O Deslize de Draco




Capítulo 6
O Deslize de Draco


Ao fim das aulas daquela segunda-feira e do jantar todos os alunos direcionaram-se à Sala Comunal da sua casa. Menos Tracy, é claro. Nesta semana teria que cumprir suas detenções com Severo Snape.

- Boa noite, Srta. Mignonette – disse Snape, com seu habitual mau-humor, quando a garota entrou na sala.

- Como você se atreveu a me dar uma detenção, Severo? – respondeu a garota, nervosa.

- O que queria que eu fizesse? Sabe muito bem que não é do meu feitio deixar impunes os alunos que me ofendem!

Ela pensou um pouco e mordeu os lábios.

- Sei! Fez bem em me dar uma detenção, sei que me exaltei e errei, admito, errei gritando com você daquela maneira! – retrucou Tracy.

- Então por que fez aquilo?

- Eu imaginei que você pudesse acabar com a briga ou punir Potter, ou um de seus amiguinhos.

- E isso não seria bom? – indagou Snape.

- É claro que não, Severo! Por que acha que eu pedi para você me colocar na mesma carteira com o Malfoy?

- Sei, você queria bolar um plano para...

- Como eu disse ao Malfoy, eu precisava ganhar a confiança do Potter e não estava conseguindo. Só precisava que ele deixasse o Potter nervoso para que depois eu derrotasse Malfoy para parecer que estou do lado deles – explicou a garota. – Tudo estava perfeito até você chegar e mandar todo mundo sair dali.

Snape fitou a garota com seus olhos negros e encarou-a demonstrando pena.

- Você é tão inocente, Riddle, tão ingênua. Dá-me pena o Lorde das Trevas ter que contar com você como um dos últimos recursos.

- Faz melhor, Severo?

- Só digo isso – respondeu o homem, desviando o seu olhar do de Tracy. –Porque bem se vê que não sabe aproveitar-se de uma situação. Você acha mesmo que não conseguiu uma pontinha de gratidão ou de admiração do Potter ao gritar comigo hoje, após a minha aula?

Tracy baixou a cabeça.

- É possível que isso tenha acontecido.

- Vamos. Eu te levo até a Sala Comunal da Grifinória, visto que os alunos não podem perambular pela escola sozinhos após as sete horas da noite.

- E que desculpa eu darei ao Potter por chegar antes da hora no dormitório? - disse ela, nervosa.

- Diga que eu estava muito ocupado e dispensei você antes, hoje.

- Vamos, então.

Tracy e Snape se despediram e a garota entrou na Sala Comunal, onde foi recebida com olhares curiosos de alguns colegas e o sorriso de outros.

- Uau! Tracy, foi fantástico! – gritou Ron. – A escola inteira já está sabendo!

- Só não se espalhou mais rápido que o torneio de gritos que Harry teve com a Umbridge, ano passado! – falou Gina, animada.

- Han... – começou Tracy, encabulada. –Não foi nada de mais, eu só defendi o Harry. “Jogada de gênio!”, pensou ela.

- Por isso mesmo! – falou Ron. - Por defender o Harry do Snape, está todo mundo te achando muito corajosa!

A garota sorriu. Exatamente o que Severo havia dito! Aquela situação também era favorável. Quem sabe, até mais do que a que ela havia planejado...

- Não ligue para esses comentários, Tracy - disse Hermione, surgindo entre os demais alunos. – Foi muito errado o que você fez, desrespeitar um professor dessa maneira.

- Ela estava me defendendo, Hermione. Dá um desconto...

- Ela poderia ter ganhado muito mais do que uma simples detenção! A Grifinória poderia ter perdido vários pontos, ela poderia ter tido que ir conversar com a McGonagall, ou até mesmo com o Dumbledore – retrucou Hermione, enumerando as possibilidades existentes.

- É, eu tenho que admitir, eu me arrisquei demais, realmente – falou Tracy, fingindo-se de preocupada. – Mas foi pelo meu amigo, Harry, valeu a pena. Imaginem o que mais o Draco poderia ter feito! E se Snape acusasse alguém, com certeza não seria o sonserino, não é? Sobraria ainda mais pro Harry.

- Com certeza! – apoiaram alguns alunos.

Ficaram por um tempo pela Sala Comunal e depois, aproximadamente às dez horas, decidiram subir para os dormitórios. Quando estavam no meio das escadas, eles tocaram no assunto dos treinos de Quadribol.

- Eu ainda não acredito que me tornei o novo capitão do time. Deveria ter sido você, Harry – murmurou Ron.

- Você ganhou a Copa para nós ano passado e eu fui expulso do time. A decisão foi justa – respondeu Harry, tentando esconder aquele sentimento estranho de exclusão.

- Nem... você tem muito mais experiência – retrucou Ron. – O time vai ficar horrível comigo como capitão. Talvez se nós conversássemos com a professora McGonagall, ela me trocasse por você. Bons argumentos não faltariam.

- Ficou louco, Ron? Você não vai fazer isso, eu não permito!

- Eu tenho que salvar o time! – disse ele.

Harry e Ron estacaram, pois já haviam chegado na porta do seu dormitório.

- Boa noite – disse Hermione. – Até amanhã.

- Boa noite – responderam Harry e Ron em uníssono.

Tracy sorriu e começou a subir as escadas em direção ao dormitório feminino da Grifinória junto com Hermione. Repentinamente a garota se desequilibrou e teve que se agarrar na parede para não cair.

- Que foi, Tracy? Está tudo bem? Você está se sentindo mal? – perguntou Hermione, correndo para perto da amiga.

- Hã... – a garota estava ofegante. – Não... foi... foi só uma... Ai!... dor de cabeça. Nada de mais.

Tracy apertava uma das mãos contra a cabeça e a outra apoiava num dos braços de Hermione.

- Vamos, eu te ajudo a ir até a Ala Hospitalar – falou a garota.

- Não! Não precisa, eu já estou me sentindo melhor – disse Tracy, sinceramente. – A dor está passando aos poucos.

Era verdade. Tão rápida quando a dor tinha vindo, estava saindo. Ao ver que o rosto de Tracy não estava mais tão pálido, Hermione concordou com ela e a ajudou a subir o restante dos degraus.

- Tem certeza que não quer ir à Ala Hospitalar? Você tem algum problema?

