Curar as Feridas



Nota da Autora: Obviamente Harry Potter não me pertence ou senão aquela coisa que chamam de epílogo nunca existiria. Essa fic foi feita em homenagem a Thiffany, melhor amiga que eu poderia ter tido e que me inspirou a começar minhas histórias; Espero que gostem dela tanto quanto eu gostei de escrevê-la. ;D


Capítulo 1 – Curar as feridas


- E depois, nós fugimos de Gringotes com o dragão... um dragão CEGO! – entusiasmou-se Ron, envolto por uma pequena multidão, enquanto eu revirava meus olhos. Por Merlin, será que ele não poderia parar de falar por um segundo? Aquilo começava a me dar nos nervos e, impaciente, avisei:


- Vou dar uma volta lá fora, está bem?


Sinceramente acho que ele não escutou nenhuma das minhas palavras, pois continuou como se não tivesse havido interrupção. Também pudera, depois de tantas doses de álcool me espantaria se ele percebesse uma bomba em pleno salão, ao lado dele. Atravessei o grande salão, onde os sons das risadas ecoavam pelas paredes imponentes. - Aquilo tudo era tão descabido – eu pensava comigo mesma. As pessoas comemoravam como se ninguém estivesse faltando, como se não houvesse perdas irreparáveis.


Continuei caminhando sem perceber onde meus pés me levavam, até observar a bétula sob a qual passei ensolarados dias com Harry e Ron. Tudo aquilo... Hogwarts parecia ter acontecido há séculos e séculos atrás. Algo dentro de mim mudara tão profundamente que por vezes tinha dúvidas se eu seria capaz de voltar um dia.


- Você foi incrível hoje mais cedo, no discurso de abertura – ouvi e nem precisei me virar pra reconhecer quem era, apenas o deixei se aproximar – Foi realmente tocante. Não houve uma única pessoa que não se emocionasse.


- Obrigada, Harry. Fico feliz que tenha gostado.


- Não deveria ter um garoto alto, ruivo, meio desajeitado com você não?


- Alto, ruivo, meio desajeitado e bêbado, você quer dizer – corrigi, ligeiramente exasperada – Ron exagerou no Uísque de Fogo e se empolgou quando foi perguntado sobre a nossa "caçada pela Grã-Bretanha". Eu achei que não precisava ouvir uma vez que eu estava lá, caçando. – Ele me sorriu compreensivo, eu sabia que ele se sentia tão ou mais desconfortável que eu naquele baile - Mas e você, o que te trouxe aqui?


- Sabe como é, dançar não é bem minha praia. Sem contar aquela multidão toda...


- É, certas coisas nunca mudam – era pra ser só um pensamento, mas acabou saindo em voz alta – Harry Potter nunca será um dançarino.


Um silêncio confortável se instalou entre nós e especulei se deveria perguntar algo que estava na minha cabeça recentemente, me decidindo finalmente por faze-lo:


- Você está feliz Harry? – procurei o encarar diretamente. Ele retribuiu o olhar, confuso, sem saber o que responder. Suas sobrancelhas se estreitaram antes de sorrir, maroto:


- Certas coisas nunca mudam. Você sempre vai se preocupar mais com a felicidade dos outros do que com a sua. – não pude evitar sorrir quando ele usou minhas palavras – mas sim, eu estou feliz Herms. Feliz que tudo tenha acabado, na verdade, bastante aliviado que tenha acabado. Mas não o suficiente pra comemorar – indicou o castelo com a cabeça. – Mas no mais, estou feliz. E você? - Acrescentou preocupado.


- Eu... estou. Tenho a sensação de que finalmente tudo vai tomar seu lugar sabe? Feliz por ter você e o Ron comigo, sãos e salvos. Feliz que vou reencontrar meus pais em breve. – no dia seguinte, pra ser mais exata - Me sinto triste quando eu lembro do quanto perdemos, mas sei que tudo aconteceu para um bem maior. E fico feliz por você estar feliz, à sua maneira.


