HARRY POTTER E A AURORA DOS INSEPARÁVEIS - REUPADA

HARRY POTTER E A AURORA DOS INSEPARÁVEIS - REUPADA

CAPÍTULO 1



 



O GRANDE DIA



 



 



 



O despertador tocou e ele abriu os olhos (“É hoje”, pensou o garoto).



Levantou-se da cama e espreguiçou-se, alongando seu corpo. Em seguida, pegou um colchonete e executou três séries de dez flexões de braço e três de vinte abdominais. Gostava de manter seu corpo em forma, sendo um bom jogador de Futebol no time de sua escola, onde era atacante e seu primo, Duda, era zagueiro. Naquele dia, excepcionalmente, não correria os três quilômetros que costumava percorrer três vezes por semana, quando o tempo estava bom. O exemplo do gosto pelos exercícios vinha do seu pai, que sempre lhe dissera: “Meu filho, a boa forma física, além de fazer bem para a sua saúde e ajudar no sucesso com as garotas, poderá salvar sua vida”. Por isso ele sempre procurou colocar em prática os conselhos de Tiago.



Esse era o jovem Harry Tiago Potter.



Nascido “Harold Tiago Potter”, ele detestava ser chamado assim, achando que seu prenome possuía uma sonoridade por demais pomposa e pedante, preferindo ser chamado apenas de “Harry”. Era o primeiro filho de Tiago Potter e Lílian Evans Potter. Seu irmão mais novo chamava-se “Algernon Norman Potter”, homenageando, respectivamente, o pai de Lílian e o de Tiago. Harry era magro e de estatura mediana, porém com uma musculatura bem definida para a idade, devido aos exercícios, como já sabemos. Quase idêntico ao pai, possuía também cabelos negros rebeldemente arrepiados e quase o mesmo grau de miopia, ambos usando óculos de armação redonda. As duas coisas que diferenciavam Harry de Tiago eram o seu nariz, um pouco mais curto do que o do pai e os olhos, herança de Lílian, que eram verde-esmeralda em vez de castanho-esverdeados. Viviam em Londres, onde o casal trabalhava e os filhos estudavam, embora possuíssem uma propriedade no interior do país, em uma pequena cidade chamada Godric’s Hollow, onde eram proprietários de uma Cerâmica Artística que estava na família há várias gerações. Como já mencionado, Harry ainda tinha tios e um primo, que viviam em Little Whinging, Surrey. Mesmo vivendo meio distantes entre si, os três primos freqüentavam a mesma escola em Londres, Harry e Duda na mesma série (Duda, apesar de ser um ano mais velho do que Harry, havia sido reprovado em uma série) e Algernon, que preferia ser chamado de “Algie”, uma série mais moderno. Até aí, nada de mais. O diferencial, porém é que Harry, assim como seus pais e seu irmão caçula, era um bruxo. Tiago era um bruxo de sangue puro ou seja, vinha de uma família de várias gerações de bruxos, enquanto Lílian havia nascido trouxa, isto é, vinha de uma família sem poderes mágicos e começara a manifestar seus dons na infância. Tiago era Auror, isto é, uma espécie de 007 bruxo com treinamento de Comandos, especializado em combater contra bruxos das Trevas, a serviço do Ministério da Magia e Lílian era uma Medi-Bruxa, especializada em Emergências e Medicina Bruxa de Combate, habilidades que muito utilizara em um passado recente.



Dentre a Bruxidade, que era como a comunidade mágica do mundo costumava referir-se a si mesma, havia bruxos de sangue puro que, preconceituosamente, desdenhavam de bruxos mestiços e muito mais daqueles nascidos trouxas, considerando-os inferiores, os últimos mais do que todos, tanto que eram chamados ofensivamente de “Sangue-Ruim” ou “Mudbloods” (“Sangue-de-Lama”). Esses radicais achavam que eles conspurcavam a pureza da raça bruxa e que seus poderes eram adquiridos de forma ilegítima. Tal pensamento já havia gerado uma série de conflitos no último milênio, inclusive paralelamente às guerras dos trouxas e entrelaçando-se com elas. O último deles tivera fim há dez anos atrás, constituindo um período conhecido pela Bruxidade como “Os Dias Negros”, que arrastara-se por vários anos e custara muitas vidas, com a quase extinção de várias famílias de bruxos bons e poderosos. O capítulo final daquela sangrenta época teve lugar na cidadezinha de Godric’s Hollow e envolvera os Potter, sendo a razão pela qual eles eram conhecidos como “A-Família-Que-Sobreviveu” e o primogênito, Harry, possuía em sua testa uma cicatriz, com a forma de um raio, único sinal do terrível evento que haviam protagonizado.