- Não tenho, Mione. Não quero ir a Ala Hospitalar. Aliás, não preciso.

- Tudo bem, Tracy – respondeu ela, vencida. – Mas se sentir essa dor novamente me acorde e eu lhe ajudarei a pedir para Madame Pomfrey te ajudar. Concorda?

- Sim, se acontecer qualquer coisa eu lhe aviso.

Durante a semana Tracy continuou a ter dores de cabeça de vez em quando, que ficavam cada vez mais fortes. Apesar das insistências de Hermione para ela ir até a Ala Hospitalar, ela não foi. Temia muito que aquilo fosse um dos efeitos por ela ter possuído a garota, e que Madame Pomfrey, ou qualquer outra pessoa, descobrisse isso e a denunciasse.

O primeiro treino de Quadribol aconteceu no final de semana e várias pessoas comparecem. O capitão iria escolher os novos componentes da equipe. Ron tinha uma maneira muito boa de conduzir esse treino, muito animada e divertida. A primeira a entrar oficialmente para o time foi Gina, como artilheira. Ron observou durante muito tempo as outras duas candidatas e o candidato, mas escolher um deles estava muito difícil, visto que todos eram péssimos. Estava praticamente desanimado e enquanto o pessoal que faria os testes para batedor se aquecia, ele sentou-se com Tracy e Hermione nas arquibancadas.

- E aí, o que vocês acham? Eu escolho aquela loira que errou os aros todas as vezes por uns dois metros e meio, a que acertou um aro e caiu da vassoura ou aquele cara que acertou a minha cabeça achando que fosse um aro? – perguntou Ron, com uma das sobrancelhas erguidas.

Hermione ergueu os ombros. Não entendia nada de quadribol e não parecia estar disposta a aprender alguma coisa.

- Não sei, Ron. Eu sou meio suspeita para falar. Além do mais, eu joguei quadribol poucas vezes e só marquei uns gols. Nada de mais. Não chego nem aos pés dessas aí, quem dirá os de Gina – ia respondendo Tracy, quando foi interrompida por Ron.

- Quer fazer os testes, Tracy? Quem sabe você é boa!

- Não... imagina! Eu sou péssima... escolhe aquela loira ou... a outra, ou aquela cara ali... tanto faz! – respondeu ela, tentando se livrar daquela responsabilidade.

- Ah, Tracy. Você fez renascer no meu peito uma pontinha de esperança! Você só tem que ser melhor que aqueles outros ali.

- Não. Justamente por isso, Ron. Eu não sou melhor que ninguém em quadribol – a garota negava, mas Ron continuava a insistir. – Está bem, então. Eu vou.

- Isso aí! – exclamou ele.

- Mas pode dizer que eu sou péssima, tudo bem? Eu não vou me sentir mal por isso.

- Eu não vou precisar dizer que você é péssima! Eu vou escolher você, tenho certeza que é ótima. Iria ficar muito feliz se você marcasse alguns gols pra gente na Copa! –o garoto estava eufórico e já estava voltando ao campo.

Marcar alguns gols e deixar Ron contente? Conseqüentemente deixar Harry contente? Oras, eu tenho que ganhar essa vaga”, pensou Tracy.

Os testes recomeçaram e Tracy se saiu muito bem. Acertou três vezes o aro das cinco que tentou e errou as outras duas por centímetros. Sem contar que tinha um talento incrível para voar. Sendo assim, ela ganhou a vaga. Os ganhadores das vagas para batedor foram Paul Browkling, do quarto ano, e Anne Andrews, do quinto.

O treino fora à tarde e muito cansativo, por isso os alunos da Grifinória jantaram e foram até a Sala Comunal, onde ficaram conversando durante algum tempo.

- A Tracy é realmente boa como estão dizendo por aí? – perguntou um garoto do sétimo ano a Ron quando o viu.

-É! Sem querer ofender, mas o resto que apareceu por lá para a vaga é pior que o Neville – afirmou ele.

O garoto deu um sorriso e foi juntar-se aos seus amigos que estavam sentados perto da lareira apagada.

- Eu vou até o dormitório pegar meu livro de Aritmancia, tenho uma redação enorme para fazer para quinta-feira – disse Hermione.

- Oras, Mione! Você tem tempo ainda – disse Harry. – Fica mais tempo aqui, para a gente conversar, amanhã você faz isso.

- É melhor não me atrasar com os exercícios – respondeu ela e subiu até o dormitório.

- Ron, posso fazer uma perguntinha? - indagou Tracy, erguendo as sobrancelhas.

- Claro que pode – respondeu o garoto, nem ligando.

- Você promete que não vai ficar bravo comigo? Só vou perguntar se você prometer – falou ela, apreensiva.

Ron encarou-a sabendo por aquela pergunta que não viria coisa boa.

- É, prometo.

- Você e a Hermione tem alguma coisa? – perguntou ela muito baixo e rapidamente.

- Não! – respondeu Ron, aterrorizado. - Somos só amigos! De onde você tirou isso?

- Não sei. Quem sabe da briga que vocês tiveram no Expresso, de vocês discordarem tanto um do outro, ou a maneira fervorosa com que vocês se olham em alguns momentos – respondeu ela, parecendo convincente.

- Maneira fervorosa? Harry, eu e a Mione nos olhamos de maneira fervorosa? – perguntou Ron com os olhos arregalados.

- Olhar até que olham, mas... eu nunca levei isso para o lado do... amor ou qualquer coisa assim – respondeu Harry.

Neste momento Hermione apareceu com um livro, vários pergaminhos e alguns tinteiros e penas na mão.

- Hermione! Você não vai acreditar no que a Tracy disse – falou Ron.

- O que? – perguntou a garota, colocando seus livros sobre a mesa e sentando-se.

- Que você e o Ron parecem ter alguma coisa – disse Tracy, calmamente. – E admita, só pode ser verdade.

- Nunca – respondeu Hermione, rindo. – Eu e o Ron? Até parece!

Tracy ergueu as sobrancelhas e voltou a se jogar na poltrona, descansando. Uma dorzinha de cabeça começou lá no fundo do cérebro, quase imperceptível. O que eram aquelas dores? Que estava acontecendo? Por que elas estavam ficando cada vez mais fortes e freqüentes? Qual era o problema?

- Mas, e aí Tracy, o que está achando de Hogwarts? – perguntou Harry, que parecia muito chateado com a falta de assunto.

