Capítulo único



Feitiço: Alohomora
Função: Usado para destrancar portas trancadas por chaves comuns, e não trancadas por magia.
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O vento forte fazia a pequena barraca improvisada balançar à ponto de parecer que iria desabar. Hermione olhava, tristemente, a floresta tangida pelo crepúsculo. Por que as coisas tinham que acabar assim? pensou ela. As árvores moviam-se agitadas com o vento que quase assemelhava-se a um tufão. A garota tremeu, vencida pelo frio, mesmo estando dentro de duas camadas de roupa, decidiu entrar. 

Harry estava próximo a uma cadeira, olhando para o vazio quando Hermione entrou na barraca. Os dois não se olharam, mas notaram as presenças um do outro. Hermione sentou-se em um dos batentes que haviam alí, naquele ambiente estendido por magia. Sentia-se cansada, derrotada. Suas forças queriam ruir. Para que lutar se as pessoas lutam apenas pelo que lhe é precioso e... Ron era precioso para  ela, mas não estava mais ali? Ela suspirou, dúvidas insistiam em passar por sua cabeça.

Será que valia mesmo à pena tudo aquilo? Será que conseguiriam vencer o lorde das trevas? Afinal eles eram apenas adolescentes... Será que não era um engano? Tudo parecia só estar indo de mal a pior, como conseguiriam algo que adultos experientes não haviam conseguido? Lembrou inconscientemente de Dumbledore... O falecido diretor tão sábio e querido... Hogwarts não podia ficar sem aquele homem tão digno de inspiração, tão cheio de sabedoria... Tão corajoso.

Ela olhou ao redor, assimilando mais uma vez o ambiente a que estava confinada a meses. Harry e Ron fizeram um trabalho excelente com o feitiço de extensão. Não era tão grande, mas chegava a ser confortável, apesar do frio. Havia três camas,  algumas cadeiras aqui e ali e uma mesa pequena onde o rádio de Ron descansava... 

Desviou o olhar e tentou desviar o pensamento do amigo. Caso o fizesse, as lágrimas que brotavam em seus olhos sairiam e ela não saberia quando conseguiria parar de chorar... Sentia-se profundamente triste, chateada, frustrada, cansada...

Harry, desistindo de parecer tão forte, sentou na cadeira mais próxima. Todo o cansaço e a tensão pareciam estar se acumulando, ele sentia uma dor profunda em seu peito. Afinal, aquela não era a a vida que queria para si... Muito menos para seus dois melhores amigos. A dor só doía mais ainda quando lembrava que Ron não estava mais alí... Tinham discutido seriamente e o amigo os havia deixado.

**
-Você é brilhante, Hermione... Sério!- Exclamou Harry, sentindo uma pontada de esperança com a idéia que a amiga dera. A espada de Griffindor estava impregnada com o veneno do basilisco, logo podia ser usada para destruir as horcruxes que restavam.

-Na verdade, sou muito lógica o que me permite enxergar os detalhes mais estranhos e perceber com clareza o que os outros ignoram...

-É! Só tem um problema, a...

De repente, as luzes da barraca apagaram e segundos depois surgiram, fazendo Harry e Hermione se calarem.

-A espada foi roubada- Disse Ron, surgindo em meio à luz que voltara, saída de seu desiluminador.- É, eu ainda estou aqui. Mas vocês podem continuar, não quero ser desmancha prazeres.- Pontuou, com raiva.

-Qual o problema, Ron?- perguntou Harry, já pondo-se de pé em frente ao amigo, que estava mais abatido que nunca. Olheiras profundas circulavam seus olhos, o corpo mais magro chegava a parecer frágil.

-Problema? Nenhum. Não de acordo com você, não é?- Respondeu, displiscente. Hermione pôs-se de pé, aproximando-se de Ron. 

-Se quer dizer alguma coisa, diga logo- Retorquio Harry, já se chateando- Desembucha.

-Certo, eu vou "desembuchar". Não esperem que eu fique agradecido só porque tem mais uma droga dessas para achar.

-Pensei que soubesse no que estava se metendo- interrompeu Harry. Hermione observava, virando a cabeça de um para o outro.

-É, eu também pensei.

-Bom, me desculpe mas não estou conseguindo entender. Qual é a parte que não corresponde às suas expectativas? Você acho que iríamos nos hospedar em um hotel cinco estrelas? encontrar uma horcrux por dia? Voltar à tempo para passar o natal com a mamãe?

-Eu só achei que depois de todo esse tempo já teríamos conseguido algo! Pensei que soubesse o que estava fazendo; pensei que Dumbledore tivesse dito alguma coisa útil; pensei que tivesse um plano!

