O Começo do Fim




Capítulo 20
O Começo do Fim


Os dias transcorreram tranqüilamente, e o fim de Janeiro aproximava-se. A neve já começava a derreter-se lentamente, e os campos ao redor de Hogwarts já não eram mais cobertos pelo extenso manto branco. O sol ainda não aparecia com freqüência, porém os grossos casacos de lã já podiam ser abandonados.

Tracy acordou extremamente cedo naquela manhã, e apressou-se em organizar todas as suas coisas. Precisava estudar mais um pouco de Transfiguração, antes de chegar à aula e ela ter que fazer o relatório sobre o qual McGonagall os falara. Hermione também acordou antes da hora, e foi fazer companhia para Tracy. Não parava de repetir detalhes, datas e feitiços, e ainda tinha a audácia de dizer que não sabia de nada e iria se dar mal.

Logo quando os garotos chegaram e mencionaram displicentes que não sabiam que haveria uma espécie de teste na aula do dia, todos desceram. Hermione tomava o assunto de Tracy, que passara a ficar muito nervosa, enquanto tinham que ouvir Harry e Ron tentando decorar as mesmas coisas em voz alta.

- Juro que não sei como vocês conseguem esquecer de algo tão importante. – comentou Hermione, repreendendo os dois.

- Não é algo importante. O que importa é a nota que vamos tirar. – profetizou Ron.

- Se você não quer saber transfigurar as coisas, ruim para você. – comentou Hermione, já ficando emburrada com o garoto. – Nós que sabemos a matéria nos daremos muito melhor.

- Concordo plenamente. – falou Tracy.

- Você, Tracy, não se manifeste. – disse Ron, rindo.

Eles arranjaram lugares na mesa da Grifinória, e acomodaram-se neles. Os garotos começaram a servir-se rapidamente, pois agora precisavam estudar. Mesmo sendo repreendidos pelas garotas, eles entendiam (e até concordavam) que o estudo era importante. E, de certa forma, se arrependiam por não estudarem.

- Oi. – cumprimentou um rapaz. – Posso me sentar aqui?

Ele dirigiu a pergunta à Hermione, e referia-se ao lugar vago que estava ao lado dela. A garota o mirou por alguns instantes e assentiu com a cabeça, corando levemente.

- Você é Hermione Granger, não é? – perguntou ele, servindo-se.

- Sim, eu sou. – ela respondeu, rindo um pouco.

- Ouvi falar de você. Sabia que tem professores que a consideram a melhor da escola?

- Eu... Não, não sabia. – Hermione abriu um sorriso imenso ficando rubra.

- Sou do sétimo ano, e posso lhe afirmar que na minha série não tem ninguém melhor que você. Parece estar sempre estudando, se esforçando... – ele falava.

- Ela não só estuda. – falou Ron, fitando o rapaz. Este, por sua vez, olhou Ron com uma expressão fechada, e depois se voltou a Hermione.

- Eu gosto de garotas inteligentes. Não é exatamente fácil achar garotas assim por aí.

Hermione corou ainda mais, como se isso ainda fosse possível. Seu rosto estava quase tão vermelho quando o cabelo de Ron. O garoto também estava muito vermelho, mas era visível ser de raiva.

- Obrigada. – agradeceu a garota.

- Que nada. – Ele pegou um copo de leite e virou-o todo de um gole. Depois, levantou-se e falou: - Meu nome é Max Parsons, prazer. Mande-me uma coruja, qualquer dia desses.

Hermione assentiu com a cabeça.

- Sim, eu mandarei.

O rapaz beijou-a no rosto e ajeitou a mochila nos ombros, distanciando-se de todos. A garota observou-o saindo do Salão Principal, não se incomodando em virar seu pescoço em demasia.

- Uau, Mione. – comentou Tracy, dando alguns olhares de esguelha para Ron. – Alto, olhos castanhos claros, loiro... Também quero.

Harry riu com as garotas. Ron parecia estar em ponto de ebulição. Todos, exceto Ron, terminaram de comer em silêncio, apesar de Hermione não conseguir esconder um leve sorriso. O restante do dia foi passado entre comentários sobre o que havia acontecido, a maioria deles feitos por Tracy, que estava muito empenhada em irritar Ron.

- Mas você vai mandar uma coruja para ele, não vai? Se não eu mando. – ela comentou.

- Ah, Tracy. Eu... Sei lá.

- Esse é o cara mais bonito que conheço. – obviamente, era mentira. – Você não pode dispensá-lo. Jamais vai conseguir igual, ou sequer parecido.

