Capítulo III
-Então? Você vai ou não à primeira festa do ano? – Perguntou Daniel enquanto saíam de Runas Antigas.
-A festa é da minha própria casa, é claro que vou – Mandy respondeu sem conter uma pontada de arrogância. – Me pergunto é se vocês vão.
-Eu nunca perco uma festa verde ou azul – Daniel devolveu o tom e a expressão que recebeu, mas em pouco se desvaneceu com um suspiro sorridente da colega. – Quanto às outras duas... Elas são de lua, tanto podem ir como não ir.
-Hum. Cadê elas?
-Sei lá – retrucou Daniel, depressa demais para o gosto de Mandy que logo arqueou a sombrancelha esquerda. – Que foi? Não sou pai delas!
-Não precisa responder assim!
-Perdão Mylady – escarneeou com uma curta vénia desajeitada.
-Só por causa dessa irreverência eu deveria confiscar sua riqueza pessoal – Mandy aderiu com graça ao desvaneio do outro.
-Com certeza Mylady, é toda sua – o outro concordou com reverência.
-O que os meus lunáticos favoritos estão falando? – Lucy interveio por trás, abarcando ambos no mesmo abraço.
-Aposto como estão discutindo a maneira mais rápida de te fazer ficar vermelha como a cor da sua casa – trauteou Kimberly, colocando-se do lado de Mandy.
-Nada disso – Interveio Daniel, com ar ainda sério mas sorridente, - Mylady estava confiscando minha riqueza pessoal.
-E desde quando ela é dona de você? – Lucy devolveu rápido demais.
-Desde que ele me deu uma resposta torta – Mandy respondeu à-toa, sem dar importância ao ciúme da outra.
-Ohh... E agora? – Kimberly simulou preocupação.
-Agora eu tenho que dar a Lucy pra ela – Daniel explicou com graça.
-Eh! Ei! Desde quando eu sou a sua riqueza?! – Lucy se indignou, era a única que não estava achando graça nenhuma à palhaçada dos dois.
-Desde que eu te ganhei num jogo de xadrez, lembra? Você tava perdendo porque seus pontos já tinham acabado, daí você apostou a própria pele e perdeu na mesma.
-Eu não me lembro disso – respondeu Lucy, definitivamente incomodada pela troça de Daniel e a adesão das outras duas.
-É claro que não, você só perdia, e começou a beber, pelo que deve ter esquecido até que depois dos jogos eu andei te alugando pela população masculina – Daniel insistia, divertidíssimo, completamente despreocupado e alheio das sensações que a brincadeira causava em Lucy, assim como Mandy e Kimberly, que já não contiam risadas.
-Rá-rá. E depois você espetou a varinha na própria bunda acima e se ferrou tanto que até o Lord Deposto ficou com pena de você – ripostou, apertando o pescoço de Daniel com vontade de estrangulá-lo.
-Nossa, que violência – Kimberly comentou, ainda entre discretas gargalhadas – isso até parece da Mandy.
-Só não gosto que me façam de idiota.
-Credo santa, calma aí – pediu Daniel.
-Calma? Eu estou muito calma, obrigada mas não preciso da sua preocupação!
-Talvez até precise, se ele é dono de você... – Mandy interveio, tentando com que Lucy desistisse de levar a brincadeira tão a peito.
-É dono de mim uma ova! Esse daí nem sabe tomar conta da própria cabeça!
-O que você quis insinuar com isso...? – Daniel se alarmou de repente.
-Que você tem o pescoço froxo!
-Aposto que foi você quem o deixou assim... – Mandy insistiu em reaver o ambiente leve.
Daniel lançava olhares rápidos e preocupados a Lucy e Mandy.
-E sim, também quis insinuar que essa é a única que você tem.
-Ei!
-Ei o quê? Quer mesmo que eu acredite que não é boiola?
-Ok, você era a última pessoa de quem eu esperava ouvir isso – Mandy não resistiu.
Daniel assumiu uma expressão terrivelmente sombria e perigosa, sibilando em tom baixo:
-Agora vem a parte em que você se acalma...
-Acalmo nada, você é um... um...
-Erro genético? – Mandy tentou, sem dar o braço a torcer.
