A voz dos astros



Rony conversou com o professor de Adivinhação e mesmo depois que este o avisou que o que ele teve era normal, no dia da aula ele ainda estava apreensivo.
Para acalmar o namorado, Hermione foi até a sala da diretora.
_ Com licença, prof... quero dizer, Diretor McGonagal.
_ Pode me chamar de professora mesmo, Hermione. Afinal é isso que eu sou, apenas professora. Este cargo não combina comigo – respondeu a senhora indicando uma cadeira para que ela se sentasse. – Mas diga, não a vejo há um bom tempo. O que quer?
_ Eu queria fazer um pedido. Sei que é um pouco delicado, mas gostaria de assistir a aula de Adivinhação hoje.
McGonagal estudou o rosto da garota.
_ Adivinhação? Que eu saiba você nunca se interessou pela matéria. Aliás, sei que pensa como eu, que Adivinhação é mais uma questão de... sorte.
_ Eu sei, e continuo com essa opinião. Mas a senhora já deve saber o que aconteceu com Rony na última aula, não é mesmo?
_ Sim, Firenze me contou.
_ Ele está muito nervoso. Com medo, pra dizer a verdade.
_ Então a senhorita quer a minha autorização para acalmar seu namoradinho?
A garota corou imediatamente. Não esperava que a diretora fosse tão direta.
_ Não precisa se envergonhar, Hermione. Fico muito feliz que queira fazer isso. Aliás, já estava na hora de você, Rony e Harry fazerem coisas próprias da idade de vocês. Essa história de só pensar em salvar o mundo pode ser cansativa – disse a diretora com aquele sorrio contido tão conhecido dos alunos.
Hermione agradeceu e saiu da sala. Quando contou a Rony que conseguira a autorização ele pareceu muito mais aliviado.
_ Aposto que com você por perto eu não vou destampar a falar besteiras sem sentido – desabafou o rapaz.
Para ele, aquela história de dom era muito constrangedora. Muitas vezes ele quis ser o centro das atenções, mas não gostou nem um pouco disso. Ficava por entender como Harry suportava aquilo desde seus 11 anos.
Os três se dirigiram para a sala de aula onde Firenze já os aguardava. Tudo estava como antes, exceto que não havia Lua e Rony ficou muito feliz com isso.
_ A aula passada foi um tanto surpreendente até para mim. O que aconteceu foi uma verdadeira benção. A Lua Cheia costuma despertar a intuição em muitas pessoas. Mas hoje vamos tentar despertar o nosso lado mais oculto. Vamos conversar com a Lua Nova.
E o professor apontou para um espaço vazio no céu. Quando os alunos se acostumaram com a escuridão, puderam perceber um suave alo luminoso em volta de uma bola negra. Ali estava a Lua Nova.
_ A Lua Nova – explicou o professor – é a Lua que a gente não vê, apenas sente. Ela nos fala de coisas que fogem do nosso controle. Coisas que ainda não foram reveladas e só aparecerão diante de nossos olhos quando a Crescente tomar seu lugar no céu.
Hermione nem prestava atenção na aula, apenas observava o namorado. Qualquer reação estranha ela estaria ali para ajudá-lo.
Os alunos logo se posicionaram de modo a visualizar o ponto escuro. Harry sentiu que poderia dormir a qualquer momento. Rony também estava deitado e olhava um ponto distante.
De repente ele se virou de lado e ficou olhando Harry. Este achou que o amigo queria fazer algum comentário e se virou também, na direção do amigo.
Os olhos de Rony tinham o mesmo brilho enigmático da Professora Goldrisch, e Harry sentiu um frio na espinha ao perceber que podia ver esse brilho mesmo no escuro.
_ Sabe – disse Rony com uma estranha voz suave – muitas vezes a gente precisa ir ao passado para descobrir o que precisa ser feito. Eles não sabem disso. Vão atacar logo, antes do Sol deixar o céu novamente.
O coração de Harry disparou. Estava acontecendo de novo. Ele olhou assustado a procura de Hermione, mas ela já estava de pé e chamava pelo professor. Firenze correu até eles e disse que esperassem. Rony não poderia ser interrompido.
_ As pessoas têm medo da morte, mas uma pessoa nunca morre quando deixa sua vida em outra.
Essas foram as últimas palavras do garoto que voltou a olhar para a Lua Nova, como se nada tivesse acontecido.
A aula acabou e Rony estava acordado. Não tinha perdido a consciência daquela vez. O professor pediu que eles esperassem.
_ Seria melhor conversar com ele a sós, mas sei que vocês três são inseparáveis e talvez possam ajudá-lo.
_ Me ajudar em quê? – indagou Rony.
_ Rony, você possui um dom muito raro. Poucos humanos conseguem o que você consegue. Eu já lhe disse isso. Mas achei que seu dom se limitasse a Lua Cheia. A Lua Nova é bem mais difícil e hoje você demonstrou um contato também com ela.
_ Como assim? Eu nem desmaiei, nem fiz nada. – desesperou-se o rapaz.
_ Calma Rony – pediu Hermione.
_ Mais uma vez você deu um recado a Harry – disse o professor.
Rony olhou o amigo e a namorada que confirmaram com a cabeça. Ele se sentou desanimado sobre a relva e perguntou:
_ O que eu preciso fazer?
