A escolha da fênix
Gina estava com o lençol puxado até o pescoço, para cobrir os seios, e sentada na cama, velava o sono de Harry Potter que ainda dormia, com o abdome à mostra e os olhos suavemente fechados. Foi a primeira noite que passaram juntos, aliás, foi a primeira vez que Gina esteve com um homem, e ela acreditava que não poderia ter sido melhor ou mais apropriado.
Ao ver que seus olhos estavam se abrindo, a garota acariciou seu rosto, com um sorriso nos lábios:
- Bom dia.
Ele também sorriu, mas em seguida levou a mão à testa, parecendo confuso e com dor.
- Acho que exageramos no firewhisky.
-Definitivamente.
Então se sentou, fazendo uma careta, e só então percebeu que estava nu, assim como ela, e isso pareceu deixá-lo muito transtornado
- O que aconteceu, Gina?!
- Você não se lembra?
- Honestamente, não.
Gina sentiu uma pequena fisgada de decepção, e afastou-se, o que serviu como uma resposta para Harry
- Não! Não pode ser. – ele sussurrou, muito vermelho. – Me desculpe, Gina, por favor – ele aumentou o tom de voz ao ver que ela começou a se vestir depressa - Mais tarde nós vamos conversar direitinho a respeito disso, tá?
- Tá. – depois de dizer isso, saiu do quarto secando os olhos com as costas das mãos. Iriam resgatar Malfoy em algumas horas e precisava concentrar-se nisso, em nada mais. Gina não sabia o porquê de seus amigos estarem tão empenhados em resgatar Draco Malfoy, a criatura que tinha o caráter mais duvidoso que já conhecera e claramente teria matado Dumbledore, se não fosse tão covarde, mas foi tão difícil convencê-los a deixar ir com eles que preferia não fazer muitas perguntas.
Tinha que passar na sala da diretora, porque tinha marcado com ela de arrumar um problema no seu horário ainda pela manhã, mas a viu saindo da sala, parecendo estar muito ocupada ao seguir a professora Sprout para fora do castelo, então resolveu esperar na diretoria até que ela voltasse.
- Delícias açucaradas – falou para a estátua, que lhe deu passagem até a escadaria giratória que precedia a sala de McGonagall, e sorriu pela própria sorte: a senha ainda era a mesma de três semanas atrás, quando tiveram uma reunião sobre a segurança de Hogwarts.
Tinha estado naquele mesmo escritório quando Dumbledore fora diretor e, agora, parecia ser um lugar completamente diferente. Todos aqueles pertences estranhos e potencialmente perigosos foram retirados, mas nada foi colocado em seu lugar. O resultado foi um ambiente de aspecto impessoal, que pareceria estar abandonado, não fosse a limpeza metódica e os habituais quadros dos antigos diretores.
Havia, contudo, um objeto que com certeza não estivera ali da última vez e que lhe despertou muita curiosidade: uma pequena pedra colorida em cima de uma almofada branca sobre a mesa de McGonagall. Sem conseguir se conter, tomou a pedra para si e a sentiu vibrar imediatamente entre os dedos, fazendo uma dormência quente se enrolar em seu braço direito e se alojar no coração.
Trouxe aquele artefato para mais perto dos olhos e distinguiu nele cinco cores diferentes: branco, roxo, dourado, vermelho e azul, mas é como se todas essas cores ficassem se misturando, se confundindo, porque não conseguiria dizer em qual parte da pedra havia qual cor.
- Senhorita Weasley, o que, pelas barbas de Merlin, a senhorita está fazendo?! – ouviu a voz de McGonagall claramente chocada atrás de si.
- Sinto muito, Diretora, eu... – ia devolvendo a pedra de volta para a almofada, mas McGonagall a impediu:
- Continue segurando, por favor. O que você sentiu?
- Perdão?
- É, o que você sentiu? – a McGonagall repetiu, olhando para o ovo nas mãos de Gina. – Você se queimou?
- O quê?! Não...
-Não saia daí, senhorita Weasley. – e, depois de dizer isso, rumou para fora do escritório como um raio. Gina ergueu uma sobrancelha, assustada, e sentou-se na cadeira, tentando descobrir se estava com problemas ao revisar mentalmente as regras do castelo.
Não demorou e logo ouviu mais passos atrás de si e McGonagall, Rony, Harry e Hermione entraram no escritório, conversando depressa, mas em voz baixa, sobre alguma coisa que Gina não conseguiu entender.
- Gina, o que você sentiu? – Perguntou Hermione, agitada. Hesitante, a ruiva falou:
- A pedra tremeu por alguns instantes, e então eu senti um calor subindo pelo meu braço até, bom até aqui... – e colocou a mão vazia sobre o peito, ficando muito envergonhada de repente – mas eu não quebrei a sua pedra, Diretora.
- Não é uma pedra, Gina – Rony falou, parecendo meio nauseado, meio doente, mas antes que a garota pudesse perguntar o que aquilo era, exatamente, ouviram o barulho de algo se rachando. Com uma expressão de pânico, a ruiva percebeu que vinha daquele artefato em sua mão. Rony estava certo: não era uma pedra! Era um ovo.
O silêncio na sala da Diretora foi absoluto, enquanto os cinco pares de olhos acompanhavam a pequena ave lutar contra as cascas do próprio ovo. Era uma criatura feia, trêmula, com os olhos fechados e a pele vermelha e frágil, mas Gina sentiu-se inundar de um carinho inexplicável por ela, até sentir as lágrimas tomarem seus olhos.