Os três viraram de imediato a atenção a Mandy, como se se tratasse de uma extraterrestre. Contente por concentrar em si os seis olhos, abriu um sorriso rasgado e estranho, e deixou que os comentários viessem.
-Você é que é um erro – disse Kimberly de forma carinhosa.
-Não, sou só uma discrepância – Mandy devolveu o tom.
-Porque você tá tão bem-disposta hoje, afinal? – Retrucou Lucy, ainda hostil – viu passarinho verde?
-Eu própria sou uma ave verde – metaforizou, lembrando-se em seguida – ok, estou assim por causa da festinha de hoje.
-Festa? No meio da semana? – Questionou Lucy.
-Ah, nem vem, a gente mal tem trabalho – Daniel observou. – Até a Kim vai. Não é Kim?
-Eu não sou a Kim – Lucy retrucou.
-Hum... Eu sou mas não sei se vou... O Hubert queria falar comigo hoje e me pediu a noite para falarmos no assunto, seja lá qual for...
-Uhh... Kimberly vai finalmente pra cama com o Weasley – Daniel troçou.
-Isso, fala bem alto pra todo mundo ouvir – Kimberly repreendeu.
-Mas é memorável! É um marco! Após um ano de namoro e um verão completamente parado vocês vão finalmente transar! – Daniel insistiu, mas baixando o tom de voz.
-Que exagero, a gente não tá namorando há um ano!
-Há quanto tempo então? – Lucy perguntou.
-Nove meses!
-Ah, claro, vocês tavam esperando você ter seu filho pra poderem transar de novo – Daniel escarneeou novamente.
-Você hoje tá atacado, hein? – Lucy repreendeu.
-Atacada tá você, relaxa garota – Mandy cortou.
-E você, pára de dizer bobagens, eu ainda sou virgem!
-E se o Hubert quiser mudar isso hoje...? – Mandy murmurou.
-Aí... – Kimberly começou, mas acabou por enrubecer violentamente.
Cada um reagiu à sua maneira, contribuindo apenas para que o embaraço de Kimberly perdurasse.
-Seus chatos.
-Não somos nada chatos – Mandy devolveu, despedindo-se e dirigindo-se para o seu quarto. – Bom, té já.
-Té já – Lucy respondeu de imediato, afastando-se dos outros dois igualmente.
-Credo, que bicho mordeu a Lucy hoje?
-Eu é que não fui.
-Mas você e a Mandy é que estão bem animadinhos, isso é tudo por causa de uma festinha?
-Ei, as festas das cobras nunca são “só festinhas”.
-Mesmo assim...
-Não, não é só por causa disso.
-Oh... Isso soa comprometedor...
-Quer dizer, falo por ela, acho estranho ela estar tão feliz por ir a essa festa, ela ainda não conhece ninguém direito e não parece se preocupar em sequer conhecer os da própria casa... Não deve estar assim só por causa da festa...
-Então é por mais o quê?
-Isso já é outra coisa... – Daniel se limitou a responder, com ar o mais misterioso que conseguiu fazer sem (em vão) parecer falso.
-Ent...
-Olha eu tenho que ir, como não te devo ver na festa já que você vai estar muito... ocupada – realçou a última palavra com gosto; - té amanhã.
Kimberly não respondeu. Seu olhos inexpressivos fixavam-se num ponto mais à frente.
-O que é aquilo na parede?
Daniel procurou mas a parede parecia completamente vulgar.
-Qual parede?
-Aquela – Kimberly respondeu, preocupada, avançando em direcção à dita parede que parecia ostentar uma mancha gigantesca com algo que se assemelhava a um estranho símbolo circular.
-Certo, Kim, acho que você tá vendo coisas.
-Não tô nada; vai dizer que não tá vendo essa mancha gigante na parede...? – Kimberly insistia indignada, mas quanto mais se aproximava, mais a imagem se desvanecia na parede, até que parou a meio metro da mesma, dando de caras com pedras normalíssimas, iguais a todas as outras - ... Que diacho?
-Ok Kim, você pirou legal. Isso é falta de sexo, vê se dá um jeito de achar logo o Hubert. Agora, eu não sou seu namorado, não tenho que aturar seus ataques estranhos, de sinistra já basta a Mandy. Té amanhã – repetiu, desta vez se afastando sem esperar resposta.
-Hmm... Té amanhã...
