Capítulo 7



CAPITULO 7

- Bom dia, Luna – Gina estava exausta e de ressaca e podia sentir as olheiras e puxarem-lhe as pálpebras para baixo.
- Bom dia, Gina, estás com bom aspecto hoje. O bâton é novo? Fica-te muito bem.
- Obrigada, Luna.
Ridículo. Gina sabia que estava com um aspecto de merda. Trabalhava com Luna á mais de três anos e todas as manhãs, sem falhar uma, Luna dirigia um cumprimento a Gina sem nunca se repetir.
- Como é que correu ontem à noite? – Inquiriu Luna. Começara a pairar sobre a secretária de Gina com aquele olhar desesperado, como se estivesse à espera, desde as 6 da manhã, que Gina ali chegasse até lhe poder fazer a pergunta.
Luna tinha 33 anos, quase um metro e noventa e ainda era virgem. O cabelo era louro e tinha olhos e completamente lunática.
Gina desejaria dizer que gostara de Luna, que até tinha um carinho especial por ela, que sentiria saudades dela se não a tivesse por perto, mas não era verdade. Luna era uma enormíssima e monumental chata e, numa manhã como aquela, com uma dor de cabeça atordoadora que a desidratava e com imenso em que pensar.
- Oh, foi óptima, obrigada – sorriu Gina, de lábios cerrados, a tentar mostrar-se ocupada.
- Ainda bem – gorjeou Luna. – Ainda estás a gostar do novo apartamento?
- Oh, sim, é adorável, super adorável. Estou a gostar muito obrigada – Gina começou a sentir o seu falso entusiasmo a esvair-se.
O telefone de Luna tocou nesse momento e Gina respirou fundo. Estava a gora a pensar no que acontecera na noite anterior. Harry comprara-lhe peónias – e eram mesmo peónias, as flores de que ela mais gostava no mundo. No momento em que ele entrou e lhas entregou, timidamente, dizendo «é só para agradecer o jantar», ela soubera, sem a mais pequena dúvida, que era ele. Depois, na cozinha, quando se pôs a olhar para os dois homens tudo se tornou óbvio. De um lado estava Harry, elegantemente vestido com um bonito fato cinzento, de camisa e gravata, de ar preocupado, e, do outro estava Draco, vestido com uma camisola cinzenta, disforme e suja, que parecia usar todos os dias e com um par de calças, parecidas com ceroulas, que não lhe ficavam bem.
- Precisas de ajuda? – Perguntara Harry, enquanto Draco vagueava até à sala e se instalava no sofá para ver televisão. Resultado: Harry, 2; Draco, 0.
Finalmente, sentaram-se a comer. O apartamento enchera-se com o aroma das batatas, do alho e com um cheiro divinal a galinha assada. Draco e Harry ficaram extasiados.
- Esta é a coisa mais deliciosa que comi em toda a minha vida! – Proclamou Draco.
- É melhor do que qualquer restaurante – concordou Harry.
Tinham sido necessárias algumas latas de cerveja para lubrificar a noite, depois de ter se terem esgotado os elogios sobre a comida e Gina deu por ela a fazer a maior parte do trabalho inicial, inquirindo os dois sobre o que faziam.
Harry trabalhava no centro de Londres, descobriu ela, vivia em Almanac Road há oito anos. Quanto a Draco tinha-se mudado para lá pouco depois.
Para grande surpresa sua, percebeu também que Draco era artista. Já tinha pensado qual seria a profissão dele e percebera que ele nunca parecia sair de casa. Draco não pintava havia meses. Fez algumas exposições com êxito, vendera alguns quadros.
- Gostava muito de ver alguns dos teus quadros – disse Gina – tens cá algum?
- Sim, Draco, eu também gostava de ver alguns dos teus trabalhos – acrescentou Harry de imediato, voltando-se para Gina – Eu vivo com este tipo há oito anos e nunca vi nada que ele tivesse feito no estúdio! Mostra-lhe o livro de exposição do ano do teu curso, Draco.
Draco rosnou, mas levantou-se agilmente para ir procurá-lo.
Regressou pouco depois com um livro enorme, que se abriu facilmente em duas páginas intituladas «Draco Malfoy», revelando uma pintura intitulada “Movimento Perigosos da Areia”, Gina não se interessava muito por arte moderna, aliás nem sequer gostava dela, mas a pintura causou-lhe um impacto e acabou por voltar a página com interesse para ver “Gases Ultravioleta Nocivos” e uma pintura mais pequena intitulada “Tempestades Eléctricas Violentas”.
