Não deixe o caldeirão transbor

Não deixe o caldeirão transbor



Rony e Hermione já estavam na sala, com as malas prontas. Gina estava junto à janela. Aguardavam Harry, que ainda arrumava suas coisas. O senhor Weasley já tinha saído e se despedido dos jovens. A senhora Weasley corria entre a sala e a cozinha. Estava preparando um prato diferente sob a orientação da amiga e vizinha Fiona Milestone, cuja cabeça flutuava na lareira. “Molly, se quiser acertar o ponto dessa massa, precisa colocar mais farinha gosmenta”, disse em voz alta. E lá ia a senhora Weasley de volta à cozinha.

Harry desceu as escadas, curioso com o movimento. Rony tinha lhe contado da presença de Fiona, mas não estava preparado para a cena. Era uma mulher bem mais velha que a senhora Weasley. Trazia os cabelos pretos muito lustrosos presos num coque apertado. Usava óculos de armação pesada e uma camada grossa de maquiagem cobria seu rosto. Ela o cumprimentou com reverência, sem, contudo, esquecer de avisar à amiga que o caldeirão começava a ferver.

A senhora Weasley abraçou Harry, deu um beijo em seu rosto e pediu-lhe que voltasse mais vezes. O rapaz concordou com a cabeça. Em seguida, ela se atirou aos braços de Rony, recomendando-lhe juízo, e afagou os cabelos de Hermione. Gina se aproximou da amiga. Abraçaram-se.

- Até outro dia, minha irmã.

- A gente se vê em Londres. Prometa que vai me visitar, Gina. Não podemos mais ficar tanto tempo separadas.

- Não vamos. Juro - sorriu a ruiva, ainda abraçada à amiga.

Gina beijou Rony e afagou o ombro de Harry. Deu risada, demonstrando que não sabia o que falar. O irmão sacudiu a cabeleira dela, fazendo-a protestar. Harry permaneceu onde estava, apenas dizendo “Tchau. Foi bom te ver”.

- Bom, agora a gente vai. Depois me avisa quando os orelhudos chegarem - disse Rony, provocando gargalhadas nos amigos e uma careta em Mione.

Eles sacaram as varinhas e, antes de executar o feitiço de aparatar, Gina arregalou os olhos e gritou:

- Párem. Esqueci. Harry, um minuto - e subiu correndo as escadas.

- O que foi? - perguntou a senhora Weasley, sem entender, mas nenhum deles conseguiu responder. Também não tinham idéia do que tinha acontecido.

- Rony, pode ir. Eu espero a Gina. Não deve demorar. Daqui a pouco vejo vocês lá - disse Harry.

O rapaz respondeu que podia esperar também. Afinal, ficara curioso. Hermione, porém, fez com que mudasse de idéia. Foi tão insistente que os dois aparataram em seguida. Gina, então, voltou com um pacotinho nas mãos. A senhora Weasley olhou para o embrulho ansiosamente.

- Eu estava esquecendo disso. Outro dia escrevi para a minha amiga portuguesa, aquela da canção. Haja o que houver, lembra? Aí, contei como vocês tinham gostado da música. Faz dois dias que recebi uma coruja dela com este presente para que eu te entregasse. É um CD, coisa de trouxas, mamãe. Nós não temos como fazer isto funcionar. Mas você tem, Harry. Em sua casa em Londres, não é?

- Tenho equipamento trouxa, sim. Mas tem certeza de que quer dar este CD para mim?

- Foi a Rosa que pediu. Ela sabe que você foi criado por trouxas. E ela também te admira, ora. Então, é seu!

- MOLLY, NÃO DEIXE O CALDEIRÃO TRANSBORDAR - gritou Fiona, fazendo a senhora Weasley disparar para a cozinha.

A sós na sala, os dois começaram a rir, ouvindo as imprecações de Fiona e os lamentos da senhora Weasley, reclamando que teria um trabalhão para limpar aquela sujeira. Harry recebeu o CD das mãos de Gina, ainda sorrindo. A garota olhou para ele. Estava ligeiramente corada e com os olhos brilhantes. Parou em frente ao rapaz, indecisa, abrindo a boca sem falar coisa alguma. Harry aguardava. Sentia que ela estava prestes a dizer algo importante.