O garoto de onze anos escapara milagrosamente, junto com seus pais, de um atentado posto em prática pelo mais temido bruxo das Trevas da atualidade, alguém tão perverso e cruel que a maior parte da Bruxidade tinha medo de sequer pronunciar seu nome, Lord Voldemort, referindo-se a ele como “Você-Sabe-Quem, Lorde das Trevas, Mestre das Serpentes” e outros títulos, como se a simples menção do seu nome atraísse as piores desgraças. Tendo falhado em matar os Potter, Voldemort simplesmente desapareceu, não tendo havido notícias do líder da Ordem das Trevas nos últimos dez anos, o que era motivo de júbilo para a Bruxidade, embora os Aurores sempre se mantivessem em um estado de alerta moderado, atentos para quaisquer notícias sobre ele, já que sua morte não havia sido confirmada.



Harry terminou seus exercícios bem a tempo de ver a porta do seu quarto abrir-se e por ela entrar um homem alto e esbelto, extremamente parecido com ele. Era seu pai, Tiago Potter.



_Bom dia, meu filho. Preparado para o grande dia?



_Com certeza, pai. Mal posso esperar.



_Falando em esperar, se você já terminou suas séries de exercícios, tome um banho e desça, pois estamos te esperando para o café.



_É para já. _ Harry foi para o banheiro e algum tempo depois desceu as escadas, trajando confortáveis vestes bruxas de casa, semelhantes a um quimono Yukata. Seus pais e seu irmão caçula esperavam por ele.



_Até que enfim, Harry! Já estávamos preocupados.



_Calma, Algie. _ disse Harry _ Tardo, mas não falho. Bom dia, mãe. Tudo bem? _ e deu um beijo no rosto de Lílian.



_Bom dia, Harry. _ respondeu Lílian Evans Potter. A bela mulher de olhos verdes e cabelos acaju beijou seu filho _ Café?



_Sim, mãe, obrigado.



Após o desjejum, todos ocuparam-se de recolher as louças e Lílian fez um feitiço para que elas começassem a ser lavadas e secas. Enquanto isso, conversavam:



_Puxa, mano, mas que inveja! Hogwarts, uma das melhores escolas de magia da Europa e a primeira da Grã-Bretanha. E enquanto você estará assistindo às partidas de Quadribol, até que possa fazer os testes para os times, eu terei de me contentar com o Futebol e, o que é pior, sem você jogando.



_Paciência, Algie. _ disse Harry _ No próximo ano será a sua vez. E muito obrigado por gostar de me ver fazendo gols.



_Algernon Norman Potter, seu irmão está certo. _ disse Lílian, fazendo cócegas no garoto de dez anos _ Além disso, como é que eu ficaria sem dois dos homens da casa de uma vez?



_Você ainda tem a mim. _ disse Tiago, fingindo-se melindrado.



_Ah, sim. Isso quando suas missões como Auror não te obrigam a viajar pelo mundo. Eu, como Medi-Bruxa, ainda fico só no St. Mungus. _ respondeu Lílian, entrando na brincadeira e beijando o esposo, em seguida.



_Mas, com certeza, Harry passará nos testes para o Quadribol, quando estiver no segundo ano. _ disse Tiago _ E, quem sabe, poderá ser um Apanhador, como eu mesmo já fui.



_Se ele tiver inclinação para o Quadribol, o que é muito provável, acho que é isso que irá acontecer. _ comentou Algie _ Lembro-me das fotos onde ele aparecia, com aquela vassoura de brinquedo que ganhou de Sirius, quando fez um ano de idade. Se naquela época ele já voava bem, imagine quando tiver nas mãos uma Comet 250, uma Cleansweep 10...



_... Ou uma Nimbus 2000. _ comentou Tiago _ Soube que foi lançada este ano e é a mais rápida vassoura de corrida, até o momento.



_Sabe, mãe, até hoje eu ainda não entendo muito bem como foi que nós dois, com você grávida do Algie, escapamos ilesos do impacto direto de uma “Avada Kedavra” e eu fiquei só com essa marca. _ e Harry mostrou a cicatriz em forma de raio, na sua testa.



_Ninguém sabe como explicar, Harry. _ disse Lílian _ Eu só me lembro de um brilho dourado nos envolvendo, o raio verde da Maldição da Morte retornando para Voldemort e a casa explodindo.