- Ah, é legal, sim. Apesar de Beauxbatons também ter ficado interessante depois que Madame Maxime voltou de uma viagem, no início do último ano. Ela está muito simpática, mas preocupada, não sei por quê – respondeu Tracy.

- Ano passado? – estranhou Harry.

- É, ano passado! Momento histórico, jamais irei esquecer! – respondeu ela, pensativa.

- Ah, eu sei! Quando o Hagrid trouxe o irmão gigante dele e escondeu na floresta. O Grope! Madame Maxime foi junto, não f...? – começou Ron, mas numa rapidez fulminante Hermione levantou e tapou a boca dele com as mãos.

- Ronald! – gritou a garota.

- Hagrid tem um irmão gigante? – perguntou Tracy, com os olhos brilhando.

- É claro que não! – disse Harry tentando consertar o erro de Ron.

- Então, o que foi isso? – perguntou ela novamente, curiosa, levantando uma sobrancelha.

- Só o Ron fantasiando, de novo! – disse Hermione, rapidamente. – Ele adora fazer isso!

Ela riu, nervosa.

- Ah, não, Hermione! Eu não caio nessa, pode esquecer – ela colocou os braços em cima dos joelhos e segurou a cabeça com as mãos – Podem começar a contar, eu sou toda ouvidos!

Harry e Hermione se entreolharam e depois a garota olhou furiosa para Ron, como se quisesse que ele resolvesse o caso.

- É, o que Hermione falou é verdade. Eu inventei aquilo, era só brincadeira –disse Ron e sorriu.

- Não era, não – Tracy falou, séria e desdenhosa. – Você chegou até a me interromper, não teve tempo de inventar mentiras.

- Ah, Tracy! – disse Hermione. – Pense bem, Hagrid só pode ter um irmão gigante na imaginação do Ron.

- Mione, não tente me convencer! Eu lhe adianto que não vai conseguir.

- Você me lembra alguém – disse Harry para Tracy. – Mas isso não interessa. O Ron só falou uma besteira, não leve a sério.

- É, isso é comum –Ron olhou estupefado para Hermione quando ela falou isso.

A dor de cabeça de Tracy já havia se elevado e a garota já se sentia muito desconfortável.

- Se vocês não querem me contar o que há, não vou insistir. Mas você – disse Tracy para Ron - deixou escapar que o Hagrid tem um irmão gigante. E, pelo jeito, esse mistério não acaba por aí.

- Não há mistério nenhum, Mignonette! – falou Ron, furioso. – Mas, vamos acabar com isso.

- Vamos – respondeu Tracy e todos se calaram.

Ela voltou a sentar-se normalmente na poltrona observando Hermione que escrevia várias coisas em um longo pergaminho. Devia ser a redação que Flitwick pediu, ou seu novo trabalho de Runas. Agora que havia parado de conversar a dor na cabeça de Tracy só aumentava e a cada minuto parecia mais forte.

- Está acontecendo algo, Tracy? – perguntou Harry.

- Como? – respondeu a garota. – Não, não. Está tudo bem.

- Você não parece estar nada bem. Pelo contrário, parece estar mal.

- São aquelas dores de cabeça novamente. Elas ficam mais fortes a cada minuto – disse a garota, massageando a testa.

- Ah, não. Tracy, por favor, eu te peço, vamos na Ala Hospitalar? – perguntou Hermione.

-Não será preciso. As dores logo passam...

- Passam depois de quase te matarem! Você agir assim faz parecer que está escondendo algo.

- Eu? – perguntou Tracy. – Escondendo algo? Jamais. E se eu soubesse se é sério, já teria ido até a Ala Hospitalar.

- Justamente por não saber o que é que você tem que ir! – insistiu Hermione.

Tracy colocou as duas mãos na cabeça, as dores estavam piorando. Quando as retirou duas lágrimas escorriam pelo seu rosto.

- Madame Pomfrey com certeza vai ter uma poção para isso, Tracy. Não seja teimosa, vamos! – Hermione insistia cada vez mais, pois percebia toda a aflição existente no rosto da amiga.

- Não – a garota gritou, pois sentiu uma pontada extremamente forte na cabeça. Enquanto tentava inutilmente fazer com que ela parasse, escorregou da poltrona até o chão. Harry se aproximou dela, estendendo a mão para que ela se levantasse. Enquanto isso ela gritava cada vez mais forte, conforme a dor que sentia. Estavam se tornando insuportáveis... “Tracy, Tracy! Abra os olhos!”, ouvia-se a voz desesperada de Hermione bem no fundo da sua cabeça. “Tracy, Tracy! Ron, vá chamar alguém, vá!” “Ela não está bem! Será que ela vai morrer?” “É claro que não se você chamar alguém rápido!” “Tracy, abra os olhos!” “O que está acontecendo aqui?” “O que aconteceu?” “Foi a aluna nova?” agora várias pessoas já estavam aglomeradas ao redor de Tracy que agonizava. Repentinamente todas aquelas vozes finas e infantis foram substituídas por um ruído estranho... não soava como uma palavra. Ela estava se distanciando cada vez mais... as vozes dos que gritavam ficaram profundas e aparentavam estar muito distantes... o ruído estranho aumentava e aos poucos ficava mais compreensível... tudo estava melhorando, tudo estava passando... “Evans Riddle?” Era a voz de Voldemort. Indescritível, inimaginável, impossível de se enganar... era ele. “Eu acho que deu certo, Bella.” “Espero, meu amo, espero.” “Está me ouvindo, Riddle?” .

- Estou – a garota conseguiu balbuciar enquanto ainda apertava a cabeça, se debatendo no chão da Sala Comunal.

- Que foi? Ela falou! Que foi, Tracy? – perguntou Harry, que estava relativamente próximo da garota.

Deu certo sim, meu amo!” “Depois de tantas tentativas... Como vai, Riddle? Tudo certo? O plano está correndo bem?

- Não, eu preciso te contar uma coisa.

- Fala mais alto! – gritou Hermione entre lágrimas. - Ah, professora Minerva!

Todos os alunos abriram espaço para ela passar.

- Papoula... venha até aqui...

O que? É algo preocupante?” A dor de cabeça chegou ao seu limite. Tudo foi escurecendo de repente e todas as vozes, as reais e as que estavam muito longe, desapareceram lentamente. “Meu amo, eu não acredito! Está tudo tão...” E essas foram as últimas palavras que a garota ouviu.




