Canela, Gengibre, Chocolate...
Capítulo 1: Canela, Gengibre, Chocolate e Rum.
4 de Julho de 2000.
Aquela estava sendo uma noite bastante peculiar.
Primeiro, depois de meses o evitando com receio de esbarrarem em algum aluno, finalmente podiam ir ao Três Vassouras. Mas o bar não estava vazio como esperavam. Pelo contrário: parecia que metade da população bruxa da Inglaterra resolvera ir até lá naquela noite. Apinhado de gente, o lugar estava longe de ser ideal para alguém tão reservado quanto Snape. E o que era pior: alguém tão reservado que vinha assistindo, sem poder fazer nada, seu auto-controle ficar mais e mais fraco a cada dia. Snape, então, amaldiçoava o bar lotado que o obrigava a permanecer sentado ao lado dela, muito quieto, fingindo a velha indiferença de sempre quando, na verdade, o que mais queria era ir com ela para algum lugar mais calmo.
Ele se fez de indiferente também quando Tonks encontrou um antigo colega auror no bar. Mesmo sabendo que ela sempre seria amigável daquela forma com qualquer um que encontrasse, era difícil ignorar a familiaridade que havia entre eles; e Tonks parecia realmente ansiosa por novidades do mundo lá fora. Quando por fim o bruxo jovem e bem-apessoado desapareceu, ela estava ainda mais sorridente do que o normal. E isso não ajudou em nada a melhorar o estado de espírito de Snape.
Para coroar a noite, Madame Rosmerta estava agindo muito estranhamente, sorrindo para eles sempre que passava pela mesa e chegando ao ponto de oferecer dois uísques de fogo “por conta da casa”; e de dar uma piscadinha disfarçada para ele enquanto Tonks, distraída e sonhadora, observava o movimento no bar.
_ Era só o que me faltava... _ Snape murmurou para si mesmo.
_ Você disse alguma coisa? _ Tonks se virou e as mechas cor de rosa sacudiram com o movimento.
_ Este lugar esta parecendo o próprio inferno na terra.
Ela revirou os olhos.
_ Snape. Relaxa.
Ele suspirou em resposta; e curvou-se sobre a mesa, as mãos na frente do rosto, o semblante carregado. Ela meneou a cabeça e então, passou os braços em torno dele:
_ Sério. Você às vezes é muito tenso, Sev. _ e vendo que o humor dele continuava exatamente o mesmo, ela sussurrou _ Quer ir embora?
_ Neste exato instante_ mas no segundo em que as palavras deixaram seus lábios, Snape começou a pensar se não estaria sendo muito egoísta _ Mas você...
_ Eu vou também, não me importo. Quero ficar com você essa noite.
*
_ Aqui? Outra vez? _ ela perguntou, sem conseguir esconder o ar divertido no rosto _ Estou começando a achar que aqueles meses de reclusão não foram assim tão ruins!
_ Digamos que eu tenha uma ou outra boa lembrança daquela época – Snape respondeu misterioso enquanto entravam, de mãos dadas, na Sala Precisa. Ou melhor, mais que isso: naquele mesmíssimo quarto, escuro e sobriamente decorado, que servira de lar a Severus nos últimos meses da guerra. Era a terceira vez que Snape a levava até ali.
Por quê?
Porque havia sido onde tudo começara. Não podia haver lugar mais importante ou significativo do que aquele. Nas outras duas vezes, havia sido como um flashback daqueles dias distantes: xadrez, alguma conversa. Mas naquela noite, ele apenas se sentou em uma das poltronas, apoiou os pés sobre a mesa onde ficava o tabuleiro e a fez se sentar ao lado dele, bem próxima, as pernas entrelaçadas nas dele. Passou um braço em torno dos ombros dela e ficou assim por longos minutos, muito quieto; como sempre fazia quando algo o incomodava.
_ Aconteceu alguma coisa?
_ Nada.
_ Ah, céus _ ela suspirou _ eu acho que às vezes, pelo menos, seria bom você me dizer o que te preocupa. Mas deixa pra lá. Olha só, estava pensando. Tudo bem se eu vier te ver nas férias?
Snape suspirou. A bem da verdade, ele não queria que ela o visitasse nas férias. Queria era que Tonks jamais saísse de férias. Ele não estava com um palpite muito bom em relação àquele mês que ela passaria fora. Ela voltaria à civilização, à vida social agitada que sempre tivera antes dele. Pessoas de mesma idade, mesmo entusiasmo, mesmos gostos. E tão diferentes dele. Era óbvio que, mais cedo ou mais tarde, ela concluiria o que estava perdendo em continuar ali, com ele, naquela vida reclusa. Quem sabe até, teriam que procurar mais um professor naquele ano. E aquele encontro no bar só aumentou ainda mais esses temores.
Mas ele, claro, jamais admitiria tudo isso. E preferiu, como sempre, fingir que não fazia diferença alguma.
_ Se você quiser...
Ela desviou os olhos por alguns segundos; e quanto voltou a encara-lo, pareceu um tantinho chateada.
_ Pelo jeito, pra você não faz a menor diferença.
Oh, céus. Ele havia dado inicio a mais um mal-entendido. Pelo visto, jamais deixaria de ser um nada em questões românticas. Agora, teria de remediar aquilo.
