O Primeiro Dia

3. O Primeiro Dia

  Na manhã seguinte, os elfos domésticos foram servir o café da manhã assim como tinham feito no banquete de boas vindas.

 Os cinco meninos acordaram bem cedo, ansiosos com seu primeiro dia de aula em Hogwarts. Com uma disposição incomum numa manhã de segunda-feira, Alvo se arrumou e desceu as escadas para a sala comunal e se sentou em uma das poltronas  para dar uma olhada no lugar em que passaria a maior parte do ano letivo.

Era um lugar bem aconchegante, redondo por ser uma das torres do enorme castelo e cheio de poltronas fofas como a que Alvo estava sentado e mesas de estudo. Tinha uma lareira apagada de manhã, mas que a noite devia iluminar e esquentar todo o cômodo. De onde estava sentado, Alvo podia ver a parte de trás do quadro da mulher gorda, e lembrou da senha, feijoenszinhos de todos os sabores. Ele não podia esquece-lá.

Depois de alguns minutos, ele viu outros primeiranistas vindo para a sala comunal, entre eles, Rosa. Ela olhava ao redor como se procurasse algo, e, quando o viu, sorriu e se aproximou. Eles se cumprimentaram.

- Oi! Ah, isso não é otimo, finalmente estamos aqui! Mal posso acreditar!

- Eu sei - respondeu Alvo, interrompendo-a antes que começasse a falar sem parar como fazia quando estava empolgada. Seus novos companheiros de quarto se aproximaram, e Alvo se apressou em apresentá-los: - Leo, David, Walter, essa é Rosa, Rosa, esses são esses que eu acabei de dizer. Agora vamos descer? Estou com fome.

Os garotos cumprimentaram Rosa e saíram em direção ao quadro da Mulher Gorda, e Alvo e Rosa foram logo atrás.

 

Hogwarts não era nada que alguém pudesse imaginar, e muito menos explicar.

Os corredores eram longos e cobertos de retratos de bruxos notáveis, que sorriam enquanto eles passavam. Haviam portas que só abriam se você pedisse por favor e outras tinham que ouvir o hino nacional para abrir. Outras eram portas falsas, meros desenhos na parede.

A escola era tão grande e era tão facil se perder nela que os alunos tinham um intervalo de dez minutos entre as aulas para chegar às suas salas. Mesmo assim, Severo sentia que dez minutos não era o bastante.

As escadas eram outra história. Tinham horário e vontade própria. De manhã levavam a um lugar e a tarde levavam a outro. Se mexiam até mesmo quando tinham alunos atrasados tentando subí-las. Alguns degraus estavam quebrados e os alunos tinham que pulá-los para evitar ficar presos. 

Haviam também os fantasmas. Eles adoravam conversar com os alunos, até quando eles estavam atrasados para as aulas, e, mesmo que tudo em Hogwarts parecesse estar sempre mudando de lugar, eles sabiam muito bem onde tudo ficava. Eram engraçados e adoravam contar histórias de suas vidas antigas, sempre bem prestativos, principalmente com os alunos de suas casas.

Fora do castelo, a Floresta Proibida se extendia até onde os olhos alcançavam, e, no outro lado, era possível ver o grande lago onde vivia a lula gigante, de acordo com James. A cabana de Hagrid e o Salgueiro Lutador ficavam pertos da entrada da Floresta. Ver a pequena cabana pelas grossas janelas de Hogwarts fez os dois lembrarem que tinham sido convidados a visitar Hagrid naquela tarde, já que os alunos do primeiro ano tinham a tarde livre depois da hora do chá.

Os primeiranistas seguiram os outros alunos em direção ao Grande Comedor para tomar o café da manhã, descendo tantas escadas e dobrando tantos corredores e atravessando tantas portas que Alvo tinha certeza que demoraria horas para chegar à primeira aula do dia.

Quando chegaram, se sentaram à mesa da Grifinória. Nas outras mesas, viram Lorcan, Lysander e Escórpio. Eles acenaram uns para os outros e foram tomar café da manha. 

