A volta pra casa



Deixar Hogwarts nunca parecera tão fácil para Harry quanto aquele dia. Logo após o funeral ele, Rony e Hermione se dirigiram à torre da Grifinória e pegaram seus malões. Instintivamente, cada um tentou memorizar um pedaço daquele lugar que se transformou na casa deles durante seis longos e difíceis anos.
Os três se encontraram no salão comunal e, como sempre acontece com grandes amigos, entenderam o que cada um estava sentindo. Há poucas horas eles haviam decidido não retornar à escola no ano seguinte. Iam terminar a busca pelos horcruxes e tentar, sem saber exatamente como, destruir Lord Voldemort. Mas agora era real, eles estavam ali, despedindo-se até mesmo das paredes que presenciaram divertidas partidas de xadrez bruxo, de snaps explosivos, as conversas escondidas, os romances e as intrigas.
Como um filme, as cenas de todos aqueles anos reavivaram na cabeça de Harry e ele sentiu uma verdadeira avalanche de sentimentos. Tudo o que ele havia reservado para si todos aqueles anos, a culpa pelas mortes de Cedrico e Sirius, a impotência forçada diante do ataque a Dumbledore e a necessária separação de Gina pareciam querer sair de seu peito. Então ele se sentou no chão, no meio do salão comunal, sem se importar com os outros alunos que passavam pra pegar seus pertences, e deixou o pranto correr.
Aqueles minutos ali, sentado, olhando para o nada, estavam lavando sua alma. Finalmente, depois de uns 10 minutos, ele levantou, pegou seu malão, e junto com Ron e Mione, dirigiu-se para a porta da escola.
Nenhum deles comentou a crise de choro. Esse era mais um daqueles momentos que as palavras são desnecessárias.
Na entrada, uma estranha movimentação chamou a atenção deles. Hagrid parecia um tanto estressado e a prof. Minerva tentava organizar os alunos.
_ Por aqui, por favor, cada aluno deve ficar dentro da delimitação de sua casa. – falava a professora com uma voz bem mais alta que a normal.
Só então eles perceberam que haviam correntes das cores de cada casa, como numa fila de banco dos trouxas.
_ Hei Hagrid – chamou Ron – o que está havendo por aqui?
_ Ah, isso? Ordens do Ministério, rapazes. O Expresso de Hogwarts foi interditado e os alunos serão mandados para suas casas através de chaves de portal. Um absurdo, se querem saber. O que eles querem de verdade é fazer com que a escola pareça desorganizada sem o Prof. Dumbledore. E eles avisaram há apenas meia hora. – respondeu o guarda-caça e saiu para ralhar com um aluno da Corvinal que insistia em ficar na fila da Lufa-lufa.
_ Eu sabia que Scrimgeour não ia deixar barato a minha recusa. – disse Harry.
_ É bem o tipo dele – ajuntou Rony – e do Percy também. Aposto que se tiver eleição para escolher um novo diretor para Hogwarts ele se candidata.
A conversa ia continuar, mas chegou a vez dos Weasley se reunirem e irem juntos, na mesma chave de portal. Hermione foi em seguida com mais duas alunas que moravam próximas a ela.
Quando chegou a vez de Harry, ele percebeu que iria sozinho. Antes de segurar a chave, perguntou a Hagrid onde ele iria parar. Mas Hagrid apenas piscou e disse:
_ Isso é um segredo muito bem guardado, Harry!
O garoto não teve tempo pra mais nada, porque o gigante o empurrou e ele caiu com a mãe em cima de sua chave. Logo sentiu aquela familiar sensação de ter seu umbigo puxado pra dentro de alguma coisa. Infelizmente, ele ainda não havia se acostumado a viajar em chaves e quando menos esperava caiu de peito no chão duro do seu quarto, na Rua dos Alfeneiros, provocando um enorme barulho.
Mal se levantou e a porta abriu com um chute de Tio Valter, que, para o espanto de Harry, segurava uma arma na mão. Ao avistar o garoto, Valter pareceu ficar ainda mais irritado e suas bochechas tomaram aquele tom roxo-avermelhado que Harry conhecia bem.
_ Muito bem seu anormal, pode ir se explicando – gritou.
_ Não tenho muito o que explicar, só que dessa vez não tive como vir de trem. Então me mandaram assim, por M-Á-G-I-C-A. – essa última palavra Harry disse pausadamente, só pelo prazer de irritar o tio. Afinal, o mundo mágico estava de cabeça pra baixo e aquele velho gordo e asqueroso ainda pedia explicações.
Sua vontade era contar que Dumbledore havia morrido, que vários lobisomens estavam à solta, que os dementadores mudaram de lado e que todos, especialmente trouxas, corriam perigo.
Mas aquele não era o momento. Não com o tio suando de ódio feito um porco e com uma arma na mão.
Tentando manter a calma, Harry perguntou:
_ Onde estão todos?
Valter respirou fundo e respondeu com mau-humor:
_ Duda viajou com os amiguinhos para a praia. E Petúnia foi visitar a Srª Figg. Parece que ela está meio adoentada.
A notícia da doença da Srª Figg deixou Harry intrigado. Procurando fingir um interesse comum, perguntou:
_ Essa não é aquela senhora que me olhava quando vocês queriam se livrar de mim?
Valter fingiu não notar a ironia na voz do sobrinho e respondeu que sim. Depois disso pairou um silêncio incômodo no quarto. E Tio Valter finalmente se retirou resmungando alguma coisa sobre como odiava aquele menino e que estava na hora do jornal.
Harry arrumou suas coisas com uma certa pressa. Seus planos, a princípio, eram descansar e fazer uma lista de possíveis horcruxes. Mas não sabia bem o motivo, a doença da Srª Figg fez com que seu sono passasse. Em sua mente veio a idéia de visitá-la.
Mas sua tia estava lá... Bem, pouco importa – pensou ele – ela vai ter um belo susto e a velha “bruxa” um bom motivo para rir.
Sem fazer barulho, Harry desceu as escadas, pegou uma maçã na fruteira e saiu pela porta dos fundos em direção a casa da doente.

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