Lucy se aproximava calmamente da masmorra, ser apanhada rumo a uma festa ilegal era o pior que lhe podia acontecer naquele momento, principalmente depois da aula horrivelmente mal-comportada com McGonagal. Encontrou Gabriella, Lianora e Carmen na entrada, e decidiu reestabelecer pontes.
-Oi cobrinhas, o que fazem aqui do lado de fora?
-Tamos esperando uma pessoa – Gabriella se adiantou.
-Eu conheço?
-É claro, todo mundo o conhece, ele é o dono da festa de hoje – devolveu Lianora, excitada. – Tamos esperando o Logan Vanglor.
-Ah, aquele sonserino do sétimo?
-Esse mesmo – respondeu Carmen, mais sorridente que as outras, essas estavam nervosas. – A gente vai meter conversa com ele.
-Hu-
-Sim, chama de conversa, chama – Lianora interrompeu Lucy, olhando de esgueira para Carmen.
-Como assim?
-Estamos planejando uma abordagem... Diferente – continuou, contendo o riso na explicação.
-É, nós vamos abordá-lo, é uma boa palavra – Carmen concordou, as três continham o riso a toda a força.
-E... para quê? Ver quem ganha resposta mais cedo? – Tentou Lucy, com desagrado perante o conteúdo da conversa.
-Não, é só pra ver se ganhamos resposta, mesmo – Gabriella interveio mais à-vontade.
-Claro, se vamos fazer a abordagem as três ao mesmo tempo é claro que se recebermos resposta vai ser pras três ao mesmo tempo também – Carmen explicou com ar mais credível.
A expressão de Lucy imediatamente se alterou, ficou alarmada e impulsionada por uma grande vontade de se afastar delas.
-Ah... Certo. Eu vou ver se acho logo o Daniel aí no meio... – Lucy falou de forma atabalhoada, entrando na masmorra.
-Porque não fica com a gente? – Gabriella perguntou.
-Sim, como bom menino que ele é, o Daniel também deve gostar do que o Logan gosta – Lianora provocou.
-Mesmo assim, eu vou já entrando...
-Então vê se pelo menos vem ter com a gente depois – Carmen pediu, ao que Lucy devolveu um aceno que não concordava com seus reais intentos.
Dorian Salvatore, o maior amigo que tinha na própria casa, enchia garrafas com o conteúdo de um caldeirão característico por uma fumaça vermelha, ou arroxeada, difícil de dizer.
-O que você está fazendo? – Perguntou Daniel.
-Isto é uma poção aerífidus – Dorian respondeu calmamente ao amigo.
-E o que é que ela faz...?
-Tsc tsc tsc Daniel, você não sabe o que a poção aerífidus faz? Que inculto.
-Não Dorian, não sei... Vai me dizer ou não?
-Se você bebê-la, bom, é capaz de querer comer a primeira garota que vir na frente.
-Tá falando sério? – Daniel investiu com um sorriso maroto aflorando-lhe nos lábios.
-Sim. agora imagina o que é se você misturar isso com alcool e uma poção retardatária e dar de beber a uma multidão concentrada no mesmo local, e ainda por cima lucrar com a bebida.
-Genial.
-É claro, quem foi que teve a idéia?
-Metido. Quero só ver o que te acontece se souberem que foi você, aposto como vou ser o único que vai achar graça à brincadeira.
-Exagero seu, não sou tão inconsequente como você, a poção tá bem fraquinha e diluída, quem quiser resistir, consegue, é só querer.
-Você tá misturando isso com alcool, lembra?
-Isso é pra me ilibar, só. Que suspiro foi esse?
-É uma pena que a Lucy não beba. Eu mangaria dela o resto da vida se ela caísse nessa.
-Você não mangaria, você aproveitaria que eu sei.
-Há, há. Mais rápido você aproveitava a Lucy bêbada e enfeitiçada que eu.
-Ok, você tem razão, mas se ela estivesse realmente bêbada e enfitiçada, nós os dois aproveitaríamos.
-Ela matava a gente se ouvisse essa conversa.
Kimberly subia as escadas da torre mais próxima da professora Trelawney. Hubert a chamara lá em cima, e tinha pedido claramente que queria que ela fosse desacompanhada, e isso incluía o caminho, ele não queria ninguém por perto. “Por isso decidiu esta hora, onde a maioria estaria dormindo ou na festa sonserina, assim é mais fácil ficarmos a sós... Oh meu Merlim, não devia ter concordado com isso... E se alguém nos ouvir? E se alguém nos pegar? E se ele tentar...” Kimberly cogitava com rapidez.