As pinturas eram abstractas, mas ricas em cor e, embora perecessem lisas e unidimensionais, Gina sentiu vagas de energia a saltarem delas.
- Draco, elas são óptimas, realmente… – Gina procurou uma palavra que não a fizesse ignorante – … dramática, cheias de energia, assustadoras quase! E eu não costumo gostar de coisas modernas. Estas são esplêndidas!
- Obrigado – Draco parecia satisfeito, embora a contra gosto, e fechou o livro. – Mas já fizeste muitas perguntas esta noite. Fala-nos de ti.
Gina detestava sempre de falar de si própria, mas lá lhes descreveu, em tão poucas palavras quanto possível, falou da agência em que trabalhava á três anos e também da aborrecida Luna, da mãe carinhosa, do pai praticamente coleccionador de tudo, dos seus seis irmãos (Harry e Draco abriram os olhos de espanto) e da sua infância numa quinta a qual a família chamara de “A Toca”. Explicou-lhes que o nome era um diminutivo de Ginevra e que antes de vir para Almanac Road, vivia com os pais.
Continuaram a conversa, enquanto Harry e Gina levantavam a mesa (Harry, 3; Draco, 0), e quanto mais Gina observava Harry mais segura se sentia. Ele era definitivamente, o mais sossegado e o mais reservado dos dois. Sentava-se direito à mesa, tinha modos mais precisos, o seu riso era mais controlado do que o de Draco e havia nele uma certa vulnerabilidade que a atraía, juntamente com uma certa tristeza e alguma solidão. Draco era divertido e provavelmente mais parecido com Gina numa série de coisas, mas, se bem que Harry parecesse mais empertigado, era dele que Gina se sentia mais próxima.
Uma vez que decidira que já sabia, não achou que fosse difícil fazer a bola rolar e levar gentilmente Harry pela mão para um relacionamento com ela. Só não esperava que a bola começasse a rolar tão cedo… ou tão depressa.
Draco levantara-se da mesa por volta das onze, beijara a mão de Gina Algo instavelmente, agradecera-lhe profundamente, proclamando aquela refeição um marco na sua vida gastronómica, e seguira para a cama, deixando sozinhos Gina e Harry.
E Gina não perdeu tempo.
- Acreditas no destino? – Perguntou, pegando num cigarro da mesa da cozinha.
- O que queres dizer com isso?
- Se tudo acontece por uma razão, com as coisas e os momentos já predeterminados… Como eu estar aqui hoje á noite. Se na semana passada eu tivesse visto um apartamento que gostasse, não teria vindo ver o vosso quarto. Estaria sentada na cozinha de outra pessoa, a falar com alguém completamente diferente e nem saberia que vocês e o vosso maravilhoso apartamento existem – Gina fez uma pausa breve. – Só que… isso não é bem verdade…
Harry ficou admirado como que ela estava a dizer e desejou prestar-lhe um bocadinho mais de atenção.
- Isto vai parecer estranho…mas prometes-me que não vais pensar que sou maluca? – Perguntou Gina.
Harry deitou a mão à garrafa de tequila.
- Prometo – respondeu.
- Bem, desde a adolescência que tenho tido um sonho estranho.
- Siiim? – Harry fez deslizar o copo pequenino na direcção dela. Meu Deus, era bem girinha!
- É uma imagem muito simpática de uma casa alta numa rua com uma curva, com uma cave e árvores pequenas cá fora. Eu vou a andar e olho para um dos apartamentos onde vejo um homem sentado num sofá de costas para a janela. Está a fumar e a falar com alguém, que eu não consigo ver: está a sorrir e sente-se feliz e relaxado e eu quero mesmo ir espreitar lá dentro. O apartamento parece quente e acolhedor e eu tenho um sentimento muito forte de que deveria estar a viver ali… não me parece bem que não esteja, que tenha que passar só por ali sem nunca conhecer o homem que está lá dentro e sem nunca vir a ser parte da vida dele. E é isso, é esse o meu sonho. E então naquela noite em que vi ver o apartamento, soube que era o mesmo apartamento – senti-o! Era tão familiar, tão seguro, tal como eu via nos meus sonhos. Olhei para baixo, tal como no sonho, e vi um homem sentado no sofá a falar com alguém que eu não conseguia ver. – Fez uma pausa – E agora? Julgas-me doida? Vais pôr-me na rua? – Gina sorriu nervosamente.