- É uma fênix, Gina, e ela escolheu você. – Hermione mostrou uma queimadura em seus dedos indicador e polegar, e a ruiva se perguntou quantos mais aquele ovo teria queimado. Honrada, a mais jovem entre os Weasley sorriu, rubra, e anunciou:
- Será chamada Ignis – então a fênix abriu lentamente seus olhos caramelados e encarou Gina por um longo momento, antes de fechá-los novamente, colocar a cabeça entre as asinhas sem penas e ficar bem quieta.
- Sobre a missão, Gina... – Harry falou, ainda meio rubro pelo que tinha acontecido na noite anterior e sem conseguir encará-la. – Acho que agora é ainda mais importante que você fique aqui, segura.
- De jeito nenhum! Eu vou! O que Ignis tem a ver com isso tudo?
Sem dizer mais nada, Harry passou o pergaminho para Gina que teve que apoiar o corpo na mesa da Diretora para não cair depois de ler. Releu três vezes, para só então confirmar:
- Então Ignis quer que eu...?
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Gina sabia que Harry, Rony, Hermione, Neville, Luna, Hagrid, Jorge e Hagrid precisavam resgatar Malfoy o quanto antes, porque ele receberia o beijo do dementador em dois dias. Sobre o plano, sabia que tentariam se infiltrar em Askaban através de um aliado da Ordem no Departamento das Execuções Penais do Ministério – que teria, inclusive, que se esconder em Hogwarts depois da missão, tamanha era sua exposição – e que corriam o risco de jamais voltar.
Tudo isso para resgatar Draco Malfoy.
Enquanto andava de um lado para o outro na enfermaria, onde muitos voluntários esperavam para receber possíveis feridos do grupo, praguejava contra o loiro aguado, que não mereceria nem a metade desses esforços. Tudo bem que precisavam do maior número de aliados que pudessem reunir, mas não é como se Malfoy fosse uma pessoa excepcionalmente importante ou habilidosa para valer tantos sacrifícios.
De repente, a porta abriu com um barulho seco e viu com horror que Rony carregava uma Hermione ensangüentada nos braços, enquanto Hagrid amparava um homem moreno que Gina não conhecia – acreditava ser o rapaz que estava infiltrado no Ministério – que tinha a perna quebrada em um ângulo horrendo.
Foi então que viu Malfoy, empurrado por Neville e Jorge em uma maca que alguém conjurara, seus cabelos loiros sem brilho e muitos quilos a menos. Ele estava ainda mais pálido que o normal e parecia estar desacordado.
- O que aconteceu com ela? – Gina perguntou para Rony, referindo-se a Hermione. Ele, a evidente contragosto, murmurou:
- Você tem que ajudar a cuidarem do Malfoy! – e olhou para Harry em seguida, em uma reclamação não verbal. Gina pensou em contradizê-lo, mas já havia muita gente ao redor de Hermione, então se afastou para não atrapalhar.
- Madame Pomfrey, como posso ajudá-lo? – Perguntou, apontando com a cabeça para Malfoy. A enfermeira com pressa e mau humor, entregou-lhe uma caixa cheia com bolinhas de algodão.
- Tente limpar o seu ferimento. Use isto – e entregou-lhe uma poção esverdeada de aparência desagradável. Em seguida, a enfermeira já rumava em direção à maca de Hermione.
Gina não vira nenhum ferimento em Malfoy de longe, mas, ao prestar atenção, percebeu que a sua roupa acinzentada estava manchada de sangue do lado esquerdo de sua barriga. Respirou fundo, tentando ignorar o fato de que iria cuidar de uma pessoa tão arrogante e asquerosa, e sentou-se em uma cadeira ao lado de seu leito.
Com cuidado, ergueu sua camisa e prendeu a respiração por alguns segundos, assustada com a magreza do loiro e com o tamanho do corte, que parecia estar coberto por uma substância amarelada mal cheirosa. Molhou um dos algodões na poção e, com cuidado, encostou sobre o machucado.
- Ai – o loiro se contorceu e segurou o pulso dela com força. Ele abriu seus olhos, que estavam bem azuis naquele momento, e olhou com raiva e desconfiança para a ruiva. Em seguida, porém, murmurou: - Desculpe.
E, então, soltou seu braço. Gina, impressionada com a momentânea humildade – e talvez até gratidão - de Draco, queria tê-lo alfinetado de algum jeito, mas manteve-se em silêncio em respeito a todo sofrimento que Askaban lhe causou.
Terminou de limpá-lo com calma, mas se sentia profundamente incomodada com aquela proximidade, principalmente porque o loiro a encarava com a expressão tão séria que era quase assustadora. Assim que fechou a poção e jogou os algodões no lixo, preparou-se para se levantar, mas ele não deixou, segurando novamente em seu pulso – agora com menos força.
- Por que vocês me ajudaram?
- Porque ELES não concordavam com a minha opinião.
Malfoy riu, por alguns instantes, e a deixou ir.
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Ana Slytherin, muito obrigada pelo apoio! Pode ter certeza de que esta fanfic não será abandonada. Pretendo, inclusive, atualizá-la pelo menos uma vez por semana (:
Comentários (1)
Adorei e fico feliz por saber que vc nao vai abandonar a fic to esperando o proximo
2011-05-01