O livro de família
Assim que as aulas começaram os alunos se viram envoltos em montes de deveres, afinal aquele era o ano dos NIEMS. Hermione quase não arrumava tempo para ficar com Rony, pois fazia duas matérias a mais que ele. Mas os quatro jovens namorados encontravam-se na biblioteca ou no Salão Comunal para fazerem os deveres juntos.
Sempre que podia, Harry ajudava Gina e Hermione fazia o mesmo com Rony.
O segundo dia de aula foi interrompido por um estranho mensageiro. Firenze bateu a porta da estufa n° 4, em que a Professora Sprout ensinava como obter suco de estáfilas do pântano, que mais tarde seriam usadas na preparação de poções elucidativas (usadas em pessoas que apresentem confusão mental após acidentes com feitiços). Ele pediu que a professora entregasse os horários dos alunos que teriam aula com a professora Goldrisch.
Harry checou seus horários com Rony e Hermione e ficou feliz ao ver que estavam na mesma turma. Ao que parecia os alunos foram separados por idade. A primeira aula aconteceria na quinta-feira, após o jantar. Isso era muito estranho. Além de Astronomia, eles nunca tiveram nenhuma aula à noite.
No final da aula, os garotos receberam como dever da Prof. Sprout pesquisar e listar os outros usos das estáfilas do pântano. Decidiram que seria melhor fazer o dever de uma vez, logo após o almoço, assim teriam o resto do dia livre para ir até a sala de Dumbledore.
Harry correu até o dormitório atrás de pergaminho para fazer a lista, mas ao abrir o malão, viu o livro em branco que a Prof. Minerva havia lhe entregado no dia de seus 17 anos. Até então ele não tinha dado muita importância aquilo.
Tomado de um impulso ele pegou e abriu o livro. Logo uma luz laranja saiu de dentro dele e muitas letras surgiram. A primeira folha só continha
História e Genealogia da Secreta Família Wichan
As letras lembraram Harry do diário de Tom Riddle. E ele saiu correndo para encontrar os amigos. Chegou ao salão comunal e aproveitou que a maioria dos alunos estava nos jardins aproveitando o resto do verão, contou aos amigos o que aconteceu.
_ Acho que isso é mais importante que os deveres – disse Hermione.
_ Essa é a primeira vez que vejo você falando uma coisa do tipo – zombou Rony – está passando mal?
_ Agora não é hora para brincadeiras, Ron. Um livro que pode revelar a Harry a origem da família dele. Uma família que preferiu deixar de existir para não complicar a vida de seus descendentes. Uma família antiga. Precisamos descobrir tudo. E para isso, Harry precisa ler o livro.
_ Mas o livro irá se apagar, esqueceu? – questionou Harry.
_ Não, não me esqueci. Mas você pode lê-lo em voz alta. – retrucou a garota com um sorriso inteligente.
Os três correram para a sala de Dumbledore. A gárgula, assim que viu Harry, não esperou senha alguma, apenas pulou para o lado e liberou a escada em espiral. Eles subiram e entraram na sala do ex-diretor.
Já havia um quadro dele na parede, acima da cadeira. Tudo estava exatamente como ele deixou. Harry olhou o quadro e esperou que este lhe acenasse, desse um “oi”, mas nada aconteceu. Os outros quadros estavam dormindo e Harry achou melhor não perturbar ninguém.
Hermione se acomodou conjurando uma almofada. Pegou também, uma pena, vários metros de pergaminho e tinta.
_ Para que isso tudo? – perguntou seu namorado.
_ Digamos que eu vou brincar um pouco de “Rita Skeeter” – riu-se a garota.
Rony pegou outra almofada e Harry sentou na cadeira do diretor. Abriu o livro e continuou a ler.
História e Genealogia da Secreta Família Wichan
Quem somos, de onde viemos e onde estamos agora.