_ Eu reparei que você só deu recados a Harry. Nem a presença de sua namorada na sala mudaram o foco de sua comunicação. Então, quero lhe dar aulas particulares, para que você aprenda a lidar com esse dom. E Harry e Hermione também virão. Para dar força a você.
Ele concordou e saiu da sala. Harry contou o que ele disse.
_ Parecia então que eu estava falando sobre os horcruxes. Deixar sua vida para não morrer... – comentou pensativo.
_ É, mas não entendi nada sobre atacar antes do sol deixar o céu...
Eles andaram mais um pouco e Hermione estancou de repente.
_ Harry, hoje a noite, será que você pode me fazer um favor?
_ Qual?
_ Me empresta sua capa da invisibilidade?
Ele e Rony olharam assustados para a garota.
_ O que você quer com ela?
_ Só uma idéia que eu tive. Mas preciso executá-la sozinha.
Ele pensou um pouco e respondeu:
_ Tudo bem, só me devolva ela inteira, ok?
O resto do dia foi calmo. Logo eles estariam organizando a copa de quadribol e Harry poderia voar na sua vassoura. A primeira semana de aula tinha sido muito agitada, e só agora ele e Rony discutiam seu esporte favorito.
Depois do jantar, Gina se juntou a eles na discussão e Hermione deu sinal a Harry. Este correu, pegou sua capa e entregou à amiga.
Ela saiu pelo buraco, foi até o banheiro dos monitores e vestiu a capa. Ninguém mais viu Hermione nem o que ela foi fazer.
As horas se passavam e Rony, Harry e Gina já estavam preocupados. Nenhum sinal da amiga. E eles não tinham como sair para procurar alguém que está invisível.
Já passava das 2 da manhã quando Hermione regressou. Ela vinha eufórica, com mais de 3 rolos de pergaminho escritos com letra corrida.
_ Onde você foi? E por que demorou tanto assim? Nós estávamos loucos de preocupação. – disse o namorado.
_ Fui descobrir umas coisinhas – deu um beijo no namorado e desenrolou os pergaminhos.
_ Onde você conseguiu isso? – quis saber Gina.
_ Na biblioteca. Bom, primeiro eu fui até a sala de Dumbledore porque tinha visto um livro diferente no meio das coisas dele ano passado. Mas o livro já não estava mais lá. Então eu fui até a seção de livros reservados na Biblioteca, mas ele também não estava lá. Então tive que fazer uma série de feitiços para descobrir livros escondidos e prateleiras invisíveis. Foi complicado mas eu o encontrei.
_ E que livro era esse? – perguntou Gina mais uma vez.
_ Rituais Proibidos de Magia Negra – respondeu a garota.
Os três se entreolharam. Aquilo não era o mesmo que fui pegar uns bolinhos na cozinha. Magia negra era um assunto assustador.
_ Mas não pude tirar o livro de lá, primeiro porque poderiam desconfiar de alguma coisa e segundo porque ele estava presos por correntes. O livro é simplesmente assustador. Tem até ilustrações. E o mais incrível é que a data de publicação é 1815. Naquela época Hogwarts ensinava essas coisas aos alunos para que eles soubessem se defender. Mas isso não vem ao caso, vejam o que eu consegui.
Os três se debruçaram sobre o pergaminho, mas ninguém conseguiu decifrar a letra de Hermione.
_ Estava escuro lá e eu copiei tudo correndo com medo de alguém chegar.
_ Então leia pra gente – impacientou-se Harry.
_ Ah, ok! Aí diz que é possível um bruxo dividir sua alma em até 11 pedaços e colocá-los em objetos, pessoas ou animais com a finalidade de prolongar sua vida.
_ Anh, que coisa, né? Isso tudo Dumbledore já me disse.
_ É, só que Dumbledore não teve tempo de lhe contar tudo Harry. Haviam anotações com a letra dele em algumas páginas e eu fiz questão de copiar essas anotações.
Os três pareciam não respirar enquanto ela contava que anotações eram essas.
_ Parece que existe um livro de contra-feitiços de magia branca ultra avançados, capazes de anular um feitiço negro. Mas é preciso que seja feito por um bruxo sangue-puro. As anotações de Dumbledore dizem que é possível destruir um bruxo que tenha a alma fragmentada se o horcruxe principal for encontrado e destruído diante do bruxo.
_ Ficamos na mesma, Mione – disse Harry desanimado. Sabemos que ele fez 6 além do pedaço que ficou com ele. 3 já foram destruídos: o diário, o anel e o medalhão. Mas e as outras três? O que são? Nós temos que encontrá-las primeiro para depois arriscar um encontro com Voldemort e lhe contar que sabemos seu segredo.
_ E não devem ser objetos fáceis de se encontrar, levando em conta todas as tarefas que você e Dumbledore tiveram que enfrentar para chegar até uma delas.
Eles ficaram em silêncio por algum tempo e logo foram dormir. O dia seguinte seria bem cheio e eles precisavam descansar.
Na manhã seguinte Rony, Hermione e Harry desceram para tomar café. Harry sentiu falta de Gina, mas Hermione lhe explicou que ela havia perdido a hora e desceria em seguida.
Eles começaram a tomar café da manhã quando a menina apareceu no salão, acompanhada de Neville. Acenou para eles e se sentou com o rapaz um pouco distante deles. O sangue de Harry ferveu e ele já ia levantar quando várias corujas começaram a entrar pelas janelas do castelo.
Harry, que há muito não se correspondia com ninguém, recebeu uma carta. Um bilhete para ser mais exato.