Os degraus iam estreitando conforme ela subia, até que numa zona em que as paredes cobertas por retratos sonolentos acabavam, o espaço para passar alargou novamente. No fim da extensa e cansativa escadaria uma grande e simples porta de pedra impedia a passagem. No lado esquerdo da porta Kimberly pôde reparar o tamanho imensamente exagerado das dobradiças, três largos cilindros rochosos com números inscritos. Apercebeu-se que eram a data do dia de ontem, dia esse despendido em comemorações com Hubert pelos nove meses de namoro completados. Alterou o cilindro de baixo para a data actual e a porta se abriu sozinha.
Um vento frio e inóspito gelou seu ser, provindo do outro lado da porta. Entrou mesmo assim, encontrando uma figura masculina sentada de costas para ela no peitoral, escondendo sua fronte e observando a lua.
-Oi...?
Lucy sentia-se completamente a mais, estava no meio de um bando de sonserinos e sonserinas que se moviam freneticamente sem saírem muito do lugar. Ela não se dava com nenhum deles, mal sabia seus nomes. O que ela realmente queria era, já que não conseguia encontrar Daniel, pelo menos avançar mais para a frente, para perto da banda e para longe daqueles sonserinos cujas intenções eram expressamente as piores...
Avançou com lentidão e calma, não poderia ser de qualquer outra maneira, mas estava realmente incomodada de estar ali. De súbito, um casal começou a trocar saliva mesmo em frente ao seu nariz, forçando-a a investir pelos lados. Antes mesmo de passar por eles outro casal do seu lado os imitou, sendo imediatamente seguidos por duas garotas mais à frente, a mais duas do outro lado, e mais dois garotos na sua diagonal, e o número de beijos foi aumentando assustadoramente, até que o próprio número dos envolvidos no beijo começou a crescer.
Lucy começou a entrar em pânico. Por onde quer que se virasse, só tinha gente se beijando, e com certeza que não se estavam ficando só por aí... Sentindo-se sufocada, Lucy temeu então o pior: a qualquer momento teria um ataque, a claustrofobia era inevitável.
Olhou em volta com ar de súplica, estava completamente perdida e a respiração já começava a custar. Algumas meninas tentaram-na sem resultados satisfatórios, apenas contribuíram para o aumento do seu desespero. Por fim avistou Carmen. Reuniu o que restava das suas forças para se arrastar até ela. Quanto mais se aproximava, melhor distinguia suas companhias: Gabriella (que estava sendo beijada e revesada por Karl Rosemaw e Amber Brielle), Lianora (que beijava a prima de Carmen, Lhoanne, ambas se movimentando com lentidão para junto de Logan que não parecia minimamente interessado nas duas, e sim na acompanhante, Jynx Rupender, uma jornalista que ninguém fazia idéia de como conseguia ficar em Hogwarts) e uma bebida esverdeada quase intocada. Sentiu-se ainda mais enojada por se tratar das suas amigas, mesmo assim investiu em Carmen que se contentava com sua bebida, por enquanto. Estava quase desmaiando.
Nenhuma peça do seu vestuário fugia do preto. Confortável e à-vontade para se mexer o quanto quisesse, Mandy desceu até ao grande saguão por debaixo da última masmorra, incalculáveis metros directamente abaixo do seu quarto.
Obviamente que a festa já havia começado, ela não queria chamar atenções aquando da sua entrada e depois ficar olhando, sem saber para quem se dirigir.
Velas de fogo branco estavam enfeitaçadas para oscilarem o brilho de forma atordoadoramente rápida, e uma alta e quase imperceptível música abafava qualquer outro som.
Entrou e perfurou o que conseguiu da aglutinação de alunos, até chegar a uma zona impenetrável. Deixou-se ficar no conforto que era a perifieria do grosso amontoado de gente inseparável.
-Ei Mandy! – Daniel gritou.
-Oi.
-O que cê tá fazendo aqui? Não vai entrar mais?
-Você vai?
-É claro.
-Ué, então eu vou com você.