Ficamos em silêncio novamente, encarando o lago. Harry me olhou de maneira estranha, como se tomasse uma decisão repentina:


- Com grande contribuição sua – arregalei os olhos em espanto, enquanto me virava pra ele – e não me olhe assim, você sabe perfeitamente bem que eu nunca teria conseguido sem você. Você foi a única que nunca me abandonou mesmo quando eu te dava todas as razões do mundo pra fazer o contrário. Você sempre esteve ao meu lado e sempre buscou me proteger de tudo que pudesse me fazer mal. – Meus olhos cintilaram ao ouvir aquelas coisas de Harry, ele não costumava falar de seus sentimentos com frequência – eu jamais seria capaz de agradecer você de forma satisfatória, eu devo minha vida à você.


- Eu jamais te deixaria Harry, você é meu melhor amigo! E eu sei que você faria o mesmo por mim, simplesmente sei – ele meneou a cabeça, como se não estivesse me escutando realmente e prosseguiu - Na barraca, depois que o Ron foi embora... Eu confesso que nunca senti tanto medo... que você achasse que tudo aquilo era demais pra você e me deixasse também. A simples idéia me apavorava. Quando ele partiu, mesmo vivendo aquele inferno, uma pequena parte de mim acreditava que ainda poderia dar certo, que havia esperança. Mas se você partisse também... – ele parou por um momento parecendo angustiado, os olhos verdes de repente escuros - eu teria desistido, sem você.


- Eu não iria a lugar algum, assim como nunca irei – afirmei tocando seu queixo gentilmente, forçando-o a encarar-me. Estava tão feliz por tudo que ele dissera. Não que eu não soubesse de minha importância na vida dele, mas era diferente poder ouvir aquilo – Meu lugar sempre será ao seu lado, sempre. Não importa o que aconteça.


- Só não deixe Ron te escutar dizendo isso. – o soquei nos ombros, com um sorriso relutante em meus lábios e o abracei fortemente. Lembrei-me do momento em que pensei que jamais o abraçaria novamente e apertei ainda mais forte, permanecendo assim por vários minutos até que disse:


- Vamos voltar? Afinal, todos querem ver o "garoto-que-derrotou-o-Lorde-das-Trevas" – expliquei zombeteira.




Passamos a semana em Hogwarts, ajudando a reconstruir a escola. No dia seguinte à batalha, os mortos foram homenageados e enterrados em Hogwarts, no recente "Memorial da Guerra". Fora um dia difícil, especialmente para os Weasley e Andrômeda Tonks, agora tendo apenas seu neto como família. Eu e Harry ficamos ao lado de Ron e Ginny durante toda a cerimônia, ambos com os olhos vidrados de lágrimas. Jorge estava irreconhecível, uma sombra do garoto que havia sido um dia. Dias depois, com a escola em perfeito estado novamente, o ministério da magia anunciou o Baile em comemoração à derrota de Voldemort. Eu, Harry e Ron aceitamos relutantes comparecer, já que nossas presenças eram indispensáveis para reaver a moral da sociedade mágica, segundo Kingsley Shacklebolt, nomeado ministro da magia. Os Weasleys optaram por não ir, a morte de Fred ainda dolorosa e recente demais. Ron mesmo só concordou depois da insistência dos pais, mas durante a festa sucumbiu à bebida, sua noite não sendo uma das melhores. Harry e eu desaparatamos com ele na Toca e acabamos por ficar lá. O próprio Kingsley colocara a minha disposição o Esquadrão de Reversão de Feitiços para recuperar a memória dos meus pais e me garantiu que a reversão seria bem sucedida. Meus pais saberiam que tem uma filha e tudo que eu podia esperar era que me perdoassem por alterar a vida deles daquela forma, sem permissão.


Acordei anormalmente cedo naquela manhã, agitada demais pra conseguir dormir. Deixei o quarto fazendo o mínimo de barulho possível pra não acordar Ginny e ao chegar na cozinha deparei com a Sra. Weasley, o cheiro de bacon e ovos mexidos aguçando meu olfato
- Bom dia Sra Weasley – cumprimentei tomando um lugar à mesa.


- Hermione! O que faz acordada tão cedo?
- Ansiosa demais, não consegui dormir direito – Molly me olhou com ternura, sabia que eu partiria para Austrália em poucas horas.
- Em breve estará com eles e tudo estará bem, querida.