Este livro só poderá ser lido uma vez por cada descendente da família Wichan, e quando não restar mais nenhum na face da Terra, ele se auto-destruirá.
No ano de 7.500 antes do nascimento do profeta chamado Jesus, foi registrado nas terras de Aurillan, a primeira pessoa com habilidades mágicas.
Essa pessoa, uma menina de cabelos escuros, olhos mais escuros ainda e pele morena, recebeu o nome de Mairika Wichan, que no idioma antigo significa “A dona da magia”.
Mairika viveu um tempo muito feliz e muitas crianças depois dela apresentaram as mesmas habilidades. Logo que completou a idade de 13 anos, Mairika foi entregue em casamento ao jovem Herick, da família de Almiras. Os dois se amaram desde o primeiro momento e tiveram seis filhos. Todos carregavam o nome Wichan: as mulheres Mistril, Morgi e Muriel; os homens Morgan, Millea e Mouruz.
Todos tiveram nome com a letra M, pois Herick queria que todos soubessem o quanto amava a mulher e o quanto se orgulhava de estar com ela.
Nessa época, e durante os dois mil anos seguintes, tudo que havia em Aurillan e nas terras vizinhas era paz. Elfos, fadas, anjos, mortais e muitos outros seres conviviam em harmonia.
Não havia distinção entre sangue mágico e não-mágico. A magia fazia parte da terra e algumas vezes se manifestava nas pessoas e outras vezes não.
No ano de 5.000 antes ainda do grande mágico, o irmão mais novo de Herick, Lurstre, reclamou aos pais o direito de ter um filho com habilidades mágicas, visto que os seis filhos de seu irmão eram excelentes bruxos.
Lurstre se casou com uma jovem de nome Hildde, teve muitos filhos com ela, mas nenhum apresentou as mesmas habilidades que seus sobrinhos.
Dominado pela raiva e pela inveja, Lurstre espalhou a mentira que Mairika havia amaldiçoado as outras famílias para que não existissem mais bruxos além deles e que posteriormente, ela usaria seus poderes contra todos.
Infelizmente, a maldade faz parte do coração do homem. E quando encontra terreno propício, desabrocha e se transforma numa árvore de ódio e injustiças. Muitos que nunca apresentaram habilidades mágicas ficaram do lado de Lurstre. E Aurillan entrou em guerra.
Com medo da sorte de seus filhos naquele lugar dominado pela maldade humana, Mairika e Herick usaram uma magia e enviaram os seis, para longe dali. Os filhos de Mairika e Herick foram separados aos pares e cada par carregavam consigo uma jóia, na qual havia sido depositada toda a habilidade mágica de sua mãe. Mistril e Mouruz foram enviados ao Egito e durante muito tempo foram sacerdotes. Muriel e Millea ficaram ao norte da Europa e se misturaram aos vikings. E Morgi e Morgan, foram enviados a Inglaterra. Mairika e Herick venceram o exército de Lurstre. Sempre é fácil vencer quando o inimigo é ganancioso.
Mas não tiveram tempo de chamar seus filhos de volta. Antes que Lurstre tivesse tempo de reunir outro exército, Mairika usou seus poderes para tirar Aurillan da Terra. A cidade natal de todos os wichan agora não mais existia, tinha desaparecido.
Parecia que Harry podia ver cada cena, cada imagem. Ele avistou o rosto de cada um de seus antepassados e viu o destino de cada um deles.
Os três só pararam quando a barriga roncou e eles lembraram que ainda tinham duas aulas naquele dia.
Harry estava cansado. Era como viajar no tempo. Como entrar na penseira de Dumbledore. Antes que saíssem da sala, ele procurou algum cartão, mas não encontrou. Então, pediu a Mione que guardasse as anotações ali, assim evitariam que alguém mais soubesse de todas aquelas histórias.
_ Aquilo tudo... todas aquelas informações... será que são realmente verdadeiras? – perguntou Rony.
