O Segredo do Primeiro Ministro
Era quase meia noite. O Primeiro Ministro continuava em seu gabinete virado de costas para o quadro daquele homenzinho bufonídeo, na esperança de que ele nunca mais o perturbasse. Estava arrumando os papéis que estavam em cima da mesa, com sua mente em um lugar completamente diferente. A névoa que comprimia as vidraças do gabinete estava cada vez maior, o que só aumentava a apreensão do Primeiro Ministro. Ele sabia que todo aquele frio em pleno verão tinha relação com o “Outro Ministro”, como ele sempre costumava dizer. Nem mesmo as chamas crepitantes da lareira conseguiam esquentar a pequena sala. O Primeiro Ministro ainda não podia acreditar que todos aqueles desastres, todas aquelas mortes, foram causados por bruxos, e que o seu adversário ficava cada vez mais feliz com todos os desastres que prejudicavam o Primeiro Ministro. Foi quando todo o fogo, que antes era uma mistura de vermelho e amarelo, tornou-se verde-esmeralda. O pequeno gabinete do Primeiro Ministro explodiu em chamas verdes e cinzas que empoeiraram todo o recinto. De dentro da lareira saiu Rufo Scrimgeour, Ministro da Magia, com seu mancar gracioso e sua aparência que lembrava um velho leão. Scrimgeour parecia apreensivo, mancando de um lado para o outro do gabinete, espalhando cinzas por tudo o tapete persa do gabinete do Primeiro Ministro:
- Vocês geralmente costumavam avisar quando chegavam – disse o Primeiro Ministro, com o rosto púrpura. Seu coração estava batendo mais acelerado do que já batera a vida toda. Sua testa estava suando frio e seus olhos estavam fora das órbitas.
- Dumbledore morreu... O único que Você-Sabe-Quem já temeu... Morto... O que será de nós agora? – balbuciava Scrimgeour, mancando de um lado para o outro da sala.
- O que? Quem morreu? – disse o Primeiro Ministro, mais calmo, virando a cabeça de um lado para o outro, para poder acompanhar os passos de Scrimgeour.
- Sente-se. Eu lhe contarei tudo.
O Primeiro Ministro ficou ofendido. Primeiro Fudge, agora ele. Será que todos os “Outros Ministros” mandam os donos sentarem em seus recintos? Aquilo, pelo o menos para ele, era uma ofensa. Mas como não quis discutir, sentou-se no seu lugar. Scrimgeour fez um gesto com a varinha e fez surgir duas taças cheias de um líquido vermelho-sangue. O Primeiro Ministro já estava acostumado com todos aqueles truques que não se surpreendeu:
- Beba. Vai lhe acalmar – disse Scrimgeour
- Me acalmar? Mas eu não estou nervoso. Quem tem que se acalmar é você. Diga-me o que está acontecendo, por favor – disse o Primeiro Ministro, num tom um pouco apreensivo.
- O que? Você não está nervoso? Mas o senhor deveria. Dumbledore foi morto. O único a quem Você-Sabe-Quem sempre temeu. Nós estamos perdidos.
- Dumble o quê? Do que você está falando?
- Dumbledore, diretor da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, líder da Suprema Corte de Bruxos da Inglaterra. Morto. Por um dos professores. O que será da comunidade bruxa depois disso?
- O diretor da SUA escola? Morto por um professor? Mas como?
- É o que nós estamos nos perguntando até hoje.
Rufo Scrimgeour estava suando frio, tanto quando o Primeiro Ministro estava quando Scrimgeour chegou. Ele bebeu o licor na sua taça em um gole só, sentou-se na cadeira do gabinete e contou tudo o que ocorrera no ano anterior. Sobre como Dumbledore havia sido assassinado por Snape, que se revelou Comensal da Morte.
- Ele era um antigo seguidor de Você-Sabe-Quem. Quando Você-Sabe-Quem caiu, Snape foi para Hogwarts e jurou que não era mais um Comensal. Mas pelo visto todos nós nos enganamos. Snape se mostrou fiel à seu antigo mestre – dizia Scrimgeour, com sua têmpora latejando, em uma mistura de raiva e perplexidade. – Toda a comunidade bruxa está chocada. Não sabemos mais o que fazer.
- Ora, você não é o Ministro da Magia? Então, vá e acabe com ele! – dizia o Primeiro Ministro, com um certo sarcasmo na voz.
- Você ainda caçoa de nós? Não vê que com a morte de Dumbledore, toda a comunidade trouxa, não-bruxa, está perdida tanto quanto a nossa? Você-Sabe-Quem não diferencia bruxos de não-bruxos. Todos tem que estar em máximo alerta.