_Eu lutei contra ele na sala, tentando atrasá-lo. _ disse Tiago _ A varinha dele foi parar longe e eu o atingi com alguns golpes. Apesar da idade e de bruxos das Trevas desprezarem as artes marciais, o cara lutava muito bem, em um estilo que lembrava o da Escola de Kuji-Kiri, de Ninjas do mal, que foi destruída há vários anos atrás. Ele recuperou a varinha e me estuporou. Só me lembro de ter ouvido Voldemort dizer que voltaria para acabar comigo, assim que matasse vocês. Dali a pouco, houve a explosão e tudo ficou escuro.



_Hagrid e Sirius nos tiraram dos escombros da casa. Para os trouxas, ocorreu uma explosão de gás. Ficamos uns dez dias no St. Mungus e depois tivemos alta. Fiquei muito preocupada, pois eu estava grávida e o “pequeno” Algie acabou nascendo prematuramente. _ comentou Lílian.



_Olhando para ele, ninguém diria. _ comentou Harry. O garoto de dez anos era um pouco menor do que Harry, embora tivesse os ombros um pouco mais largos. Tinha os cabelos da mãe e os olhos do pai.



_E depois a mansão foi reconstruída. Os funcionários da Cerâmica Artística ficaram contentes, pois a casa já era uma tradição em Godric’s Hollow. Afinal de contas, a Cerâmica existe praticamente desde a Idade Média.



Tendo terminado de arrumar sua bagagem e revisado todo o material, Harry deteve-se um pouco a admirar a bela varinha que adquiriram na Casa Olivaras: vinte e oito centímetros, madeira de azevinho e cerne de pena de cauda de Fênix. Ainda lembrava-se da sensação experimentada ao ser escolhido pela varinha: um calor espalhando-se da ponta dos pés à raiz dos cabelos, enquanto a varinha lançava faíscas vermelhas e douradas no ar. Todos haviam ficado satisfeitos, inclusive o Sr. Olivaras. Com tudo já pronto, Lílian levitou a bagagem até a garagem, direto para o porta-malas da BMW X-5 prata. Para uma família com dois filhos, Tiago optara pela utilitária alemã, espaçosa, confortável e que era ainda maior por dentro, devido a um Feitiço de Ampliação Interna. Harry já trocara as vestes para roupas esporte trouxas, ficando como qualquer pré-adolescente trouxa de classe média-alta: tênis Nike, uma calça jeans Levi’s, uma camisa polo Lacoste e uma jaqueta leve Puma. Enfiou na cabeça um boné do Chelsea para não exibir a cicatriz, colocou os óculos de sol Oakley com lentes no seu grau que ganhara no seu último aniversário e correu para o carro.



_Todos a bordo? _ perguntou Tiago _ Então, vamos lá. Estação King’s Cross, lá vamos nós.



Tiago era um bom motorista, ainda que os bruxos não tivessem, em sua maioria, muita desenvoltura com coisas trouxas, inclusive e principalmente automóveis. Para muitos, um simples liqüidificador era algo de outro planeta. Conduziu a BMW desde Chelsea até a estação ferroviária de King’s Cross. Lá chegando, dirigiram-se à barreira que separava as Plataformas 9 e 10, encostando-se nela e atravessando, para o lado bruxo da estação, na Plataforma 9 ½ onde, em vez de um moderno trem diesel-elétrico, uma elegante locomotiva a vapor negra com detalhes e vagões em vermelho aguardava nos trilhos.



_Meus filhos, eis o Expresso de Hogwarts. _ disse Tiago, com orgulho, apontando para o trem _ Dois horários por dia, fazendo a rota Londres/Hogsmeade, às 11:00 h e às 23:00 h. Uma das viagens mais gostosas que já fiz.



_Eu também gostava bastante. _ disse Lílian _ Petúnia ficou assustada da primeira vez em que veio me acompanhar. Até hoje ela ainda não gosta muito de magia.



_Acho que é um pouco de inveja, Lily. Ela nunca se conformou com o fato de você ter manifestado magia e ela não. _ comentou Tiago.



_Ainda mais depois que ela casou-se com Valter Dursley. Nunca vi um cara tão intolerante em relação às coisas que não entende. Até hoje ele ainda torce um pouco o nariz para nós. Mas tem ficado na dele. _ disse Lílian.



_Depois que ele fez uma ofensa indireta ao vovô Algernon e Tia Petúnia disse que você poderia transformá-lo em um Escargot, ele teve de ficar quieto, mamãe. Nem ela gostou do que ele disse. _ comentou Algie.