_ Não sei ao certo, mas a sensação que tive foi de estar invadindo a memória de alguém e ver os fatos como se tivessem acontecendo exatamente agora – responde Harry, ainda cansado da leitura.
_ Mas foi isso o que você fez – disse Hermione.
Rony e Harry pararam e olharam para a garota.
_ O que você quer dizer? _ indagou Harry.
_ Ah, é que eu reparei que enquanto você narrava a sua voz ficou diferente, mais grossa e mais... idosa. Parecia ser um velho de uns setenta anos pelo menos. E você não olhava para o livro, a luz do livro entrava pelos seus olhos e você falava o que ela lhe dizia. Foi estranho! – disse a garota.
_ É... agora que você falou, Mione, eu também reparei que ele ficou estranho. Mas já vi o Harry de cada jeito que nem me toquei que poderia ser alguma coisa significativa.
_ Agora não dá mais tempo de discutir. Ainda temos dois horários, eu de Runas e vocês de Adivinhação. Nos vemos na hora do jantar.
Mione deu um beijo rápido em Rony e correu em direção a sua sala. Os garotos também foram para o primeiro andar, onde teriam aulas na sala preparada para o professor de Adivinhação.
Dentro da sala, como sempre, estava escuro, como se fosse noite. Mas desta vez era uma noite diferente. No alto do teto encantado, quase não havia estrelas e uma lua cheia, enorme, brilhava solitária.
Os alunos foram chegando e sentando na grama em volta do professor. Quando todos estavam presentes, Firenze começou a falar.
_ Há um ano eu expliquei a vocês que nós, centauros, aprendemos a delicada arte de ler as estrelas. Há um ano eu tento ensinar um pouco disso a cada um aqui presente. E confesso, tenho ficado feliz com os resultados. Mas hoje, vocês irão aprender a conversar com a Lua.
Houve um rebuliço na sala. Todos queriam saber o que era conversar com a Lua, como ela responderia se estava tão longe.
_ Do mesmo jeito que conversamos com nossa consciência. A Lua responderá dentro de cada um de vocês. Mas não se esqueçam, os astros são instrumentos divinos e só nos falam de coisas que realmente têm importância. Perguntar-lhes os números de um bilhete de loteria, os sentimentos de alguém em relação a você ou qualquer banalidade é um insulto, e o céu pode se fechar em nuvens na mesma hora. Portanto concentrem-se e perguntem à Lua o que ela lhes permite ver.
Alguns alunos deitaram na relva para ver melhor o satélite. Outros se ajoelharam e alguns faziam gestos estranhos à medida que faziam suas perguntas. Harry continuou sentado, com as pernas cruzadas, mas não perguntou nada. Não queria saber do futuro. Tinha medo de descobrir que poderia morrer a qualquer momento, que Voldemort entraria pelas portas do salão principal e usaria um Avada Kedrava coletivo e todos cairiam mortos ali.
_ Isso não vai acontecer – respondeu-lhe Rony.
Harry sobressaltou-se. Será que estivera pensando em voz alta? Mas Rony continuou falando com a voz um tanto alterada e mais alta que de costume. Todos na sala pararam suas tentativas e prestavam atenção no garoto. Até o professor se mostrou interessado.
_ Isso não vai acontecer. Ele não vai entrar aqui. Não antes de você descobrir as 3 últimas peças do quebra-cabeça. Não antes de você descobrir quem realmente é. Aí ele virá. E o duelo acontecerá no círculo de ligação. E as coisas voltarão a ser como devem ser.
Quando acabou de falar, ele simplesmente caiu de costas e ficou deitado, meio inconsciente. Firenze pegou o rapaz no colo e partiu com ele para a enfermaria. Todos os alunos perguntaram a Harry o que estava acontecendo.
_ Não faço idéia, mas vou até a enfermaria. Preciso ver se ele está bem.
