II
As duas crianças sentaram-se comportadamente no sofá da sala. Foram necessários dois sicles, um para cada um, para que ficassem quietos e posassem para a foto. O tio Alphard tentava enquadrá-los com a câmera, achando muita graça na postura de ambos: o garotinho cruzara os braços e encostara-se ao canto do sofá, todo empertigado, como se não quisesse, de jeito nenhum, estar ali. Já a menininha simplesmente sorria, um esboço de desdém brincando nos lábios, e fazia pose, fingindo ser a mulher que um dia seria. Alphard achava muita graça nos sobrinhos serem tão parecidos fisicamente e, mesmo sendo crianças, terem personalidades tão diferentes. Se bem que fora juntos que resolveram que só posariam “mediante pagamento”. Alphard balançou a cabeça, rindo, e tirou as fotos. Ia para o álbum de família. Ás vezes Alphard perguntava-se a si mesmo se os Black eram realmente uma família. Então Sirius jogou uma das pesadas almofadas no rosto da prima. Bella estreitou os olhos e pulou para cima dele. Embolados, os dois caíram no chão e Alphard correu para separá-los, imaginando se a isso significava “sim” ou “não”.
O vidro do porta-retratos espatifou-se em mil pedacinhos brilhantes. Afastando-se da prateleira cheia de caixas, Sirius pegou a foto caída entre os cacos de vidro. Estava quase apagada, os retratados mal se mexiam! Viu a si próprio, com uns oito anos, abraçando Bellatrix. Ambos tinham os cabelos amassados e mantinham expressões mal-humoradas, como se tivessem sido obrigados a serem “bonzinhos”. Sirius amassou a fotografia. Olhou em volta, passando os dedos pelos cabelos compridos e mal penteados. Odiava aquela casa, sobretudo pelas lembranças que lhe traziam. Detestava essas memórias que planavam feito fantasmas pelos corredores. Queria esquecê-las, mas como a pesada camada de poeira que cobria o chão, elas não sumiriam tão fácil. Todos os objetos da casa, quadros e esculturas, pareciam impregnados de passado.
Várias telas vazias
Untouched sheets of clay...
Peças de barro intocadas…
Were laid spread out before me
Dispostas diante de mim
As her body once did.
Como o corpo dela um dia esteve
Já era alta madrugada quando os elfos domésticos varriam o que sobrara do baile na mansão Black. Não haviam mais nem convidados nem anfitriões. Até a iluminação exorbitante já se apagara. Somente os empregados... Varrendo o salão... E quem iria se importar? Sirius riu, estava sentado no topo da escadaria principal, os botões da camisa abertos, duas ou três garrafas daquele champanhe “acomodadas” ao seu lado. Fins de festa podiam ser bastante proveitosos... O garoto riu de novo. Um dos elfos se sobressaltou com o riso estridente do “patrãozinho”, mas continuou a trabalhar freneticamente.
- Hei?! – Sirius falou para o elfo – Nós somos só um bando de idiotas! Não precisam nos obedecer!
O elfo afastou-se rapidamente, levando algumas garrafas vazias consigo. O garoto riu e recostou-se no corrimão. A casa dos Black ficava extremamente agradável depois das duas da manhã e umas taças a mais. Sirius pegou a garrafa mais próxima e levou aos lábios. Haviam até fantasmas avermelhados flutuando no topo da escadaria....
Bellatrix, ainda com o vestido de tule vermelho sangue do baile, desceu o lance de degraus até o primo. Assim que ela se aproximou, ele afastou a garrafa de perto da boca.
- Você de novo Bellatrix? O que m...?
A garota largou-se no mesmo degrau que Sirius estava, pegou uma das garrafas e sorveu um longo gole, um longo suspiro saindo por suas narinas. Bellatrix pousou a garrafa, que virou. O vapor etílico do champanhe espalhando-se pelo ar enquanto o líquido infiltrava-se pelo carpete negro.