_Eu me lembro. _ disse Tiago _ Ele e aquela horrorosa da Guida haviam exagerado um pouco no vinho e Valter disse, certa hora, algo tipo: “Ou a Lílian é adotada ou o velho Algernon tinha algum problema pois, para ela ter virado bruxa...”, e aí a Petúnia disse: “Valter, você pode não gostar de bruxos por eles serem diferentes. Eu mesma não consigo digerir muito bem isso, às vezes. Mas, se você novamente ofender o nosso pai e Lílian resolver transformar vocês em dois Escargots gigantes, eu não só não a impedirei como farei questão de ficar aplaudindo”. Eles calaram a boca na hora e o mais difícil para nós foi segurar o riso.



_Vejam! O resto do pessoal está chegando. _ disse Harry _ E aí, Sirius, tudo bem?



Sirius Black era padrinho de Harry e um próspero comerciante bruxo, tendo assumido os negócios da família após a morte de seus pais e seu irmão. Mesmo que tivesse sido renegado pelos Black, por não possuir o mesmo perfil esnobe e fanático por pureza de sangue da família, foi o herdeiro, por força da lei. Era o melhor amigo de Tiago, desde os tempos de Hogwarts quando, juntamente com Remus John Lupin e Peter Pettigrew, formavam um quarteto de bruxinhos criadores de confusão, conhecidos como “Os Marotos”. Era casado com Ayesha Zaidan-Black, nascida trouxa e de origem árabe, duas turmas mais moderna do que ele, que foi para Hogwarts um ano depois de uma das primas de Sirius, Andrômeda, que casara-se com o bruxo nascido trouxa Edward “Ted” Tonks, depois de formada e no mesmo ano que a irmã mais nova de Andrômeda, Narcisa. Lógico que aquilo havia custado para Andrômeda a execração, por parte da família Black. O casal tinha uma filha, Soraya, que tinha os traços árabes da mãe e os olhos azuis do pai, a qual também iria iniciar os estudos em Hogwarts naquele ano. Eram membros da Ordem da Fênix, um grupo de bruxos que sempre combateram contra a Ordem das Trevas desde há muito tempo atrás.



_Tudo, Harry. Pronto para Hogwarts?



_Melhor perguntar se Hogwarts está pronta para ele. _ disse Ayesha, abraçando o afilhado _ Com os antecedentes familiares, bem... já viu, não é?



_Querida, assim ele vai fazer mau juízo de mim e do Pontas. _ disse Sirius, fingindo-se contrariado.



_Como se Harry já não conhecesse as histórias dos Marotos de cor e salteado, papai. _ comentou Soraya, aproximando-se e dando um beijo no rosto de Harry, que ficou vermelho _ Continua tímido, hein, “primo”? Não é o perfil de um grifinório.



_Tem tanta certeza de que iremos para a Grifinória, Soraya?



_Se levarmos em conta a história familiar, não tem como não ser. Grifinória de ambos os lados.



_Mas não é uma regra fixa, filha. _ disse Sirius _ Se fosse assim, eu teria ido para a Sonserina, como quase todos os Black. Eu fui para a Grifinória e Andrômeda para a Lufa-Lufa, lembra-se?



_É verdade. Mas lembrem-se de uma coisa, crianças. Não importa para qual casa vocês forem, mesmo que seja para a Sonserina, sejam sempre bruxos corretos.



Foram chegando mais pais, com seus filhos. Os veteranos já acostumados e os calouros ainda meio apreensivos. Um casal aproximou-se, conduzindo sua filha, uma garota de cabelos negros e olhos azuis. A mãe era loira, com olhos azuis e o pai tinha cabelos negros e teimosamente oleosos.



_Rosmerta! _ exclamaram Lílian e Ayesha _ Mas como Nereida está linda!



_O mérito não é só meu, Lily. Lembre-se de que do lado de Severo também há olhos azuis na família. E ele, mesmo que alguns não concordem, tem seu charme.



As mulheres formaram seu grupo e começaram a conversar sobre vários assuntos, o mesmo ocorrendo com os homens. Havia um certo clima de tensão entre Tiago Potter e Severo Snape, vestígio dos tempos de estudantes, embora os dois fossem cavalheiros o suficiente para manter a classe.



_Mais um ano, Snape. Acha que sairá um bom talento em Poções dessa turma nova? _ perguntou Sirius.