Será? – me perguntei receosa. Algo deve ter transparecido em meu olhar porque logo depois ela me perguntou preocupada se não havia nada me incomodando e eu desconversei:
- Hã? Não Sra. Weasley, nada errado. - Me ocupei com os pratos e talheres até os outros acordarem, enquanto ela me espiava pelo canto dos olhos, checando se tudo estava bem como lhe dissera.
Harry e Ron acordaram tempos depois, receosos que eu já tivesse ido:


- Mas é claro que não! – exclamei fingindo indignação – não acham que sairia sem me despedir de vocês, acham? Mas se não acordassem por agora, teria que acordá-los eu mesma.
Ficamos conversando por alguns momentos, ao mesmo tempo em que tomavam café.


- E quando você volta? – perguntou Ron, enquanto mastigava seu cereal.


- Não sei... o tempo necessário para eles retomarem a vida usual deles e eu matar minha saudade – acrescentei – Não planejei exatamente, ainda... Mas escrevo aos dois, assim que eu souber. - Olhei para o relógio e vi que era hora – Eu tenho que ir agora – vi os dois se levantarem rapidamente. Abraçei Ron longamente, apertado. Ele retribuia em igual intensidade.
- Não hesite em me escrever, certo? – Preocupava-me não estar com ele quando ele mais precisava de companhia. Beijei seu rosto e me afastei, indo de encontro a Harry desta vez:


- E o mesmo pra você – ele disse – assim que falar com eles, mande uma carta está bem? – ele me sorriu - E fica calma Herms. Seus pais jamais ficariam chateados com você, eles vão entender.
O olhei surpresa, eu sequer havia comentado esse meu medo com ele! – o beijei no rosto também.
E desaparatei, rumo ao Ministério da Magia.


Tem certeza que são eles? – ouvi Chace Smith me perguntar pela milésima vez. Por Merlim! Eles é que não sabem que tem uma filha, eu ainda sabia quem eram meus pais! Assenti com a cabeça e então ele e Jessica Williams, sua parceira no esquadrão de Reversão de feitiços acidentais, foram em direção a casa.


Foi tudo tão rápido. Eles tocaram a campainha, vestidos como trouxas, agentes de uma seguradora, idéia minha. Eu permaneci do lado de fora, observando escondida. Havia um cerca azul, um jardim bem cuidado (com certeza coisa da minha mãe), um carro popular na garagem. A casa era tão simples e pequena se comparada a de Hampshire, mas se parecia tão mais com eles, que por sua vez me pareciam muito felizes. Meu coração doía ao pensar que talvez fosse melhor pra eles continuar ali sem saber de nada, inconscientes da verdade que tirei deles. Absorta em pensamentos, quase falhei em notar Jessica acenando pra mim pela janela, era chegada a hora. Eu tremia por inteira ao passar pela porta de carvalho, o coração disparando acelerado. Os encontrei no sofá carmim contrastante com o tom neutro da sala, os semblantes tão tranquilos quanto era capaz de recordar e não pude evitar as lágrimas em meus olhos. Jessica colocou a mão em ombro, dizendo gentilmente:


- Eles devem acordar em poucos minutos, tudo saiu como esperado. Provavelmente eles sentirão muita dor de cabeça ao acordarem, então Chace deixou uma poção logo ali – apontou o aparador no lado oposto da sala, onde jaziam vários porta retratos e um pequeno frasco transparente. Sua vez tornou-se suave – Vai ficar tudo bem Hermione. Nós vamos deixar vocês sozinhos, enquanto resolvemos a questão da documentação deles.


Eu lhe sorri e acenei pros dois enquanto eles aparatavam no meio da sala, me deixando ali sozinha com meus pais. Afundei numa poltrona próxima, enquanto apoiava meu rosto nas mãos. Durante toda viagem eu ensaiara mentalmente tudo que queria dizer, mas naquele instante não me vinha nada à cabeça, absolutamente nada. Era tão frustrante, como...