Ron passou por elas, empurrando Hermione. Passara o dia inteiro sem falar com elas, e estava extremamente aborrecido. Tracy deu um leve sorriso de satisfação ao contemplar a cena.

- Isso é para ele tomar coragem e convidar você para sair logo. – falou Tracy, em tom mandão.

- Não sei se isso será de grande valia. – comentou Harry, ainda rindo.

- Claro que será. Ele está se mordendo de ciúmes, não está? Então, isso é ótimo. Quem sabe tenhamos uma boa novidade em pouco tempo.

Eles concordaram em silêncio. Mas, depois, já no calor de suas camas no dormitório, Hermione perguntou:

- Bem, então, você estava falando sério quanto a mandar a coruja para o Parsons?

~*~*~


O último dia de janeiro passou muito rápido, repleto de deveres a serem feitos e feitiços a serem realizados. Não se pode negar que fora um dia corrido, mas também não se pode negar que fora divertido. Entre todos os problemas os alunos sempre conseguiam achar piadas e motivos para divertimentos e risos durante as aulas, o que acarretou a perda de quase duzentos pontos para a Grifinória em um único dia, só da parte dos sextanistas.

Tracy se atrasou na saída da última aula, pois havia sido pega fazendo brincadeiras na sala e teve que ajudar a professora de Defesa Contra as Artes das Trevas a arrumar o local no final do período. Depois que terminou tudo, juntou seus materiais e saiu rápida para os corredores, atrás dos amigos.

- Srta. Mignonette. – chamou-a uma voz conhecida.

- Sim, professora McGonagall?

- Eu gostaria que a senhorita me acompanhasse, o diretor gostaria de lhe falar. – ela disse.

- Mas eu tenho que jantar, e depois voltar para o dormitório dentro do horário permitido. – justificou Tracy.

- O diretor disse que é só para a senhorita ir vê-lo, que ele cuida desses detalhes depois. Acompanhe-me, por favor.

Tracy acompanhou-a, perguntando a si mesma o que o diretor queria com ela enquanto caminhava pelos corredores. Pensou se seria repreendida por ter conversado durante a aula de Defesa Contra as Artes das Trevas. Descartou a possibilidade no mesmo instante em que a pensou, pois isso não era um problema assim tão grande.

Elas chegaram a frente a uma gárgula de pedra, gigantesca, que ocupava toda uma das paredes. McGonagall murmurou algo inaudível para Tracy naquele momento, o que a garota deduziu ser uma senha, pois logo a gárgula girou e nela apareceu uma escada circular, um tanto diferente das mais comuns em Hogwarts. McGonagall fez um sinal e Tracy a acompanhou, subindo na escada que tão logo começou a rotação, parou.

- Professor Dumbledore, eu trouxe a garota. – ela disse.

Tracy ergueu os olhos e fitou o diretor que as recebeu com uma expressão de contentamento no rosto. Era um senhor alto e muito magro, com longas barbas e cabelos brancos. Ele a olhava meticulosamente, sem ser desrespeitoso, por detrás de óculos de meia-lua. Usava vestes azuis claras também muito longas, que combinavam perfeitamente com seus olhos muito pequenos e profundos.

- Obrigado, Minerva. – ele falou. – Se precisar de você novamente, lhe chamo. Mas, por hora, pode ir descansar.

A professora se distanciou e a porta do escritório fechou-se atrás dela. Dumbledore levantou-se e aproximou-se de Tracy, apertando sua mão e a indicando a cadeira em frente à escrivaninha.

- Tudo bem com a senhorita? – o homem perguntou gentil.

- Sim. – ela respondeu rapidamente. Estava com medo, preocupada com o motivo daquela visita.

- Que bom. Presumi que estivesse. E os estudos, também vão bem?

- Vão. – ela tornou a responder baixinho.

- Então está gostando da escola? Creio eu que você já se acostumou bem a ela, até já arranjou vários amigos por aqui. – ele comentou.

- Sim, me acostumei. E meus amigos também estão bem, caso esteja pensando em perguntar. – ela tentou ao máximo não ser grossa, e devolveu um sorriso a Dumbledore quando este lhe sorriu.

- Fico muito feliz por isso. Quer chá? Café, suco de abóbora ou alguma outra coisa?

Ele indicou alguns copos e jarras a um canto da mesa. Tracy fitou aquilo desconfiada, e voltou a olhar para o rosto envelhecido do homem a sua frente.

- Por que é que me chamou aqui? – perguntou, encarando fielmente os olhos azuis de Dumbledore.

- Você é realmente muito argúcia. – Ele sorria, e o toque de ironia era quase imperceptível em sua voz.

Tracy não respondeu, apenas concentrou-se em manter a expressão fechada, como se exigisse uma resposta séria.