_Só vendo o desempenho deles para saber, Black. Mas eu creio que o destaque do ano em Poções ficará novamente com a Sonserina.



_Também, tendo você como professor... _ gracejou Tiago.



_Não me acuse de ser parcial, Potter. _ disse Snape, fingindo-se ofendido e dando um meio sorriso _ Não tenho culpa se os Grifinórios só pensam em Quadribol, os Corvinais em enfiar a cara nos livros e os Lufa-Lufas não estarem nem aí para nada. Aliás, a Lufa-Lufa nem conta.



_Não seja injusto, Snape. _ disse Tiago _ Já saiu muita gente de destaque da Lufa-Lufa. Por exemplo, Rita Skeeter, a mais famosa repórter de fofocas do Profeta, Alice Westenra, que casou-se com Frank Longbottom, um exímio casal de Aurores.



_É verdade, Potter. Aliás, que pena terem sido torturados pelos Death Eaters. Tem tido alguma notícia deles?



_Continuam internados no St. Mungus. O filho deles, Neville, também está indo para Hogwarts este ano. Vejam, lá vem ele com a avó, Augusta.



Augusta Longbottom juntou-se às mulheres, enquanto Neville ficou com Harry, Soraya e Nereida, depois de ser cumprimentado por Tiago, que era seu padrinho, juntamente com Lílian. Dali a pouco, chegou um homem loiro e alto, todo de preto.



_E aí, “Lombriga Oxigenada”? _ cumprimentou Sirius, zombeteiro, olhando para o recém-chegado _ Como vai o manequim da Hugo Boss?



_Melhor do que você, Black. _ e dirigiu-se a Tiago _ Como vai “O Porco-Espinho-Que-Sobreviveu”?



Harry, que estava perto, respondeu ao mesmo tempo que seu pai e o outro sorriu.



_É bem o filho de seu pai. Idêntico na aparência e sempre com uma resposta pronta para tudo. Então o pequeno Harry já está indo para Hogwarts?



_Já é de família, “Loira Fru-Fru”. _ disse Tiago _ Venha aqui, Harry.



Harry aproximou-se e cumprimentou o homem.



_Este é Lucius Malfoy, Harry. Já deve ter ouvido falar dele, não é?



_Sim, pai. Um dos maiores empresários da Bruxidade, que não costuma aparecer muito. Se me dão licença, eu estava conversando algo muito importante com Neville e não gostaria de perder a linha de raciocínio.



_OK, Harry. Pode ir. _ e continuaram a conversar _ Mas realmente, Malfoy, você tem andado meio sumido.



_Tenho passado muito tempo fora do país, a trabalho, Potter. E quando venho fico mais em Wiltshire, com a família. Consigo administrar as empresas sem aparecer muito, o que é bom.



_Já está aceitando melhor ter de negociar com trouxas, Malfoy?



_Sabe que não gosto muito de trouxas, Black, mas é inevitável ter contato e negociar com eles. Não dá para se isolar e, além do mais, os duendes do Gringotes não reclamam quando recebem meus depósitos de dólares e libras juntamente com os galeões. _ Lucius Malfoy era proprietário de empresas que realizavam um forte comércio internacional bruxo, também possuindo uma lucrativa empresa de transporte de cargas como fachada para o mundo trouxa. Não aparecia muito em público, o que lhe valera entre os trouxas a reputação de bilionário excêntrico. Mas a verdade era outra.



_E estão te deixando em paz devido às acusações, Malfoy?



_Ficou tudo mais do que suficientemente provado, Potter. A Suprema Corte dos Bruxos me considerou inocente. Mas sempre vai haver quem não acredite.



_E fica difícil justificar os motivos. _ comentou Sirius.



_Não tive alternativa, Black. O Lorde das Trevas tinha a varinha apontada para Narcisa e iria matá-la. Então eu tive de ceder e passei vários anos sob Maldição Imperius. Eu não fui o único, muitos outros bruxos passaram pela mesma situação. E com aquilo a Ordem das Trevas ia obtendo fundos para sua guerra contra o Ministério. Quando Draco era recém-nascido ainda ficou pior, pois era mais um para ser ameaçado, utilizado para me coagir. Mas, mesmo que eu tenha sido julgado inocente, sempre haverá quem creia que eu estava do lado dele por vontade própria, ainda mais com a maldição que carregarei pelo resto da vida.



_Ele te marcou à força, então? _ perguntou Tiago.