O carpete negro do hall do Ministério da Magia estava intacto, ninguém imaginaria que passaram por lá um grupo de adolescentes em uma insana missão de resgate e, logo depois, uma horda de comensais da Morte sanguinários. Sirius desceu os degraus até o saguão. Seus olhos cansados percorreram todo o ambiente. Não havia mesmo qualquer sinal de luta.
- Devem estar lá embaixo! – disse Lupin, apreensivo.
Todos andaram rapidamente em direção aos elevadores, dentro das dependências do ministério não era permitido aparatar. Tac-tac-tac. A perna de Alastor Moody ecoava secamente no assoalho. Estava tudo muito silenciosa, perigosamente silencioso. As engrenagens do elevador rangeram barulhentas. Tonks murmurou um palavrão. Podia ter qualquer coisa lá embaixo, se Snape falara a verdade. Dumbledore podia dizer o que quisesse, Sirius jamais confiaria naquele ranhoso. Com um baque, o elevador parou no saguão. Sirius não ouviu o que a voz calma e metálica dizia. Seu lado canino, repentinamente aguçado, farejara um cheiro diferente e conhecido no ar. Desejou estar completamente enganado, mas sabia que iria reconhecer aquele perfume até o fim de seus dias.
Bella e Sirius entraram, pé-ante-pé, no quarto da mãe do garoto. Naquela época tinham pouco mais que dez anos e a mansão Black ficava cada vez mais entediante e apertada, ainda mais diante à premissa de irem para Hogwarts – tantas histórias que lhes contavam sobre lá... – Mas de alguma forma tinham que gastar o tempo de espera e entrar em um cômodo da casa que lhes era proibido parecia ser uma ótima idéia – talvez bem melhor que ter deixado Ciça e Régulo vigiando no corredor.
Era um quarto sombrio, quase tão sombrio quanto a própria dona. As pesadas cortinas de veludo verde escuro estavam cerradas, um tímido halo de luz branca emoldurando a janela ampla. Todos os móveis eram negros e tão pesados quanto as cortinas, todas as maçanetas, feitas de níquel, mas banhadas em prata, tinham a forma de cães ferozes com as mandíbulas arreganhadas, dentes afiados à mostra. Até o ar parecia mais pesado, mais rarefeito. Bella deu um passo em direção ao primo, agarrando com força o pulso dele. De certa forma, era como estar na casa assombrada de um parque de diversões. Sirius murmurou para a garota:
- Está com medo? Quer ir embora?
Bella largou o pulso do primo e respondeu:
- Medo, eu? Eu não tenho medo de nada, entendeu?
Sirius sorriu cinicamente, o quão cínico um garoto de onze anos poderia ser.
- Então, você não vai ter medo se tiver uma criatura debaixo da cama?
Bella revirou os olhos:
- Não tem nada debaixo da cama de sua mãe, Sirius!
- Então eu vou lá embaixo olhar, ‘tá?
A garota deu de ombros e caminhou em direção à penteadeira cheia de frascos e caixinhas de madeira. Pelo enorme espelho da tia, viu Sirius mergulhar para baixo da cama, simulando um luta silenciosa com um inimigo invisível. Ela revirou os olhos novamente. Meninos... Começou, então, uma análise atenta a tudo que havia sobre a penteadeira: jóias caras, maquilagem, bibelôs de porcelana feissímos, perfumes de luxo, escova, pente... Abriu uma por uma todas as gavetas. Na última havia uma caixinha retangular menor que as outras, pegou e foi sentar-se na beirada da cama. – A voz de Sirius, bastante abafada, disse algo que soava como “sai dai!” – Era uma caixinha muito simples, mas estava selada e isso atiçou bastante a curiosidade da menina – Alguma coisa bateu no estrato da cama, provocando um estalo seco – Bella passou os dedos pelo tampo da caixa, tinha um entalhe de marfim, parecia uma fada com asas de libélula, algum tipo de tranca estilizada – Sirius chutou o estrato pela segunda vez – Ignorando-o, a garota levantou-se e foi até a penteadeira procurar entre os porta-jóias, sabia que tinha visto... – O estrato rangeu perigosamente. Sirius parou de chutá-lo – Com um sorriso de triunfo, a garota levou a pequena chave, também de marfim, até uma fenda no entalhe. Encaixava perfeitamente! – Como Sirius estava quieto! – Então os pensamentos da garota voaram até Ciça e Régulo, estariam eles realmente vigiando? Se a tia Cassiopéia chegasse de repente... Bellatrix sacudiu a cabeça e voltou a atenção para a caixinha segura em sua mão. Era mesmo a chave certa, a tampa soltou com um estalo. O rosto de Sirius apareceu por entre a barra de tecido em torno da cama.
