Verdades Que Tanto Guardei
Era sábado, Lílian estava sentada numa poltrona na sala comunal, de pijama, enrolada em uma coberta, com os olhos fixados em algum ponto da lareira; seus pensamentos voavam por aí, deixando-a com uma expressão de profunda tristeza. A ruiva estava com os olhos e nariz vermelhos, parecia ter chorado a noite inteira ou então deveria estar com uma tremenda gripe; seus olhos pesavam, e a garota queria apenas fechá-los e dormir, por dias e dias.
- Vamos, Almofadinhas! - exclamou Remo, descendo às escadas rapidamente, parecia cansado, com olheiras. - Lily? Está tudo bem?
- Sim, eu só estou...descansando um pouco! - a ruiva forçou um sorriso, mas tossiu e fungou junto, deixando-o preocupado. - E onde você está indo?
- Er,... - Remo ficou constrangido, mas não demonstrou para Lílian. - Meu pai não está nada bem, Dumbledore me deixou ir vê-lo por pouco tempo... voltarei logo!
- Ah, tudo bem - a ruiva voltou à encarar a lareira apagada.
Tiago desceu as escadas do dormitório masculino seguindo Sirius e Pedro, então avistou sua amada. O maroto sabia que ela ainda estava mal por causa dos pais, mas isso tinha que acabar, pois ele não aguentava vê-la naquele estado deplorável. Tiago falou para os garotos irem na frente e, quando os três saíram pelo buraco do retrato, o moreno foi até Lílian e parou ao seu lado, encarando-a.
- Você parece muito saudável! - exclamou Tiago, sorrindo.
- Obrigada, Potter! - respondeu Lílian, sarcasticamente. - Você que está um trapo!
- Não é mesmo?! - Tiago sentou no chão à sua frente. - Me sinto horrível, com minha bochechas rosadas e meus olhos brilhantes...deve ter alguma doença contagiosa!
- Concordo com você! - Lílian deu um sorriso torto. - Eu me sinto maravilhosa, minhas olheiras me dão um ar de obscuridade incrível, meu nariz e meu olhos vermelhos me deixam mais viva!
Os dois sorriram, mas Lily fungou novamente e parou de sorrir, como se tivesse se lembrado o motivo de estar naquela fossa. Tiago levantou-se e pediu para Lílian chegar um pouco para o lado, porque a poltrona era grande e ele estava com frio também; a ruiva se espremeu de um lado enquanto Tiago se espremia do outro, cobrindo-se com a coberta da garota. Seus olhares se encontraram, o moreno sentiu seu coração disparar enquanto a ruiva não conseguia sentir nada, nem mesmo raiva.
- Como você está? - questionou Tiago.
- Indo! - Lily suspirou e abaixou a cabeça. - Não é fácil perder os pais...!
- Eu sei! - Lílian encarou Tiago, que parecia estar sendo o mais sincero possível. - Você pode não saber, mas eu sou órfão!
- É? - a garota arregalou os olhos. Como nunca havia percebido que Tiago era órfão?
- Sou. Minha mãe morreu quando eu nasci, e meu pai morreu ano passado. - Tiago deu um sorriso triste. - Foi difícil aguentar e superar todo o sofrimento que eu sentia; meus amigos me apoiavam, ficavam comigo o tempo que fosse, mas isso não era o bastante para mim, eu sentia um vazio que cortava o meu coração. Eu me sentia sozinho, abandonado no mundo. Então, todos que me amavam, me mostraram que eu não estava sozinho, que havia algo muito bom ainda no mundo, que era a amizade!
Lílian sentiu seus olhos encherem de lágrimas, uma gota escorreu pela sua face, fazendo com que Tiago a limpasse antes que passasse de sua boca; agora Lily não se sentia tão mal, Tiago havia lhe dado esperança! A ruiva encarou os olhos castanhos esverdeados do rapaz, pensou que já havia visto aquele rosto mas com olhos verdes em outra pessoa, uma criança, mas não se lembrava quando e nem onde. Espontaneamente, Lílian sorriu.
- Obrigada, Potter!
- Eu que tenho que te agradecer, Lily - Tiago chegou mais perto de sua ruiva. - Você me fez um grande favor!