- Bem, eu... Nem sei por onde começar. – disse Dumbledore. – É um caso difícil de resolver. Muito difícil de resolver. Já há algum tempo venho pensando e repensando, mas não consigo achar alguma solução plausível.

Mais uma vez Tracy ficou calada, só observando.

- Como é mesmo seu nome?

- Tracy Mignonette. – ela resmungou depois de respirar profundamente, incomodada com a situação. – Por quê?

- Eu apenas me esqueci, momentaneamente. Não se preocupe com isso.
Ele se levantou e começou a andar pela sala, observando atentamente cada detalhe e objeto da mesma, como se quisesse ganhar tempo para pensar. Tracy o acompanhava com o olhar, sem mexer a cabeça. De repente ele virou-se e, decidido, falou:

- Isso pode ser um choque para você, mas eu lhe peço que não faça estardalhaços e nem nada do gênero, senão será pior.

- Como? Explique-se.

- Eu sei de tudo. – disse, simplesmente.

- Oras, tudo o qu...? – Ela abriu a boca, mal conseguindo respirar. – Você... Do que está falando?

Tracy começou a tremer no mesmo instante. Uma onda de desespero percorreu seu corpo, a tomando por inteira e controlando suas ações.

- Acalme-se, por favor, querida. – Dumbledore pediu. – Eu quero lhe contar uma história. É ótima, tenho absoluta certeza que irá gostar.

A garota respirou profundamente, tentando relaxar. O que seria aquilo? O que Dumbledore queria realmente? Seria algum problema ele se explicar logo?

- Uma pessoa extraordinária foi quem a contou para mim. Sem mais delongas... – ele também respirou fundo, e continuou. – Num belo dia dessas tão agradáveis últimas férias de verão, Draco Malfoy resolveu trocar bons momentos rindo de seus inimigos e planejando mais peças para os fazerem cair, por alguns minutos de glória espionando o que sua mãe e sua tia Belatriz andavam fazendo. Sempre tivera curiosidade em saber, e esperava tornar-se grande agora que seu pai estava preso em Azkaban, e ele é quem era o “homem da casa”.

“Elas estavam conversando aos cochichos em uma pequena sala de estar, com a porta trancada e imperturbada. Lançando um simples feitiço que havia aprendido com seu pai há alguns meses, ele passou a ouvir toda a conversa das irmãs, com detalhes. Qual foi sua surpresa ao ver que mulheres não conversam só sobre moda, vestes, e tudo o mais! Conversavam também sobre coisas de real importância.”

Ele parou por um momento para fitá-la, e depois voltou a andar.

- Ele ouviu sua mãe reclamar a falta do marido, e mesmo Belatriz concordando com ela. Falaram sobre Voldemort, até que a tia de Draco disse algo mais ou menos assim, preocupada: “Ele está inquieto, sem saídas visíveis. Já pensou em várias soluções, mas não conseguiu encontrar nenhuma. Não sei o que fazer, eu tenho medo de que algo aconteça a mim mesma.”. É lógico que isso é motivo para verdadeiras preocupações. Continuando a ouvir mais detalhadamente a conversa, descobriu vários outros detalhes importantes para o desfecho, ou seria o início?, de nossa história.

“Incrível é como a mente humana trabalha quando realmente almeja algo. Foi o que Draco fez. Pesquisou, folheou livros, pergaminhos antigos, jornais, enfim, tudo que podia. Logo achou o que tanto queria. Era algo extremamente complicado de se fazer sozinho, então resolveu ir visitar o mestre de seus pais e de alguns familiares.”

Tracy ergueu os olhos, por um momento abaixados.

- Pulamos então para outro dia. Um dia glorioso na vida de seu colega Malfoy. Mais precisamente, seis de julho. Fez sua proposta a Voldemort, que ouviu atentamente tudo o ele tinha a dizer. A conversa foi, na realidade, sobre uma poção praticamente desconhecida do mundo bruxo. Logo que ela foi descoberta, sua lista de ingredientes foi confiscada pelo Ministério, mas, pelo visto, havia muito mais cópias dela por aí do que se imaginava. Ela tem efeitos magníficos e resultados mais magníficos ainda. Não preciso dizer o que é, afinal você já sabe exatamente. Só que o sangue de algum futuro familiar seria necessário. Voldemort cedeu o seu. Foi a única solução encontrada! E a poção foi feita com muito esmero durante todo o mês em que precisou ser fervida, e os ingredientes cozinhados.