-Já andou bebendo? – Perguntou, fungando o cangote da amiga.
-Eu tentei, mas a bebida já tinha acabado quando fui pedir.
Daniel cogitou oferecer-lhe uma reduzida porção da poção pura com três gotas de bebida que guardara, mas resolveu preservá-la.
-O que... O que é isso? – Kimberly perguntou quando Hubert lançava um feitiço que cobriu tudo o que tinha à vista e fechou a port0a.
-Estou imperturbando a sala – respondeu numa voz baixa, guardando a varinha e aproximando-se vagarosamente. – Eu venho pensado muito em estar sozinho com você assim, como estamos agora, sem ninguém para atrapalhar... Eu venho pedindo esse momento a você há já muito tempo, mas você parece ignorar o que eu sinto por você...
-Ignorar? Eu sou sua namorada, como é que você diz que estou ignorando seus sentimentos por mim?
-Você não ignora? Há meses que eu peço para estar sozinho com você num quarto imperturbado e você nada... – Aumentou ligeiramente o tom de voz, mas afagando-lhe os braços.
-E-eu... Não me sentia preparada; você nunca me forçou, porque agora resolveu cobrar...?
-Cobrar? Não estou cobrando nada, mas como você nunca mais se decidia tratei de arranjar as condições para podermos finalmente-
-Condições? Estamos numa salinha empoeirada, vazia e fria!
-Então me aquece, princesinha exigente...
-Você já sabia que eu era exigente quando começou comigo – colocou as mãos nas ancas do namorado.
-É verdade, mas eu sempre te dei tudo o que pude dar e mais um pouco – respondeu, acendendo velas em torno dos dois, flutuando rentes à parede, e puxando também uma cortina que revelava uma gigante almofada, coberta por um grosso cobertor. Kimberly ficou boquiaberta.
-Como você trouxe isso aqui pra cima sem ninguém ver?
-Já disse, se é pra te agradar, eu faço qualquer coisa... – Respondeu com a voz já rouca, aproximando seus lábios dos dela.
-Eu não quero beijar ninguém, eu só quero sair daqui! É assim tão difícil de concretizar?! – Lucy esbrafajava, falhando a voz no fim da frase.
Logan observava, interessado no desfecho.
-Relaxa, Lucy – Lianora repetiu pela enésima vez; - não tem ninguém vendo.
-Claro que não! A sua casa não tá em peso aqui nem nada!
- Deixa de ser boboca, Lucy; aproveita. Você não conhece ninguém – Gabriella insistiu; – ninguém te conhece; e tá escuro, não vão te reconhecer se te virem mais tarde.
-E daí?! Onde diz que o que vocês querem é o mesmo que eu?!
-Bebe um pouquinho, se acalma... – Carmen ofereceu o copo.
-Eu não bebo. Nunca!
-Então é por isso que você tá assim tão estressada... – uma garota de cabelo lilás e azulado envolveu-a no seu braço esquerdo – olha só, tá bom que você é hetro, mas olha, acho que quase todo mundo aqui também era... Uma ficadinha não vai destruir sua vida, e você pode até gostar... Já pensou só como seria bom descobrir aquilo que você realmente gosta...? – A garota se inclinava morosamente para cima de Lucy.
-E quem vai me mostrar se isso é bom ou não? Você?
-Posso ser, gostei de você...
-Eu nem sei o seu nome nem você o meu!
-Sei sim, você é a Lucy Potter e eu sou a Arupruy Purse... Viu? Não falta nada...
Lucy estava prestes a arrebentar de raiva, sua sanidade estava no finzinho, a gota de água seria o próximo comentário com certeza... Se não a ajudassem a sair dali...
-Olha ali na frente, são elas, vamos lá – observou Daniel avistando as colegas.
-Ai... Eu não faço assim tanta questão em ir pra lá... O Logan tá ali...
-Ah, você conheceu ele já?
-A gente já se conhece há muito tempo... Nossa história é comprida...
-Ué, mas você não disse que não conhecia ninguém de Hogwarts?
-Eu disse que não conhecia ninguém DECENTE em Hogwarts pr’além da Kim.
-Hum... Vocês têm um passado tenebroso comum...?
-Há-há.
-Têm ou não?
-Ok, temos.
-O que aconteceu? Ele te deu um toco?