- O que você quer que eu faça? Dizer para os meus eleitores que tem um bruxo que ninguém pode ao menos pronunciar o nome matando gente a torto e direito?
- Claro que não, Primeiro Ministro. Eu ainda não sei o que fazer. Só tenho que dizer que vocês devem ter cuidado. Muito cuidado. Nossos melhores aurores estão entre os trouxas para lhes garantir segurança. Será usada mágica quando for preciso, mas não se preocupe – acrescentou, quando viu os olhos do Primeiro Ministro se arregalarem – O Hospital St. Mungus para Doenças e Acidentes Mágicos tem um batalhão de bruxos especializados em troca de memória. Ninguém se lembrará se ver alguma coisa. Toda a segurança em lugares públicos foi triplicada, todos da comunidade bruxa estão em alerta.
- Mas todos esses procedimentos, todos esses cuidados, por um homem? – disse o Primeiro Ministro – Um assassino?
- Um assassino sim. Um homem não – disse Scrimgeour, apreensivo – Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado deixou de ser um homem há muito tempo. Ele agora é um monstro, um monstro capaz de tudo para chamar atenção. Ninguém sabe exatamente porque ele causa todas essas mortes, toda essa dor, tudo esse sofrimento.
- E essa tal Escola de Bruxaria? Uagarts, não é esse o nome?
- Hogwarts. Sim, sim, sim. A escola não pode fechar. Todos os alunos devem aprender feitiços mais poderosos, feitiços defensivos, agora que ele voltou.
- Mas... mas – gaguejou o Primeiro Ministro – o diretor foi morto! Como vocês vão conseguir comandar a Escola depois disso?
- Hogwarts vai ter como diretora a Profª Minerva McGonnagal, que era a nossa diretora substituta. Sei que ela é a pessoa certa para o cargo em tempos sombrios como esse.
- Eu lembro que o Fudge falou sobre um tal de Potter, que sobreviveu quando o tal Vol...
- Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado! – disse Scrimgeour rápido, antes que o Primeiro Ministro terminasse de pronunciar o nome de Voldemort.
- Não sei qual o problema de dizer esse nome, mas se você quer assim. O tal do Potter não conseguiu sobreviver à um ataque d’Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado?
- Sim, sim, de fato ele conseguiu. Mas ele não quer nem sequer voltar ao colégio. Estamos fazendo de tudo para que o jovem Harry Potter retorne à Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Não sabemos muito bem como “o Eleito” conseguiu sobreviver à um ataque mortal de Você-Sabe-Quem.
- “o Eleito”? – questionou o Primeiro Ministro, com um que de deboche na voz
- Foi o nome que o Profeta Diário deu para o jovem Potter. Dizem que, de tantas vezes que Harry Potter e Você-Sabe-Quem se encontraram, o rapaz é o eleito para derrotar o bruxo das trevas. Uma besteira em minha opinião. Corujas do Ministério estão indo em montes à casa do jovem Potter, tentando persuadi-lo a voltar para Hogwarts. Mas ele está relutante. Cartas respostas com apenas uma palavra, não, chegam para o Ministério. Mas é preciso. Ele precisa concluir seu curso. Tudo o que ele aprender é vital para ajudar o nosso mundo a derrotar essa ameaça. Aliás, ele não é o único. Muitos pais estão proibindo seus filhos a voltarem para a Hogwarts. O medo está injetado neles como uma droga.
Scrimgeour em nada se parecia com aquele homem centrado e decidido que o Primeiro Ministro conhecera no ano anterior. Ele tinha uma aparência de cansaço, como tivesse ficado muitas noites em claro. Sua juba estava despenteada e desbotada, seus óculos estavam tortos.
- Mas... – começou o Primeiro Ministro – Afinal de contas... O que eu tenho a ver com isso?
- Nós temos que fazer de tudo para que o jovem Potter retorne à Hogwarts. Por isso preciso da sua ajuda. Vamos fazer um acordo.
A sobrancelha do Primeiro Ministro se levantou, numa mistura de incredulidade e dúvida.
- Acordo? – perguntou o Primeiro Ministro – Mas que acordo?
- Como o jovem Potter está relutante para voltar para Hogwarts, nós necessitamos da sua ajuda. Você precisa persuadir Harry Potter a voltar para a Escola.
- Mas eu... Como?