Enquanto comiam, centenas de corujas de repente invadiram o salão. Severo e Rosa levaram um susto enorme, mas então perceberam que era só o correio. Viram centenas de corujas pousarem ao longo das quatro mesas do salão, derrubando comida e bagunçando tudo. Edwiges, a coruja de Alvo, vinha com um exemplar d'O Pasquim, com uma carta da irmã e uma carta de seus pais. A coruja de Rosa, Cookie, vinha com uma carta dos pais, uma do irmão e um livro que tinha comprado por correio.

Rapidamente, os dois abriram suas cartas. A de Alvo dizia:

 

"Oi, Al! Como vão as coisas em Hogwarts? Já estamos morrendo de saudades. Então, voce é da Grifinória, parabéns! Viu como não precisava ficar nervoso? Hoje é o seu primeiro dia, comporte-se, preste atenção nas aulas, não entre em nenhuma confusão... Ah, não se esqueça de nos avisar se James estiver te incomodando. Seu irmão é um assunto um pouco complicado, mas ele te ama, claro.

Então, o que você acha de Hogwarts? Bom, não é? Espere só ate você poder ver os jogos de quadribol, as aulas com a Minerva, ela é incrivel, e como vai o Neville? Não se esqueça de mandar lembranças... E o Hagrid quer ver você, essa semana ainda. Diga ao James que ele está muito encrencado, acredita que ele roubou minha Firebolt? Eu disse para ele, você NÃO pode levar minha vassoura esse ano

Bom, querido espero que se divirta e se comporte muito esse ano. Não fique sem responder, mande uma carta por Edwiges hoje mesmo! Queremos saber notícias suas e se está gostando daí.

Nós te amamos."

 

Alvo riu ao ler a carta. Dava para saber exatamente quem escreveu cada parte. Seu pai tinha começado, então, logo, a mãe dele, Gina, tinha continuado, mandando ele se comportar e essas coisas. Então seu pai tinha pegado a pena, perguntando sobre Hogwarts e sobre os professores. Estava contando sobre James ter roubado sua vassoura quando Gina obviamente puxou a pena de sua mão, pois naquela parte havia um risco torto de tinta pela folha. Então Ginny terminou, e dava para ver que era ela, pois a letra era a mesma que a do começo.

 Quando Rosa terminou de ler sua carta, eles trocaram, para ver o que estava escrito na do outro. Na de Rosa estava assim:

 

"PARABÉNS, Rosinha! Sabe, o papai aqui sabia, sabia que você ia conseguir, e olha só, ele estava certo! Rosinha agora é da Grifinória, e o vovô tambem esta muito orgulhoso! Sabe, quando o papai tinha a sua idade 

 Rosa, meu bem, por favor, ignore seu pai, voce sabe como ele é. Enfim, oi! Como estão as coisas ai? Estou tão feliz por você! Entao, viu como é? Exatamente como em Hogwarts: uma historia, não? É um clássico, esse livro, deveria ser obrigatório para 

 Blablabla, mas então, querida, eu vou te dar umas dicas para o seu primeiro dia: primeiro de tudo, arranje um amigo inteligente que possa prestar atenção em História da Magia, eu sei, é dificil, mas você consegue. Segundo, não precisa acordar cedo para pegar as melhores comidas do café: pelo contrário, você pode acordar mais tarde, quando a maioria dos alunos já comeu, mas a cozinha ainda está abastecendo, e você também pode

 Rosa, nada disso, me escute bem: preste atenção em todas as aulas. Os estudos são muito importantes

 E o dever de casa, minha querida, o dever de casa é o que mais importa, não é Mione? Não, por que o dever de casa... e os estudos... e os professores...

 Então, Rosa, espero que tenha um belo dia, por favor, não escute o seu pai

 E nem a sua mãe

 Se comporte, estude, se comporte, seja boazinha, se comporte, divirta-se, se comporte! Nós te amamos, meu bem, te amamos muito!"

 

Isso ganhava, Alvo rolou de rir. Rosa ria ao seu lado, algo que eles faziam há muitos anos às custas do tio Rony e da tia Hermione. Eles eram hilários! Eles mal conseguiam terminar seus parágrafos!

 Quando terminaram o cafe da manhã, Alvo e Rosa voltaram para a Torre da Grifinória, atrás de James. Harry, o pai de Severo, tinha mandado James entregar o mapa do maroto para os garotos por um mês, para ajudá-los a se localizar em Hogwarts e como um castigo para James, por ter quebrado o vaso de cerâmica azul que a vovó Molly tinha dado de presente no natal para enfeitar a casa.