Mandy olhou para Daniel como se ele próprio fosse um absurdo colossal.
-Você acha mesmo?
-Então? Te beijou e te largou?
-Hum... Foi mais ou menos isso, mas não tão simples...
-Depois vou querer saber essa história melhor.
-Tá bom, eu conto mais tarde – Mandy acabou por concordar, afinal, se eles também confiavam nela, porque não fazer o contrário?
-Mas tá todo mundo ali, vamo lá...
-Tá bom, vai... – Concordou por fim, não conseguindo evitar que Logan a visse quando se aproximaram. O estômago de Mandy se revirou de desagrado com aquele reencontro.
-Mandy! Até que enfim! Há mais de uma semana que tento te achar nos corredores – disse Logan, impedindo que os dois se aproximassem da orgia. Estava cansado daquelas crianças que se jogavam a seus pés mesmo sem ele pedir. Jynx teria com certeza dado o pior jeito para impedir que Mandy e Logan se vissem, mas até que a bebida estava boa e aquelas garotas eram engraçadinhas...
-Oi Logan - respondeu, beijando-lhe a face.
Toldado por antigos sentimentos trazidos à tona pela poção e o teor onírico da bebida, Logan não se contentou com um beijo no rosto, e pelo que se lembrava de Mandy, ela de certeza que não se importaria se ele quisesse mais, ele sempre a teve na mão...
-Mas porque não pensou na Sala dos Desejos? – Kimberly devolveu, desprezando o clima.
-Mas será que você pode se concentrar no agora, por favor? – O outro largou-a, subindo a voz com brusquidão – que diabos, você além de não se contentar com os meus esforços pra te agradar ainda me critica!
-Não estou criticando... – Kim tentou emendar, começando a ficar nervosa.
-É claro que não! Eu é que sou um asno, você se limita a me irradiar com sua presença e eu que a aproveite, é uma benção!!
-Pára de gritar, por favor – pediu, sem conseguir conter por completo seu riso característico de quando se encontrava realmente nervosa.
-Ah claro, e agora você ri! Eu como o pão que o diabo amassou por você e você ainda ri!!
-Eu não estou rindo!
-E os hipogrifos não sabem voar!
-Que infantil, não consegue discutir sem gritar nem dizer porcaria?
-Eu? Infantil?! Você é que é uma menininha que nem sabe o que fazer com um cara que ama numa sala reservada!!
-Ok, já chega, eu não vim aqui pra gritar com você.
-Nem eu, eu só vim aqui para poder me agarrar mais a você, parar de pensar em coisas que caras comprometidos não pensam, mas parece que nem com a nossa relação nem comigo você se importa mais!
-O que você anda pensando?
-Eu conheci uma garota esse mês. E desde o início do ano que não consigo parar de pensar nela, mas eu te amo há mais tempo, não queria desistir de você assim tão depressa!
-Se gosta da outra porque quis transar comigo?!
-Quem disse que eu gosto dela? Eu gosto é de você, garota! Acha que se não gostasse não insistiria?!
-Se gosta de mim porque quer transar comigo à força só pra não pensar na outra? E o que me garante que você não me traiu?
-O quê? Você ainda pergunta?! Mas você...!! Ah!! Me esquece, menina mimada!
-Me esquece você, traste! Vai lá se apaixonar à primeira vista, vai!
-Tá bom!! – Lucy esbrafejou, já sem qualquer força de vontade, tudo o que queria agora era que a deixassem em paz, e acima de tudo, que parassem definitivamente de chamá-la de santinha, certinha, impossível e sinônimos. No segundo seguinte tinha seus lábios cerrados colados ao de Arupruy, e aí não ficou nem meio segundo.
As outras festejaram, não pensavam que Lucy fosse realmente fazer aquilo, principalmente por se encontrar sóbria. Felicitaram-na, começaram a festejar mas o som de um violento tapa bem próximo chamou a atenção.
-Seu metido! Achou mesmo que eu ainda iria querer alguma coisa com você depois daquelas cenas?! Você é doido?! – Mandy berrava para Logan que mantinha a mão no rosto.
Lucy, mesmo sem entender e sem se preocupar com essa ignorância, alegrou-se de não ser mais o centro das atenções. Ao mesmo tempo começou a se arrepender rápida e terrivelmente do que acabara de fazer.