- O que você...?
- Shiu! – fez Bellatrix, indo até o primo e sentando no chão, ao lado dele. Então ela pôs a caixinha aberta entre os dois.
Dentro dela havia um frasquinho de vidro abaulado, um pouco menor que um pomo de ouro e com um borrifador coberto de minúsculas contas brancas. Muito solene, Bella pegou-o e agitou-o levemente. O líquido esverdeado contido no interior do vidro tremeu, reluzindo sobre a iluminação fraca.
- Será que é perfume? – ela murmurou, girando o frasco nos dedos.
- Duvido! Deve ser veneno... Passa aí para ver o que acontece!
Bella estreitou os olhos para o primo.
- E se for mesmo veneno?
- Não faltarei ao seu enterro!
A garota contraiu ainda mais as feições, então espirrou uma boa dose do líquido no primo. Sirius começou a tossir e se agitar, como se estivesse engasgando. Rolou para debaixo da cama, chutando o estrato.
- Sirius? – Bella murmurou, querendo gritar. E se for mesmo veneno? entrou também debaixo da cama, chamando novamente o primo, um breu sem fim impedindo-a de enxergá-lo.
Alguma coisa pesada caiu sobre as costas dela, prensando-a no chão. Sirius matava-se em risadinhas silenciosas.
- Sai de cima de mim, seu besta! – Bella grunhiu, o coração ainda disparado por causa do susto. Ainda rindo, Sirius escorregou para o lado da prima.
- Isso foi por ter jogado perfume de menina em mim!
- Perfume? Tem certeza? – ela perguntou, agora conseguindo divisar o primo na escuridão. Até que não era tão ruim lá embaixo, na verdade, talvez por causa do carpete felpudo, era bem quentinho e confortável.
- Estou vivo, não estou? – pegou o frasco das mãos dela – Dá aqui, eu espirro em você!
Como se estivesse em um ritual muito especial, Bellatrix curvou lentamente a cabeça sobre o ombro e afastou a longa trança negra, deixando o pescoço livre para que o primo borrifasse o perfume.
Ela estremeceu quando o líquido gelado atingiu sua pele, mas logo foi substituído por uma sensação estranha, o cheiro de almíscar e ervas desconhecidas invadindo suas narinas. Olhou para Sirius, ele estava sorrindo:
- Você gostou, né? Acho que minha mãe nunca usou... E, sabe?
- O que?
- Esse frasco é muito pequeno, aposto que esse perfume não vai sair nunca!
- Que bobagem... – uma lufada de luz os atingiu. Com uma expressão irada, os olhos saltados de Cassiopéia Black iam do filho para a sobrinha.
Com um longo suspiro Sirius guardou o vidrinho vazio na “Cápsula do Tempo” de Andrômeda. Ele não estava de todo errado, Bellatrix jamais precisou de nenhum outro perfume. Logo em seguida, lembrou-se de sua mãe, do olhar irado que ela dirigira ao filho e à sobrinha. Naquela época Sirius achara que fora por terem invadido o quarto da matriarca os três dias de castigo dos quais Bella cumpriu um e ele cinco. Muito tempo depois é que percebera... Ela jamais sequer abrira o perfume! Talvez estivesse guardando a séculos, talvez antes até de se casar! Se fosse isso... Todo aquele rancor, o ódio desmotivado que nutria pelo primogênito... Quem sabe se a mesma pessoa que lhe dera o perfume, também não lhe dera um filho?