 James tentou, mas não conseguiu fugir: quando viu os dois entrando, tentou correr, mas Alvo o parou imediatamente.

 - James, por favor...

 - Nada disso, Al, preciso dele.

 - James, o papai falou...

 - Pois eu pedi pro papai e ele disse que eu podia ficar com o mapa.

 Naquele momento, Rosa se aproximou.

 - Mentira! - exclamou ela - James, não seja egoísta...

 James saiu correndo.

 - EI, volta aqui!

 Mas, bem naquele momento, a monitora da Grifinória estava passando, e o interceptou. Alguns minutos mais tarde, Alvo e Rosa tinham um mapa bem nas mãos e conseguiram não se atrasar.

 A primeira aula era Transfiguração. Eles teriam essa aula com a Corvinal, então logo depois teriam História da Magia com a Sonserina. Alvo se sentiu animado por poder conversar com Escórpio naquele horário, mas se sentia um pouco esquisito em ter uma aula inteira com a Sonserina, casa que tinha ouvido dizer que só fazia bruxos do mal. Mas a tia Mione e sua mãe Gina tinham dito que isso não é verdade, e até seu pai, e Alvo acreditava neles. Queria ser amigo de Escórpio.

 

Minerva era realmente um gênio. Sua aula foi incrível, exatamente como Severo e Rosa esperavam. Desde que tinham comprado suas varinhas, Severo e Rosa só sabiam alguns poucos feitiços simples, e estavam bem animados para começar a aprender alguns um pouco mais... impressionantes.

 É claro que não foi bem assim, eles começaram com algo bem simples: transformar uma folha de uma das árvores da floresta em pergaminho. Ninguém conseguiu fazer, mas alguns alunos conseguiram fazer a folha mudar de cor, e outros a fizeram aumentar de largura. Já Alvo e Rosa só conseguiram fazer a folha dar uns pulinhos sempre que apontavam a varinha.

 

Entao tá, História da Magia não era mesmo nada legal. Alvo entrou na sala determinado a prestar atenção e ser um bom aluno e estava bem animado quando o momento de fazer isso chegou. Sentou-se na cadeira ao lado de Rosa e observou enquanto os alunos da Sonserina chegavam.

Alvo viu Escórpio entrar e se aproximar, sorrindo.

 - Alô - disse ele - Como vão?

 Ele se sentou na cadeira ao lado deles, parecendo bem animado.

- História da Magia - disse - Um monte de gente me disse que essa aula é muito chata - continuou, e Alvo sorriu.

 - Pois é, ouvi o mesmo - disse.

 - Mas vocês sabem que devem prestar atenção, como disse a minha mãe e...

 Mas naquele momento, um fantasma atravessou o quadro negro em direção aos alunos que aguardavam sentados a aula começar, fazendo a maioria deles se assustar. Ele devia ter morrido bem velho, e parecia mais uma tartaruga enrugada.

 - Bom dia, alunos, vamos começar. Como sabem, Hogwarts foi fundada há muitos anos atras, no seculo XII. Naquela época...

 Alvo, Rosa e o resto da sala ficaram surpresos ao perceber que a aula já havia começado e começaram a pegar suas penas e pergaminhos para anotar tudo o que o professor dizia. Não era muito fácil, já que o professor nunca fazia uma pausa então os alunos se perdiam facilmente. Alvo tentou, mas não conseguiu acompanhar e desistiu de escrever.

Tentou prestar bastante atenção, mas o professor tinha uma voz rouca que dava sono e não dava a menor importância aos alunos, falava como se nao houvesse ninguém na sala. Alvo teria dormido se não estivesse tão animado pelo seu primeiro dia de aula.

Ao invés disso ficou pensando em como devia ser estranho acordar morto. É por que James já tinha contado a história de Binns várias vezes. O professor tinha cochilado num dia normal em uma poltrona e no dia seguinte estava morto, mas isso não o impediu de se levantar para dar aulas e é exatamente o que o velho professor vem fazendo há anos, sem descanço.

 

A aula demorou horas, ou pareceu demorar assim, e Alvo se sentiu um pouco culpado ao admitir que estava aliviado de sair daquela sala silenciosa.

