Uma Coruja Inesperada



Hermione passou os dias posteriores àquele com a cabeça avoada. Nem parecia a mesma Hermione. Ela não conseguia tirar da cabeça o fato de que Rony disse que a amava. E ela não havia falado nada de volta. Ela estava com medo de dizer que o amava? Mas ela amava. O que a impedia de dizer? Ele não parecia ter se incomodado, porque o tratamento com ela permanecia o mesmo: muito carinho, muitos beijos e muitos amassos. "Vou ficar mal acostumada." Ela pensava. Às vezes eles se perguntavam se Jorge e Fred ainda estavam ouvindo eles. Se estavam, não sabiam, mas os gêmeos não tocaram mais no assunto. Ainda estavam bem envergonhados e quase não apareciam na hora do jantar, chegando bem mais tarde em casa. Naquela manhã, Harry Rony e Hermione estavam na sala de estar e ela estava sentada junto à Rony, assistindo aos dois jogarem xadrez de bruxo. A cada xeque-mate do namorado, ela lhe dava um beijo apaixonado. E os beijos foram muitos, porque Harry não ganhou nenhuma das partidas. Ele reclamava com Rony, por ele não deixá-lo ganhar nenhuma vez. Ao que Rony respondeu:
- Com esse incentivo aqui? - e apontou para Hermione - Desculpa cara, mas estou me esforçando ainda mais para vencer. - e eles riram.
Gina não estava lá com eles, pois ajudava a mãe a preparar um doce especial para a sobremesa do jantar. Hermione havia se oferecido para ajudar, mas a cara que Rony fez para a irmã na hora, fez ela agradecer, mas dispensar a ajuda da amiga.
- Puxa esse calor não melhora! - exclamou Harry.
- A gente podia dar uma volta para espairecer. - disse Gina, entrando na sala - Estou querendo ir lá ao Beco Diagonal comprar algumas coisas. Mamãe vai até lá porque esqueceu de um ingrediente importante para o doce e vou aproveitar também. Vamos Mione!
- Claro, vou sim! - disse ela se levantando.
- E vocês? - perguntou ela ao irmão e a Harry.
Eles fizeram uma cara de poucos amigos.
- Ah, então não vão! - ela exclamou - É melhor mesmo não ter ninguém para ficar nos apressando.
As duas meninas subiram para se aprontar, enquanto os meninos continuaram a jogar.
- Agora posso analisar melhor se deixo ou não você ganhar, Harry. A Mione não vai mais estar aqui mesmo.
Harry deu um pequeno murro no ombro do amigo, brincando, e eles riram.

Molly e as meninas chegaram ao Beco Diagonal via pó de Flu. O sol estava meio escaldante e elas procuraram logo uma sombra para se abrigarem.
- Mãe, enquanto a senhora compra o que quer, eu e a Mione vamos numa loja ali abaixo. Que tal combinarmos um horário aqui, tipo 11:30h?
- Ok, mas veja se não se atrasa Gina, ainda preciso terminar o almoço.
Enquanto Molly se afastava, Gina disse a Hermione:
- Vamos, quero comprar uma coisa para o aniversário do Harry e quero ver o que você acha.
- Ótimo, porque eu também preciso comprar o presente dele.
Ao descerem pelo Beco, viram uma figura conhecida, subindo na direção contrária. Ao cruzarem com ela, Gina exclamou:
- Ei, você por aqui?
A pessoa passou direto, como se não conhecesse as duas.
- Ei! Não conhece mais a gente não srta. Luna Lovegood?
- Hein? - disse ela e se virou.
- Ah, Gina! Hermione! - desculpa mas é que eu ando meio desligada.
- Sério? Puxa, isso é tão difícil de acontecer! - Hermione disse, tentando esconder uma risada ao levar um cutucão de Gina.
- O que fazem por aqui? - ela perguntou.
- Viemos fazer umas comprinhas e você?
- Não sei. Apenas me deu vontade de vir até aqui. Depois a gente se fala. - e saiu andando.
Gina e Hermione caíram na gargalhada, depois que ela se afastou.
- Gina, como você consegue manter uma conversa com a Luna? Ela não é má pessoa, mas não tem cérebro algum.
- Ah, você não conhece ela tão bem! Ela tem esse jeito meio doido, mas é legal. - disse ainda rindo.
- Ei Gina! - gritou Luna de longe - Manda um beijo para o Ronald! Eu acho ele tão engraçado! - e virou-se novamente.
- Ih, Mione. Acho que você arrumou uma rival. - Gina riu e elas seguiram descendo o Beco.
No horário marcado com a mãe, elas já estavam lá. As duas tinham sacolas nas mãos.
- Então, o que compraram? - Molly perguntou.
- Presentes para o aniversário do Harry! E aí, foi lá até a loja dos meninos?
- Fui, mas está impossível de entrar, tem muita gente. Desisti. Outro dia eu volto aqui com mais calma.
Ao voltarem para casa, elas foram direto à cozinha para beber água. O calor era infernal. Aquele era, sem dúvida, um dos verões mais quentes dos últimos tempos.
- Onde será que estão os meninos? - disse Gina espiando pela sala.
- Devem estar lá em cima.
Quando elas se dirigiram às escadas, viram Harry descendo. Gina adiantou-se e lhe deu um selinho.
- Seu amigo ruivo está lá em cima, Harry? - perguntou Hermione com um sorriso.
- Mione - ele se virou para ela - bem..., cuidado lá em cima, ok? Vá com calma, porque ele está uma fera!
- O que houve? - ela quis saber.
- É..., bem..., sobe lá no quarto da Gina e veja por si mesma.
Hermione correu até o quarto e, quando abriu, viu Rony sentado na ponta da sua cama, encarando ela com uma expressão de desprezo. Assim que ela entrou, ele se levantou.
- Ron, aconteceu alguma coisa? - disse, ficando na ponta dos pés para dar-lhe um beijo.
Ele estava rígido e não a beijou de volta. Somente apontou para a janela. Lá, parada, estava um coruja de plumagem marrom, muito bonita. Era a coruja de Viktor Krum. Hermione o encarou e viu que ele não mudara a cara, nem depois dela dar o beijo nele. Ela foi até à janela e percebeu que não havia carta alguma presa à coruja. Ao se virar, viu Rony segurando um papel meio amassado nas mãos, então ela se irritou.
- Isso é meu Ronald? É a minha carta?
- O que você acha?
- Então me dá aqui! - e arrancou das mãos dele.
A carta estava aberta.
- Alguém já disse para você que é ilegal abrir a correspondência dos outros?
- Eu não abri, já estava aberta quando chegou! - ele disse entredentes.
- E você leu?
- Lógico!
- Sai daqui, Ronald! - disse com os olhos marejados - Sai!
- Eu vou sair mesmo! Não tem mais nada aqui que me interessa! - e ele saiu batendo a porta.
Irritada e chorando, Hermione leu a carta.

