A rosa vermelha

A rosa vermelha



Talvez aquilo nunca tivesse sido um escritório. Não havia secretárias, nem armários, nem estantes… havia chão encerado, paredes em tons pastel claro, uma mesa posta com toalha de linho branco e loiça de porcelana. Os copos de cristal, meticulosamente colocados diante dos pratos, pareciam reflectir a luz das velas que flutuavam no tecto encantado, numa bonita noite de céu estrelado, contrariamente à noite ventosa e chuvosa que se sentia lá fora.

Ela chegou, trajando um bonito vestido de tecido azul céu, simples e de saia longa, que lhe adelgaçava a cintura. O cabelo vinha solto, como quase sempre, brilhante e sedoso, escovado pelos ombros abaixo, como um longo lenço de cetim.

- Boa-noite. – saudou-a deixando que ela contemplasse o escritório completamente modificado.

- Isto está… lindo!

Sentaram-se para jantar. Este apareceu na bandeja, libertando o cheiro caracteristicamente delicioso e apetitoso, da carne assada.

O vinho nasceu nos copos de cristal, como se estes fossem uma fonte, em caldos frescos que aqueciam o espírito.

- Eu não costumo beber vinho ás refeições. – avisou ela – Talvez seja melhor não exagerar…

- É melhor mesmo… os teus alunos não vão gostar de te ver regressar ao quarto dançando o samba. – comentou sem conseguir tirar os olhos o incrível brilho que os dela emitiam, num negro carvão.

Richard não sentiu o tempo passar. Tudo quanto podia concluir, é que o tempo brincava com ambos, correndo quando estava juntos, trocando comentários, cada vez mais confiantes e atrevidos, enquanto que nos momentos de solidão, se arrastava lenta e pachorrentamente.

O vinho parecia ter feito efeito em ambos, nele que já bebera outra vezes, sentia-se quente por dentro, como se o líquido alcoólico lhe aquecesse o âmago… ela que nunca usufruíra de uma bebida tão forte, sentia como se o resto do mundo em seu redor tivesse sumido, e restassem apenas duas pessoas… ele e ela.

Após algumas horas, o jantar terminou. A conversa tinha divagado entre quase todos os aspectos da vida pessoal e profissional de cada um. Talvez por isso, quando ela se levantou para abandonar o escritório, agradecendo a noite, ele sentiu que a conhecia à tanto tempo…

Ela aproximou-se dele. Os seus olhos faiscaram em direcção ao verde dos dele, como se o desejo que se ateara subitamente dentro dela pudesse ser atenuado com a troca de um olhar faminto.

A mão dele pousou-se-lhe no ombro, enquanto o sorriso nasceu nos seus lábios carnudos, preparando-se para se despedir da moça. Contemplou-lhe o rosto por instante, inspirando o seu cheiro e memorizando aquele momento, para que mais tarde pudesse relembra-lo…

Cláudia inclinou o rosto para o beijar, fechando os olhos inocentemente, enquanto oferecia os lábios para ser beijada. Richard não soube explicar a razão pelo qual não fez o que o seu corpo e mente pediam… apenas lhe encostou uma rosa vermelha, cor de sangue, aos lábios, enquanto o veludo das suas pétalas tocava a suavidade dos lábios dela que eram dele por direito…

Ela sorriu aceitando a decisão dele, parecendo subitamente seduzida… tocou na rosa cheirando-a, lançando-lhe um olhar maroto e sensual, que ele viu e reviu na sua mente até ao momento em que por fim, adormeceu.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.