-Calma, Mandy... – Logan tentou envolvê-la nos braços, eram o centro das atenções no momento errado e isso tinha que mudar depressa. Nem queria pensar na sorte que era Jynx ter entrado em coma alcoólico segundos antes do tapa.
-É Malfoy para você! Me larga, nem tenta! Eu sei cuidar de mim muito bem, obrigada.
Hubert parou a mão no ar com brusquidão, a rasos centímetros da face de Kimberly. Tomando consciência do que quase fizera, fechou a mão, afastou-a, ainda no ar, e quando por fim a baixou, disse em tom amargo:
-Antes de começar, ou então no comecinho mesmo, ainda, não me lembro direito, nós fizémos uma promessa um ao outro, você lembra qual era?
Kimberly lembrava perfeitamente.
-Não...
Hubert suspirou. Já esperava aquela resposta. Estava muito bem explícito que aquela promessa nunca seria cumprida.
-Eu lembro e, sinceramente, preferia não ter feito. Eu tentei, Kimberly, eu juro por tudo que tentei. Mas você simplesmente não vale a pena. Nem acredito que quase transei com você e nem dei uma chance a uma garota de quem eu também gosto, à garota que realmente me valoriza.
Kimberly não disse nada, as lágrimas impediam-na de se mover; se o fizesse, elas rolariam face abaixo. Aguentou o máximo que pôde, e assim que o ex-namorado saiu do seu campo de visão, afundou a cabeça na almofada, encharcando a mesma silenciosamente.
Ninguém reparava mais em Lucy, e como estavam todos concentrados em volta do anfitrião da festa arruinada, conseguiu escapar do recinto o mais rápido que conseguiu.
Daniel, que estava muito bem servido da cena hilariante, quase caiu devido ao ombro de alguém apressado. Virou o rosto e não precisou de muito para reconhecer o cabelo.
-Ei! Lucy! Onde cê vai? Espera por mim! – Pediu, correndo atrás dela até por fim alcançá-la a poucos metros da entrada da festa, mas do lado de fora – o que foi? Porque saiu correndo...?
-E-elas estavam se beijando umas às outras... E queriam que eu também beijasse... – Começou, sem forças para acabar.
-Shhh... – Daniel impediu que ela prosseguisse, amparando soluços irregulares nos braços. Ainda bem que Lucy não bebia.
-Lucy? – Gabriella chamou pelo corredor, avistou os dois mas Lucy pediu a Daniel que a impedisse de se aproximar, se se fosse embora sem dizer nada seria o melhor – tá bom, tanto faz. Só uma coisa: o que aconteceu aqui fica entre nós, entendido?
Mas Logan não dava o braço a torcer. Fitou Madison no mais fundo do seu ser, perfurou-lhe a alma através dos olhos. Era agora ou nunca, se não remediasse esta situação estaria completamente perdido, todos iriam falar com Mandy, e ela obviamente contaria coisas a mais. Mas ela já tinha cedido uma vez, poderia ceder novamente. Era certo que ela não era fácil, aliás, Madison fora a conquista que mais exigira de Logan, e a que demorara mais tempo. Mas valeu a pena. Agora era só recuperar, não precisava de mais duas semanas.
-Logan, não adianta, esquece, vai dizer para os seus amorzinhos me deixarem passar ou não? – Mandy pediu em voz baixa. Sinal de meia-vitória.
-Assim que você não estiver mais zangada comigo – respondeu, se aproximando de novo, envolvendo os ombros de Mandy. – Hum?
Mandy suspirou. O sacana sabia o que estava fazendo, mas desta vez se controlou. Desta vez já conhecia o resultado. Se envolveu no abraço mas impediu que passasse disso.
-E... Eu realmente não te quero perder de novo, quero mesmo é aproveitar que você tá aqui, esse é o meu último ano na escola e você é a última pessoa com quem eu quero ficar chateado...
-Tá bom – disse Mandy. Se não saísse dali naquele instante, a evolução dos fatos seria a pior. E ela arrepender-se-ia. – Me deixa ir, agora, por favor...
Foi a vez de Logan suspirar. Não arrancaria o beijo que queria naquela noite, mas pelo menos Mandy estava mais do que do seu lado novamente, isso era o suficiente. Beijou-lhe a testa e deixou-a ir.
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