"Hermione,

Desculpe a demora enorme para responder a você. Só agora, depois de meses em excursão com a Seleção Búlgara de Quadribol, é que eu estou voltando para casa. Soube do que se passou em Hogwarts e fiquei abismado e chateado. Li sua carta somente ontem, depois desse tempo todo. Suas palavras me entristeceram. Saber que você está triste, também me deixa triste, afinal você é uma pessoa muito especial para mim. Desde aquele Baile, você não saiu mais da minha cabeça. Estive pensando em reencontrar você. Quem sabe não consigo fazer você esquecer isso que me relatou na carta? Na verdade, não sei se você ainda sente a mesma coisa agora, depois desse tempo todo, mas de qualquer forma poderíamos nos ver. Finalmente estou de férias e basta um "sim" da sua parte para eu ir correndo para aí. Aguardo ansioso a resposta.

Um beijo,
Viktor"

- Mione, posso entrar? - Gina colocava a cabeça pela fresta da porta.
- Claro! Esse quarto ainda é seu. - ela disse dando um sorriso manchado de lágrimas.
- Harry me contou que a coruja do Krum está aqui.
- É verdade. - ela disse enxugando o rosto.
- Ele disse também que Rony leu a carta. É verdade?
Ela apenas balançou a cabeça, confirmando.
- Bem, Harry também me disse que a carta chegou aberta aqui.
- Gina, aberta ou não, o Rony não tinha o direito de ler.
- Eu sei, eu sei! Mas você tem que concordar que isso "facilitou" as coisas. Fico pensando: será que Você-Sabe-Quem e os Comensais estão violando as correspondências?
- Não creio. O Ministério está com os olhos bem atentos por aí. A morte de Dumbledore está muito recente ainda. A não ser que o próprio Ministério esteja interceptando. - ela baixou a cabeça - Não acho que esse seja o caso aqui. A coruja de Krum deve ter ido lá em casa primeiro e, como eu não estava lá, ela teve que prolongar a viagem até aqui. Sei lá Gina, percalços do caminho. Mas isso é o que menos está me interessando agora. O que eu não entendo é a raiva que o seu irmão está de mim. Eu não fiz nada! Como ía advinhar que o Viktor me mandaria uma correspondência? Tem meses que isso não acontece.
- Não sei Mione. Você deve ir até lá falar com ele.
- Pela cara que ele estava aqui, eu sou a última pessoa que ele quer ver agora. Dê uma olhada! - disse entregando a carta à Gina - Depois me diga se a carta tem alguma coisa demais.
Gina leu e depois olhou para ela.
- Mione, ele praticamente está se declarando a você aqui.
- E daí, Gina? Ele pode gostar de mim, mas aí não está dizendo que é recíproco, está? Seu irmão sabe que eu gosto dele! Será que ele não percebeu ainda?
- Você já disse a ele?
- Será que precisa? Depois de todos nossos beijos e abraços?
- Amiga, você ainda não tem coragem de falar, tem?
Hermione se deitou e começou a chorar.
- Não! Não tenho! E o pior... é que ele me disse outro dia que me amava... e a idiota aqui ficou muda.
- Eu sei que você o ama, mas sabe como é o Ronald. É meio tapado o meu irmão, coitado.
- Não fala assim dele.
- Você é quem sabe. Depois não diga que eu não avisei a você.
Hermione ficou pensativa. Novamente lembrou das palavras da mãe: "Demonstre o que sente por ele. Se não puder ser em palavras, faça com atitudes, com gestos, expressões. Se mesmo assim ele não entender, ele não serve para você, porque significa que o coração dele está fechado para o seu sentimento."
- Afinal, que coisa triste foi essa que você disse ao Krum na carta e que ele comentou?
- Eu escrevi para ele logo depois que o Ron começou a namorar a Lilá. Eu estava triste e irritada com seu irmão. Não esperava que acendesse no Krum algum tipo de esperança. Eu já havia dito a ele que gostava do Ronald, porque não queria que ele achasse que existia alguma chance. Na verdade ele era o único que sabia.
- Bem, é melhor a gente descer para almoçar. Converse com o Ronald depois do almoço. Ele raciocina melhor de estômago cheio. - e deu um sorriso para Hermione, que acabou rindo com ela.
As meninas então desceram para almoçar.

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