- Eu quero que você faça uma visita à Rua dos Alfeneiros, nº. 4, Little Whiging, Surrey. – disse Scrimgeour – é onde o jovem Potter mora, com seus tios, Válter e Petúnia Dursley, e seu primo, Dudley Dursley. Achamos que se você tentar falar com ele, talvez consiga fazê-lo voltar à Hogwarts.
- Mas, como eu vou explicar que um Ministro dos Bruxos saiu de dentro do fogo da minha lareira e me pediu para fazer ele voltar para Uagarts, ou seja lá que nome tenha essa escola.
- Não, não, não, o jovem Potter não pode saber que eu estou envolvido nisso! Se ele descobrir, aí sim que ele não volta para Hogwarts.
- Então o que eu vou dizer? Como posso dizer que sei sobre seu mundo?
- Fale que o Primeiro Ministro e o Ministro da Magia têm contato sim, mas apenas não diga que eu o quero de volta em Hogwarts. Harry Potter precisa concluir o seu curso em Hogwarts, esse já é seu último ano. Ele precisa aprender os contra-feitiços mais fortes, as transfigurações, as poções... – disse Scrimgeour, absorto em seus próprios pensamentos – Não podemos ficar parados vendo gente como Kinglsley Shacklebolt morrer.
- O que? – disse o Primeiro Ministro - Kinglsley Shacklebolt, morto?
- Uma perda terrível – começou o Ministro da Magia – morto dentro da sua casa. Três Comensais da Morte o torturaram e o mataram. Havia sangue por todo o lado.
- Mas Kinglsley Shacklebolt não era um bruxo? E dos bons?
- Sim, ele era, mas parece que Lúcio Malfoy é mais poderoso que ele. Lúcio conseguiu escapar de Azkaban na semana passada. Está tudo mais difícil, agora que os Dementadores passaram para o outro lado. Os aurores não conseguem dar conta de tudo. Já foram quatro fugas em menos de três semanas. A população não pode saber disso, claro, mas nós estamos fazendo o possível e o impossível para conseguirmos conter todos aqueles criminosos na cadeia.
- Mas o que vai ser dos meus eleitores com tantas fugas? Você disse que o tal Lorde não sei das quantas não diferencia bruxos de não-bruxos?
- Eu disse, mas como eu também disse, os nossos melhores aurores estão à paisana protegendo tudo e todos à sua volta. Não se preocupe Ministro, a segurança de vocês está garantida.
- Não, não está! Se bruxos como Kinglsley Shacklebolt estão morrendo, o que será de nós? É tudo culpa sua, é tudo culpa de vocês, seus bruxos nojentos, se vocês não existissem nada disso estaria acontecendo! Seu sangue-ruim!
- Espere aí – disse Scrimgeour – Do que você me chamou?
- Sangue-ruim! Escória! Vergonha do sangue!
Scrimgeour fez um movimento tão rápido com a varinha que o Primeiro Ministro sequer percebeu.
- Estupefaça! – um raio de luz vermelha ofuscante saiu da varinha de Scrimgeour e atingiu o Primeiro Ministro no peito, que voou dois metros para trás da mesa do seu gabinete, desacordado.
- O que aconteceu? – perguntou o homemzinho do quadro, que estava olhando a conversa entre Scrimgeour e o Primeiro Ministro.
- Chame os médicos do St. Mungus imediatamente. Temo que esse homem esteja sendo controlado pela maldição Imperius. Precisamos saber a quanto tempo ele passa informações sobre o mundo trouxa para Você-Sabe-Quem. Não perca tempo, vamos! – acrescentou, quando viu que aquele homenzinho continuava congelado em seu quadro. Ele saiu pulando de quadro em quadro até desaparecer da vista de Scrimgeour.
Passado algum tempo, três curandeiros do Hospital St. Mungus aparataram em frente ao Ministro da Magia.
- O que houve? – perguntou o mais velho deles, que tinha uma máscara médica no rosto.
- Esse homem, Primeiro Ministro dos Trouxas, estava sendo controlado pela Maldição Imperius. Precisamos saber a quanto tempo. Temo que nossos problemas possam ser ainda maiores do que já são.
Os três homens, segurando cada um uma parte do corpo do Primeiro Ministro desapareceram em um ricochete.
- O que será dos trouxas agora, Ministro? – perguntou o quadro do homem bufonídeo.
- Não sei, meu caro, realmente não sei.
Dizendo isso, Scrimgeour pegou um pó do bolso do seu casaco de pele e o jogou na lareira. As chamas se tornaram verde-esmeralda novamente.
- Rua dos Alfeneiros, nº. 4, Little Whiging, Surrey.
E dizendo isso, o Ministro da Magia desapareceu em meio às chamas.
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