Se fosse isso, pensou Sirius, se fosse realmente isso... Até poderia entendê-la um dia, quem sabe? Mas nunca a perdoaria por tentar fazê-lo pagar pelos erros que achava ter cometido. Os mesmos erros que o afastaram de Bellatrix. Ouvira falar que há muito tempo os Black foram amaldiçoados a jamais poderem amar... A mansão imunda fazia-lhe lembrar-se disso, o tempo todo, a cada segundo, num encadeamento sinistro de reminiscências, uma tortura mental bem pior que as celas abertas de Azkaban. O desejo de deixar a alma ir-se cada vez mais forte...
Como se lesse os pensamentos do dono Bicuço, o hipogrifo, pateou o chão impacientemente. Sirius sorriu para o animal. Estava certo. Quantas coisas a serem feitas... Uma batalha de proporções épicas estava por vir e havia um afilhado que precisava muito do padrinho.
Puxou novamente a caixa de papelão. No meio das fotos que Andie guardara havia uma dos jardins de Hogwarts. Na foto Tiago prostara-se próximo de uma Lily distraída e depois contara a todos que fora a foto de “estréia” do mais novo “casal do sexto ano”. Tiago ganhou uma semana na ala hospitalar por conta disso, e Lílian a primeira detenção, por ter azarado um aluno “indefeso”. Atrás da carta, Sirius reconheceu a própria letra: “Você consegue, irmão – jun./77” É, você consegue...
Sem bater na porta o velho elfo doméstico Monstro, adentrou pelo quarto que fora de Cassiopéia fazendo uma profunda reverência. “Severus Snape deseja falar com o patrão.” Anunciou e saiu depressa, resmungando impropérios. Tão depressa quanto a criatura, Sirius levantou-se, atravessou o corredor e desceu as escadas. A súbita “visita” de Snape lhe intrigara tanto que ignorou a lembrança que os degraus lhe traziam...
Eu fiquei encarando Bellatrix por um bom tempo. Encarando não, pois os olhos dela, contornados pela maquiagem borrada, estavam muito distantes dos meus, fixos na porta de madeira negra por onde os elfos saiam, carregando os restos da festa.
-Você... Está bem? Bella? – perguntei, ciente que era uma pergunta estúpida.
Bella virou lentamente o rosto para mim, os cabelos negros em desalinho caindo-lhe sobre os olhos. Era óbvio que não estava nada bem.
- Você acha... – ela começou a dizer, a voz um tanto vacilante. Não, Bellatrix jamais vacilava, talvez tivéssemos só bebido demais. – que estou errada?
- Errada? Quer dizer...?
Procurei os olhos de minha prima, mas a todo custo ela me evitava. Sabíamos o que podia acontecer e que não seria culpa de bebida alguma, por mais que insistisse nisso.
- Errada, sabe? Em relação aos Black e a tudo o mais! – ela agitou os braços, num gesto de abrangência. – E se for um erro apoiar o...
- Convicções abaladas, prima? – interrompi, meio maldoso. Ela não podia estar dizendo...! Não, só podia ser o champanhe. É claro que era...
Bellatrix estreitou os olhos, me encarando de repente, como se já não tivesse mais importância:
- Não. Só que... – ela afastou uma mecha negra caída por entre os olhos e esticou o braço para erguer a garrafa emborcada sob seus pés. Tomou mais um gole do que restara, então passou para mim. Bebi também. Aproximei-me, ela se afastou. Nossa velha mania de dançar com os mínimos gestos. Bella mordiscou os lábios finos e continuou a falar – Por que você tem que... – a voz dela foi morrendo enquanto pronunciava as últimas palavras – Me fazer ter duvidas?
