As novas armas
Depois da notícia do assassinato de Dumbledore, Petúnia tentou conversar com o sobrinho. Sempre que não tinha ninguém em casa, ela procurava por Harry. Queria os detalhes, estava inconformada. Era muito difícil viver sem receber as desculpas de alguém que ela havia magoado.
Nas duas primeiras tentativas de aproximação, Harry tentou ser compreensivo. Mas vendo que a arrogância e horror ao mundo mágico, natural na família Dursley, havia tomado conta do espírito de sua tia, o rapaz perdeu a paciência. Sempre que ouvia os passos de Tia Petúnia, Harry se escondia sob a capa da invisibilidade e a tia saia de lá, frustrada.
Petúnia visitava a Srª Figg com mais freqüência e os ferimentos da mesma estavam quase todos cicatrizados. Pela primeira vez em toda sua vida, Harry não achou o verão tão monótono assim. Apesar de não ter tempo, nem vontade, de escrever para os amigos, ele procurava memorizar cada coisa, para que quando os reencontrasse, poder contar tudo. Eles teriam muito no que pensar!
Os dias voltaram ao seu marasmo habitual que só foi quebrado quando Harry informou que iria visitar a Srª Figg. Petúnia estranhou, mas depois lembrou-se que o menino ouvira a conversa das duas.
_ Não adianta especular nada com ela, rapaz. Ela sabe menos que você. – respondeu a tia secamente.
_ Não estou interessado nas suas lembranças, Pet – zombou o rapaz – apenas quero ver se os ferimentos dela estão melhor. Aquele corte no tórax, eu sei o que fez aquilo!
Antes que a tia respondesse, Harry saiu e bateu a porta atrás de si. Dirigiu-se à casa da srª Figg e tocou a campainha. A velha “bruxa” logo atendeu e pareceu bastante surpresa com a visita.
_ Ora, se não é o menino Potter. Bem que sua tia disse que você não era mais tão menino assim... – comentou a velha com a voz ainda fraca – Entre, meu garoto, vamos tomar um chá.
Harry entrou e aceitou a xícara que a mulher lhe oferecia. Era bem melhor do que todas as bebidas que ele havia experimentado. Um líquido azul e pouco quente, soltava uma fumaça engraçada, que ficava formando desenhos enquanto eles bebiam. Harry riu quando viu a fumaça formar uma vassoura com um garoto pendurado nela em uma perna só.
_ Olhe Harry, o fato de eu não ter poderes não significa que eu não saiba usar um livro de receitas – riu-se a senhora.
_ Srª Figg, eu queria saber... a Srª... faz tempo que está ferida?
_ Bem, há algumas semanas. Aposto que você quer saber o que fez isso, certo? As feridas no rosto foi um acidente com uma poção. Ás vezes eu sou um pouco estabanada e o caldeirão estourou na minha cara – contou a velha fazendo uma careta de dor ao se lembrar da sensação. Mas esse corte feio, que ainda dói e sangra de vez em quando, foi um daqueles monstros.
_ Um comensal? – perguntou Harry.
_ Não querido, foi um aliado, um lobisomem. Ele me atacou quando descobriu que eu era uma espiã. Todos agora estão armados. Eles possuem varinhas. Lobisomens, vampiros, gigantes e até dementadores.
_ Mas o que a Sr ª estava espionando?
_ Justamente o que eles faziam para atrair as criaturas para o lado negro. Eles oferecem poder, armas, varinhas e vítimas à vontade. Não existe mais isso de perseguir trouxas. Qualquer um serve de vítima. Até mesmo outros aliados... e a voz da “bruxa” quase sumiu ao dizer a última frase.
_ Como assim? Quero dizer, quais aliados já sofreram?
_ O menino Malfoy, Harry, eu o vi. Estava amarrado com cordas encantadas cheias de espinhos. E sempre que ele tentava pedir ajuda a corda apertava e as feridas reabriam sangrando. Aí, um elfo doméstico entrava na sala e passava no corpo do garoto uma poção que devia arder muito, porque o pobre garoto urrava de dor. Eu não entendo Harry, como podem torturar assim uma criança?
Não devia ser difícil – pensou Harry – eles já o torturaram antes, sem nenhuma pena. E Draco não havia cumprido as ordens de Voldemort.
_ O que eu sei – voltou a Srª Figg e tirou Harry de seus pensamentos – é que agora eles estão mais perigosos que antes. São muitas varinhas. A maioria é tomada de suas vítimas, mas algumas foram encomendadas. Algumas vêm de povoados antigos na Ásia e outras ainda vêm de tribos africanas. São varinhas muito potentes, apesar de não possuírem a beleza de uma Olivaras. Além disso há outras coisas.
_ Outras coisas? – perguntou Harry um pouco assustado. O que poderia ser pior que dementadores armados?
_ Os novos mestiços! Só de me lembrar, eu já fico arrepiada.
Então a velha Arabella contou-lhe sobre tudo o que havia espionado. O exército de Voldemort estava cada vez mais forte. Em um prédio abandonado ele criou uma espécie de laboratório, algo inimaginável no mundo bruxo. E começou a fazer criações. Misturou raças. Cruzou lobisomens com dementadores, reavivou gárgulas, convocou orcs. Criaturas há muito banidas do mundo estão retornando.
A cada palavra Harry sentia seu medo crescer. Sabia que precisava contar tudo a Rony e Hermione, mas como escrever uma carta com todas aquelas informações? Seria arriscado demais. E ainda havia outras coisas que Harry precisava saber.
_ Como foi... como foi que a Srª sobreviveu? Digo, se eles a descobriram, e estão tão fortes assim... eu não entendo...
_ Ah, meu jovem... Você sempre soube que eu trabalhava para Dumby, não é? Então, ele previu que alguma coisa pudesse acontecer. Então lançou um feitiço em mim para que eu ficasse muda, completamente muda, se alguém me descobrisse. Mas também contei com um pouco de sorte. O dia que me descobriram, o vigia era apenas uma cria. Um filhote de lobisomem-gigante. O garotinho estava bem sonolento, a lua não era favorável. Então ele me torturou um pouco e como viu que eu não conseguia falar, me expulsou dali.
Os dois ficaram em silêncio. Harry imaginou o quanto aquela senhora, desprovida de varinha ou de qualquer poder, era corajosa. Havia aceitado o serviço de espiã, colocando a vida em risco. Pela primeira vez ele a admirou. E ela deve ter percebido, pois sorriu para o garoto e finalmente perguntou:
_ Meu querido, será que posso lhe pedir um favor?
_ Claro, o que a Srª quiser – respondeu Harry deixando as especulações para mais tarde.
_ Eu preciso avisar Dumbledore sobre isso.
Harry não teve coragem de lhe contar a verdade. Ela estava muito fraca, já tinha a idade bem avançada e os ferimentos haviam fragilizado ainda mais sua saúde. Ele apenas respondeu:
_ Não se preocupe, Srª Figg, eu faço isso.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!