Capitulo 05



Capitulo 05


 


Harry tinha três rainhas, e pareceu uma pena que a única que desejava estivesse sentada frente a ele, aumentando a aposta que acabava de fazer.


- Aí vai seus vinte e cinco, Potter, e mais vinte e cinco. – Hermione jogou umas fichas mais. Tinha as cartas coladas ao peito.


- Ah, bom… - Sweeney suspirou e observou as cartas horríveis que tinha, como se com o desejo pudessem se converter numa mão ganhadora - É muito para mim.


De seu assento entre Sweeney e um detetive forense chamado Louis, Gina considerou sua dupla de cinco.


- O que parece, Matador?


Keenan, vestido para ir dormir com uma camiseta dos Denver Nuggets, botou as cartas em seu colo.


- Solta o dinheiro.


- Para você é fácil dizer. – mas empurrou as fichas ao centro.


Depois de um debate pessoal que incluiu murmúrios, movimentos na cadeira e de cabeça. Louis também entrou na jogada.


- Cubro teus vinte e cinco. – disse Harry. Manteve o cigarro entre os dentes enquanto contava as fichas - E volto a subir.


Draco sorriu, contente de ter passado. Produziu-se outra ronda de apostas; na mão só ficaram Hermione, Gina e Harry.


- Um trio de impressionantes rainhas. – anunciou, mostrando as cartas.


- Boa. – os olhos de Hermione brilharam ao olhá-lo - Mas meu full pode com elas. – estendeu as cartas para revelar três oitos e um par de reis.


- Isso destroça meus dois cincos. – Gina suspirou enquanto Hermione recolhia os ganhos. - Muito bem, pequeno, custou-me setenta e cinco centavos. Agora vá dormir. – pegou no colo um risonho Keenan ao levantar-se.


- Papi! – estendeu os braços e sorriu - Me ajude! Não deixe que ela me coloque na cama!


- Sinto, filho. – Draco revirou o cabelo de seu filho e deu um beijo solene - Parece que está perdido. Vamos sentir sua falta por aqui.


- Salva-me! – sempre disposto a prolongar o inevitável, Keenan rodeou o pescoço do Harry.


Este lhe deu um beijo e moveu a cabeça.


- Neste mundo só me assusta uma coisa, colega, uma mãe. Está sozinho.


Sustentado pelos braços de Gina, o pequeno deu uma ronda de beijos. Quando chegou a Hermione, brilharam-lhe os olhos.


- Está bem? Posso?


Era um jogo antigo que Hermione estava disposta a consentir.


- Por um níquel.


- Fico te devendo.


- Já me deves oito mil dólares e quinze centavos.


- Me dão a mesada sexta-feira.


- Muito bem, então. – o apoiou em seu pescoço para dar um abraço e ele lhe bagunçou o cabelo como um cachorrinho. Harry viu que a expressão de Hermione se suavizava e que subia a mão para acariciar-lhe a nuca.


- Gosto disso. – anunciou Keenan, tentando uma última vez com gesto exagerado.


- Não esqueça os oito mil de sexta-feira. E agora, adeus. – depois de dar-lhe um beijo, o passou novamente para Gina.


- Vou passar uma jogada. – sugeriu Gina, acomodando a seu filho sobre um quadril para levá-lo à cama.


- Um garoto que sabe convencer uma mulher para que o tenha em seu colo, é um garoto que deve ficar orgulhoso. – Sweeney sorriu enquanto recolhia suas cartas - Passo.


Durante a hora seguinte, as fichas de Hermione não deixaram de multiplicar-se. Encantava-lhe a partida mensal de pôquer que tinha se convertido num costume pouco depois de que Gina e Draco se casaram. O desafio básico de superar o talento de seus oponentes a relaxava tanto quanto a atmosfera doméstica que impregnava cada canto do lar dos Malfoy.