Harry sabia que precisava avisar Hermione. Não deveria ser nada grave, mas ela era namorada dele. Ficaria aborrecida se não a avisasse. Com essa idéia em mente, ele se dirigiu ao outro lado do castelo. Bateu a porta da professora de Runas, que ele nunca tinha visto antes e pediu licença para falar com Hermione.
_ O que aconteceu? Por que veio me tirar do meio da aula? Você descobriu alguma coisa?
_ Não, foi Rony...
_ O que Rony descobriu? – interrompeu aflita, louca para voltar para a sala.
_ Ele não descobriu nada, ele está inconsciente, na ala hospitalar.
Mione ficou branca como cera. Entrou na sala apressada, falou qualquer coisa com a professora e em cinco minutos eles chegaram à enfermaria.
Madame Pomfrey tentava fazer com que Rony bebesse uma poção cinza, que mais parecia suco de cimento. Quando viu os garotos, perguntou:
_ O que fazem aqui? Não me digam que também estão passando mal?
_ Não, senhora! Apenas queríamos notícias do Rony. – disse Mione meio chorosa.
_ Ele é seu namorado, não é?
_ É sim...
_ Olha mocinha, eu não tenho autorização para lhe contar o que aconteceu com ele. Aconselho que você procure o professor Firenze. Só posso dizer que ele ainda vai ficar assim por umas 12 ou 16 horas.
16 horas? Era muito tempo. E amanhã era a primeira aula de História da Magia Avanaçada. Será que ele teria condições de assistir? E o que teria acontecido realmente com ele?
Os dois procuraram o professor Firenze e no caminho Harry contou sobre a aula e o que Rony havia lhe dito.
Chegaram à sala do professor. Ele estava sentado sobre as quatro patas, com a cabeça voltada para a Lua. Os alunos entraram, sem fazer barulho e esperaram o professor terminar, seja lá o que ele estava fazendo. Sem tirar os olhos da Lua, ele falou:
_ Isso vai acontecer mais vezes.
Os dois se olharam e Hermione perguntou:
_ Isso o que professor?
_ Os desmaios dele. Vão acontecer outros.
_ E por quê? Ele está doente? – preocupou-se Harry.
O professor olhou, finalmente, para os garotos e pediu-lhes que sentassem.
_ Não meninos, ele não está doente. Ele é um abençoado. Nasceu com um dom e está revelando esse dom agora. Os astros gostam do seu amigo. Falam através dele. Mas essa conexão é desgastante demais. Vocês terão que ter paciência com ele, pois não vai ser Rony quem irá decidir a hora de falar. Só mais uma coisa meninos, ele dificilmente se lembrará do que aconteceu. Não forcem a barra com ele, ta?
Os dois deixaram a sala e foram para o salão onde seria servido o jantar. Gina estranhou a ausência do irmão e eles lhe contaram tudo.
_ Então, ele tem um dom tão forte assim?
_ Pelo que o professor falou, tem sim – respondeu Harry.
Hermione passou todo o jantar em silêncio. Ficar ali, sem Rony não tinha graça. Ela mal tocou na comida e saiu da mesa. Ia até a enfermaria ver o namorado.
Madame Pomfrey deixou que ela ficasse um tempo ali, até a hora de ir para o dormitório. Ela sentou-se na cabeceira da cama e ficou olhando o namorado. Ela sempre imaginou que a essas alturas estariam mortos de cansaço de tanto duelar com comensais, que teriam que fugir de vários lugares perigosos e que estariam caçando horcruxes por aí.
Aquela paz era muito estranha. Mas muito feliz. Pelo menos o único perigo que Rony corria era desmaiar porque uma estrela lhe desejou boa noite.
A garota riu imaginando a cena. Deu um selinho rápido no namorado adormecido e saiu para o Salão Comunal.
_ Como ele está? – quis saber a irmã de Ron.
_ Melhorou um pouco. Não está mais inconsciente, mas a Madame Pomfrey deu uma poção para ele dormir. Assim, amanhã, na hora do almoço deve receber alta.