- Fiz? Que favor? - Lílian não se afastou de Tiago, ela não sabia bem o por quê, mas sentiu que não devia ter mais raiva do moreno.
- Me deu a chance de sentir o melhor sentimento do mundo! - Tiago colocou uma mão nas costas da poltrona, se impulsionando para frente. Ele estava cara a cara com Lílian que, para sua surpresa, não se afastou e ainda olhava-o profundamente nos olhos. - Você é diferente, Lily, especial. Eu... eu não sei o que seria de mim sem você por perto!
Tiago delirava com aqueles olhos verdes, sentia uma imensa felicidade por estar ali com aquela garota, mas sabia que ela não o amava. Ainda. Como se fosse fazer a coisa mais maravilhosa do mundo, Tiago ficou como corpo parado e foi com a cabeça na direção da ruiva, seus lábios queriam os dela, precisavam dela; e então, numa explosão de êxtase, seus lábios se tocaram, disparando os corações de ambos. Lílian não queria resistir, queria sentir Tiago, mostrar para ele que estava bem, finalmente, e que ele a havia confortado.
Tiago puxou Lílian para perto de si, sentia o corpo da ruiva grudado ao seu; suas línguas se moviam com uma urgência enorme, como se nunca mais pudessem ficar perto um do outro. O moreno colocou uma mão na nuca da ruiva, enquanto a outra acariciava suas costas; enquanto isso, Lílian sentia-se muito bem, uma mão estava no rosto de Tiago, enquanto a outra ficava pousada em seu peito. O casal parecia se conhecer havia muito tempo, seus corpos se encaixavam perfeitamente, como se tivessem sido feitos um para o outro; foi Lílian quem interrompeu o beijo, encarando Tiago.
- Eu poderia te xingar, te bater, falar que você era uma pessoa odiosa, mas isso não seria verdade!
- Então qual é a verdade? - Tiago não sabia o que sentir. Felicidade? Por quê não? Ele estava ali com sua ruiva, preparado para ouvi-la comentar sobre seus sentimentos por ele... Ansiedade? Isso, sem dúvida! Esperança? É, talvez. Medo? E se ela não o quisesse por perto? Sim, era motivo para ter medo também... O moreno estava agora, definitivamente, confuso.
- A verdade é que eu não consigo mais odiar você pelas coisas que nós acabamos de conversar, por tudo que você me contou, mas também não posso dizer que te amo do mesmo jeito que você diz me amar! - Lílian não conseguia desviar o olhar, seus lindos olhos verdes pareciam ter sido enfeitiçados pelos olhos castanho esverdeados de Tiago. - Eu disse que queria uma prova do seu amor por mim...
- Sim! E eu faço qualquer coisa para provar, Lily. Eu juro que...
- Não! - interrompeu Lílian. - Você acabou de me provar isso! E, antes que você fale do beijo, não foi essa a prova. Claro, o beijo ajudou um pouco... - a garota sorriu, ela acabara de ver os olhos de Tiago brilharem, disfarçadamente. - O amor não é algo que possamos explicar, quanto mais tentamos falar sobre ele, explicá-lo, colocá-lo em palavras, já não estamos falando de verdadeiro amor!
- Lily, eu não estou entendendo muito bem o que você está querendo dizer! - Tiago não queria que aquele momento acabasse, mas achou que a sinceridade era a melhor opção naquele momento. - Você fala do amor como se ele fosse algo muito difícil de se alcançar!
- O verdadeiro amor é, sim, uma coisa incrivelmente difícil de se alcançar! - Lily segurou as mãos de Tiago, tentando explicar melhor. - O amor não pode ser explicado porque é uma coisa que sentimos, dentro de nós, tão fundo, que chega à ser inexplicável! E quando eu pedi para você uma prova de que você me amava, eu não queria declarações de amor, nem queria que você e minhas amigas fizessem um plano mirabolante para me fazer acreditar no que você sente. Eu queria apenas a sua sinceridade, quando eu realmente precisasse dela... e foi o que você fez, me mostrando que a vida continua, apesar do que eu estou passando!