-Você sabe exatamente o que Dumbledore disse à mim, e caso não tenha notado, já encontramos uma horcrux.

-É, e estamos tão próximos de nos livrar dela quanto de encontrar as outras!- Ron já aumentava a voz. hermione aproximou-se, cautelosa, do amigo que fulminava de raiva.

-Ron...- Disse ela, tocando-lhe o peito, tentando retirar a horcrux que estava pendurada em seu pescoço, mas logo sua mão foi empurrada- Por favor, tira! Tire-a de perto de você, não estaria dizendo isso se não a estivesse usando o dia todo!

Ron ignorou Hermione. Olhava diretamente para Harry, o olhar beirando ao perigo. Os ciúmes e a frustração beirando à explosão.

-Quer saber por que escuto aquele rádio todas as noites?- Indagou, apontando bruscamente o pequeno rádio de pilha que estava sobre a mesinha- Para ter certeza de que não vou ouvir o nome da Ginny, do Fred, do George ou da minha mãe...

-E você acha que eu também não fico ouvindo?- Harry já gritava, a raiva já estendida e aflorando.- Você acha que não sei como é isso?

-Não! Você não sabe como é isso!- Ron gritou mais alto, fazendo a voz de Harry parecer apenas um sussurro. Hermione olhava os amigos, aflita e assustada, sem saber o que fazer- Seus pais estão mortos, você não tem família!

O estopim havia sido dado. Em questão de segundos, Ron e Harry estavam atracados em uma luta que poderia ter consequências que para sempre seriam puro arrependimento. Temendo pelo pior, Hermione tentou afastá-los.

-Parem! Parem com isso- Gritou ela, puxando Harry para longe de Ronald. Ainda se encaravam perigosamente.

-Então vai. Vai embora!- Gritou Harry, ignorando totalmente a amiga ao seu lado.

Ron encarava o amigo, arfando pelo cansaço, aproximou-se da porta e retirou a horcrux do pescoço, jogando-a com força no chão da barraca. Virou para Hermione, e pela primeira vez, falou diretamente com ela.

-Ron...

-E você?- Perguntou. Ela o encarava desesperada, lágrimas caíam sobre suas bochechas- Vem comigo ou fica?

O coração de Hermione saltou. Olhou de Ron para Harry, e em seguida para Ron. Dividida. Sentia-se como se quisessem partí-la ao meio, ferí-la mais do que já estava. Ron queria que ela fosse com ele, mas Harry precisava de ajuda. Como escolher entre seus amigos, um aquele que a ajudava sempre, mesmo que precisasse fazer qualquer sacrifício e o outro, o grande amor de sua vida?

Olhou de um para outro, sem saber o que dizer ou quem escolher. Dúvidas passando por sua cabeça. Se escolhesse ir com Ron, poderia fugir daquele sofrimento que passaram nos ultimos meses, nos ultimos anos, na verdade. Quem sabe, Ron não acabasse elevando a amizade deles a um grau superior, estando os dois sozinhos e se declarasse... Mas Harry precisava de ajuda e ela mesmo prometera ajudá-lo, pois ele não conseguiria sozinho. Ambos importantes, ambos únicos.

Ron suspirou. Seu coração doía tanto por brigar com o amigo, por sentir tantos sentimentos ruins, por achar que os amigos se gostavam... olhou de Harry para Hermione e falou antes que ela o fizesse, derrotado.

-Falou. Entendi- Pontuou, continuando ao ver a expressão confusa nos rostos dos amigos- Vi vocês juntos na outra noite- O ciúmes já era insuportável, não conseguia mais esconder. Hermione arregalou os olhos, encarando Ron.

-Ron, espera aí... Não era nada...- Queria dizer que Harry era seu amigo. Queria gritar que amava Ron, mas a voz não saiu e ela se sentiu uma covarde. Ron olhou mais uma vez em seus olhos e saiu da barraca, sendo perseguido por Hermione, que logo desistiu após ele aparatar.
**  
Naquela noite fria, Hermione permaneceu fora da barraca, em pé, olhando para o lugar onde Ron aparatara. Sentia-se perdida, dividida, dolorida... Harry sentia-se triste pela partida do amigo, arrependia-se profundamente por terem discutido por algo que podia ser resolvido de outra maneira. De dentro da barraca, Harry podia ver Hermione, de pé, olhando o horizonte com um olhar vazio. Não atrapalhou o momento da amiga, apesar de estar preocupado com ela. Com o frio que fazia alí fora, ela poderia ter ficado doente.