Era uma jogadora cautelosa, que só apostava quando estava satisfeita com as probabilidades, e que inclusive o fazia de maneira meticulosa e reflexiva. Notou que as fichas de Harry também tinham se multiplicado. Decidiu que não era temerário, e sim implacável. Com freqüência aumentava as apostas quando não tinha nada, ou deixava que outros o fizessem quando tinha uma mão ganhadora.


“Não segue nenhum padrão”, pensou, o qual em si mesmo representava um padrão.


- Alguém quer uma cerveja? – perguntou quando a mão terminou a favor de Sweeney.


Hermione foi para a cozinha e começou a destampar garrafas. Estava servindo uma taça de vinho quando entrou Harry.


- Pensei que cairia bem um pouco de ajuda.


- Posso me arrumar sozinha.


- Suponho que há poucas coisas com as quais não poderia se arrumar. Só quero te dar uma mão.


Maria tinha preparado suficientes sanduíches para satisfazer um pelotão. A falta de algo melhor do que fazer, Harry mudou alguns da bandeja para um prato. Decidiu que tinha que falar. Ao estar a sós e desfrutar da oportunidade, já não sabia como começar.


- Tenho que dizer algo sobre esta tarde.


- Oh? – inquiriu com tom gelado. Abriu a geladeira e pegou um prato com uma torta incomparável que preparava Maria.


- Eu sinto muito.


- Perdão? – esteve a ponto de soltar a torta.


- Maldita seja, sinto muito, certo? – odiava pedir desculpas, já que significava que tinha cometido um erro, um importante - Olhar essa fita me balançou. Fez com que eu desejasse quebrar alguma coisa, acertar alguém. O mais fácil era você.


Como era a última coisa que teria esperado, surpreendeu-a. Permaneceu com o prato na mão sem saber que fazer.


- Certo.


- Temia ver Liz na fita. – continuou, impulsionado a contar tudo - E temia não ver. – desconcertado, pegou uma das garrafas abertas e bebeu um longo trago - Não estou acostumado a sentir-me assim assustado.


Pouco podia ter dito ou feito que tivesse atravessado melhor as defesas dela. Comovida, deixou o prato na mesa e abriu um pacote de batatas fritas.


- Eu sei. Também me senti assim. Não deveria ser assim, mas foi. – verteu as batatas em outro prato, desejando que tivesse algo mais do que pudesse fazer - Lamento que as coisas não avancem mais depressa, Harry.


- Também não se estancou. E isso tenho que agradecer a você. – pegou uma mão e a deixou cair - Esta tarde tive vontade de fazer algo mais do que quebrar algo, e foi te abraçar. – viu o reflexo de cautela que apareceu no olhar dela e teve que se conter - Não vou saltar sobre você. Te abraçar. Há uma diferença.


- Sim, há. – suspirou. Nos olhos dele tinha necessidade. Não desejo, só necessidade, de contato, de consolo, de compaixão. Isso ela entendia nele - Suponho que também teria me agradado.


- Ainda pode agradá-la. – custou dar o primeiro passo, mas avançou para ela com os braços estendidos.


Ela também custou responder para entrar em seus braços e rodeá-lo com os próprios.


E quando estiveram perto, quando a face de Hermione se apoiou no ombro de Harry, os dois suspiraram. A tensão desapareceu como a água por um dique.


Não o entendia, nem sequer sabia se poderia aceitá-lo, mas a sensação era a correta. A diferença da primeira vez que a tinha abraçado, não experimentou luxúria nem fogo pelo sangue. Senão algo cálido, doce e em expansão, sólido.


Poderiam ficar daquela maneira durante horas.


Ela não se permitia relaxar com muita freqüência, não com um homem, e menos com um que a atraía. Mas foi tão fácil, tão natural. As batidas constantes de seu coração a acalmaram. Sentiu o impulso de esfregar a face contra a de Harry, de fechar os olhos e ronronar. Quando ouviu que ele suspirar, riu.


-O garoto tem razão. – murmurou - É estupendo.


- Isso vai custar um níquel, Potter.


- Põe em minha conta. – disse ao levantar o rosto para sorrir.