_Sim, Potter. Com essa maldita Marca Negra, serei eternamente malvisto e olhado com desconfiança pela Bruxidade, sem contar que os Malfoy já têm, salvo raras exceções, o estigma da afinidade pelas Trevas. Por isso procuro aparecer pouco, principalmente para não expor Narcisa e Draco. Aliás, devem estar chegando, pois foram despachar a bagagem.



_É mesmo. _ disse Snape _ Draco também está indo para Hogwarts, este ano. Lucius, não estou vendo seu cachimbo. Abandonou o hábito?



_Sim, graças ao Draco. Vocês sabem que essa coisa trouxa de computadores ainda é algo do outro mundo para mim, que só uso nas empresas. Mas Draco entende bem disso e um dia veio me mostrar fotos de lesões cancerosas de boca e garganta que havia baixado da Internet, todas relacionadas ao fumo. Sinceramente, qualquer um deixaria de fumar, depois de ver aquilo. Ah, aí vêm Draco e Narcisa.



A esposa e o filho de Lucius Malfoy aproximaram-se. Narcisa era alta e loira, prima de Sirius e irmã de Andrômeda. Draco parecia-se bastante com Lucius e vestia-se de preto como o pai, só que não de Hugo Boss, mas sim de Brooksfield Jr., mas logo via-se que não era muito acostumado a contato com pessoas, pois deixou-se ficar timidamente junto a Lucius, enquanto que Narcisa foi encontrar-se com algumas amigas.



Neville havia ido despachar sua bagagem e Soraya já embarcara. Harry aproximou-se dos adultos e chamou o outro garoto.



_Ei, venha cá. O papo deles vai acabar te dando sono.



Draco pediu licença ao pai e foi conversar com Harry.



_Também está indo para Hogwarts? _ perguntou.



_Sim. Daqui a pouco embarcaremos. Tem idéia de para qual Casa poderá ser selecionado?



_Provavelmente para a Sonserina, como toda a minha família. Qual é o seu nome?



_Potter, Harry Potter.



_Já ouvi falar de você e de seus pais. Sobreviveram à Maldição da Morte de Você-Sabe-Quem, não é?



_Ah, fala do Voldemort... Ei, não precisa tremer, cara. A língua não cai se a gente falar o nome dele. E você, quem é?



_Malfoy, Draco Malfoy. Sou filho de Lucius.



_Sim, conheci seu pai. E você não estudou aqui em Londres, não é?



_Não. Na verdade, meus pais quase que me criaram em uma redoma, tentando me preservar dos falatórios quanto às acusações de ele estar do lado do Lorde das Trevas. Então, eu quase não saía de Wiltshire. Tinha aulas com preceptores e meu conhecimento do mundo é praticamente todo pela Internet.



_Mas você estava sempre sozinho? Sem outras crianças?



_Não. Outros filhos de amigos de minha família, todos de famílias puro-sangue, também tinham aulas lá em casa, pelo mesmo motivo. Os filhos dos Zabini, Bulstrode, Parkinson, Nott, Crabbe, Goyle e outros mais.



_Todos de famílias acusadas de ligação com as Trevas. E essa história de “Puro-Sangue” não passa de uma grande bobagem para mim.



_Pois é. Mas a minha família sempre pensou daquele jeito, Harry, dando muita importância a esse detalhe. Mesmo que todos tenham sido inocentados, a mancha permanece, aos olhos dos outros. Então, eles estudavam lá em casa, para que não se expusessem demais. Ah, lá vêm eles. Me dá licença, Harry? Há algum tempo que não os vejo e precisamos colocar a conversa em dia.



_Tudo bem, Draco. _ apertaram-se as mãos e Draco foi ao encontro dos recém-chegados.



Naquele momento, algo chamou a atenção de Harry. Quatro rapazes ruivos, obviamente irmãos, haviam acabado de chegar à Plataforma 9 ½ e preparavam-se para despachar as bagagens. Os três mais velhos seguiram em frente, enquanto que o menor tentava, sem sucesso, fazer com que o seu carrinho avançasse. Naquele momento, chegaram uma senhora e uma garota de seus dez anos, ambas ruivas, com certeza sua mãe e irmã.



_O que houve, Rony? _ perguntou a irmã.



_A roda travou. Não sei qual a razão.



Sua mãe já ia sacar a varinha, mas Harry aproximou-se e logo descobriu a razão. Uma pequena pedra havia travado uma das rodas do carrinho. Ele pediu licença e a removeu. Logo o carrinho rodava tranqüilamente e o ruivinho agradeceu rapidamente, correndo em seguida para despachar sua bagagem. A garota sorriu para Harry e disse:



_Perdoe o meu irmão. Ele está tão excitado com a ida para Hogwarts que não te agradeceu corretamente. Espero ser mais controlada quando chegar a minha vez, no próximo ano.