- Professor Dumbledore, eu acho que ela está acordando.

- Espero que ela possa nos dar alguma pista, para que possamos descobrir a origem dessas dores de cabeça e desmaios.

Tracy abriu os olhos. Alguns raios de Sol leves entravam pelas janelas entreabertas da Ala Hospitalar. Apenas três pessoas estavam ali: Madame Pomfrey (a enfermeira), Dumbledore e Hermione. Todos sorriram ao ver que a garota acordara.

- Está se sentindo bem, Srta. Mignonette? – indagou Dumbledore, muito atencioso.

- Sim... – a garota ofegou. – Agora sim.

Ela olhou para Hermione e sorriu, sendo retribuída. Repentinamente milhares de perguntas surgiram na sua cabeça e a lembrança de Voldemort falando dentro dela atormentou-a, fazendo com que percebesse como estava se sentindo fraca.

- Eu estou na enfermaria? – perguntou.

- Sim, está – respondeu Dumbledore. – De certo lembra o porquê.

- Sim, lembro-me muito bem.

- Eu gostaria de lhe fazer umas perguntas sobre o que aconteceu. Assim, talvez poderemos fazer com que suas dores de cabeça não se transformem novamente em desmaios, ou até que sejam extinguidas. Para sempre – disse Dumbledore, sentando-se nos pés da cama de Tracy.

- Diretor, minha paciente acaba de acordar e parece estar fraca, essas perguntas incômodas não poderiam ser deixadas para depois? – indagou Madame Pomfrey.

- Creio que não, Papoula. A não ser que a Srta. Mignonette necessite de alguma medicação imediata.

- Não, ela não precisa. Mas, por favor, diretor, não force a memória dela, as dores podem voltar e como não sabemos sua origem podem trazer conseqüências catastróficas.

- Não se preocupe, Papoula. Sei lidar com esses casos – disse Dumbledore.

- Tudo bem então, diretor – falou Madame Pomfrey. – Eu vou terminar as novas poções, com licença.

Dumbledore observou a enfermeira se distanciar e encarou Tracy.

- Bom, vamos lá – disse ele. – Quando começaram essas dores de cabeça?

- Han... – ela precisava tomar cuidado com o que fosse dizer. – Desde o início do ano letivo. Elas foram ficando mais fortes e freqüentes conforme os dias foram passando.

- Você já havia desmaiado por causa delas, ou essa foi a primeira vez?

- Foi a primeira vez.

- Nunca pensou em vir até a Ala Hospitalar, ver por quê as dores ocorriam? Ou já sabia a origem delas? – indagou o homem, fazendo com que Tracy estremecesse.

Mais uma vez parecia que Dumbledore sabia sobre a Evans Riddle. Mas... não. Se ele soubesse não deixaria que a garota ficasse ali. É claro que não sabia. Mas havia um porém. Ele poderia ter colocado alguém para vigiá-la e fingir que não sabia de nada.

- Hermione insistiu algumas vezes para que eu viesse até a enfermaria, mas eu achei que eram só dores de cabeça comuns e que já iriam passar. Nunca achei que poderiam resultar em desmaios, ou coisa parecida. E também nunca sequer passou pela minha cabeça a origem delas – ela tentou parecer o mais sincera e séria possível, qualquer deslize naquele momento não seria nada bom.

- Antes do desmaio, você ouviu alguma coisa? – perguntou Dumbledore seríssimo, com os seus óculos de meia-lua a reluzir.

- Não, só alguns alunos se aproximando e parecendo preocupados e nada mais. A voz de McGonagall, a de Harry, Ron... – mais uma vez, a preocupação tomara conta dela.

- Não, Srta. Mignonette. Eu não quis dizer isso. Alguma voz que parecesse irreal, isso é comum em desmaios. Não aconteceu com a senhorita?

- Não. Não, eu só ouvi vozes reais mesmo – afirmou ela.

- Bom, sendo assim, vamos esperar e ver se as poções de Madame Pomfrey funcionam e se não, poderemos mandá-la ao St. Mungus para fazer alguns exames mais aprofundados – disse Dumbledore, levantando-se da cama. – Agora, tenho que ir. Melhoras, Srta. Mignonette.

- Obrigada – murmurou ela.

Dumbledore dirigiu-se até a saída, acenou para a enfermeira e saiu da Ala.

- O que aconteceu Hermione? Que horas são? Que dia é? – perguntou ela rapidamente a amiga.

- São seis horas. Você só ficou desacordada durante umas vinte horas, nada demais – falou Hermione, sorrindo. – O Harry ficou aqui com você, durante boa parte da noite. Parecia bem preocupado... Só saiu quando Madame Pomfrey o expulsou da enfermaria.

- Sério? –perguntou ela.

Hermione levantou as sobrancelhas e piscou, sorrindo.

Harry passa a noite comigo estando desacordada, preocupado por sinal, e eu aqui... planejando matá-lo. Como esse mundo é injusto...” pensou a garota, sinceramente, virando-se de lado e relaxando sobre os lençóis extremamente limpos da Ala Hospitalar.



- Ah, eu nem acredito que estou saindo daqui – disse Tracy, que se levantou rapidamente quando Madame Pomfrey avisou que ela recebera alta. – Estava quase mofando nessa cama!

Ela calçou os chinelos felpudos brancos que estavam próximos ao bidê e jogou em cima da cama a muda do uniforme de Hogwarts que Hermione trouxera para ela ao saber de sua alta.

- Troque-se rápido, Tracy – falou Hermione. – Creio que terá de se esforçar bastante para recuperar as matérias de segunda-feira visto que se recusou terminantemente que eu lhe mostrasse os deveres.

A garota ignorou esse comentário. Apenas puxou o cortinado que cercava sua cama e começou a tirar o pijama, trocando-o pelo uniforme. Não estava nem aí para as aulas, muito menos se importava com os deveres de casa. Tinha assuntos bem mais urgentes para discutir do que aqueles. Precisava falar com seu pai, advertir-lhe para que não tentasse mais aquele método estranho de comunicação, pois estava levantando suspeitas. Mas como?