Eles continuaram a conversar mais um pouco e quando Gina reclamou sono, todos foram dormir. Antes de sair do salão, Harry olhou para Hermione e ela entendeu o que ele queria dizer. Era para voltar daqui a pouco.
Harry esperou os colegas adormecerem e saiu, com sua capa da invisibilidade. Chegou ao Salão e encontrou a amiga sentada, olhando a lareira.
_ Ei, entre aqui embaixo – sussurrou Harry.
Ela entrou e quis saber para onde iriam?
_ Como para onde? Vamos para a sala de Dumbledore. Preciso saber mais sobre a minha família. Você ouviu o que o Rony disse, nada vai acontecer até que eu descubra tudo. Precisamos ir ainda hoje.
Sem discutir, Hermione seguiu o amigo e logo eles entraram na sala. Estava tudo como haviam deixado, inclusive as almofadas.
Harry esperou que a amiga se acomodasse e abriu o livro. As letras brilharam novamente e como na primeira vez, ele começou a ler.
A origem do preconceito e o retorno de Morgan e Morgis
Ao perder a guerra Lurstre espalhou ainda mais boatos. Disse que havia ganhado e mandado Mairika para o inferno junto com os outros demônios. O povo que surgiu a partir dali cresceu ouvindo histórias de que a magia era má e anti-natural.
Qualquer ser que apresentasse dons mágicos era açoitado, torturado e muitos foram mortos. Pais matavam filhos, irmãos matavam irmãos.
Com a subida de Aurillan, o caos tomou conta da Terra. Mas Lurstre não sabia que seus sobrinhos estavam por perto. E apareceriam mais tarde para exigir seus direitos.
A campanha de desmoralização da magia deu certo e a vida daquele povoado ficou cada vez mais sem graça, monótona e comum. Os bruxos que ainda restaram, procuravam se esconder, com medo das represálias. Eles chamavam os não-bruxos de trouxas, pois eram obrigados a carregá-los nas costas sem que esses percebessem.
Os bruxos passaram a casar só entre si e apenas seus filhos desenvolviam habilidades mágicas, pois eram estimulados para isso.
100 anos após o fim da guerra e da partida de Mairika e Herick, juntamente com toda Aurillan, para outro plano, dois estranhos viajantes apareceram no vilarejo. Eram simples, humildes e pediam trabalho.
Conseguiram emprego nas plantações de Lurstre. Mas eram tratados como escravo já que seu novo senhor era mau e cruel.
Eles viveram ali, durante alguns anos, sem que ninguém descobrisse suas identidades. Aqueles eram Morgan e Morgi, filhos de Mairika e sobrinhos do homem que hoje os escravizava.
Como era costume, na época, Morgan e Morgi se casaram e tiveram mais duas filhas: Mellena e Morgause. As duas cresciam alegres e saudáveis até que Lurstre descobriu que as meninas eram bruxas.
Ele se irritou com a ousadia daquele casal de escravos de incentivarem suas filhas a serem pecadoras. E ameaçou jogar as garotas no fosso do sacrifício.
Nesse instante Morgi assumiu sua condição de bruxa e se fez maior que todos os presentes. Seus olhos escuros perderam o brilho e ganharam a profundidade de um buraco negro.
Ela falou, e sua voz agora era vibrante como uma trovoada:
_ Não ouse tocar em nenhuma de minhas filhas, Lurstre. Ou vai sentir a mão da verdadeira herdeira dessas terras, a mão de Morgi, filha de Mairika, senhora suprema da magia e das terras mágicas.
Lurstre recuou assustado, mas não quis demonstrar o seu medo e apenas disse:
_ É uma louca que não sabe o que diz. Todos os bruxos e bruxas daquela maldita terra de Aurillan morreram.
_ É mesmo? – perguntou Morgi, irônica. – Então o que é isso que carrego em meu peito?