_ Não foi o que eu quis dizer _ ele murmurou, percorrendo o rosto dela com os lábios. Tonks suspirou com o toque _ Digamos que... não seria assim tão mal _ Snape disse, beijou-a levemente e a encarou, esperando sinceramente que aquilo resolvesse as coisas. Tonks mordeu o lábio, os olhos expressivos ainda um pouco chateados. Ah, Slytherin, era incrível como até mesmo ele, Severus Snape, era capaz de mudar por causa de uma mulher... _ Me desculpa _ ele sussurrou; e ela sorriu. E então, seus olhos faiscaram, daquele jeito que, Snape já havia aprendido da pior maneira, prenunciavam alguma brilhante idéia.
_ Vem _ ela disse, ficando de pé e o puxando pelas mãos.
Snape tentou protestar:
_ O que é isso, agora?
_ Vamos relaxar um pouco.
E no instante seguinte ele jazia sobre a cama, com Tonks esparramada sobre ele. As mãos ágeis dela desabotoavam muito lentamente a capa e depois, a camisa, enquanto os lábios arrancavam arrepios, percorrendo todo o pescoço até a orelha, também muito devagar e sensualmente. Ela o fez se virar de bruços; e se pôs a massagear os ombros e as costas dele, desfazendo a tensão.
Mas a última coisa que Snape estava se sentindo no momento era relaxado.
Ele se virou e tentou despi-la, mas Tonks se afastou.
_ Não.
_ Porque não?
_ Você ainda não está relaxado o suficiente.
Ele revirou os olhos em resposta, mas houve um indisfarçável ar de satisfação em seu rosto. Que foi aumentando cada vez mais à medida em que os lábios dela percorriam com calma seu corpo. As lambidas e beijos iam descendo cada vez mais, fazendo uma pausa em um ou outro ponto: nos mamilos, no umbigo, na barriga... e pararam logo acima do cós da calça.
E então, foi a vez dela sorrir de satisfação, ao ouvi-lo murmurar seu nome numa voz rouca e cheia de desejo, segundos antes de abrir os botões que restavam e deixá-lo completamente nu.
*
7 de Julho de 2000.
Ele passou a mão pela testa suada e sentou-se na mureta do jardim. Aquele estava sendo um verão excepcionalmente quente; e ter passado a manhã toda desgnomizando o jardim da Toca com Ron e Gina só acentuou o calor. Felizmente a Sra. Weasley apareceu com uma jarra enorme de suco de abóbora, enquanto se desfazia em mil elogios a Harry: porque ele não precisava estar ali, porque imagine só alguém importante como ele fazendo aquele serviço tão insignificante, em plenas férias ainda por cima, e tudo o mais. Harry era um verdadeiro anjo.
E foi assim, entre goles de suco de abóbora bem gelado; e o som da louça se chocando na pia e do programa matinal de Celestina Warbeck que a conversa sobre o misterioso e inesperado relacionamento entre Snape e Tonks voltou à tona.
_ E então, alguma idéia do que possa ter acontecido? _ Gina perguntou. _ Comentei com o Carlinhos; e ele me disse que não sabia de nada. A última vez que se encontraram, segundo ele, os dois brigaram feio.
_ É realmente * muito* suspeito _ Harry comentou.
“Canela, gengibre, chocolate e rum...”, gemia a voz no rádio, parecendo também bastante sufocada pelo calor.
_ Principalmente se a gente levar em conta porque foi que eles brigaram. A morte do Lupin, cara.
“... meu coração bateu tum-tum...”
_ A Tonks jamais perdoaria alguém por isso _ concluiu Harry.
Os três se calaram, muito pensativos; e a único som agora era a voz estridente de Warbeck:
“Oh, meu pobre coração
Parece até que foi envenenado
Por uma poção
Do amoooooooor.”
_ E com o grande sucesso ‘Amortentia’, encerramos nossa transmissão de hoje.
Os três se entreolharam, de olhos arregalados.
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Primeiro, desculpem a demora em atualizar. Mas eu queria fazer alguma coisa realmente boa ou, ao menos, sensível. Não quero desapontar meus leitores com algo escrito de qualquer jeito =P e diz aí: o Snape é um ser altamente romântico (do jeito dele), só não se deu conta disso, hahaha. Ou então: Snape- Stu. Além de um pé no saco, às vezes. Vai ser inseguro e travadão assim sei lá onde (*escritora extremamente revoltada com os rumos que o personagem tomou*) Bom, esse é, na verdade, mais um capítulo de transição do que qualquer outra coisa... as emoções começam mesmo no próximo, prometo! E em dose dupla.
Poxa, estou surpresa, vocês tinham gostado do outro prólogo, quem diria! Mas como da pra ver, vou aproveitar passagens dele em outros capítulos ;)
Bom, quanto ao Harry, devo dizer que não sou das maiores fãs do garoto, mas... não o odeio, também. Só aconteceu dele dar azar de ser o antagonista perfeito pra essa fic ;D também prometo não colocar muitas cenas com o trio (quarteto) na história, afinal, essa ainda é uma Snape/Tonks.
E eu ainda não acredito que escrevi a letra dessa música da Celestina. Que coisa horrível =D
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