“E então, no dia seis de agosto ela ficou pronta. Seus efeitos foram magníficos. Algo que fiquei sabendo foi que havia chamas em gotas. Incrível, não? No momento seguinte ao espetáculo, surgiu uma garota no local onde a poção derramara-se. E ela foi nomeada Manuela Evans Riddle. Manuela, pelo que vim saber, a pouquíssimo tempo, é por causa de seu significado: Merlim está conosco. Evans, por que sua mãe tinha esse sobrenome antes de casar-se e Riddle por que este era o sobrenome do pai. Mas... Lílian Potter seria a mãe de Evans Riddle? Como? Bem, todos concluíram que o sangue de Harry Potter fora encontrado no sangue de Voldemort e a poção havia identificado o sangue da mãe de Harry como o sangue da mulher, como havia pedido nos ingredientes.”

Tracy debruçou-se sobre a escrivaninha de Dumbledore, tremendo ainda mais do que antes. Não falou nada, resolveu apenas esperar para ver o que é que o homem tanto sabia. Se não soubesse de toda a história, ela também não queria entregar-se.

- Voldemort e Riddle, como fora chamada a princípio por todos, logo fizeram uma amizade muito forte. Talvez não fosse exatamente como pai e filha, mas o relacionamento era bom e de profunda lealdade.

“Logo em seguida a isso, eles foram para a casa dos Malfoy. Lá terminaram de formar o plano para os primeiros meses em que Riddle entraria em Hogwarts. Mas como isso poderia ocorrer? Ora, fácil. Era só a garota possuir alguém. Quem? Fácil também. A filha de ex-amigos dos Malfoy, uma francesa da idade correta para vir para Hogwarts no mesmo ano que Harry Potter e seus amigos. E foi o que aconteceu. Com pouca dificuldade, dias após, Evans Riddle estava transformada em Tracy Mignonette.”

Tracy recomeçou a tremer, mas não tirou sua cabeça de dentro de suas mãos. As lágrimas escorreram pelo seu rosto. A tristeza dominou seu peito, mas ela, em momento algum, soube o que dizer ou o que fazer. Seu peito doía muito e a preocupação aumentara. Ela só podia estar sonhando...

- À medida que o plano seguia em frente, os problemas foram aumentando e tomando proporções maiores. Primeiro: quem colocaria a última descendente de Slytherin na Grifinória? Acreditar na sorte e esperar que o Chapéu Seletor o fizesse por vontade própria ou identificasse as qualidades de Gryffindor em Riddle era uma tolice. Então estava eu na noite da Seleção, ocupado com alguns afazeres quando o professor Snape se oferece para levá-lo até a sala de McGonagall, onde seria feita a Seleção da garota nova. Mal sabia eu que ele iria confundir o chapéu.

“Fiquei sabendo também que ela teve muita dificuldade em fazer com que Harry, Ron e Hermione se tornassem seus amigos. Mas isso foi fácil de arranjar. Conseguiu uma detenção com Severo por defender Harry imediatamente e logo eles fizeram uma amizade muito forte.”

“Mas nem tudo em seu caminho eram só maravilhas... Draco, que soube do plano desde o início, tratou de contá-lo logo a uma de suas amigas, Jessica Farway. A fúria de Riddle foi enorme, é claro, e soube que até chegou a cogitar a possibilidade de matar a garota, ou a Draco. Mas, na melhor das hipóteses, Farway tornou-se uma Comensal sem o conhecimento e consentimento de Lord Voldemort. Tudo continuou a correr muito bem, até o momento em que Pansy Parkinson, também por Draco, ficou sabendo de quase tudo com detalhes. Morr...”

- Basta! – gritou Riddle interrompendo o diretor.

- Algum problema, Tracy? Por acaso já conhecia esta história? – perguntou Dumbledore calmamente.

- Por que é que você está me acusando disso? Que foi que eu fiz para você me fazer esta acusação tão grave? – a garota tentava conter as lágrimas, mas cada vez elas escorriam mais pelo seu rosto.

- Sabe desta história melhor do que eu, não é, Tracy?

- Eu não sei de nada! Mas, é claro, quero saber por que você está falando esse tipo de coisa horrível sobre mim!

Dumbledore arqueou uma das sobrancelhas enquanto voltava para sentar-se em sua cadeira novamente, aparentemente cansado por ter contado toda aquela história. Ele fitava Tracy de uma maneira estranha, como se quisesse ser gentil, mas por trás debochasse dela.

- O que mais poderia me contar sobre ela? – Dumbledore tornou a perguntar, como se ignorasse o que Tracy falava. – Ou meu informante estava muito a par dos acontecimentos?

Obviamente ele sabia muito bem da história toda, desde seu início. Talvez não soubesse apenas de conversas mais importantes entre Voldemort e Riddle, e a garota e algumas pessoas. Mas, mesmo sendo assim, estava bem informado.