Tiago estava perplexo. Nunca imaginaria que Lílian Evans, uma bruxa nascida trouxa, tão simples e gentil, pudesse ter tanta sabedoria. Tiago entendia o que a ruiva estava querendo dizer sobre amor verdadeiro, sem cobrança, sem coisas incríveis e cheias de glamour...apenas o velho e simples amor, como o de antigamente, quando, ao invés de jóias, os homens davam flores às mulheres! Era simples, amoroso, gentil... amor de verdade!. Tiago sorriu, vendo que Lílian parecia ter esquecido os problemas um pouco.
- Lily, eu...
- Não, você vai estragar esse momento! - a ruiva deu uma risada alegre, fazendo Tiago sorrir ainda mais e mostrar suas covinhas, que ficaram escondidas durante muito tempo. A garota levantou-se rapidamente, deu um beijo na testa de Tiago e subiu correndo para o dormitório feminino; o garoto sentiu uma felicidade extrema, então se levantou e foi ao encontro de seus amigos que estavam levando Remo para seu esconderijo.
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Sirius ia na frente, seguido de Remo e Pedro. Os três pareciam cansados, mas Remo era o que aparentava mais; seus cabelos voavam com o vento, dando um ar horrendo ao rapaz. Aquela era a primeira noite de lua cheia, o ciclo estava para começar e o garoto se sentia mal por não ter conseguido se explicar para Jessie.
- Aluado, relaxe! - exclamou Pedro.
- Eu estou bem, Rabicho... estou bem. - Remo estava ficando pálido, a noite ia se aproximando e o garoto ainda estava longe do Salgueiro Lutador.
- Nós fizemos tudo errado! - falou Sirius, parecendo irritado. - A capa da invisibilidade ficou com o Pontas, agora qualquer um pode nos ver aqui fora! E viemos muito tarde, podemos não chegar à tempo!
- Temos que chegar à tempo! - exclamou Remo, andando mais rápido mas perdendo as forças rapidamente.
- Remo! - Jessie estava parada ali nos jardins de Hogwarts. A loira levantou-se e correu até o trio. - Garotos, onde vocês vão à essa hora?
- Eu tenho que ir para casa, cuidar de alguns problemas... - Remo não conseguia mentir direito para Jessie, e a garota sabia disso.
- De novo, mentindo para mim! O que está acontecendo?
- Jessie, nós estamos com pressa! - Sirius tentou tirá-la do caminho, mas a loira sacou a varinha e apontou para eles.
- Para! - gritou Remo, seus olhos estavam escurecendo, mas Jessie não havia percebido. - Jessie, me deixe em paz!
- Mas, Remo...
- Saia da frente, nós precisamos ir! - o garoto avançou em sua direção, mas a loira ficou firme em sua posição. - Fique longe de mim! Não chegue perto de mim, Jessie, ou você pode se arrepender!
- O que deu em você, Remo? - Jessie estava realmente assustada. - Você não é assim!
- Você não sabe quem eu sou realmente, e nem gostará de saber! Agora saia de perto de mim, nunca mais chegue perto de mim, será melhor para nós dois.
- Mas,...
- Eu te odeio, Jessie Lohana! Fique fora da minha vida! - Remo sentiu um aperto no peito ao dizer aquelas palavras, mas foi a única coisa que fez com que Jessie recuasse. Os três passaram por ela sem dizer uma palavra, andando rapidamente; Tiago apareceu de repente, passou correndo por uma Jessie com lágrimas nos olhos e chegou aos amigos.
- O que aconteceu? - exclamou Tiago, ao ver que Remo, apesar do estado em que se encontrava, tinha a face molhada por lágrimas.
- Eu não posso gostar de ninguém! Um monstro não pode se apaixonar - Remo urrou de dor. A lua cheia brilhava no céu escuro, mas cheio de estrelas.
Jessie não engolira aquilo, queria ter uma conversa séria com Remo, então foi atrás do marotos, mas o que encontrou não foi nada fácil de acreditar. Um lobisomem, enorme, estava tentando correr para longe, mas um enorme cervo e um belo cão negro de olhos azuis tentavam contê-lo; havia um rato, que mordia a orelha do lobisomem com o intuito de fazê-lo recuar. Jessie levou as mãos à boca, paralisada. O cervo conseguiu empurrar o lobisomem para algum lugar abaixo do Salgueiro Lutador, o cão impediu-o de fugir, e o rato havia desaparecido pela passagem.