Os cinco horizontes
Revolved around her soul
Giraram ao redor de sua alma
As the earth to the sun
Como a Terra gira ao redor do sol
Em um segundo, uma palavra... No segundo seguinte Bellatrix estava bebendo champanhe dos lábios de Sirius. Simplesmente não sabiam quem começara, e nem quando haveriam de parar. Bellatrix sentiu o tule vermelho escorregar por seu corpo, as caricías do primo e o álcool inebriando seus pensamentos. Sirius ainda beijava mal e muito, muito melhor. Passionalidade...? Ela riu-se, as mãos tateando as costas do primo, trazendo-o para cima de si.
De qualquer forma, eu apreciava amar minha prima, minha pátria, linda, pele branca, cabelo negro, tule vermelho. Mesmo sendo única e última (malditas palavras) Era fatal: eu amava-a e a agradecia por deixar-me amá-la. Ela também me agredecia, à maneira dela, os olhos cerrados e uma bolinha de cuspe no canto da boca...
[…]
- Você sabe que isso não foi nada certo, não sabe Sirius?
- Sei... Que foi você que apareceu aqui – Sirius acariciou os cabelos da garota apoiada ao peito dele – Me procurando...
- Eu não estava te procurando... Você é que estava em meu caminho.
- É engraçado como isso sempre acontece, não é? – ele ironizou, enrolando uma mecha negra entre os dedos. Desde pequeno sempre achara o cabelo de Bellatrix fascinante
- Talvez seja – os dedos brancos de Bella percorriam os braços fortes do primo. Conversar com ele era sempre tão estranho.
- Podíamos fazer assim, então: da próxima vez que eu entrar em seu caminho, você acaba comigo.
- Fácil assim? – ela procurou os olhos dele, um sorriso malicioso brincando nos lábios.
- Nem tanto. – ele sorriu de volta e a beijou tenramente.
Agora o ar que provei e respirei
Has taken a turn
Mudou de rumo
Oh and all I taught her was everything
Tudo que a ensinei, era tudo
Oh I know she gave me all that she wore
Eu sei, ela me entregou tudo o que podia
As portas do elevador do ministério da Magia abriram-se ruidosamente, exibindo o corredor escuro. Mais uma vez, Sirius aspirou o ar, farejando. Não havia errado, ela realmente estava lá. Abanou a cabeça. Não queria pensar nisso. Agora o importante era garantir que seu afilhado e os amigos dele saíssem vivos do Ministério. Tentou concentrar-se nisso, ao menos estava longe da maldita casa.
- Sirius? Tudo certo? – a filha de Andrômeda encarava o primo, ligeiramente preocupada. Ele parecia estranho desde que saíram da mansão Black.
- Por aqui! – disse Olho-Tonto, os dois olhos, o normal e o mágico, fixos na porta ao fundo do corredor. Sirius deu de ombros para Tonks, a ligeira sensação que já a ouvira fazer essa pergunta, sacou a varinha e andou em direção a Moody.
E agora minhas amargas mãos
Chafe beneath the clouds
Arranham-se tentando alcançar as nuvens
Of what was everything?
O que era tudo?
Andrômeda andava apressada pelo corredor do elfos decapitados “Coisa nojenta...” quando trombou em alguém que vinha em sentido contrário.
- Presta atenção... – seus olhos recaíram sobre o primo mais novo – Sirius?! ,br>
Ele bateu levemente no ombro da prima.
- Desculpa Andie, eu...
- Você está indo embora? – ela perguntou, os olhos fixos no malão que o primo vinha arrastando – Mas agora é o casamento da Bel...
- É, é, eu sei. Eu não tenho mais nada para fazer aqui.
- Sei – Andie disse. Ela também pensava nisso, desde que conhecera Ted Tonks. Voltou a observar o primo, ele estava agitado, tenso – Tudo certo?
- É clar... – ele começou, então parou. Já que ia embora devia explicações a pelo menos uma pessoa – Ah, na verdade, não.