- Filha? – ouvi de repente, movendo minha cabeça tão rápido que acredito ter arriscado quebrar meu pescoço. Era meu pai. Ele olhou a sua volta e seus olhos de azuis me encararam por um longo momento, confusos e inteiramente ternos, fazendo as lágrimas virem aos olhos e um nó se fechar em minha garganta – Que lugar é esse, o que aconteceu? Minha cabeça está latejando! – pude ouvir ele dizer vagamente e quando dei por mim, já havia atravessado o curto espaço entre nós e o abraçava com tanta força que posteriomente temi te-lo machucado. Eu tinha passado tanto tempo imaginando se eu poderia abraçá-los novamente que aquilo me parecia um sonho, surreal. O senti sorrir enquanto afagava meus cabelos e afastava-se para olhar-me.


- O que houve, pequena? Porque você está chorando? – notei ele levar a mão à cabeça, visivelmente incomodado com a dor e me lembrei da poção, sacando minha varinha do bolso do jeans – Accio poção – o frasco voou até minhas mãos e ele parecia surpreso – toma isso, só um gole, vai fazer a dor passar – sua sobrancelha arqueou como quem desconfiava, mas no instante em que o levei o vidro em direção a seus lábios ele não contestou. Passados alguns poucos minutos ele melhorou e a ausência da dor pareceu clarear seus pensamentos:
- Hermione, o que está acontecendo? – quis saber, sua voz tornando-se firme – Onde estamos? Porque eu me sentia como se minha cabeça estivesse prestes a explodir?


- Calma pai. Eu vou explicar tudo, prometo. Mas... – acrescentei rapidamente, antes que achasse que começaria naquela hora - minha mãe precisa acordar antes.
Não demorou muito. Em instantes, deparei-me com os olhos de minha mãe, do exato mesmo tom que os meus, um castanho chocolate. Mais atenta que antes, dei-lhe um gole da poção antes de abraça-la tal como tinha feito com meu pai. Ela me olhou tão confusa quanto ele mas nada falou. Assim que ela se recuperou, puxei a poltrona em que estive mais cedo e me sentei na frente deles, antes de reunir toda coragem que tinha e dizer:


- Preciso contar algo a vocês... – me remexi desconfortavelmente, desorientada. Lembrei de Harry quase que instantaneamente, me tranquilizando antes de partir e desejei que ele estivesse ali comigo de tal modo que aquilo não seria tão difícil – eu tenho que dizer... a verdade – minha mãe abriu a boca mas eu a cortei – É importante que não me interrompam quando estiver falando e assim que eu terminar vocês podem reagir da forma que acharem apropriada - "Mesmo que isso signifique não falarem mais comigo", pensei amargurada. Um longo suspiro escapou da minha boca antes que eu o contivesse e passei a encarar a cerâmica tão bem encerada no chão como se fosse a coisa mais interessante que já havia visto.


- Nós estamos na Austrália. Quando eu voltei de Hogwarts, eu deixei de contar coisas pra vocês, coisas importantes. – mordi meu lábio angustiada – Dumbledore foi morto, por isso voltei mais cedo pra casa. Antes de morrer, ele confiou uma missão a Harry, algo que não poderia ser feito em Hogwarts. Eu e Ron tínhamos conhecimento dessa missão e decidimos ajudar o Harry, partir com ele – finalmente levantei meu rosto e os olhei fixamente, a coragem de repente se fazendo presente em mim – antes de partir pra casa dos Weasley eu modifiquei a memória de vocês. Até uns 15 minutos atrás, vocês se chamavam Wendell e Monica Wilkins, não tinham uma filha e haviam realizado recentemente o maior sonho de vocês, morar aqui na Austrália.


O silêncio que se seguiu foi o mais perturbador da minha vida. Eles entreolhavam-se perplexos, aparentemente em choque. Minha mãe abria e fechava a boca, mas não falava nada. Papai me olhava em absoluta incredulidade, sem saber o que pensar.


