Malfoy, Draco Malfoy
Gina já havia ficado entediada de tanto ver pinturas parecidas nas paredes. Estavam andando pelos corredores a mais ou menos uns quinze minutos.
Nenhum dos dois falara coisa alguma durante esse tempo.
Os pensamentos da menina estavam longe, em seu reencontro com os pais e irmãos. Sim, pois levando em consideração que andaram quinze minutos seguidos pelos corredores da Mansão Malfoy, se Malfoy realmente estivesse intencionado a ajudá-la, fosse lá pelo que fosse, isso não tardaria muito a acontecer.
Nesse ponto, Malfoy a trouxe de volta à realidade, barrando sua passagem com o braço subitamente, no meio do corredor.
- Malfoy, o que...
- Psshhh! – ele interrompeu.
Ao prestar atenção, Gina entendeu o motivo de ele estar fazendo isso, e jurou ter sentido seu sangue congelar dentro das veias.
Faziam-se audíveis passos no corredor de pedra, vindo em direção à eles, prestes a dobrar a esquina!
A menina ficou estática, sem ação, absolutamente nada em sua mente além do medo que a consumia.
Tudo o que sentiu foi Malfoy agarrando seu braço e puxando-a em direção à porta mais próxima.
Ele respirava muito rápido, como se tivesse acabado de correr quilômetros, quando ele falou:
- Essa foi por pouco...
Gina desabou em uma cama que havia no meio do quarto, perguntando apenas:
- E agora, onde estamos?
- Em um dos quartos de hóspedes. No melhor deles, aliás.
- Por Merlin, Malfoy, eu posso jurar que meu coração parou quando ouvi aqueles passos! Foi horrível!
- Convenhamos, Weasley, também não é para tanto. Eu estava com você e...
Tudo aconteceu muito rápido. Ele nem tinha terminado de falar quando escutaram o barulho da maçaneta da porta. Alguém queria entrar. Mais uma vez, o rapaz puxou Gina pelo braço, mas foi para trás de um armário velho no canto do quarto, bem a tempo de verem um homem gordo e baixinho entrar no aposento.
Gina pegou ar para perguntar alguma coisa, mas Malfoy tapou a boca da menina com a mão.
Ao entrar no quarto, o homem parou por um momento, como que sentindo alguma coisa no ar. Depois, pareceu reconsiderar, foi em direção ao criado-mudo, pegou um livro de dentro da gaveta e saiu em seguida, trancando a porta do quarto.
Mesmo após ouvir o clic da fechadura, eles permaneceram espremidos atrás do armário, para se certificarem de que o baixinho não voltaria.
Quando finalmente levantaram, empoeirados até os ossos, Malfoy foi o primeiro a falar:
- Maravilha! ele trancou a porta por fora! Desgraçado filho de uma...
- Talvez - interrompeu Gina energicamente - possamos deixar isso para depois e aproveitar que podemos conversar sossegados aqui. Quem era aquele homem?
- Nunca vi em toda minha vida. – respondeu Malfoy displicentemente.
- Ah, isso realmente faz sentido, quero dizer, você não conhece o seu hóspede?
- O hóspede do meu pai. Ele não fez questão de apresentar-nos formalmente. Ele nunca faz.
- Certo.- disse Gina, sem notar a pontinha de desapontamento no tom de voz do rapaz. – Malfoy... por que diabos você tem uma casa tão grande? Você nunca se perde aqui?
Ele abafou uma risada. Gina nunca o tinha visto rir antes. É claro, já o tinha visto, mas eram sempre aqueles sorrisos sarcásticos ou risadas debochadas. Nunca, em toda sua vida, havia visto um sorriso ou uma risada alegre e sincera vinda de Draco Malfoy, muito menos para ela.
Tudo bem, a risada não fora para ela, e sim dela. Mas de qualquer forma, já era um grande progresso. Ele era humano, afinal.
- Bem, Weasley, se já terminou de me questionar, passemos para nosso próximo problema: como saímos daqui?
- E você vem perguntar pra mim?- perguntou Gina, com um leve sarcasmo na voz.
Na verdade, ela sabia um feitiço que vira Rony executando uma vez que Fred e Jorge o trancaram no porão com o vampiro. Mas queria ver a cara que Malfoy faria ao dizer que não sabia o que fazer em sua própria casa, ou seja, dando um atestado de humanidade e comprovando todas as suas suspeitas.
Ele nada disse.
- Esta é a sua casa! Encontre um jeito de nos tirar daqui!