- Dumbledore, eu...

- Professor Dumbledore. – corrigiu o diretor.

- Professor Dumbledore. – ela falou. – Eu não sei do que você está falando, sinceramente. Não sabia dessa tal história, nem nada...

- Por favor, Riddle. Você pode enganar a muitos com seu jeito encantador e meigo, mas a mim você não engana.

- Eu não estou tentando enganá-lo. – Ela resolveu apelar. – Até por que sei que você não se deixaria ser enganado tão facilmente.

- Se você realmente acreditasse nisso não teria acabado de dizer o que disse. – ele ponderou.

Ela silenciou-se e pareceu pensar por alguns instantes.

- Quem foi que contou isso a você? – ela perguntou.

- Então o que acabo de dizer é verdade?

- Claro que não! Só quero saber quem é que anda dizendo blasfêmias de mim por aí.

- Alguém muito fiel a mim, é o que lhe basta saber.

- Não basta! – ela gritou. – Conte-me!

Ela encarou profundamente os olhos azuis de Dumbledore.

- Presumo que esteja tentando usar Legilimência contra mim. Saiba que, modéstia a parte, sou ótimo em Oclumência. – comentou o diretor.

- Legilimência? Eu sequer sei o que significa, quanto mais fazê-la...

- Pare de mentir. – ordenou Dumbledore. – Admita o que você fez, o que faz, como pensa! É o melhor a se fazer numa situação destas.

- Quem é o senhor para me dizer o que é e o que não é o melhor a ser feito? – perguntou ela, grossa.

- O diretor dessa escola e, se me permite dizer, o mais experiente dessa instituição de ensino. – ele falou, sério. – Eu sei de tudo. Não adianta tentar mentir, burlar, enganar a mim ou fazer qualquer coisa do gênero.

A garota pôs o rosto entre as mãos novamente.

- Já lhe contei toda a história uma vez. Se precisar recontá-la, para que tenha absoluta certeza disso, eu o farei.

- O que é que você ganha com isso? – perguntou ela, finalmente, depois de esperar alguns instantes em silêncio.

- Então admite que fez tudo isso?

- Sim, admito.

Dumbledore ostentava um sorriso imenso no rosto.

- Então, vou lhe repetir a pergunta que fiz anteriormente: tem mais algo a acrescentar à minha história?

- O que me garante que você não vai espalhá-la ou julgar-me? – perguntou Tracy.

- Por acaso conhece alguém que confiou em mim e fracassou? – Dumbledore sorria.

Tracy pensou no que ele havia dito, e respondeu:

- Não. E também não tenho nada a acrescentar à sua história. A não ser o fato de que colaborei muito com Harry para que ele conseguisse salvar Sirius do véu do Ministério. – falou Tracy com certa imponência.

- Também já sabia disso. – comentou Dumbledore. – Mas você me interrompeu antes do fim. Admito sim que você fez muitas coisas boas, e ajudou seus amigos em alguns aspectos. Meus parabéns.

Tracy pensou em agradecer, mas não conseguiu. O orgulho ainda prevalecia em seu peito e a impedia de fazer determinadas coisas, como aquela de agradecer ao maior inimigo de seu pai e, consequentemente, o seu maior também.

- Por favor, diga-me. Quem foi que lhe contou tudo isso? – implorou Tracy. – Eu preciso saber, entende? Admito que foi alguém que sabe muito bem de tudo e me traiu... Preciso saber o porquê disso!

- Não, não precisa. Você quer saber. – ponderou Dumbledore. – É diferente. É desnecessário.

- O que é necessário aqui, então? Por que é que estamos aqui se tudo isso é desnecessário? – ela gritou.

- Já pedi isso uma vez e vou repetir: não se altere. Quero sim que você me questione e quero também lhe dar respostas convincentes. Mas não se rebaixe perante a mim gritando.

- Eu só quero saber quem foi!

- Eu só quero que você se acalme. Senão ficará muito mais tempo aqui do que deseja e tenho certeza que isso não será nada agradável para a senhorita. – disse Dumbledore.

Tracy baixou os olhos. Sentia-se obrigada a reconhecer o grande bruxo que era Dumbledore. Agora entendia porque seu pai tinha medo dele. Agora entendia também porque ele não queria se aproximar do bruxo.

- Então me fale logo o quer. Eu preciso dormir, tenho que acordar cedo amanhã e...

- Muito bem. – interrompeu Dumbledore, visivelmente incomodado com aquela ladainha. – Já que você tem tantos afazeres importantes, como dormir, eu vou me apressar também.

