Remo e sua culpa
As aulas passaram e finalmente o sinal do almoço soou. Os quatro Marotos foram para a sala do diretor esperando o pior dos castigos. Não era a primeira vez que entraram ali, mas certamente era como se fosse. Tantas visitas ao diretor não era suficiente para se familiarizar com aquele aconchegante e belo recinto. Era um mundo paralelo.
– Marotos... – O diretor juntou as mãos e sorriu, desviando os olhos do enorme livro aberto a sua frente. – Sabem o quanto gosto da presença de vocês nesse castelo, embora não sejam os alunos mais de disciplinados de Hogwarts... E não quero ter que parar de rir das marotices de vocês. Não que eu as apóie – pigarreou com uma das mãos fechada na frente da boca.
– Eu vou ser expulso de Hogwarts, não é? – Disse Remo cabisbaixo. – Eu entendo. Afinal o senhor me deixou ficar com a condição de eu ir para a Casa dos Gritos e não machucar ninguém, mas eu machuquei mesmo assim.
– Hogwarts estava segura com você na Casa dos Gritos, sim. Mas é uma das regras da escola os alunos mantenham-se em seus dormitórios depois do jantar. Maria errou, e muitos outros irão errar se esse segredo for descoberto. Ela o fez porque descobriu. Gostaria muito que isso não tivesse que acontecer para que vocês entendessem a gravidade do segredo que lhes foi confiado. Temos agora mais um motivo para não deixar que ninguém mais saiba, além dos que já sabem. Porque se isso acontecer de novo o ministro da magia não vai hesitar em me dar uma ordem de expulsão para você, Senhor Lupin, afinal eu tive que brigar com ele para que você pudesse estudar em Hogwarts. Eu sei que é difícil, afinal não depende só de vocês. Lílian descobriu porque há, realmente, no comportamento e na condição física de Remo, indícios de que é um licantropo e ela é esperta. O que aconteceu com Maria foi uma fatalidade, realmente, mas eu estou pedindo esse cuidado de vocês por mim, que não veria o menor esplendor numa noite de lua cheia se não pudesse ouvir os uivos místicos do Lobisomem, embora saiba o quão agonizante pode ser para Remo.
Houve um momento de silencio e Remo se manifestou.
– Não vai punir a Maria, vai? – Perguntou.
– Ela teve mais do que a punição que merecia quando o lobisomem a atacou. Não doeu só por fora, as feridas que o lobisomem fez. Eu não poderia punir alguém depois que o mesmo fosse ferido pelo seu próprio erro. – Dumbledore fez uma pausa para olhar em volta de si – Mas outro motivo por tê-los chamado aqui é para falar dos estudos. Remo mantém-se bem, como sempre, mas os outros. Receio que se não se recuperarem eu terei que proibi-los de fazerem companhia ao Senhor Lupin durante a lua cheia...
Os Marotos ainda ficaram algum tempo conversando sobre a noite anterior com Dumbledore, que prometeu fazer o máximo para que o ministro da magia não soubesse do ocorrido, sem se esquecer, é claro, de parabenizar aos Marotos pela rapidez em que conseguiram se safar daquela situação e salvar a vida de uma amiga. Remo ficou triste durante todo o dia. Queria ver Maria, mas tinha medo da reação dela ao acordar e vê-lo.
Os Marotos estavam no dormitório deles. Tiago e Sirius sentados na cama em silencio, Pedro deitado no chão desenhando e Remo sentado no peitoril da janela.
– Remo, agente ta indo ver a Maria, quer vir? – Perguntou Lílian, depois de entrar no dormitório e observá-lo por alguns segundos, sem que ele nem se desse conta, tão imerso que estava em seus pensamentos de culpa, olhando a paisagem do gramado ao redor do castelo pela janela.
– Ah... Oi, Lílian, a quanto tempo está aí? – Disse Remo despertando de seus temores silenciosos rapidamente.
– Não faz muito tempo. – Lílian tentou não deixá-lo sem graça. – Só vim chamá-lo para vir comigo, Lene e os Marotos, ver a Maria. Estivemos com ela mais cedo, mas ela nem prestou atenção na gente. O pouco que consegue murmurar é “Cadê o Remo? Por que estão aqui sem ele?”. A Madame Pomfrey disse que ela está afetada por conta de uma pancada na cabeça. Às vezes ela começa a descrever o lobisomem e sempre termina dizendo “não era meu Remo, eu não posso acreditar.”, disse também que ela sonha durante a noite e se debate aos gritos.
– Não adianta Lílian... Nós já tentamos... – Disse Sirius cabisbaixo.
– Me ver só ia piorar a situação da Maria... – Disse Remo estupefato com as informações.
– Não. A Madame Pomfrey diz que o que deu pra perceber é que ela tem uma visão romântica sobre você. Ela sabe que você é mais uma vitima. A Madame Pomfrey disse que Maria precisa se certificar de que está certa e de que você está bem... Foi um choque para ela. Ia ajudar muito na recuperação dela que você fosse visitá-la e que conversasse um pouco com ela.
– Mas eu tenho medo da reação dela. Ela deve ter medo de mim...
– Você é o melhor amigo dela. E não foi você quem a feriu daquele jeito, foi o lobisomem. Você nem sabe o que acontece quando está naquele estado.
– Tem razão... Mas não posso deixar de me sentir culpado. Se eu tivesse me afastado dela enquanto ainda era tempo, eu evitaria isso tudo.
– Por que você iria querer se afastar dela?
– Eu não posso ter amigos Lílian! – Ele gritou, assustando Lilian, que se manteve firme. – Eu sou um monstro e só tenho os Marotos porque eles podem se transformar em animais que conseguem se esquivar e se defender de mim e da minha monstruosidade...
– Monstruosidade do lobisomem! – Agora ela foi quem gritou. – Você não é essa coisa horrível, para de falar como se fosse responsável pelas desgraças do mundo! Como alguém pode não sentir pena de você se você mesmo não pára de sentir?! A Maria precisa de você e você pode começar a se culpar depois que ela não se recuperar porque você não foi confortá-la, mas por enquanto descansa porque não há motivos para culpa... Ainda.
Lílian se retirou do recinto, realmente irritada, seguida dos Marotos, ainda em silencio.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!