Não soube se o impacto que sentiu se devia ao fato que Hermione jamais o olhara dessa maneira. A única coisa que sabia era que sua beleza era extraordinária, com o cabelo solto e entre suas mãos, cintilando como línguas de fogo sob a intensa luz da cozinha. Os olhos dela sorriam, profundos e cheios de humor, e a boca… sem batom, curvada, levemente aberta. Irresistível.


Rodeou a cabeça e a baixou, à espera de que ela se pusesse rígida ou retrocedesse. Não fez nenhuma dessas coisas. Ainda que o humor nos olhos se transformasse em percepção, a calidez continuou presente. Tomou os lábios de Hermione, provando com gentileza, um experimento em emoções. Com os olhos abertos, observaram-se, como se cada um esperasse que o outro se movesse ou saltasse.


Ao permanecer inflexível em seus braços, Harry mudou o ângulo, mordiscando-a levemente. Sentiu ela estremecer uma vez à medida que lhe escureciam os olhos. Mas seguiram abertos.


Queria vê-lo, precisava. Se fechasse os olhos, temia cair no abismo que se abria diante dela. Tinha que ver quem era ele, tentar entender o que tinha nesse homem que era capaz de derretê-la.


Ninguém tinha conseguido anteriormente. E estava orgulhosa de sua capacidade de resistir ou controlar, divertida pelos homens e mulheres que caíam sob seus respectivos feitiços para sofrer os tormentos do amor. Nunca tinha estado segura de que as alegrias equilibrassem esses tormentos.


Mas quando aprofundou o beijo, de forma lenta e persuasiva, para que não só os lábios, senão a mente e o corpo ficassem envolvidos no contato, perguntou-se que tinha perdido ao não permitir jamais que a rendição se misturasse com o poder.


- Hermione… -suspirou ao voltar a mudar o ângulo do beijo - Vêm comigo…


Compreendia o que ele lhe pedia. Queria que se deixasse ir, que o acompanhasse onde pudesse levá-los o momento. Ceder diante ele, tal como Harry cedia diante ela. Que apostasse, quando não estava certa das probabilidades.


Ele foi o primeiro a fechar os olhos. A calidez e sonolência se converteram numa dor embotadora, que era todo prazer. Ela suspirou e também os fechou.


- Ei! O que aconteceu com as cervejas…? Haaa... - Draco tentou não sorrir. Meteu as mãos nos bolsos e teve que se conter para não assobiar enquanto seu amigo e sua antiga colega se separavam como dois ladrões pegos em flagrante - Sinto, garotos. – pegou as garrafas de cerveja. Pensou que, em todos os anos que conhecia Hermione, jamais a tinha visto com essa expressão no rosto - Esta cozinha deve ter algo em especial. – adicionou ao se dirigir para a porta. - Não posso contar as vezes que me encontrei fazendo o mesmo aqui.


Quando a porta se fechou a suas costas, Hermione suspirou.


- Santo céu. – foi a única coisa que pôde dizer.


- Parecia bastante satisfeito consigo mesmo, não é? – apoiou uma mão no ombro dela.


- Vai pegar em meu pé. – sussurrou Hermione - E contará a Gina, para que ela também possa pegar.


- Provavelmente tenham coisas melhores para fazer.


- Estão casados. – soltou - Gente casada adora em falar da vida de outras pessoas.


Quanto mais nervosa ficava, mais agradava Harry. Estava convencido de que só alguns escolhidos tinham visto a tenente agitada. Queria saborear cada momento da experiência. Com um sorriso se apoiou na mesa.


- É? Se quer mesmo deixá-los loucos, poderia permitir uma visita minha a sua casa. Essa noite...


- Em seus sonhos, Potter…


- Bom, há certa verdade nisso, querida. – arqueou uma sobrancelha. A voz dela tinha soado insegura - Bem, posso ser sincero e dizer que não estou disposto a esperar muito para transformar esse sonho em realidade.


Hermione precisava se acalmar, precisava fazer algo com as mãos. Matou dois coelhos com uma cajadada só e pegou a taça de vinho para beber um gole.