A loira saiu correndo. De medo ou de falta de compreensão, ela não sabia, apenas correu; Jessie sabia que algo estava acontecendo, mas o que era? Para onde haviam ido os marotos e da onde surgiram aqueles... seres? Essas eram perguntas que Jessie não sabia responder. A garota correu como se sua vida dependesse daquilo, chegando ao dormitório feminino exasperada.
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Anne tomava banho quando Lílian entrou no dormitório. A ruiva não sabia se havia feito o certo, mas sabia que era aquilo que o seu coração pedira para fazer; Lily começou à remexer em seus pertences à procura de um velho caderno, que lhe acompanhava desde seus 12 anos. Seu diário. Ali estava ele, com a capa roxa já desbotada; algumas folhas haviam caído, mas Lílian sempre colocava mais folhas, para que pudesse escrever sempre que tivesse vontade. Rapidamente, Lily abriu seu diário e começou à folheá-lo, parando em uma página que dizia, em letras garrafais, 'Meus 17 Anos'.
- É aqui! - murmurou Lílian, começando à ler.
"Tudo que eu queria era ser do jeito que esperavam que eu fosse. Queria poder me olhar no espelho e poder dizer que sou feliz, mas eu não posso! Vejo minhas amigas tão bem com elas mesmas, com a escola, com os garotos, mas eu me sinto sempre diferente, a estranha. Como se nada nunca fosse normal para mim, como se eu não me encaixasse em lugar algum; e isso me mata por dentro! Só gostaria de alguém que me aceitasse, que não quisesse me mudar, que gostasse dos meus defeitos mais do que das minha qualidade... eu queria alguém estranho, como eu!" , a ruiva fechou o diário e sorriu.
- E então, eu encontrei Tiago Potter! - sussurrou Lílian, jogando-se na cama.
- Lily? - Anne saíra do banheiro e olhava-a, curiosa. A ruiva guardou rapidamente seu diário e encarou a amiga, disfarçando sua repentina alegria.
- Meninas! Socorro! - Jessie havia entrado no quarto, desesperada.
- O que foi? - Anne questionou, arregalando os olhos.
- Lobisomem, cervo, cão, rato! - Jessie ficava repetindo isso sem parar, parecia ter entrado em choque. Lílian e Anne se entreolharam e, juntas lançaram um feitiço na amiga para que dormisse. - Amanhã nós entenderemos isso! - falou Anne, deitando em sua cama e fechando o cortinado.
Lílian olhou para o cortinado fechado de Anne, depois olhou para Jessie, dormindo em sua cama. A ruiva apagou a luz e deitou em sua própria cama, seus pensamentos flutuando para alem de sua mente. Ela não queria ter demonstrado tudo aquilo por Tiago, mas fora por impulso; agora ela não poderia mais esconder a verdade dele, a verdade que guardou com tanto apresso. Lílian Evans estava gostando de Tiago Potter. Finalmente. Lily fechou os olhos, ainda com um sorriso no rosto, e adormeceu rapidamente; foi então que, novamente, teve o sonho estranho.
'O garotinho sorria no colo no pai, estava gostando da brincadeira. O homem olhou na direção de Lílian, mas seu olhar atravessou-a e se dirigiu à janela que dava para o pequeno jardim que havia na entrada da casa.
- Ele nos traiu! - exclamou o homem, entregando-lhe o pequenino e pegando sua varinha.
No instante seguinte, o sonho de Lily foi transportado para o quarto do menino. Lá estava ela, parada diante do estranho, entre ele e o berço.
- Por favor, Harry não! - gritou Lílian, implorando.
A risada cruel foi a única coisa que Lílian ouviu, acordando em seguida.'
A ruiva tremia e suava, mas parecia que tudo havia se apagado de sua mente; a única coisa que conseguia se lembrar era de uma frase dita por ela mesma: " - Por favor, Harry não!".
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N/A: Oii :D
Obrigada pelos comentários, podem ser poucos, mas me deixam muito feliz! *-*
Eu posto rápido porque não consigo ficar sem escrever. Mesmo assim, poderia deixar os capítulos salvos e postar depois, mas não me aguento de vontade de dividir meus pensamentos e minhas ideias com vocês, então posto logo de uma vez! '-'
Espero que estejam gostando! ;D
beeijos ;*
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