- Detesto sarcasmo.

- Mas, no entanto, o usa bastante, não é?

Tracy suspirou. Seu coração havia endurecido rapidamente e ela já não mais chorava. A face ainda continuavam vermelhas e os olhos inchados por causa do choro, mas agora tudo ia voltando ao normal.

- Diga-me então, Tracy, já que você visivelmente prefere ser chamada assim, o que é que você ganha ajudando Voldemort, seu pai, desta maneira.

- Eu? Ora, não me venha com interrogatórios. Vamos direto ao assunto.

- Mas eu estou indo direto ao assunto.

- Tudo bem, então. O que eu ganho? Muitas coisas. Prestígio entre o Lorde das Trevas e seus seguidores. Também ganho a admiração de certas pessoas, que apreciam o que nós fazemos. Se tudo ocorrer bem, serei aclamada e ovacionada pelo restante da minha vida, pela garota que conseguiu destruir Harry Potter, o Menino Que Sobreviveu.

- Eu estou falando em valores. Prestígio é algo que qualquer um consegue diante de Voldemort. É só fazer o que ele manda, sem cometer erros. Quero algo que vá mais além, que tenha mais utilidade para a garota Riddle como pessoa. Não como uma serva das Trevas.

- Eu não sou e nem nunca serei uma serva das Trevas! Sou superior a todos! Sei muito e posso muito mais que todos eles juntos! Não subestime essas informações! – ela gritou, fazendo eco no escritório do diretor.

- Que está fazendo então, obedecendo às ordens de Voldemort? – perguntou Dumbledore, ignorando o fato de que ela havia gritado quando havia sido expressamente proibida de fazer isso.

- E quem disse que eu obedeço a todas as ordens dele? – Tracy arqueou uma sobrancelha.

- Minhas fontes me asseguraram.

- Pois eu desminto-as. Você bem sabe que pouco fiz do que ele me pediu exatamente. Mudei quase tudo, deixando o da minha forma.

- Se você diz. Mas, então, continuando. Que tipo de valores você ganha ajudando Voldemort?

- Valores? Quem se importa com valores que não tenham a ver com galeões, sicles, nuques...? – Tracy fazia pouco caso das palavras de Dumbledore, e revirava os olhos a cada momento.

- Muitas pessoas se importam. Seu irmão é uma delas.

Tracy pensou em Harry. Pensou na ligação de sangue que havia entre eles. É claro que já havia se martirizado em algumas situações por querer machucá-lo e matá-lo, mas aquilo era em apenas raros momentos. No geral, tratava o assunto e o parentesco com displicência, nem ligando para tudo que ocorria.

- Então, no seu ver, eu não ganho nada sendo partidária do Lorde das Trevas? – ela perguntou.

- Não ganha. – tornou Dumbledore a afirmar.

- E o que eu ganharia não sendo? – tornou a perguntar, sorrindo levemente com o silêncio momentâneo do diretor. – É lógico que eu não ganharia nada. O “bem” não tem um objetivo fixo, a não ser eliminar o “mal”. Porém, este jamais será eliminado. Sempre haverá pessoas que se sentirão atraídas pelo mesmo, e que o seguirão fielmente até o dia de sua morte...

- Admite então que é loucura de Lord Voldemort pensar na imortalidade? – perguntou Dumbledore.

- Eu... Admito. Mas deveremos deixar sucessores. Sempre haverá sucessores.

O silêncio prevaleceu totalmente nos minutos seguintes. Tracy mantinha o olhar vago, como se pensasse profundamente em determinados assuntos. Já Dumbledore, o mantinha baixo e cauteloso, parecendo observar sua escrivaninha.

- Preciso lhe propor algo, Tracy. – disse o diretor, finalmente. – Eu quero que você venha para nosso lado, venha para a Ordem da Fênix.

Tracy ficou estupidificada. Sua boca abriu-se lentamente em sinal de surpresa, mas também indicava que não sabia o que falar diante de tal proposta.

- Por quê? Você deve estar se perguntando. Porque precisamos de sua ajuda. Você é dona de poderes que nenhum bruxo sabe que existem! Você surgiu com todos os poderes imagináveis e inimagináveis! Precisamos de você. Precisamos da sua inteligência, da sua audácia, da sua coragem, do seu bom senso! – ele parou para fitar Tracy. – Queremos você conosco para combater Lord Voldemort e seus seguidores, porque diante de todos eles nos sentimos fracos... São tantos e tão poderosos debaixo das mãos protetoras de seu mestre! Não os queremos, queremos só a você! Você é uma garota jovem, ainda tem salvação diante de tudo aquilo. Seria muito maior aqui! Ajudando-nos, estando do nosso lado!