Depois daquele dia, tudo parecia mais difícil. Harry, que achava que não podia ficar pior, voltara atrás... Ver a amiga abatida e cansada, próximo ao rádio de Ron era como uma facada em seu peito. Ele a amava, e amava Ron. Eram seus amigos, seus fiéis escudeiros em qualquer problema. Estavam sempre juntos, a ponto de que se um fosse chamado, os três se viravam para responder.

E agora, sem Ron o ambiente parecia mais cinzento ainda. Por que a infância deles havia sido tirada daquela maneira? Ambos pensavam, quando uma música nova começou a tocar no pequeno rádio de pilhas.

"O children, de Nick Cave" pensou Hermione. Ouvira essa música uma vez, quando ainda era criança e ainda não sabia ser bruxa. Na época, não entendia a letra da música, achava totalmente ilógico. Agora era diferente, a letra era triste e falava de crianças que perderam a infância... A letra contava a história de Harry, Ron e Hermione. Os dois ouviam a música, os pensamentos voando alto sem nexos, sem forças.

"Pass me that lovely little gun
My dear, my darting one
The cleaners are coming, one by one
You don't even want to let them start..."

Hermione sentia a exaustão aumentar e aumentar. Parecia estar prestes a explodir. Dúvidas, inseguranças, medos... Já não sabia mais o que sentia, entorpecida com tantos pensamentos em uma só cabeça. Apesar de ser Hermione Granger, a bruxa mais inteligente de Hogwarts, ainda era uma adolescente, ou melhor, uma criança que tornou-se adulta à força... Fitou o amigo que estava sentado na cadeira mais distante, a exaustão também feria-lhe o ser. 

They are knocking now upon your door
They measure the room, they know the score
They're mopping up the butcher's floor
Of your broken little hearts

O children...

Pensamentos jamais antes pensados começaram a surgir na cabeça da garota enquanto observava o amigo. E se... Seu destino e o de Harry estivessem entrelaçados? Afinal, tudo acontecia estranhamente de uma maneira que começava a fazer sentido. Harry estivera mais próximo dela durante o sexto ano do que nunca estivera antes. Sempre a apoiava e a motivava, principalmente naquele ano frustrante em que Ron começou um namoro falso com Lilá.

Harry era seu melhor amigo, ouvia suas confissões com paciência, dava-lhe um ombro para que ela chorasse em paz, fazia brotar sorrisos em meio à tristeza... Era amável e muito dedicado. Sim, ele era corajoso e famosos também, mas Hermione não se importava com isso. Observou o amigo remexer-se desconfortável na cadeira velha, olhando para o vazio perdido em pensamentos.

Forgive us now for what we've done
It started out as a bit of fun
Here, take these before we run away
The keys to the gulag

O children...


Sim... Ela o amava apenas como amigo, mas quem sabe não pudesse sentir mais por ele no futuro? Até dumbledore indagara, certa vez, se Harry e ela estavam namorando... E dumbledor não errava, nunca. Tudo o que dumbledore dizia ou previa, acontecia. Ele jamais errava, então... Será que eles dois deveriam ficar juntos? Ela estava perdida em pensamentos, quando viu Harry virar a cabeça em sua direção e encará-la. Surpresa, ela desviou o olhar, abaixando a cabeça. O peito doeu de uma maneira agoniante, parecia sangrar mais com aquele pensamento estranho.

Ela mal percebeu quando o amigo ergueu-se e se aproximou dela. Devagar, ela ergueu a cabeça, olhando-o nos olhos. A dor de ambos estava insuportável. Sem palavras, Harry estendeu-lhe a mão. Ela olhou e, igualmente sem nada dizer, aceitou o apoio. Ele a ergueu e os dois se encararam, sem reservas. Hermione via tristeza nos olhos verdes do amigo, e ele, o mesmo nos dela.  

Lift up your voice, lift up your voice
Children
Rejoice, rejoice

Here comes Frank and poor old Jim
They're gathering round with all my friends
We're older now, the light is dim
And you are only just beginning

O children...


Ele lhe tocou o pescoço, retirando a horcrux que alí pesava. Hermione sentiu um alívio transpassar-lhe. Ele endireitou a gola bagunçada da amiga, que ainda o encarava. Olhando-a nos olhos, Harry a puxou para o meio da sala improvisada na barraca, segurando os braços da garota. Ela agora o encarava confusa, os olhos lacrimejando. Sem responder o que faria, Harry começou a mover os braços vagarosamente. Da direita para a esquerda, da esquerda para a direita, acostumando-se ao ritmo da música que tanto dizia da vida dos três amigos.

 We have the answer to all your fears
It's short, it's simple, it's crystal clear
It's round about, it's somewhere here
Lost amongst our
winnings...