Harry,

Você não é o alvo principal. Ele quer um poder maior. Mas para conseguir precisa subjugar os outros e só vai conseguir quando mostrar que pode vencer você. Portanto, mantenha-se vivo.

Não tinha assinatura ele achou tudo aquilo muito estranho. Ia comentar com os amigos quando percebeu que Gina recebera um pacote. Quando ela abriu, ele percebeu Neville ficando vermelho. Ela leu o cartão, deu um sorriso sem graça para o rapaz e pegou o que havia dentro do pacote: uma pena cor de vinho, com pequenos feixes dourados. Um presente muito fino e delicado.
Mas aquela, com certeza, seria a manhã das distrações, pois Harry percebeu que Rony e Hermione estavam concentrados no jornal, assim como muitos outros alunos. Alguns estavam chorando, outros pareciam aflitos. Harry olhou por cima do ombro de Mione e leu:

GUERRA DECLARADA

A matéria dizia que Voldemort finalmente dera as caras. Ele apareceu em praça pública, durante uma convenção de medibruxos e atacou a todos. Muitos morreram com Avada Kedrava, mas a maioria foi torturada, não com a maldição imperdoável Crucios, mas com um novo feitiço ainda mais aterrorizante. A pessoa atingida simplesmente vira do avesso. Carne, órgãos e ossos ficam expostos de uma maneira tão horrenda que foi criada uma ala separada no St. Mungus para atender esses casos.
Abaixo da notícia havia a relação de nomes das pessoas atacadas. Alguns alunos da Corvinal estavam desesperados. Seus pais estavam entre os que foram atingidos. O caos havia se instaurado na escola.
Hermione olhou para Rony. A profecia, aquilo que o garoto falou na aula de Adivinhação. Eles atacaram antes da noite de hoje. Ela ia falar com Harry, mas assim que olhou para o lado, não encontrou o rapaz.
Diante dos acontecimentos, a diretora reuniu todos e declarou que medidas de segurança deveriam ser tomadas e, provisoriamente, eles seriam mandados de volta para suas casas. Ficariam uma semana fora da escola até que tudo estivesse pronto.
Harry esqueceu-se da cena de Gina e Neville. Sua preocupação era uma só, a sala do diretor. Ninguém poderia entrar lá antes dele. Saiu correndo e foi até lá para pegar as anotações de Hermione.
Mal a Gárgula saíra do caminho e ele já subia os degraus de dois em dois. Entrou na sala, recolheu os pergaminhos. Mas havia algo mais. Um pergaminho que não tinha a letra de Hermione. Fora escrito em papel lilás. Era mais um cartão de Dumbledore.

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