_Não foi nada. Oh, desculpe. Meus pais estão acenando. Acho que querem me dizer algo. Com licença. _ e fez um aceno de cabeça para a mãe da garota.



_Não tem problema. Boa sorte em Hogwarts. _ disse a ruivinha, apertando a mão de Harry e fitando-o, com seus olhos verdes e felinos. Os dois demoraram para soltá-las. No caminho, Harry ajudou uma garota de fofos cabelos castanhos e incisivos centrais superiores um pouco grandes a pegar do chão os livros que havia derrubado. Ele reconheceu um dos volumes de “Hogwarts, uma História”, “Combatendo as Artes das Trevas” e “História da Magia”, este último de autoria da velha amiga de sua família, Bathilda Bagshot, que residia em Godric’s Hollow.



Harry Potter aproximou-se de sua mãe e sorriu satisfeito.



_Tia Petúnia! Duda! Que surpresa ver vocês aqui!



_Ainda não me sinto à vontade nos locais bruxos mas, como eu estava em Londres com o Duda e o Valter não quer nem ouvir falar de magia, resolvemos aparecer por aqui, nem que fosse para usar um pouco os cartões de acesso Nível 3. A última vez que eu usei foi há anos, quando Lílian me convenceu a ir ao Beco Diagonal. Acabei não me arrependendo, pois adorei os sorvetes do Sr. Fortescue. Harry, posso ter sido intolerante quanto à magia, mas quero que saiba que deve ser por desconhecimento e, não nego, um pouco de inveja de Lily, por eu não haver manifestado magia. Quero dizer que, mesmo achando vocês meio esquisitos e diferentes, desejo-lhe boa sorte em Hogwarts.



_Boa sorte, Harry. _ disse Duda.



_Obrigado, primo. Tchau, Algie.



_Tchau, Harry. _ respondeu o irmão.



_Harry, está na hora de embarcar. _ disse Lílian.



_OK, mãe. Até a próxima. _ despediu-se e embarcou, levando uma pequena mochila. Juntamente com sua bagagem, já despachada, ia uma gaiola com uma bela coruja-das-neves branca, presente de Hagrid, batizada com o nome de “Edwiges”.



Harry embarcou e entrou em uma cabine vazia, reservada para ele e Neville. Soraya e Nereida também já haviam encontrado outros lugares. Elas eram mais espaçosas do que pareciam, devido aos Feitiços de Ampliação Interna. Acomodou-se e ficou apenas esperando que o chefe liberasse o trem para a partida.



Na plataforma, Lucius e Narcisa iam despedir-se, mas Tiago antes perguntou:



_Em qual dos seus carros vocês vieram, Malfoy?



_No Jaguar. Por quê? _ Lucius estranhou ao ver que Sirius e Tiago, gemendo, faziam caras desanimadas e Remus sorria.



_Vocês me devem dez galeões cada um, senhores. É que nós apostamos em qual dos carros vocês iriam utilizar. Tiago apostou no Rolls-Royce, Sirius no Rover e eu, obviamente, no Jaguar. _ disse Remus.



_Aproveite e compre umas vestes novas, Lupin. Essas parecem ser dos nossos tempos de escola. _ brincou Lucius.



_Nem todos têm a sorte de serem clientes VIP da Hugo Boss, Malfoy. Alguns são pessoas normais. _ brincou Lupin de volta. Lucius e Narcisa Malfoy acenaram e retiraram-se.



_Acreditou em uma palavra sequer do que Lucius Malfoy nos disse aqui e agora? _ perguntou Sirius, abrindo a bolsa e entregando dez galeões a Remus.



_Já vai ficar nervoso ou prefere que eu minta? _ redargüiu Tiago, fazendo a mesma coisa.



_Eu, pessoalmente, me sentiria mais seguro dando as costas a uma acromântula faminta. Somente uma coisa que o Malfoy disse é certa. São raros os parentes dele que não seguiram o caminho das Trevas, como obedientes discípulos de Slytherin. Um foi o tio dele, Jean-Marc. _ disse Remus.