- E por que eu deveria saber Weasley? Você mesma disse, essa mansão é enorme, eu não tenho como ter as chaves de todos os aposentos, ainda mais quando estão ocupados por algum hóspede!
Gina simplesmente começou a rir sentada na cama, encarando a perplexidade de Malfoy do outro lado do quarto.
Ainda rindo, e sem proferir uma única palavra sequer, ela foi em direção ao rapaz, e tirou a varinha do bolso dele.
Então, aproximou-se da porta, apontou a varinha para a fechadura e disse, simplesmente:
- Alorromora!
Ao que a fechadura da porta abriu suavemente, sob o olhar embasbacado de Malfoy.
Gina abriu a porta, com um sorriso debochado nos lábios.
Malfoy foi até ela, e perguntou apenas:
- Por que a minha varinha?
- Primeiro: eu queria ver a sua cara de bobo quando eu a tirasse do seu bolso. Segundo: você acha que quando me seqüestraram, eu tive tempo de sequer pensar em varinha?
Sem dizer mais nada, ele saiu do quarto e os dois seguiram caminho pelos corredores.
**
Harry, Rony e Hermione estavam reunidos na cozinha d’A Toca, esperando ansiosamente pela resposta do Ministério.
Já eram dez e meia da noite, e todos já haviam se recolhido para seus aposentos. A casa estava melancolicamente silenciosa, e cada som do pêndulo do relógio parecia uma lamentação.
Nenhum dos três falava. Não por constrangimento ou tristeza, mas por falta de forças. A ansiedade e a insegurança que os consumiam eram tamanhas que tudo o que pensassem em dizer morria em suas gargantas antes de adquirir qualquer tipo de som.
- Hermes está demorando, não?- comentou Hermione timidamente.
- Ele... deve ter encontrado algum rato ou coisa do tipo pelo caminho... Pode ter se perdido antes de chegar ao Ministério, machucado uma asa, mas nada que o impeça de chegar.- Rony tentava convencer, a cima de tudo, a si mesmo.
- Rony, Mione! Não adianta ficarmos especulando. Vamos apenas esperar, ok? O que tiver que acontecer acontecerá.
Hermione bocejou.
- Escutem, vocês estão cansados. – disse Rony. – Por que não vão dormir? Não se preocupem, eu fico aqui, não estou com sono! Prometo acordá-los assim que Hermes bater na janela.
- Que idéia, Rony!- Exclamou Hermione.
- De jeito nenhum! Olha, Rony, eu sei que você é o irmão da Gina. Por mais que gostemos dela, Hermione e eu não podemos sequer imaginar o que você está passando agora. Tudo o que eu sei é que todos nós estamos preocupados com a segurança dela, e Hermione e eu ficaremos ao seu lado, como sempre fizemos. Agora pare de querer nos fazer dormir, porque você não vai conseguir.- ele sorriu.
- Obrigado.- Rony conseguiu dizer simplesmente, visivelmente sensibilizado.
- Em todo caso, eu vou preparar café para nos mantermos acordados. Ou, pelo menos para termos alguma distração.- Hermione exibia seu costumeiro sorriso maternal.
**
Meia hora depois, a cena na cozinha tinha mudado completamente. Xícaras vazias, com borras de café descansavam sobre a mesa de madeira, ao lado das cabeças de Harry e Rony, que adormeceram sem se dar conta. Hermione também havia se rendido ao sono, com a cabeça escorada em Harry.
Fora por isso que Hermes passara um longo tempo bicando o vidro da janela, tentando acordá-los (sem sucesso nos últimos vinte minutos).
Devido ao barulho incessante, e ao sono leve que levava, Harry foi o primeiro a acordar. Olhou para a janela, de onde vinha o som, e viu Hermes bicando a janela, aparentemente aborrecido.
Mas estava com tanto sono que simplesmente voltou seu olhar para Hermione, ainda adormecida.
Então, dando-se conta do que havia acabado de enxergar, levantou-se bruscamente e com muito barulho, o que acordou Rony e Mione.
Ele foi até a janela e abriu-a, deixando um Hermes indignado dar algumas voltas ao redor do teto da cozinha, antes de pousar na mesa e deixar Harry retirar o envelope timbrado do Ministério de sua pata.
Sem esperar mais, o rapaz rasgou o envelope de qualquer jeito, e leu o seu conteúdo, para abrir um enorme sorriso contente depois disso. Passou a carta aos outros, que pareceram não caber em si de felicidade. (Rony e Mione foram acordados por um pio estridente de Hermes).
A partir dali, não foram precisas palavras. Cada um tomou o seu caminho para começar a organizar a viagem à Mansão Malfoy.
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