- Eu...

- Sim, será grande sim! – Dumbledore respondeu a pergunta que Tracy só fizera mentalmente. – Ou o que você acha? Que depois que ajudar Voldemort a destruir a todos, ele lhe deixará facilmente assumir o poder que demorou e lutou tanto para conseguir? Isso apenas pressupondo que vocês irão conseguir nos destruir! Jamais! Você pode ser mais poderosa em relação à Voldemort, mas não se esqueça de que ele também é inteligente! Da sua maneira, é claro, é um dos maiores bruxos que já existiram! Ele nunca vai lhe entregar tudo de mão beijada, mesmo que o mérito pela conquista disso tudo seja somente seu! Você dará a ele tudo de graça, e ele vai fazer o que puder para te matar e tirar você da vida dele! Depois que conseguir o que quer vai lhe esquecer completamente, se voltando só para os próprios objetivos! Ele conseguiu, não importa quem o ajudou nem quem fez com que ele conseguisse... Ele atingiu seu principal objetivo e só visa isso, o poder que terá!

Tracy se chocara com as palavras de Dumbledore, tanto com a euforia com que as pronunciara. Nunca havia pensado naquilo, tido aquelas idéias a respeito do Lorde das Trevas. Nunca havia pensado no que ele faria com a ajuda que a garota havia dado. Seu peito voltou a doer, era como se ele fosse pressionado profundamente em ambos os lados. Ficou ofegante, não conseguia respirar com facilidade.

- Nunca... Nunca havia pensado na existência dessa possibilidade. – ela balbuciou.

- É difícil acreditar, eu sei! Não havíamos nos falado antes, mas...

- Eu acredito no senhor! Não queria, mas acredito no senhor, eu... – ela desatou a chorar copiosamente sobre a escrivaninha.

Dumbledore se levantou e foi até a garota. Tinha a intenção de abraçá-la e confortá-la, mas não sabia como fazer isso. Conjurou um copo de água e deu a ela, que bebeu rapidamente enquanto tentava segurar o copo nas mãos.

- É duro, não é? Mas posso lhe assegurar que é a verdade.
- Eu... – ela parou de chorar. – Mas que é que o senhor está pensando? Que vai me enganar? Não! Não vai conseguir me ludibriar e me levar para o seu lado! Não vai! Eu acredito no Lorde das Trevas, ele me deu vida...

- Ele deu vida a um sonho dele! Não a alguém. Você não é alguém, é uma solução encontrada para um grande problema!

- Não!

- Sim! Ele não te ama, não como uma filha! Ele lhe ama menos que a seus troféus! Nesse quesito você é insignificante, jamais será lembrada por ele depois que ajudá-lo! É sempre assim, nunca foi diferente. Seja útil a Voldemort e depois morra. Sei do que estou falando. – ponderou Dumbledore.

- Não sabe! Está mentindo, você não o conhece... Ele dá valor sim àqueles que o ajudaram, que lhe foram úteis! – berrou Tracy.

- Valor? Só se for a honra de ser morto por Lord Voldemort em pessoa!

- Mentira! Você não vai conseguir me enganar, não vai conseguir me levar para o seu lado... Eu não sou da sua laia, Dumbledore! Não sou, nem nunca serei ou me juntarei a ela!

- Pense bem, Riddle. – falou o diretor. – Pense bem.

- Já pensei! Já entendi tudo que o senhor quer! É me colocar contra o meu pai, não é? Não vai conseguir!

- As nossas portas estarão sempre abertas a você, Riddle. Quando mudar de idéia, pode vir a nosso encontro... – ele falou calmamente.

- Isso jamais vai acontecer! Jamais! Prefiro morrer a me juntar a vocês!

- Tenho certeza que algum dia irá me compreender e, quando este dia chegar, virá pedir ajuda. Só quero que saiba que te perdoamos desde já pelo erro que está cometendo. – falou o diretor.

- O quê? Não quero o perdão de ninguém! Não preciso de perdão nem de compaixão! Posso muito bem viver minha vida sozinha, sem ajuda! – ela gritou novamente.

- Você é quem sabe. – comentou Dumbledore, a encarando nos olhos.

- Vou embora! Não quero mais ser ofendida, vou para o meu dormitório!

- Vá. E tenha uma boa noite de sono. – Dumbledore sorriu.

Tracy soltou um grito de ódio e escancarou a porta da diretoria com um aceno da varinha, descendo rapidamente todos os degraus até chegar à gárgula. A fitou por alguns instantes e depois saiu desabalada pelos corredores.