- Há quanto tempo? – foi tudo que quis saber.
- Pouco menos de um ano.
- E porque resolveu devolver nossa memória? – disse minha mãe, um tom amargo preenchendo sua voz sempre tão suave, doce. – Aliás, porque tirá-la, pra início de conversa?
- Eu quis que vocês ficassem seguros. Havia uma guerra e antes mesmo dela acontecer eu já tinha escolhido que lado eu defenderia. Eu seria alvo de qualquer forma, tanto por ter nascido trouxa – meu pai torceu o nariz, desgostoso com o modo que os não nascidos mágicos eram tratados – quanto por ser a melhor amiga de Harry Potter, o garoto-que-sobreviveu, Voldemort queria matar o Harry! Qualquer coisa que pudesse ajudá-lo a nos encontrar seria feita. Eles iriam atrás de vocês e dos Weasley também. Eu tinha que proteger vocês, fazer com que não sofressem pelas consequências da minha escolha e o único jeito era fazer com que não soubessem quem eu era e saírem da Inglaterra com novas identidades. Mas agora Harry derrotou Voldemort então vocês não correm mais perigo, ninguém corre mais perigo. – percebi que minha mãe baixou um pouco a guarda e continuei – Sei que não tinha o direito de alterar suas vidas assim sem nem explicar. Eu queria tanto contar a verdade assim que os encontrei em casa, mas eu sei que vocês não aceitariam e iriam querer me proibir de ir! Precisava ter a certeza que caso alguma coisa acontecesse comigo vocês não sofreriam e estariam seguros.


Houve uma pequena pausa e tal como antes eles entreolharam-se como se conversassem sem dizer uma única palavra, algo tão comum neles.
- Nos conte tudo, cada mínimo detalhe. Mas antes – suas expressões suavizaram e ao olhar pro meu pai eu soube que no fundo ele me entendia – algum amigo seu... – não havia necessidade de terminar, eu sabia o que ele perguntaria. Eu não gostava de pensar no assunto, machucava demais, mas eu devia contar tudo:


- O professor Moody e Edwiges, aquela coruja do Harry, quando fomos pra casa dos Weasley. Dobby, o elfo doméstico na mansão dos Malfoy. Teve o pai da Tonks, Ted. E na batalha final em Hogwarts... – eu tive que respirar fundo, porque doía pensar naquele dia - Fred, Lupin, Tonks, Colin Creevey e Snape. – minha mãe me olhou penalizada, como se estivesse prestes a levantar do sofá e me consolar. Eu comecei a explicar:


- Lembra de uma vez, que eu disse que Voldemort nunca tinha morrido realmente? Dumbledore descobriu o porquê e consequentemente, uma forma de derrotá-lo. Na magia negra, existe um modo de armazenar uma parte da alma num objeto, dividir a alma. Esse objeto chama-se horcrux. Ao aprisionar parte da alma nessa horcrux, mesmo que aconteça algo com o corpo, a pessoa não morre. É um ato que necessita de extrema maldade pra ser feito e causa estragos inimagináveis na alma, corrompendo-a. Acontece que Voldemort, buscando a imortalidade fez seis horcruxes, na verdade sete, uma foi involuntária se assim posso dizer. Uma parte da alma dele ainda pertencia a seu corpo, mas havia outras sete espalhadas por aí, não-localizáveis. Por sorte, 2 delas já estavam destruídas: o diário de Tom Riddle – minha mãe me olhou confusa – Voldemort, antes de se tornar... Voldemort. – esclareci – A outra foi destruída por Dumbledore e foi também a causa de sua morte. Se nós encontrássemos e destruíssemos todas as Horcruxes, Voldemort tornaria-se mortal e então Harry teria alguma chance. Era essa a missão, encontrá-las. – Depois disso contei toda história, desde o casamento de Bill e Fleur até o baile em Hogwarts, omitindo algumas partes, como por exemplo, a tortura na mansão dos Malfoy. Se eu explicasse como realmente havia acontecido, desde o momento que Harry pronunciara o nome de Voldemort na barraca eles poderiam culpá-lo. E nem mesmo eu o culpava! Durante mais de uma hora observei as reações ora chocadas, ora revoltadas deles e minha voz ia falhando cada vez mais – e por fim, houve o Baile e eu tive que fazer um discurso. Basicamente, foi isso.
Assim que terminei minha mãe me puxou pra um abraço, junto com meu pai e disse:


- Você estava certa. Se você tivesse me contado o que pretendia fazer, eu tentaria te impedir. E eu não fico feliz por você alterar nossa memória, nos privando de você por todo esse tempo, mas eu entendo suas razões. Você jamais deixaria o Harry enfrentar tudo isso sozinho e você jamais assistiria tudo que você mais ama ser destruído de braços cruzados, sem lutar. Eu admiro você, Hermione Jean Granger. Sempre admirei e admiro ainda mais agora. – ela calou-se e pude ouvir meu pai completar – Você é incrivelmente corajosa e generosa. Estou orgulhoso de você, minha pequena heroína.
Ficamos assim por um bom tempo. Meu pai levantou-se enérgico:


- Então... Austrália! Suponho que não poderemos te apresentar a casa, muito menos a cidade, então nós teremos que conhecê-la juntos!
Foi um dia longo, andando pelos arredores de Sydney. Meus pais haviam aberto uma sorveteria, verdadeiro sucesso, não muito longe da casa, porém milhas distantes do ramo odontológico em que trabalhavam antes. Chace e Jessica aprontaram todos os documentos e deixaríamos a Oceania no dia seguinte, no primeiro vôo. Pretendia escrever pra Harry e Ron assim que chegasse e convidá-los para passar um fim de semana como minha mãe havia proposto, o único problema era como mandar a carta, pois não tinha coruja e Edwiges não poderia mais. Foi pensando nisso que adormeci, exaurida pela tensão e cansaço.


- Bom dia filha, dormiu bem? – minha mãe perguntou, oferecendo-me uma xícara de café. Ao observa-la, notei que havia esquecido o quanto ela era bonita, sempre aparentando ser infinitamente mais jovem do que realmente era, especialmente quando sorria. Seu cabelo acima do ombro era do mesmo castanho que o meu mas ao contrário destes, eram suaves e lisos. Ela era linda.
- Dormi sim. Cade papai?


-Foi comprar um jornal, descobrir o que aconteceu no mundo nesses meses, sabe como ele é. – eu simplesmente sorri, enquanto ela se sentava ao meu lado, sua voz ficando séria - O que você pretende fazer agora filha? Depois da guerra?


- Voltar com vocês, ajudá-los a normalizar as coisas, aproveitar vocês um pouco. E depois quero voltar pra Hogwarts, terminar os estudos e me tornar uma medibruxa, não sei.
- Harry e Ron vão voltar também?


- Sinceramente? Não sei. – me perguntava isso a dias, mas achava improvável – Ron não deve querer. O Harry... acho que ele precisa colocar a cabeça no lugar, decidir com calma. Tudo foi muito mais intenso pra ele, sabe?
Meu pai chegou tempos depois, com uma pilha enorme de jornais que ele leria na viagem. Encaminhamos-nos pro aeroporto, meia-hora depois. A viagem foi extremamente cansativa, eu não via a hora de chegar em casa. Chace e Jessica nos recepcionaram no aeroporto. Por eles, fiquei sabendo que nossa casa havia sido revirada por comensais em busca de pistas e que o Ministério se encarregou de arrumar tudo. Me despedi dos dois ali, agradecendo um milhão de vezes por toda ajuda. E posteriormente, deveria agradecer Kingsley também.


Harry e Ron,


Como estão? Espero que tudo esteja bem por aí.
Já estou na Inglaterra! Cheguei agora a pouco! A viagem foi absurdamente longa, mas preferi escrever antes de dormir. A propósito, Pig já está aqui, acho que apenas esperando minha carta.
Como já imaginava, a conversa foi extremamente difícil. Enquanto eu falava, não podia acreditar que passamos por tudo aquilo e ainda estamos vivos. De qualquer forma eles entenderam minhas razões e agora acham que eu sou um tipo de heroína ou algo assim, me lembram os jornalistas no Baile, mas infinitamente mais agradáveis. É bem embaraçoso, mas eu os entendo, eu acho.
Nesse tempo, eles abriram uma sorveteria por lá. Meu pai ainda tem calafrios toda vez que pensa nas guloseimas repletas de açúcar que acompanhavam os sorvetes. Jessica e Chace, do Esquadrão de Reversão de feitiços foram geniais, já resolveram tudo por lá.
Nossa casa aqui em Hampshire foi revistada por comensais da morte, mas o Ministério já cuidou disso, a casa está impecavelmente limpa, me lembrou a casa de seus tios, Harry. Por falar nisso, tem notícias deles?