A moça sorriu, então sentou em um banco de madeira nobre encostado na parede do corredor.
- Tente contar. Depois eu vejo se “deixo” você ir embora.
- Na verdade... Aconteceu agora pouco...
- O que está fazendo aqui? – entre a raiva e a incredulidade, Bellatrix encarava o rapaz que aparecera de repente na sacada da biblioteca. Nem no dia do seu casamento podia ter uns segundos de sossego?
- Bonito vestido de noiva – Sirius comentou, observando atentamente a prima. Ela ficava muito bem vestida com longas sedas roxas – Mas não deveria ser branco?
- Se você veio para dizer isso...
- Na verdade, não. Vim te perguntar uma coisa.
- Fale logo e vá embora. – ela disse, secamente.
- Eu quero saber por que você está me ignorando desde que nós...
Bella interrompeu o primo, ainda encarando-o.
- Quer mesmo saber? – ela perguntou, a mão direita pousada sobre a manga comprida do braço esquerdo do vestido. – Lembra que no dia seguinte você foi visitar seus amiguinhos?
- Bella?
- Pois bem... Eu fui fazer outras visitas. – desnudou o braço, mostrando uma mancha escura e inchada um palmo acima do pulso. Sirius observou atentamente, uma tatuagem, caveira e serpente.
Sirius abriu ligeiramente os lábios. Encarou Bella, um brilho desesperado no olhar, como se esperasse que ela desmentisse o significado do que estava vendo. Mas ela simplesmente sorriu, deu a ele seu último sorriso verdadeiro, então ficou novamente séria e cobriu a Marca. O vento soprou por entre seus cabelos negros, como se a noite estivesse escondida entre eles, começou a escurecer.
- Sabe Bella... – ele disse, enquanto ela deixava a sacada em passos lentos, quase do mesmo jeito que fizeram na noite do baile – da próxima vez que eu te encontrar... – ela atravessou a porta, em direção à sóbria cerimônia marcada desde que era somente uma criança – Seremos inimigos.
Todas as imagens
All been washed in black,
Banhadas em negro
Tattooed everything
Tatoando tudo
“Logo acima mais duas portas abriram com um estrondo, e mais cinco pessoas entraram na sala: Sirius, Lupin, Moody, Tonks e Kigsley.
Malfoy virou, e levantou sua varinha, mas Tonks já havia lançado um forte feitiço na direção dele. [...] Os Comensais da Morte estavam totalmente detraídos por causa da aparição dos membros da Ordem, que agora lançavam feitiços para cima deles, descendo muito rápido pela câmara.” [OdF]
Sirius procurou o afilhado com os olhos. Harry estava na escadaria, do outro lado do salão, junto de um garoto gordinho. Sirius respirou aliviado, o afilhado estava bem. Quando Snape contara que Harry e os outros tinham ido ao ministério... Melhor nem pensar. Então um feitiço passou a centímetros de seu ouvido esquerdo.
- Desgraçado! – Sirius investiu contra o comensal mais próximo. Era o que estava querendo há meses... Uma boa briga.
Esses pensamentos confusos que giram através da minha mente
I'm spinning, oh, I'm spinning
Girando, girando…
How quick the sun can drop away
Tão rápido quanto o sol pode cair
- Ali! – os aurores correram em direção a esquina que o rapaz acabara de dobrar. Tinham que alcançá-lo... O assassino Black! Além de ter entregue o esconderijo dos amigos ao se chefe, o tal Lord das Trevas, tinha acabado de explodir um rua inteira e junto com ela, doze trouxas e um bruxo, também seu amigo de escola.
“Um ato horrível” era o que toda a comunidade bruxa dizia, mas também... Alguém já conhecera algum Black que não fosse desencaminhado? Aquela história do rapaz ter sido grifinório não enganava ninguém. Imagine! Delatar James e Lílian, justo agora que o filho deles nascera! E depois o Petigreew! Pobre garoto... A mãe dele estava desconsolada! Como se enganavam...