Hermione havia organizado todos os livros de Tracy para terça-feira, prevendo que não haveria tempo para que a garota mesma o fizesse, e os colocado junto com penas, tinteiros e folhas de pergaminho na mochila dela. Elas retiraram-se rapidamente da Ala Hospitalar, o máximo que Tracy fez foi despedir-se de Madame Pomfrey e agradecê-la por Ter a tratado tão bem quando precisara.

- Não há de que, Srta. Mignonette. – respondeu ela. – Mas, lembre-se: se sentir alguma dor de cabeça novamente, por mais simples e insignificável que seja, comunique-me imediatamente. Sinceramente, estou muito curiosa para saber o que elas significaram.

Assim, as garotas rumaram para a aula de Feitiços, que era a primeira do dia. O professor Flitwick estava anormalmente quieto e concentrado na matéria, como a maioria do professores. Ele e Sprout, que notaram a falta da garota no dia anterior e souberam que estava na Ala Hospitalar, indagaram se estava bem. Ela afirmou que sim e que se sentia extremamente bem, como se nada tivesse acontecido.

A sétima aula do dia, ou a quarta da tarde, era livre para Rony, Harry e Tracy. Eles aproveitaram o tempo para apreciar o que seriam os últimos raios de sol do ano, o tempo estava esfriando cada vez mais, os ventos frios e cortantes estavam cada vez mais presentes nas manhãs do final de setembro. O que não era muito comum, pois eles costumavam chegar lá por meados de outubro.

Passaram a última aula do dia jogando forca por debaixo da carteira, despreocupados com o que o professor poderia pensar. À noite, antes do jantar, jogaram xadrez de bruxo e nos dois jogos que conseguiram concluir o vencedor foi Ron. Eles jantaram, e muito satisfeitos juntaram-se a Lia, Farway e Hermione a caminho das Salas Comunais.

- Ah, dia chato. E hoje é só terça-feira – comentou Farway, arrastando os pés pelo corredor mal iluminado. A luz dos archotes estava quase se apagando.

- É verdade – concordou Tracy.

- Você não pode nem falar muito. Sequer foi às aulas ontem! – resmungou Ron.

- Pois é! – apoiou Lia, jogando todo o peso da mochila repleta de livros pesados nas costas; segundo ela, ficara estudando antes do jantar. – Falando nisso, já está se sentindo bem, não é, Tracy? Mental e fisicamente?

Para falar a verdade, nenhum dos dois. Seu corpo estava pesado e ainda estava fraca, seu organismo estava se recompondo das várias poções que Madame Pomfrey a fizera tomar. E mental... estava tão angustiada. Precisava avisar a alguém dos últimos acontecimentos, mas não sabia como. O peso do corpo somado ao dos problemas e aflições da mente deixavam-na morta. Aparentava estar bem, as camas da enfermaria eram muito mais confortáveis que as do dormitório, sem dúvidas.

- É, estou bem sim – afirmou ela.

Os corredores estavam praticamente vazios, pois a grande maioria dos alunos já tinha se dirigido até a Sala Comunal.

Repentinamente ouviu-se passos correndo próximo a eles, passos que pareciam ser de alguém muito apressado. Todos sacaram suas varinhas e antes que pudessem virar-se ou ter qualquer reação uma voz falou em seus ouvidos.

- Evans Riddle! Preciso falar com você!

Tracy virou-se imediatamente, o túnel escuro que ofuscava sua completa felicidade e bem estar, no momento foi destacado por uma fresta de luz muito forte, a esperança.

- Que foi, Draco? – perguntou ela imediatamente, esquecendo-se de onde e com quem estava. Foi tão de repente que sequer houve tempo para a garota ver quem a chamara. Mas, na escola inteira, as únicas pessoas que sabiam de sua verdadeira identidade eram Draco e Snape.

Todos a olharam escandalizados. A respiração dos demais estava ofegante e eles estavam com os olhos vidrados na cena.

- Evans Riddle? – perguntou Harry, reconhecendo os sobrenomes. – Quem é Evans Riddle? É você Tracy?

A garota fixou os olhos em Draco que por sua vez, estava com os olhos fixos nela. Baixou os olhos, imaginando qual desculpa ela deveria inventar dessa vez.

- Ah, são vocês! – debochou Draco, rindo desengonçado.

- Claro que somos nós, quem queria que fosse? – retrucou Hermione. - O Papai Noel e os seus ajudantes?

- Não se meta, sua sangue ruim!

Todos estavam tão acostumados às acusações e as ofensas de Draco que não fizeram nada, a não ser ficar com mais raiva ainda do garoto.

- Vou embora! Não suporto conviver com essa ralé! – respondeu ele e já tinha se virado quando Lia o interrompeu.

- Você não vai antes de dizer quem é Evans Riddle!

- Está me ameaçando? – perguntou ele.

- Estou – Lia realmente conseguia intimidar alguém quando queria. Seu olhar demonstrava tanta fúria que qualquer pessoa seria incapaz de desobedecê-la ao receber uma ordem.

- Isso não é da sua conta! Agora, eu vou-me embora. O odor pútrido que exala desses sangue-ruins e traidores do próprio sangue é insuportável.

Dizendo isso fez uma careta de nojo e sumiu pelo corredor.

- Evans Riddle... quem será, hein? – perguntou Ron.

- Eu não dirigiria essa pergunta ao vento, Ronald. – disse Farway, observando-o com o canto dos olhos. – Mas sim, a Tracy aqui.

Ela virou os olhos e a cabeça junto para observar a garota, lentamente.

- E então? Você é Evans Riddle? – perguntou ela.

- É claro que não – respondeu a garota com frieza. – Sou Tracy Mignonette e vocês sabem perfeitamente disso.

- Não é o que parece. A maneira como você se dirigiu ao Draco, foi realmente estranha – disse Farway, atenta.

- Pode não ser o que parece, mas é o que é. Como você, Jessica – Tracy chamou-a pelo primeiro nome, pois sabia que isso a irritaria. – Apenas reconheci os sobrenomes e tentei adivinhar a quem pertenciam.

- Farway. – corrigiu ela, irritada. – Vou embora, como o Malfoy.

Ela se despediu de Lia e com uma expressão furiosa desapareceu pelo corredor.

- Espero que invente uma mentira melhor da próxima vez, Evans Riddle – falou Lia e também sumiu imediatamente do local.