Mamãe os convidou pra virem aqui num fim de semana desses e eu pessoalmente adoraria que o fizessem. O que acham?


Espero respostas. Se cuidem!


Saudades de vocês.


Afetuosamente,


Hermione Jean Granger.


Era tão bom estar com eles novamente. Desde que fui aceita em Hogwarts, eram poucas as vezes em que estávamos juntos. No começo eu passaria o natal com eles e as férias inteiras, mandaria cartas longas e repletas de novidades frequentemente, prometendo tornar isso uma constante. Mas eu não era constante, não na vida deles. A partir de certo ponto, eu passaria duas ou três semanas em sua companhia e partiria pra Toca, para o Largo Grimmauld ou então sairia Grã-Bretanha afora buscando as partes quebradas de uma alma. Mas eles entendiam agora e buscavam recuperar o tempo perdido, me conhecer novamente.
Eu estava na sala de televisão, assistindo um filme com meu pai quando Pig irrompeu pela janela então aberta, tão alegre e destrambelhada como sempre. Pedi licença a meu pai e fui pro meu quarto, enquanto Pig me seguia.
Era a letra de Harry.


Hermione,


Por aqui está tudo bem, comigo e com o Ron, nada de novo acontecendo.


Nossa, foi rápido! Imaginamos que você ainda estaria na Austrália uma hora dessas, mas que bom que tudo se resolveu. Não te falei que eles não ficariam chateados?
Pelo visto houve uma mudança. Sorveteria? Não é de se imaginar porque seu pai anda tendo calafrios. Ainda lembro de quando estávamos em Hogwarts, quando você evitava comer doces demais por causa do açúcar, especialmente no dia das Bruxas, dizendo que não ajudaria na sua saúde bucal ou qualquer coisa assim. Mas que bom que tudo se resolveu rápido, até arrumaram a casa. Por falar nisso, eles levaram alguma coisa? Espero que não.


Sobre meus tios, eu sinceramente nem sei como eles estão, tenho até que descobrir isso. Provavelmente eles vão querer voltar pra Surrey, então eu deveria avisá-los que não correm mais perigo.


"Como se eu fosse uma heroína"? Você é a heroína! Ainda vou mostrar todas as reportagens do profeta diário pra eles, só pra ver sua reação, quando eu e Ron passarmos o fim de semana aí. Ron até já falou com a sra. Weasley, então é só marcar!
Ron manda um abraço, eu mando outro;


Harry James Potter.


É lógico que a carta seria curta e seria escrita por Harry, já que Ron era preguiçoso demais pra escrever. Em sete anos de amizade, nem Harry nem Ron escreveram cartas longas, repletas de detalhes. Acho que era pedir demais. Pelo menos eles viriam. Estar longe era ruim e estranho, especialmente de Harry, já que durante meses ele foi minha única companhia num raio de quilômetros. Sentia falta de seu jeito tranquilo, do entendimento mútuo que existia entre nós. A questão é que ao lado dele, eu me sentia mais leve se é que eu poderia dizer assim. Eram sensações completamente diferentes, estar com ele e estar com Ron. Com Ron eu me sentia como se eu carregasse toda uma responsabilidade: ele era impulsivo demais, emocional demais então eu precisava ser a balança, a razão. E isso cansava. É claro que ele sabe ser divertido e gentil e ao fazer isso me relaxava, mas era complicado... Nós éramos água e vinho. E talvez tenha sido isso que me atraiu e me levou a beijá-lo em Hogwarts: eu achava que opostos se completassem. Mas quanto mais eu pensava sobre isso, mais descabida a idéia me parecia. Ele merecia alguém que o entendesse e o admirasse pelo que era, que se dedicasse e desse a atenção que ele exigia. Eu não era essa pessoa e no fundo ele também sabia disso. Só era difícil demais admitir que éramos melhores como amigos do que como casal, especialmente quando todos achavam o contrário. Eu respondi a carta, marcando para o próximo fim de semana e ameaçando Harry de utilizar todas as azarações que eu conhecia nele caso trouxesse o Profeta.

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