Sirius arquejou, não agüentava mais fugir. Se sentia estúpido por ter deixado Pedro fugir. Aquele rato maldito! Como nunca desconfiara? Arquejou mais uma vez, tentando reunir forças para aparatar, ou pelo menos, transformar-se em cachorro.
Podia ouvir o aurores se aproximando. Por que não se entregava de uma vez? Resistência não era o comportamento de um inocente. Apertou a varinha com mais força, até sentir os nós dos dedos doerem.
Blacks não se entregam.
Os aurores fecharam a rua. Não conseguia pensar nenhum lugar para fugir. Encurralado.
Blacks não se entregam!!!
Por que tinha que lembrar da maldita família e seus lemas estúpidos? Por que tinha que concordar?! Por que sabia que ia se arrepender gravemente de tudo isso?
- Black, você está cercado! Jogue a varinha...
Não mesmo...
Agora minhas amargas mãos
Cradle broken glass
Seguram vidros quebrados
Of what was everything?
O que era tudo?
Profeta Diário............................................................................................Agosto de 1981
O suspeito comensal da Morte, Sirius Black, 22 anos, foi condenado a prisão perpétua em Azkaban por alta-traição e assassinato. De acordo com seus captores, depois de uma fuga desesperada, foram necessários cinco aurores para prender o rapaz, que parecia fora de si e resistia bravamente ás tentativas de prisão. Depois de preso, o rapaz afirmou que era “inocente e que tomaria Veritasserium se fosse necessário” Mesmo assim recusa admitir envolvimento com o recente sumiço de Frank e Alice Longbottom, conhecido casal de aurores.
“Harry viu Sirius lutando com um Comensal a uns dez metros; Kingsley estava lutando com dois ao mesmo tempo; Tonks continuava no meio da escadaria, lançando feitiços em Bellatrix” [OdF]
Estávamos quase conseguindo a profecia... Quase! – era o que Bellatrix pensava, quando, raiva latejando em seus ouvidos, aqueles outros bruxos invadiram o deptº de Mistérios. Espumando, correu para lutar com o bruxo mais próximo. Parecia uma garota, um pouco mais velha que o bebezinho Potter e os outros nojentinhos.
Andrômeda? Não, impossível! Muito parecida... De qualquer forma ia acabar com ela!
Sempre resolvera seus problemas sozinha e de uma mesma maneira... Acabando com eles!
Todas as imagens
All been washed in black,
Banhadas em negro
Tattooed everything
Tatoando tudo
Bellatrix afastou-se muito rápido da porta branca da biblioteca. Estava com raiva de Sirius. Por que ele insistia em algo que... Sequer existira! Bella tropeçou no carpete e apoiou-se no corrimão. Mas agora estava feito. Ele vira a marca, se daria por vencido, iria embora. Não quero vê-lo nunca mais. Nunca... Tempo demais para se ter certeza... Suspirou e desceu as escadas. Lestrange a esperava, um falso sorriso galante em seu rosto.
- Não sabe como ansiava por esse dia, Bellatrix...
A marca no antebraço esquerdo da garota latejou dolorosamente. Um sorriso irônico, mortiço, esboçou-se em seus lábios.
Blacks não se entregam... Sobem na forca por conta própria.
Todo amor tornou-se mal
Turned my world to black
Tornou meu mundo negro
Tattooed all I see, all that I am, all I'll be...
Tatoando tudo que vejo, que sou, que serei…
NtA: Gente! Agradeço muito seus comentários, são muito incentivadores, sabe? Dá gosto de escrever sabendo q vcs curtem essa caca q eu faço! Muito obrigada mesmo... morgana, Eleonora, Nate, Mah, Carol, Lisi... desculpa se não citei todo mundo1 Muito obrigada! Hoje ainda terá o desenlance dessa tragédia romântica! tchan, tchan, tchan! *velha mania de postar em doses homeopáticas - Serah q jah matei alguém?*
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