Tracy abriu a boca para respondê-las, mas ambas pareciam ter uma facilidade imensa para desaparecer de um lugar quando queriam. Virou-se então para Harry, Ron e Hermione buscando apoio com o olhar. Mesmo torcendo para que ele viesse de forma agradável a garota surpreendeu-se ao ouvir as palavras de Harry.

- Vem com a gente, Tracy. Eu não sei como elas ainda ligam para o que Malfoy diz.

- Mas – a garota ficou boquiaberta. Estava espantada com a burrice do garoto. – Você realmente acredita que tudo não passou de um engano?

Todos a olharam espantados.

- Não ligue, Tracy. Amanhã elas voltarão a falar com você como se nada tivesse acontecido.

Aquilo não podia ser verdade. Por mais desatento que um ser humano poderia ser, não chegaria a esse ponto. Mas ela não devia lutar contra si mesma. A menos que suas suspeitas tivessem se concretizado e Potter estivesse sabendo da Evans Riddle e de todo o plano.

Eles subiram até a Sala Comunal em silêncio. Tudo estava normal e de tal forma que Tracy tirou todos os livros da mochila e começou a fazer os deveres mais urgentes. Quando tirou os livros de Poções e Feitiços de dentro da mochila notou que havia algo entre eles. Ao observar melhor, notou que era um envelope muito mal lacrado, dando a aparência de um trabalho muito mal feito. Olhou ao redor e retirou o envelope dali do meio ao perceber que todos estavam completamente absortos em seus deveres para prestar atenção ao que ela fazia.

Para Draco Malfoy

A caligrafia do remetente não era das melhores e possuía traços que foram reconhecidos por Tracy no mesmo instante.

Draco,

o Lorde das Trevas pediu-me que lhe enviasse essa carta por um motivo urgente. Tudo pode estar acabado até esta carta chegar às suas mãos, mas na possibilidade contrária estaremos partindo para o plano “b” em poucos dias. Como comuniquei a Tracy (chamaremos ela assim, é mais seguro), antes dela partir para Hogwarts, seu pai estava tentando achar uma maneira de comunicar-se com ela e orientá-la durante sua estadia na escola.

Bom, achamos uma maneira muito boa para isso. Um feitiço muito antigo somado ao aproveitamento de uma ligação paterna poderia resultar numa comunicação simples e muito útil. Tracy e o Lorde das Trevas se falariam através da mente. Por algum motivo que ainda não conhecemos Tracy teve extrema dificuldade em possuir aquela garota e ainda ficou desacordada durante dias em decorrência dessa situação. Talvez por isso, essa comunicação foi afetada e poderia levar a garota à morte. Então, tivemos de abandonar o plano.

Não darei mais detalhes no momento, poderia ser muito perigoso expô-los assim. A única coisa que quero é que você comunique a Tracy que eu a esperarei na Floresta Proibida para colocá-la a par do próximo plano e entregar a ela algo de grande valor. Na noite de Quarta-feira, a uma da manhã.


Belatriz Lestrange

Ela só pode estar se referindo ao desmaio... ao que parece, eles descobriram outra maneira para que eu e meu pai possamos nos falar. Ótimo!”, pensava a garota “Objeto de grande valor? O que será?

Nunca estivera tão ansiosa por uma madrugada de quarta-feira. Rasgou a carta e queimou-a logo depois, quando se encontrava sozinha no dormitório. Passou a noite toda imaginando seu futuro. Seu futuro brilhante. Imaginava-se lançando um Avada Kedavra bem no peito de Potter, após um doloroso duelo sobre o luar. Imaginava-se reluzindo como o ouro, vendendo glória e poder. Com esse pensamento reconfortante, adormeceu.

Passou o dia que se seguiu muito ansiosa, como nunca esteve antes. A perspectiva de se encontrar com Bella, de ser colocada a par dos planos, a enfeitiçava. Não fingiu estar extremamente afeiçoada pelo trio Harry, Ron e Hermione naquele dia. Passou todo o tempo silenciosa, contemplando o chão durante as aulas e a lareira apagada na Sala Comunal. A noite chegou com lentidão, e as estrelas que geralmente brilhavam naquele céu estavam atrás das grandes nuvens negras que davam o ar mais sombrio possível a Floresta Proibida.

Todas as garotas estavam no dormitório, deitadas confortavelmente em suas camas, conversando sobre os assuntos mais diversificados, mudando de assunto brusca e constantemente.

- O que? No Baile de Inverno? - perguntou Lilá, abobada.

- É, no Baile de Inverno. É incrível! – respondeu Parvati que ainda estava sentada na sua cama.

- Inacreditável, eu diria. Não é, Hermione?

Hermione virou-se na cama e encarou a garota.

- Inacreditável é a capacidade que vocês tem de falar dos assuntos mais idiotas possíveis e ainda acharem que estão se superando – respondeu a garota, mal-humorada.

- Concordo – intrometeu-se Tracy. – Nós queremos dormir. Se vocês pretendem gazear aulas amanhã, não quer dizer que nós iremos fazer o mesmo.

Não podia perder essa oportunidade. O tempo estava passando e para sair do dormitório ela teria que ter absoluta certeza de que todas as garotas estavam dormindo. Mas aquela conversa parecia ir longe...

- Nossa, que mau-humor o das duas – disse Parvati, deitando-se bruscamente.

- Se o Ron não quer você, Hermione, a culpa não é nossa. Não precisa descontar na gente, está bem? – falou Lilá.

Hermione ficou abismada.

- Por que você sempre dá um jeito de meter o Ron no meio da conversa? Eu acho que quem realmente não está muito feliz por ser desprezada por ele é você, Lilá.

- Agora, deixem a gente dormir, pelo amor de Merlim – falou Tracy, vendo que se aquilo continuasse da maneira que estava indo, ela não sairia daquele dormitório tão cedo.

Elas ficaram caladas durante uns gloriosos cinco minutos, mas depois recomeçaram o falatório. Ao que parecia Hermione já tinha adormecido, a julgar pela respiração dela e a ausência de suas reclamações. Mas Tracy não. Nem podia.

- Que horas são? - indagou ela, aborrecida, a Parvati.

Alguma coisa rosa iluminou-se perto do rosto de Parvati, indicando que faltavam quinze minutos para a meia-noite. Era incrível como o assunto daquelas duas garotas não acabava, sendo que passavam o dia todo aos cochichos.