_É verdade. Jean-Marc era irmão gêmeo de Abraxas, o pai de Lucius e foi Maqui, durante a II Guerra Mundial. _ comentou Snape, que retornara. _ Sabem, olhando para vocês é quase como se voltássemos ao nosso tempo de escola. Não que vocês tenham me dado boas lembranças. Só faltava, para completar o “Quarteto Terrível de Hogwarts”, que estivesse aqui o Pet...



_Não fale o nome daquele traidor desgraçado, Snape. O dia está muito bom e não precisaremos azedá-lo. _ disse Sirius.



_Você também não era nada fácil, Ranhoso. Não perdia uma oportunidade de me azarar. _ disse Tiago _ Mas alguma coisa de bom resultou.



_???



_Você acabou fazendo exercícios e engrossando as pernas. Lembro-me de que eram dois cambitos. _ os quatro riram.



_Rosmerta e Nereida já embarcaram? _ perguntou Remus.



_Já, Lupin. Logo estará de volta ao Três Vassouras. Sabe como é, o olho do dono é que engorda o gado.



_Nunca vou me esquecer do Três Vassouras. _ disse Sirius.



_Pois é. _ disse Tiago _ Rosmerta merece homenagens em praça pública. Quando aluna, tinha autorização especial de Dumbledore para ir a Hogsmeade nos finais de semana, para ajudar os pais no Três Vassouras.



_E depois que Angus e Clarice foram mortos por Death Eaters, ela herdou e assumiu o Pub. _ disse Snape _ E foi lá que eu a pedi em casamento, na frente de todos vocês, que haviam ido fazer um reencontro dos Marotos.



_Pensei que você, sempre tão contido, tivesse tomado uma Poção de Delírio e estivesse sob seus efeitos. _ comentou Sirius _ Até que vocês nos explicaram que já estavam namorando há algum tempo, desde que você havia ido lecionar em Hogwarts.



_Sim, Black. Foi algum tempo depois que minha irmã morreu.



_Nereida, lembro-me dela. _ disse Tiago _ Aliás, sua filha se parece bastante com ela, principalmente os olhos.



_É. São azuis, como os de minha mãe e da maior parte de sua família, os Drake. Já pelo lado dos Snape, os olhos são negros. Bem, acho que está na hora de ir.



_Narigudo, vê se não manda muitas corujas das nossas crianças, OK? São os nossos pequenos anjos. _ disse Tiago, fazendo uma cara de inocente que não convencia ninguém.



_Só vai depender deles, Potter. É só não aprontarem que eu não mandarei corujas com reclamações.



_Sendo filhos de Marotos, se eles aprontarem você nem perceberá, Snape. E, se perceber, não poderá provar nada. _ disse Lupin.



_Creeedo, Aluado! _ comentou Sirius _ Assim o Prof. Severo Snape já irá, de cara, fazer mau juízo de nossas indefesas crianças.



_Tá bom, Black, eu acredito. _ disse Snape, com um pequeno sorriso que mostrava o quanto ele acreditava que as crianças eram “indefesas” _ Conhecendo os pais, já dá para formar opinião quanto aos filhos.



_Por favor, Snape, sem preconceitos. _ disse Remus _ Não combina com você.



_Veja as grossas lágrimas que cascateiam e molham o meu rosto emocionado, Lupin, preste atenção. Bem, está na hora de embarcar. Totó, Bambi, Lobo Bobo, até a próxima. _ e Severo Snape deu meia-volta, dirigindo-se para o vagão dos professores.



_Marotos, atenção. _ disse Tiago _ É impressão minha ou o Ranhoso fez uma gozação com a gente?



_Deve ser influência da Rosmerta. _ comentou Remus _ Ela está ensinando o Narigudo a ter um pouquinho de bom humor.



_Não só ela, gente. _ disse Sirius _ Lembrem-se de quem era um dos poucos amigos decentes que o Ranhoso tinha em Hogwarts. Era quase que um paradoxo, uma amizade sincera entre um grifinório e um sonserino. E ele está em Hogwarts, desde há uns cinco anos.



_O trem já vai sair. _ disse Lílian, que chegava, junto com Ayesha, Petúnia e Duda.



Com um forte apito, o Expresso de Hogwarts começou a mover-se, enquanto os parentes na Plataforma 9 ½ acenavam, em despedida. Da janela de sua cabine, o jovem Harry Tiago Potter acenava de volta, tentando conter a ansiedade pelo futuro cheio de novidades que descortinava-se à sua frente.



_Hogwarts, aí vou eu. Espero estar preparado. _ disse Harry, baixinho.



Seria melhor que dissesse “Espero que esteja preparada, Hogwarts”.


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