Deixou algumas lágrimas que teimavam em cair já fazia algum tempo descerem pela sua face. Ela tremia e arfava suando frio. Guardou a varinha no bolso e tirou a capa de Hogwarts, a jogando no chão e sentando-se em cima dela, se encostando a uma parede.

Colocou o rosto entre as mãos e desatou a chorar. A raiva que sentia foi rapidamente substituída por uma onda imensa de tristeza, que a consumia mais a cada segundo. Agora que não estava mais furiosa conseguia entender a dimensão do problema. Era muito mais do que ela sequer podia imaginar...

Dumbledore sabia do plano, com todos os detalhes. Provavelmente muito mais pessoas também já sabiam, ou saberiam logo depois da conversa de Tracy com o diretor. O que pensariam dela? De que maneira a olhariam, a tratariam a partir daquele momento? O que Dumbledore faria? A denunciaria para o Ministério? Ou a mataria depois de garantir que a garota Tracy Mignonette estaria bem? E o pior... O que seu pai diria de tudo aquilo? O que acharia Lord das Trevas de Evans Riddle ter fracassado completamente, não conseguindo impedir seu maior inimigo de desvendar todo o mistério que envolvia seus novos planos?

Quando pensava em todos esses detalhes sentia-se pior ainda. Era difícil pensar no que fazer, que rumo tomar para seguir em frente. Era difícil seguir em frente. Tracy desejou ficar o resto de sua vida ali, sentada sobre um duro chão de pedra e afogando suas mágoas nos piores pensamentos.

Chorava copiosamente e alto, fazendo ecos incríveis pelos corredores. Soluçava imensamente. Mas não se importava com mais nada. Só queria gritar, chorar para tirar toda a dor que sentia em seu peito e que a incomodava tanto. O que diria Voldemort de tudo aquilo? O que faria quando soubesse...?

Se soubesse. O choro acalmou-se um pouco e as esperanças se renovaram em Tracy. É claro, era só não contar a ele. Se Dumbledore também não espalhasse tudo que sabia, as coisas ficariam no mesmo estado. Tracy respirou aliviada, mas ainda sem parar de chorar.

O que a incomodava profundamente era quem é que teria contado tudo a Dumbledore. Por que só alguém muito próximo faria isso. Mas, fosse quem fosse, teria uma grande dívida a pagar para ela. E pagaria.

Passou as mãos rapidamente pelo rosto e se levantou, pegando a capa e vestindo-a novamente. De repente sentiu um frio imenso, algo que não sentira dentro do escritório de Dumbledore. Precisava voltar para os dormitórios, antes que Filch a apanhasse. Sabia que seus olhos estavam inchados e que ainda não parara de arfar e soluçar, mas precisava voltar. Nem sequer passou pela sua cabeça a idéia de ir antes ao banheiro, para lavar o rosto e melhorar a aparência para evitar perguntas incômodas.

Olhou para os lados e caminhou cautelosamente pelos corredores durantes alguns minutos. Quando estava próxima ao Salão Principal ouviu conversas e, antes mesmo de tentar ouvi-las ou descobrir quem é que estava ali, saiu correndo novamente. Não queria mais um problema: ser pega fora da cama em horários não permitidos.

Subiu alguns degraus e olhou para trás, para ver se não estava sendo seguida. Nesse momento topou com alguém, e teve que agarrar-se ao corrimão para não cair. Depois de ajeitar rapidamente afastou o cabelo do rosto e, arfando, fitou a pessoa parada a sua frente.


N/A.: Se eu me orgulho dessa fic, é por causa do que acontece a partir deste capítulo. Garanto-lhes de que está realmente muito boa, foi escrita com muita dedicação e paciência. São capítulos decisivos e foram pensados, repensados, escritos e reescritos várias vezes. Afinal, a fic abordará várias questões agora, sendo quem contou tudo a Dumbledore, a principal.

Espero sinceramente que tenham gostado tanto deste capítulo quanto eu gostei. Ah, e peço desculpas por algum erro que vocês tenham percebido, pois o capítulo não foi betado. Acho que acabei me desencontrando da Malu, e eu não podia deixá-los mais de um mês sem atualização, não é?

O próximo capítulo poderá ser postado amanhã mesmo, mas há condições. Para terminar a postagem dos capítulos logo eu resolvi estipular uma quantidade de comentários por capítulo. Ou seja, quando eu tiver recebido 560 comentários, eu posto. Isso pode ser amanhã, semana que vem, mês que vem, ano que vem... Não interessa. Quando der, eu posto. Então, se vocês realmente gostam da fic, me ajudem!

Conto com vocês para postar bem rápido! Beijos, Manu Riddle.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.