Tracy virou-se e cobriu-se o máximo que pode com os cobertores. Um vento frio e cortante adentrava no quarto por entre as frestas das janelas. A garota ficou feliz em constatar que tinha arrumado sua capa preta para ir ao encontro de Bella. Respirou fundo e fechou os olhos.

Teve de abri-los de repente. Sentia-se melhor agora, depois de ter descansado um pouco. Por incrível que pareça, Lilá e Parvati haviam parado de falar naquele momento. Ela olhou novamente para o pulso de Parvati e apertou os olhos.

Meu Merlim!”, pensou. “Uma e quarenta da manhã! Eu não acredito que acabei dormindo!”.

Ficou em silêncio durante alguns segundos, até constatar que as garotas estavam dormindo. Levantou-se muito lentamente, torcendo para que a cama não rangesse. Colocou a capa preta e o capuz que lhe cobriu parcialmente o rosto. Por ser alguns números maior do que ela precisava, dava a garota um ar sinistro. Tracy apanhou a varinha, que deixava sempre sobre o bidê como precaução e dirigiu-se silenciosamente até a porta. Quando tocou a maçaneta e começou a abrir a porta, ouviu Hermione resmungar da sua cama.

- Vocês ainda não pararam? Isso já irritou.

Não abra os olhos, Hermione. Não abra os olhos”. A garota estacou como se tivesse sido moldada como um segurador de portas, como aquelas que os trouxas usam para que as portas permaneçam abertas quando elas insistem em ficar fechadas.

Hermione voltou a dormir imediatamente e Tracy, ao constatar isso, saiu do dormitório rapidamente. Passou pela Sala Comunal e saiu pela porta de entrada do castelo. Não queria nem imaginar o que alguém faria se visse aquele vulto negro saindo da escola e indo até a Floresta Proibida. Preferia manter esses pensamentos bem longe de si.

O vento continuava, mas estava um pouco mais ameno, não tão frio como antes. Ela passou pela cabana de Hagrid e pelo lago. Escolheu um lugar onde as árvores pareciam estar mais separadas, e por ali entrou. A claridade que emanava da Lua não fazia efeito ali dentro e os raios que ocasionalmente apareciam entre as árvores não conseguiam mais ultrapassar a copa espessa dos grandes pinheiros. Por mais que caminhasse lentamente seus passos soavam altos devido as folhas secas que estavam no chão.

Mais à frente, ouviu o barulho da água batendo nas pedras e acelerou o passo. O que viu a frente, foi uma das coisas mais maravilhosas que já havia visto na vida. Num lugar cercado por várias árvores de grande porte, parecia que a floresta abria espaço para uma pequena gruta de onde saía água límpida e transparente. A gruta era cercada por grandes pedras e a escuridão da noite fazia aquela água refletir nas suas superfícies os raios da lua. Uma claridade fascinante.

Havia uma mulher deitada sobre uma das pedras, fitando a água e mexendo nela com as mãos. Estava vestindo uma capa preta, os cabelos extremamente negros e encaracolados movimentavam-se graciosamente em cima da pedra quando a mulher se mexia. Belatriz Lestrange levantou de um pulo e empunhou a varinha na altura do queixo ao ouvir alguém se aproximando.

- Abaixe isso, Bella. Garanto-lhe que não irá utilizá-la – disse Tracy, ao ver a mulher.

- Riddle... que prazer em revê-la – murmurou a mulher, sem baixar a varinha e encarando a garota como se quisesse ver alguém através dela.

- Sou eu sim, Bella. Abaixe isso, vamos!
Belatriz baixou a varinha e recolocou-a no bolso da capa. Em contrapartida tirou um espelho de dentro das vestes.

- Que é isso? – indagou Tracy, interessada.

- Um presente de Natal bem antecipado.

A garota foi até Bella e arrancou-lhe o espelho das mãos como uma criança mimada que esperara anos para ganhar o que queria.

- Eu não acredito! – murmurou a garota, passando os dedos pela moldura envelhecida do objeto. – Isto é um Espelho de duas...?!

- Faces. Isso mesmo. E adivinha de quem é o presente.

- Do meu pai. – ela arregalou as sobrancelhas e virou a cabeça automaticamente para Belatriz.

- Convoque-o. – falou a mulher, colocando as madeixas atrás das orelhas e se aproximando de Riddle.

Sem esperar sequer um segundo, Tracy falou ao espelho:

- Lord Voldemort.

Uma fumaça inexistente sombreou o espelho e logo após os olhos vermelhos e o nariz de cobra de Voldemort apareceram sobre ele. O homem sorriu.

- Sabia que daria certo – sibilou.

Tracy molhou os lábios, feliz.

- Pai, eu não acredito – disse ela ofegante.

- Bela maneira de comunicação, não é?

- Com certeza, é perfeita. Sem sombra de dúvida – falou ela, puxando o saco.

- Assim dará para eu te vigiar bem de perto, Riddle. Não deixar que cometa atrocidades contra o nosso plano.

O sorriso que aparecera no rosto da garota se desfez imediatamente. Como podia ele ser tão cruel e sagaz?

- Então teve de recorrer a um segundo plano quando o primeiro falhou não é? Que pena... talvez tenha faltado prática. Ou será que seus poderes não estão... han... tão bons como deveriam? – precisava daquilo, precisava respondê-lo da mesma maneira fria e cruel com que ele falara, precisava rebaixá-lo diante de uma serva, precisava fazê-lo se sentir minúsculo, precisava.

- Se funcionasse, eu lançaria um feitiço daqui mesmo para calar a sua boca e não permitir mais que você pronuncie besteiras, Riddle.

- Besteiras? Bom, vou colocá-lo a par de tudo então – falou a garota e começou a contar tudo que acontecera desde que se despediu da mãe de Tracy até o presente momento. - E saí do dormitório, cheguei aqui, encontrei Bella e a partir daí você já sabe.

- Quer dizer então que o filhinho do Lúcio andou tentando pôr tudo a perder... Será que não basta aquele patife estar em Azkaban? Tem que nos deixar o filho para atrapalhar.

- Isso eu resolvo, Voldemort. É só contar uma historinha ridícula a aquelas duas que elas acreditarão e tudo ficará bem. Mas... e ao sonho do Potter? E a o que Dumbledore disse? É com isso que eu estou preocupada.