- Hã, estes dias foram bem divertidos...

- Foram mesmo.

- Espero que os próximos sejam melhores.

- Também espero.

- Legal. Hum... - ela inclinou um pouco a cabeça, fitando o peito de Harry, buscando as palavras mais adequadas - se precisar de algo e eu puder ajudar... hã... me procure, certo?

- O mesmo vale para você. E não esqueça que a minha casa está a sua disposição - sorriu o rapaz.

- Obrigada - ela retribuiu o sorriso. E se aproximou para abraçá-lo. Encostou sua cabeça no ombro dele e o envolveu com delicadeza. Pretendia soltá-lo imediatamente, mas percebeu que ele também a abraçava, cingindo sua cintura. Ficaram assim por um segundo. Ela afastou a cabeça para dizer adeus, virando o rosto em sua direção. Ao encontrar seus olhos, porém, sentiu algo se acender nas retinas esverdeadas. Ela também sentiu algo esquentar dentro dela. Sem querer, comprimiu suas mãos com intensidade nos ombros dele. Ao se dar conta disso, estremeceu. “Controle-se!”, pensou, assustada. Antes de conseguir disfarçar, ele tomou sua boca. Harry a beijou primeiro com suavidade, testando-a. Gina não aguentou e abriu os lábios, permitindo que ele a invadisse. Começaram a se beijar ardentemente. Ele a puxava com força para si, dominando-a. Gina retribuía os movimentos famintos dele, envolvendo seu pescoço com os braços, jogando-se sobre seu peito, enroscando sua língua na dele. As mãos de Harry apertavam seu corpo e passaram a deslizar por suas costas, afagando cada milímetro de sua pele. Ela desceu as mãos pelo peito dele, abrindo e fechando os dedos, prendendo e soltando sua camisa. Com as bocas ainda unidas, Gina fez os dedos subirem até o pescoço, percorrendo a linha do queixo dele. As mãos dele agora seguravam sua nuca. E então ouviram um grito de Fiona rompendo na cozinha:

- Eu te avisei para não deixar transbordar. Agora quero ver acabar com essa bagunça.

Gina se afastou de Harry num átimo. Ele estava surpreso e ofegante. A garota deu-lhe as costas, confusa. “Estraguei tudo!”, pensou. Harry veio até ela, tocando-a no ombro. Gina pulou para um lado.

- Não. Que besteira que a gente fez!

- Espera...

- É melhor você ir embora.

- Não quero ir embora assim.

- Esquece. Deixa pra lá.

- Como?! Não dá para esquecer.

- Por que é que você tinha que me beijar?! - exasperou-se.

- Achei que você queria.

- Não. Eu não queria - mentiu.

- Então... então... eu me enganei, mas não me... - começou a falar com paciência.

- É. Você se enganou. Agora, vai embora - cortou, desesperada, afastando-o firmemente com as mãos.

- Tá me despachando? - perguntou, decepcionado e com uma leve irritação na voz.

- Não. Quer dizer, estou sim. Ah, por favor, vai embora. E não fala nada para ninguém.

Ele ficou paralisado. Seus olhos brilharam. Ela se contraiu. Seu coração disparava.

- Pode deixar - enfim respondeu, secamente.

Harry se aproximou das malas. Retirou a varinha e desaparatou sem olhar para Gina. A garota se atirou no sofá, completamente atrapalhada. “O que é que eu fiz? Nunca mais o Harry vai olhar para a minha cara! E se o Arlen souber, como é que eu vou olhar para a cara dele?”. Sua mãe surgiu na sala, pedindo que a ajudasse. Estava tendo um probleminha com o caldeirão que, mesmo fora do fogo, continuava despejando um líquido borbulhante e cor de framboesa.

- Nunca vi um caldeirão tão esquentado, por Merlim. Joguem nele um feitiço congelante antes que ele inunde a cozinha inteira. Eu te disse, Molly: é descuidar um pouco que o mundo vira de cabeça para baixo - resmungou Fiona.

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