Era hora do almoço e todos os alunos se dirigiam ao Grande Comedor. Alvo, Rosa e Escórpio encontraram Lorcan e Lysander pelo caminho. Os dois vinham com um grupo de garotos e garotas rindo e conversando, e, quando viu os três garotos saindo da sala do professor Binns, não tardaram a se juntar a eles.

- E aí, pessoal! - disse Lorcan - Como foi a aula de vocês? História, não é? Divertido?

Lysander soltou uma gargalhada.

- Nossa, é muito chato - disse Escórpio - Vocês já tiveram uma aula com o Binns?

- Claro que não, se não já estaríamos com essa cara de zumbi como vocês.

- Ah, esquece isso - exclamou Rosa - Vamos logo almoçar.

 

O resto do dia foi bem, digamos, normal.

Os garotos nao se surpreenderam quando viram os elfos domésticos entrando no salão na hora do almoço e nem na hora do jantar. Lá estava Tinny de novo, e todos perceberam que ela era uma amiga bem legal.

No resto do dia fizeram basicamente a mesma coisa. Tiveram um tempo de Poções, e, embora o professor DiScartio fosse bem legal, não gostaram muito da matéria. A novidade dessa aula mesmo era Olívia.

Olívia era uma menina da Lufa-lufa, que os garotos conheceram e gostaram bem de cara. Ela era loira com olhos castanhos e estava sempre sorrindo, o que mostrava sua covinha no queixo. 

Antes do professor DiScartio entrar, ela estava mexendo nos seus ingredientes e contando tudo, checando a balança e fazendo outros cálculos, quando sem querer deixou sua varinha, que tinha sido abandonada na mesa, cair e lançar uma luz vermelha que atravessou toda a sala e atingiu a mesa de Alvo e Rosa e a derrubou.

- Oh, minha nossa, me desculpe! - exclamou a garota, pegando sua varinha do chão e correndo para ajudar os garotos - Sinto muito, mesmo!

Ela ajudou os dois a levantar tudo, sempre pedindo desculpas.

No fim da aula, os três ja eram bons amigos.

 

Tiveram aula de Defesa Contra as Artes das Trevas depois de poções, e então ficaram livres.

DCAT era a matéria mais esperada de todos os anos, e não foi diferente nesse. Mas, embora não tenha sido ruim, não foi grande coisa. O professor era bem legal, mas no primeiro dia de aula, é inevitável para qualquer bruxo querer sacar sua varinha e lançar feitiços profissionais na primeira tentativa.

E eles não chegaram a usar as varinhas nessa aula, o que os decepcionou profundamente. Ao invés disso, o professor começou com fundamentos básicos, como ''o que é Defesa Contra as Artes das Trevas'', ''O que são Azarações'', ''Um pouco da história de DCAT'' e '' Princípios da defesa''.

Aprenderam que em Defesa Contra as Artes das Trevas os indivíduos não devem atacar, e sim se defender. Magia nunca deve ser usada para o mal. O professor, Daniel Sharner, explicou que eles aprenderiam um pouco sobre a historia dos bruxos mais famosos que defenderam o mundo mágico e também começariam aprendendo a se defender contra Vampiros.

Os alunos ficaram bem animados, mas ainda não havia chegado a hora, como disse o professor. No fim do período de aulas do primeiro dia, os garotos conheceram Filch.

Filch era o zelador, um velhinho muito engraçado que mancava com uma gata chamada Nor-r-ra (Nor-r-ra como quem ronrona) o dia inteiro. Ele estava sempre investigando os alunos, sempre chegando de fininho para ver se alguém estava aprontando. Às vezes, um aluno ou outro, enquanto está andando escondido pelos corredores, nem percebe a gata, que sempre que vê alguém fazendo algo errado, sai correndo para contar ao dono querido.

De vez em quando, Filch aparecia disparando perguntas, como ''o que voce veio fazer aqui?'' ou sai gritando '' eu sei o que você fez!'' para ver se algum aluno se entrega sob pressão. Mas é claro que na maioria das vezes, ele só era um pouco paranóico. Ou muito.

Alvo estava muito feliz. Hogwarts era incrível e com certeza não deixava nada a desejar. Por sete longos anos, aquela seria sua casa, até que voltasse para ver os pais nas férias. Alvo estava gostando muito desse jeito, e Rosa também. Seria um bom ano.

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