- Na minha opinião, isso é o que menos deve nos preocupar – intrometeu-se Belatriz. – O sonho... oras, ele já teve esses sonhos antes e a única coisa que conseguiu foi salvar aquele Weasley traidor do próprio sangue de Nagini. E, no mais, ele viu o Lorde das Trevas. E como só consegue ver as coisas reais do ponto de vista do meu amo – ela sorriu. – deve acreditar que foi só mais um sonho comum, já que viu do seu ponto de vista, Riddle.

Voldemort levantou as sobrancelhas concordando.

- E com Dumbledore, não se preocupe. Ele só estava tentando mostrar que entende de tudo e que é superior a todos no mundo. Foi só um palpite... ele não sabe de nada.

- Já que vocês dizem. Eu vou tentar enrolar a Falls e a Farway e tudo ficará ótimo –garantiu Tracy.

- Qualquer coisa, me comunique imediatamente. Já sabe como – falou Voldemort e a fumaça reapareceu na superfície do espelho e ele sumiu.

Tracy guardou-o entre a capa. Sentia que o Espelho de duas Faces ficaria seguro ali. Caminhou um pouco e se aproximou da gruta.

- Por que escolheu esse lugar, Bella? – perguntou. –O que é que ele tem de especial?

A mulher virou os olhos negros para as águas.

- Nada não – falou ela

- Encontrava-se com Rodolfo aqui, não é, às escondidas? No seu tempo de Sonserina... – falou Tracy, que lera a mente de Bella enquanto ela admirava a gruta.

Bella bufou.

- Essas coisas já não importam mais – os olhos dela brilharam – É um tempo que já se foi.



N/A: Nossa, eu estou espantada com a velocidade que eu postei dessa vez. Deu o que? Umas três semanas? o.O Enfim, esse capítulo ficou legalzinho. Eu achei, pelo menos. Foi bom de escrevê-lo. Ah, essa última parte eu fiz para você, Je. Você não vive dizendo que a Bella e o Voldemort tem um caso? Bom, analise as últimas frases da Bella. Mas eu não garanto nada, ok? Ah, antes que eu esqueça (realmente a minha memória não é das melhores) eu quero dizer a todos vocês que a minha fic agora está sendo betada! É isso aí! Eu não acho que ela seja tão importante a ponto de ser betada, mas enfim... a Maluada Black aqui da Floreios, é quem está betando ela para mim. Os outros capítulos também foram corrigidos, quem quiser reler, já arrumei. Obrigada Malu! Comentem! Esses comentários são muito importantes para mim!

Resposta dos Comentários


Carol Grint Evans
Valeu por comentar aqui... quando eu tiver um tempinho pode deixar que eu leio sua fic, ok?

Liz Lupin
Mãe! Nossa, dessa vez eu fiz questão de te avisar o mais rápido que eu pude. Tenho medo dos seus castigos... Bom, você apareceu bem pouco nesse cap (como no outro xP). Eu não lhe garanto agora, mas mais futuramente... digamos que eu vou dedicar quase um cap inteiro a Lia Falls. Ah, e nós já conversamos sobre isso: eu não te superei! E se, somente se algum dia isso ocorrer vai demorar muito... Ah, e se eu puxei alguma coisa de você, a não ser a inteligência é claro *ego quase explodindo* , foi isso... xD

Lady Gray
Ah, sempre que eu falo em você lembro que sua fic está no fim e fico a beira de lágrimas. Você sabe o quanto eu gosto de “Um Olhar Sobre o Passado”. Ainda mais agora! Enfim, eu vou ter outras fics sua para me consolar. Amo todas elas! ^^ E se você achou mesmo o cap anterior grande, deve ter achado esse gigantesco. Bom, obrigada pelos elogios, amei todos eles. E não demorei para postar... bom que você também não está demorando.

Jessica Gibb
Eu já disse que adoro seus comentários enormes, não é? Pois é, adoro mesmo... são os maiores que recebo! Esse deu duas páginas... enfim, vamos responder o cap. *relendo o comentário* Ufa... nossa. Ficou grandinho, né? Amei! Escuta, eu realmente queria fazer uma resposta de comentário maior mas é que... ai, tô sem vontade para escrever. Fiquei escrevendo bastante este fim de semana... eu quero acabar essa fic logo! É que eu estou tendo idéias para uma outra, idéias q eu chamaria de razoáveis. Mas não vou abandonar a minha queria Herdeira do Mal, não! Eu amo ela... ai, ai... eu estava pensando esses dias sobre alguns dias antes daquilo que eu lhe contei (nossa, eu contei tantas coisas) aquela parte que ela se arrepende daquilo lembra? Então... vai ser emocionante. Ai, ai... como se eu conseguisse fazer alguém ficar emocionado com o que eu escrevo. Enfim, valeu pelo comentário!

Maluada Black
Eu adorei seus e-mails! O que? Sua humilde fic? Nossa, ela está realmente muito show... eu amei ela! A idéia é que é perfeita. Sabia que eu virei D/G por sua causa? Eu sou muito influenciável, realmente. Valeu por comentar aqui e espero que continue comentando aqui agora que vai ler os caps antes de todo mundo xD

Marcela Tachibana
Valeu pelo comentário, adorei... espero que tenha gostado desse capítulo.

bruhnildah
Obrigada pelo comentário!

*SSS*
Sério que você gosta muito do Draco? Nhai, eu também! Ele é tudo não é? Valeu pelo comentário, adorei. Continue comentando aqui!

Renata Potter
Você comentou aqui, que legal! Ganhei mais uma leitora \o/ Amei seu comentário Renatinha... quem sabe você não começa a escrever uma fic também? Teria todo o meu apoio, aposto como você é criativa... pense nisso, ok?

B-NeGaO
Fazia tempo que você não comentava aqui! Mas tudo bem... sua fic está demais, que bom que voltou a escrevê-la.

Artur Felipe
Valeu por comentar aqui, hein... quando sobrar um tempinho eu leio sua fic.

Bean Porter
Eu jamais vou abandonar meu gigafoto. Consegui dois leitores com ele já. A Renata e o Bean. Isso é tão divertido. Cara, fiquei muito feliz quando vi seu comentário aqui! Muitíssimo obrigada pelos elogios que você me fez no MSN, adoro isso! E escreva a fic do Bean que eu quero ler! Valeu mesmo.

Phelipe Potter
Valeu pelo comentário. Já respondi a sua pergunta, espero que continue lendo essa humilde fic.


Manu Riddle

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