E Morgi abriu a gola de seu vestido e revelou um colar feito com ouro branco. Tinha um pingente em forma de estrela-cadente, uma fada adormecida flutuava dentro da estrela, e a cauda possuía belíssimas pedras vermelhas.
_ Mas isso... isso é uma legítima Andriax – aterrorizou-se Lurstre.
_ Exatamente! E só uma Wicham pode possuir uma Andriax. Você sabe, você quis uma dessas um dia, lembra-se?
E o povo que presenciava a discussão finalmente descobriu o que Lurstre era. Uma infeliz criatura que desejou ter mais do que podia. Desejou mudar o destino das criaturas. Aqueles homens que o temiam, por ter vencido o povo mágico, e que agora eram seus escravos, deixaram o medo de lado. Queriam de volta sua liberdade. Lutariam por ela, se fosse preciso.
Lurstre não era tão forte assim. Não suportaria ter que dividir suas terras, suas riquezas e seu poder. Preferia a morte. Preferia acabar com sua própria vida a deixar reles camponeses fazerem isso. Então, num ato de verdadeira loucura, correu e se jogou no fosso dos sacrifícios.
Morgi voltou a ser a simples camponesa, mas todos a respeitavam. Ela retomou a paz naquele lugar. Dividiu as terras por igual com cada família. Ensinou as mulheres o que precisavam saber sobre o cultivo de ervas medicinais e como utilizá-las. Contou histórias sobre o povo mágico às crianças.
E as pessoas voltaram a ter sonhos e a desejar desenvolver sua magia natural. E Morgan teve uma idéia. Disse à sua esposa-irmã que viajaria por um mês e retornaria com uma grande novidade. E assim ele o fez.
Retornou um mês depois e avisou a comunidade que tinha conseguido um lugar, uma ilha, onde iria montar uma escola de bruxaria. Ele daria aulas aos meninos e sua mulher daria aulas às meninas.
Esse lugar, mais tarde seria chamado de Avalon.
No começo tudo correu bem, mas a semente da maldade já havia sido plantada por Lurstre. Logo a população começou a crescer e não cabiam mais todas as meninas e meninos da aldeia. As famílias que não tinham seus filhos selecionados ficavam irritadas, sentiam-se humilhadas, brigavam com os vizinhos.
Um dia, um pai furioso invadiu a ilha e quase matou o menino que entrou no lugar de seu filho.
E mais uma vez o mundo entrou em guerra. E essa guerra foi ainda mais sangrenta.
Morgi e Morgan decidiram que não fechariam a escola. Mas tomariam mais cuidado ao escolher seus alunos. Usando uma magia muito antiga, envolveram a ilha em névoas espessas e pediram ajuda ao povo das águas, para que nunca deixasse uma embarcação desconhecida encontrar a ilha.
As filhas de Morgi cresceram e passaram a ensinar na ilha também. Uma vez por ano, Morgan deixava a ilha sob a responsabilidade das mulheres e ia em busca de novos alunos. Quando ele voltava, era a vez de Morgi, ou uma de suas filhas, procurar meninas talentosas para aprender a arte da magia.
E assim, foi durante séculos e milênios. Bruxas e bruxos viviam afastados dos homens, temendo represálias. Mas viviam felizes. Casavam-se entre si e criavam seus filhos dentro de princípios mágicos.
Harry saiu do transe. Estava exausto. A leitura durou apenas uma hora, mas ele tinha a impressão de ter passado longos anos sentado naquela cadeira.
Hermione relia suas anotações e seus olhos brilhavam de emoção. Ela, uma trouxa de nascença, estava conhecendo coisas sobre a história da magia que muitos bruxos de sangue-puro não saberiam nunca.
Harry pediu à amiga que fossem dormir. No dia seguinte teriam aula até depois do jantar e ele queria descansar. Eles já estavam deixando a sala, quando Harry reparou num envelope vermelho vivo.
E tinha seu nome nele.
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