boca e uma serpente gigantesca saiu de lá pronta para devorar Harry e Gina. Quando sua bocarra se aproximou o suficiente para sentissem seu hálito, Snape falou outra vez e eles voltaram para a floresta em que estavam antes.
_ Acredita em mim agora, Potter? Eu posso destruir você se quiser. E o melhor de tudo, ninguém vai descobrir. Amanhã, pela manhã, vão encontrar seu corpo frio e sem vida. Mas meu objetivo é outro.
Harry se adiantou para falar outra vez, mas Snape arrancou a voz de sua garganta.
_ Não, Potter! Por que não faz como a senhorita Weasley e fica quietinho enquanto eu termino o que tenho que fazer?
Não adiantava. Eles estavam nas mãos, ou melhor, na mente doentia de Snape. A única alternativa era esperar. Harry sentou-se ao lado de Gina.
Agora, no céu, o rosto de Snape flutuava ameaçador.
_ Você pode não acreditar, Potter. Mas nunca quis matar você. E continuo não querendo. Seria um desperdício de poder. Agora, a única coisa que quero é completar a minha missão. Cumprir meu juramento.
Harry e Gina tremiam. Olhavam aqueles dois olhos enormes fixados neles.
_ Vai haver um ataque, Potter! Um ataque para distrair a atenção da Ordem. Amanhã a noite. Não deixe ninguém ir até lá. É apenas uma armadilha tola. O Lorde tem 12 dragões a seus serviços e vai usá-los para incendiar todos os bruxos que forem ao local da emboscada.
Harry queria dizer alguma coisa, mas estava sem voz.
_ Eu posso ler seus pensamentos, Potter! Sei que você quer saber o motivo de preparar uma emboscada. Ele sabe que o exército de vocês é grande e poderoso. E não quer correr o risco das coisas saírem erradas na hora do ritual. Assim, quanto menos bruxos aparecerem para atrapalhá-lo, melhor.
_ Ouça bem – continuou Snape – o importante é o exército estar inteiro na noite de Lua cheia. Lorde vai contar com as presenças de lobisomens, dementadores, dríades e outras criaturas que mesmo eu nunca consegui imaginar. E você, senhorita, certifique-se de que seu estúpido namorado não vai por tudo a perder.
Snape fechou os olhos e voltou a abrir.
_ E antes que os deixe acordar, não se esqueça de um detalhe, Potter. Ele nunca conseguiu lhe tocar. Nunca!
A voz de Harry finalmente saiu e ele berrou:
_ Volte aqui e se explique seu...
Neville, Rony e Draco pularam da cama e foram acudir o rapaz.
_ O que foi, Harry? – perguntou Rony.
_ Outro sonho, Ron. Um sonho estranho... – respondeu procurando seus óculos e sua varinha.
_ Que significa tudo isso? – quis saber Draco.
_ Ah, nada demais – disse Neville ainda com sono – Harry sempre teve pesadelos. Sinais, sabe?
Harry se levantou, vestiu o roupão e foi para o salão comunal. Precisava saber se Gina realmente participou daquele sonho. Ele precisava daquela afirmação para acreditar que realmente estivera na mente de Snape.
Faltava pouco menos de meia hora para amanhecer e não havia ninguém no salão. Os feitiços impedindo os rapazes de entrarem no dormitório das moças ainda existiam e o jeito seria esperar Gina descer para poder conversar com ela.
A lareira ainda estava acesa. Faltava ainda cerca de duas semanas para o inverno acabar e Harry sentiu frio. Sentou-se próximo ao fogo e ficou rememorando tudo o que aconteceu aquela noite.
Só despertou de seus pensamentos quando sentiu uma mão tocar seu ombro. Era Gina.
_ O que faz aí? – perguntou a moça.
_ Estava esperando por você. Queria conversar.
_ Já imagino sobre o quê. A resposta é sim.
_ Então aconteceu de novo? Outro pesadelo em conjunto.
_ Aquilo não foi um pesadelo, Harry. Foi um seqüestro de consciências. Ele seqüestrou nossas mentes. Precisava falar aquilo de qualquer maneira e o único jeito de se fazer ouvir foi esse.
_ Mas você... Você acreditou no que ele disse?
Gina respirou fundo e disse:
_ É estranho, mas acredito sim. O que temos a fazer agora é avisar todos sobre a emboscada. Não vai ser nada fácil convencê-los de que não poderemos ajudar as vítimas. Mas precisamos tentar. Não podemos correr o risco de transformar metade de nosso exército em churrasco.
Ela tinha razão. Era o que precisavam fazer. Mas confiar em Snape e aceitar que ele dera uma informação útil ainda fazia o estômago de Harry revirar.
Uma coisa, pensou ele, era perdoar Draco por tentar salvar sua família a qualquer custo. Outra era aceitar ajuda de alguém como Snape.
_ Vai ser um dia agitado. Vamos chamar os outros e explicar a situação – disse Harry enquanto corria para chamar Rony, Neville e Draco.
Gina também voltou para o dormitório, a fim de chamar Hermione e Luna.

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