Harry lutou contra o sorriso que ameaçava distorcer-lhe os cantos da boca. Não sabia onde iria parar aquela conversa tão estranha, mas, por alguma razão, sentia-se obrigado a mantê-la bem viva. E arranjou uma expressão que mostrasse que estava a levá-la muito a sério:
- Não, não acho que sejas doida. Acho até bastante espantoso.
- Mas não é tudo. Espero que não penses que isto é realmente fora do normal ou algo assim…Oh, nem sei se hei-de dizer-te isto ou não…
Harry olhou para ela com muita atenção:
- Por favor, continua. Isto é fascinante.
- Bem, é que não é só o apartamento. É o homem. Pelos meus sonhos, sei que devo estar com o homem que está no sofá… É o mau destino, o meu destino. Percebes o que estou a dizer?
Harry começava a não perceber nada do que Gina estava a dizer mas o certo é que ela estava a ficar cada vez mais gira e cada vez mais próxima. E, de repente, imaginou-se a pegar no rosto dela com as mãos e a beijar-lhe a boquinha, vermelha e doce, para depois pensar em Cho, imaginando-a lá em cima enquanto eles falavam, elegantemente enfiada em lençóis de seda branca como o marfim (ele nunca os tinha visto, mas tinham de ser assim…ou não?), como seu corpo elegante e elástico enfiado numa pequena peça de cetim e rendas, a cabeça perfeita em cima da almofada enquanto ela dormia. E imaginou-lhe também o peito, envolto em rendas, a subir e a descer suavemente enquanto ela respirava, vendo-a voltar-se enquanto dormia…
- Pensas que eu sou doida, não é? Merda! Eu sabia! Eu sabia que não devia ter dito nada! – Gina estava a olhar para o chão, a torcer as mãos.
- O quê? Não! Não. Maus Deus, desculpa… Eu estava só a pensar, foi só isso – Harry sorriu com modéstia e sinceridade. Ainda queria beijá-la e, de repente, não lhe parecia que isso constituísse um grande desafio. Levantou o copo e acenou para o dela.
- À nossa, então – disse. Observando-a enquanto engoliam o repulsivo liquido com caretas.
- Iiiic … – disse Gina, franzindo as sobrancelhas.
- Bleugh – disse Harry, estremecendo.
Ficaram silenciosos por instantes, olhando os copos e espreitando de relance um para o outro, ambos à espera que alguma coisa acontecesse
- Harry – disse Gina –, espero que não penses que estou a ser incrivelmente atrevida, mas acabei de sentir uma enorme vontade de te abraçar. O que achas? – Sorrir, estendendo nervosamente os braços.
Foi um abraço monumental, um abraço de boas vindas. Gina sentiu a energia que se libertou entre os dois, enquanto encostava a cabeça ao peito dele e inspirava profundamente o cheiro de Harry a envolvê-la com o mesmo sentido de certeza, de segurança e de destino do sonho dela, mas bem melhor, porque era real.
Harry abraçou-a com força, saboreando a sensação dessa partilha física. Há tanto tempo, há demasiado tempo que não tinha um contacto humano decente. Esquecera-se do que sentia quando punha os braços à volta de outro ser humano, sem constrangimentos, e de quando partilhava o seu calor e o seu corpo. Sempre pensara que esse momento havia de chegar para ele e para Cho, mas o que estava a viver era bom e era agradável. Gina era agradável.
Tinham ficado assim durante tanto tempo que parecia que tinha passado horas, abraçados, a cabeça de Gina no peito de Harry, o queixo de Harry na cabeça dela, ambos a respirarem profundamente e a suspirarem, permitindo que sensações e sentimentos sem voz fluíssem entre eles, numa comunicação silenciosa entre duas pessoas que procuram coisas exactamente diferentes, mas que acabam por encontrar-se exactamente no mesmo sitio.

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Uff consegui fazer mais um capítulo em menos de uma semana

Espero que tenham gostado

Quero comentários e reviews !!!!!

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