- É uma ameaça?


- Hermione. – começou com suma paciência, o qual também o divertiu, já que não lembrava da ultima vez que foi paciente com alguma coisa - Nós dois sabemos que o que aconteceu aqui não pode se converter numa ameaça. Foi agradável. – com um dedo acariciou o cabelo - Se estivéssemos sozinhos em algum outro lugar, teria sido bem mais agradável. – fechou a mão em seu cabelo e a imobilizou - Eu a desejo, Hermione, e muito. Deduza o que quiser disso.


Ela sentiu que algo lhe percorria as costas. Não era medo. Fazia tempo que era policial e podia reconhecer o medo em todas suas formas. E tinha levado sua vida a sua própria maneira o tempo suficiente para mostrar-se cautelosa.


- Tenho a impressão que deseja muitas coisas. Deseja recuperar Liz, e deseja apanhar e castigar os homens que a seqüestraram. Deseja essas coisas a sua própria maneira, com minha cooperação. E… - bebeu mais vinho, sem deixar de olhá-lo -… deseja se deitar comigo.


“É surpreendente” pensou Harry. Tinha que estar sentindo um pouco da necessidade e desespero que ele experimentava. No entanto, era como se falasse do tempo.


- Isso mais ou menos resume tudo. Por que não me conta o que você deseja?


Temia saber exatamente o que desejava.


- A diferença entre você e eu, Potter, é que eu sei que nem sempre se consegue o que se deseja. E agora vou dormir. Foi um dia longo. Pode ir me ver amanhã. Já teremos os desenhos das descrições de Meena. Pode ser que apareça algo quando os comparar com fotos do sistema.


- De acordo. – a deixaria ir… por enquanto. O problema com uma mulher como Hermione era que um homem sempre queria seduzi-la, e sempre desejaria que se deitasse com ele por sua própria vontade - Mione?


- Sim? – deteve-se junto a porta da cozinha e virou a cabeça.


- Que vamos fazer?


Ela conteve um suspiro de anseio.


- Não sei. – respondeu com toda sinceridade - Quem me dera saber.


 


Às nove e meia da manhã seguinte, Harry esperava no trabalho de Hermione. De puro tédio, folheou alguns dos papéis que tinha sobre a mesa. Relatórios, redigidos na linguagem peculiar que usavam os policiais, uma linguagem que era ao mesmo tempo concisa e florida. Teve que reconhecer que, para quem gostasse dessa gíria burocrática, ela escrevia os relatórios muito bem. “Regulamento Granger”, pensou, fechando a pasta. Quem sabe o principal problema que tinha ele tinha visto nela bem mais do que a policial profissional.


Tinha visto ela empunhar uma arma, firme como uma rocha, enquanto seus olhos irradiavam medo e determinação. Tinha visto responder com glória um abraço impulsivo e urgente. Tinha visto ondular-se como uma menina, suavizar-se com compaixão e gelar-se como um granizo.


Tinha visto demais e sabia que ainda restava muito por ver.


Mas sua prioridade era Liz, tinha que ser. No entanto, Hermione seguia em seu interior, como uma bala alojada na carne. Quente, dolorosa e impossível de evitar.


Enfurecia-o. Irritava-o. E quando ela entrou na sala, o fez rosnar.


- Estou esperando há quase uma hora. Não tenho tempo para isto.


- É uma pena. – deixou outra pasta sobre a mesa, notando de imediato que tinham mexido em seus papéis - Quem sabe você vê muita televisão, Potter. É o único lugar onde um policial trabalha um caso por vez.


- Eu não sou policial.


- É mais do que evidente. E a próxima vez que tiver que me esperar, mantenha o nariz longe de meus papéis.


- Escuta tenente… - amaldiçoando, calou quando soou o telefone.