Hermione começava a se movimentar e sorriu ao ver o esforço do amigo. Ele queria animá-la, mesmo não sendo o mais indicado para isso. Afinal, ele também sofria. Ao ver o sorriso de Hermione, ele também sorriu. Eles estavam dançando. Desengonçadamente, mas estavam.

 O children
Lift up your voice, lift up your voice
Children
Rejoice, rejoice

The cleaners have done their job on you
They're hip to it, man, they're in the groove
They've hosed you down, you're good as new
They're lining up to inspect you

O children

Poor old Jim's white as a ghost
He's found the answer that was lost
We're all weeping now, weeping because
There ain't nothing we can do to protect
you...

Harry a girou uma vez, fazendo-a rir da atitude desengonçada. Eles se aproximavam e se afastavam, ainda sorrindo, ainda segurando as mãos um do outro. Foi naquele momento que Hermione pensou que, realmente eles podiam ficar juntos... Dumbledore poderia estar certo. Mas, eles viveriam juntos como amigos apenas. Tudo estava claro agora, depois que Harry retirou a horcrux de seu pescoço.

O children
Lift up your voice, lift up your voice
Children
Rejoice, rejoice

Hey! Little train, we are all jumping on
The train that goes to the Kingdom
We're happy, Ma, we're having fun
And the train ain't even left the station

Hey, little train! Wait for me!
I once was blind but now I see!
Have you left a seat for me?
Is that such a strech of imagination...


Todas aquelas dúvidas, medos e pensamentos estranhos eram frutos da horcrux, que queria separar os amigos... Durante todo o tempo, aquele objeto tentava separá-los, não importava como. Estando no pescoço de Ron e fazendo-o ter ciúmes; no pescoço de Harry, mostrando-lhe imagens ruins e desesperadoras; ou, no pescoço de Hermione, fazendo-a ter pensamentos deconexos e que jamais poderiam se tornar realidade. Duas verdades estavam, agora, convictas na mente da garota.

Harry e ela se amavam como amigos e isso nunca mudaria. Porque... Porque seu coração era loucamente apaixonado e dependente de Ron. Por isso a dor forte aumentara mais ainda quando ela peonsara em possibilidades sem sentido. E a outra verdade era que Dumbledore podia errar...
 
Hey, little train! Wait for me
I was held but now I'm free
I'm hanging in there, don't you see
In this process of elimination

Hey! Little train, we are all jumping on
The train that goes to the Kingdom
We're happy, Ma, we're having fun
It's beyond my expectation...

Agora tudo se encaixava e as dúvidas e incertezas começavam a sumir. Sentindo uma alegria que a tempos não sentia, Hermione entregou-se à dança divertida que o amigo lhe impora. Tomou-lhe uma mão e o girou também, ambos gargalharam quando este quase tombou numa cadeira. Harry e Hermione esqueceram todos os problemas e dançaram como se nada importasse. 

Hey! Little train, we are all jumping on
The train that goes to the Kingdom
We're happy, Ma, we're having fun
And the train ain't even left the station...


Sem que eles percebessem, a música já estava no fim. Cansados, os dois se abraçaram, ainda dançando, os pensamentos de ambos em Ron. Onde ele estaria naquele momento? Como estaria? Hermione afastou-se do amigo, e olhando-o nos olhos, agradeceu com um aceno de cabeça pelos breves minutos de alegria. Ambos se afastaram, agora um pouco mais leves, mas preocupados com o amigo que vagava em algum lugar sozinho...

Mas de uma coisa eles sabiam, a amizade deles era preciosa e valia à pena. Mesmo sem nada dizer, os dois pensavam juntos que procurariam por Ron e se reconciliariam. Como amigos de verdade fazem...

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Olha eu aqui mais uma vez o/
A criatividade e as idéias estão enchendo minha mente... Ontém escrevi uma fic e hoje, mais uma XD

Ok, indo às explicações...
Tive a idéia de escrever essa fic após ler um comentário da Pipoca sobre esse momento...Ela comentou que seria legal escrever algo sobre o momento em que os dois dançam e algumas pessoas entendem errado. Li isso e a idéia veio quase que instantâneamente, então agradeço de coração, mesmo que tenha sido indiretamente e sem intenção. Bom, não sei se satisfaz às expectativas, mas achei interessante explicar esse momento, já que muita gente confunde e tem idéias desconexas com o enredo original. 

Ah, e não é exatamente uma song-fic, mas também vou classificá-la assim. Afinal, algo acontece enquanto a música passa, mas ao mesmo tempo a música não descreve o momento.

Espero que gostem e que dê para entender meu ponto de vista. É isso.

Comentem, sugestionem, critiquem... Deixem um comentário para que eu melhore no que precisar :)
 

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