- Granger. – ao falar se sentou atrás de sua escrivaninha e pegou um lápis - Sim. Sim, tenho. Foi um trabalho rápido, sargento. Obrigada. Farei se alguma vez eu passar por ali. Obrigada de novo. – cortou de imediato e pôs a anotar um número - Kansas City localizou à mãe de Jade. – informou a Harry - Mudou-se para Missouri.


- Jade está com ela?


- É o que vou tentar averiguar. – ao terminar de anotar, olhou a hora - Trabalha de garçonete pelas noites. O mais provável é que agora a encontre em casa. – antes que Harry pudesse voltar a falar, levantou uma mão para pedir silêncio - Oi, gostaria de falar com Janice Willowby. – uma voz sonolenta e irritada disse que Janice não vivia ali - É a senhora Willowby? Senhora Willowby, sou a tenente Granger, da polícia de Denver… Não, senhora, não aconteceu nada. Não está metida em nenhum problema. Cremos que poderia nos ser de certa ajuda num caso. Teve notícias de sua filha nas últimas semanas? – escutou com paciência enquanto a mulher negava ter estado em contato com Janice e, irritada, exigia informação - Senhora Willowby, Janice não é uma fugitiva da justiça nem suspeita de crime. Mas precisamos falar com ela. – seus olhos se endureceram, com rapidez e frialdade - Perdão? Como não estamos pedindo que entregue sua filha, não considero lógico oferecer-lhe uma recompensa. Sim…


Harry cobriu o fone com a mão.


- Cinco mil dólares. – indicou - Se ela nos por em contato com Jade, esta nos conduz a Liz. – viu a negativa nos olhos dela, mas se manteve firme - Não depende de você. Recompensa é particular.


Hermione engoliu o desgosto.


- Senhora Willowby, há um grupo privado que autoriza entregar a soma de cinco mil dólares por informação sobre Janice, com a condição de que isso ajude a fechar satisfatoriamente a investigação. Sim, estou convicta de que poderão dar em efetivo. Oh, estou certa de que fará o que puder. Pode pôr-se em contato comigo as vinte e quatro horas do dia, neste número. – o repetiu duas vezes - A cobrar, certamente. Tenente Hermione Granger, Denver. Espero que telefone. – depois de pendurar, jogou chispas pelos olhos - Não me estranha que garotas como Jade abandonem o lar e terminem na rua. Não se importava com sua filha, só queria estar certa de que nada repercutiria sobre ela. Se Jade estivesse com problemas, sem pestanejar a teria entregue pelo dinheiro mencionado.


- Nem todo mundo tem instinto maternal.


- Isso me ocorreu. – guardou as emoções para que não interferissem neste caso - Meena está trabalhando com o desenhista da polícia, e deu com um que parecia uma das estrelas da produção que vimos ontem.


- Quem?


- A com a jaqueta vermelha de couro. Enviamos uma cópia a narcóticos para começar. Requererá tempo.


- Não disponho de tempo.


Ela deixou o lápis e juntou as mãos. Prometeu que não voltaria a perder a estribeira.


- E ocorre algo melhor a fazer?


- Não. – deu a volta e virou-se outra vez para olhá-la - Alguma impressão no carro usado para matar Billings?


- Limpo.


- A cobertura?


- Nenhuma. Alguns cabelos. Não nos ajudarão a localizá-los, mas serão importantes para atar o caso no tribunal. O laboratório está trabalhando na fita e na nota. Quem sabe tenhamos sorte.


- E em pessoas desaparecidas? Algum cadáver sem identificar no depósito? Jade disse que acreditava que tinham matado uma das garotas.


- Não apareceu nada. Se mataram alguém que estava algum tempo na rua, é improvável que denunciem seu desaparecimento. Verifiquei todas as mortes suspeitas e sem identificar dos últimos três meses. Ninguém encaixa no perfil.


- Um pouco de sorte nos abrigos para os moradores de rua?


- Ainda não.  –titubeou, depois decidiu que era melhor que falasse - Há algo que tenho que contar.


- Adiante.


- Temos algumas meninas bonitas e jovens. Boas policiais. Poderíamos colocá-las incógnitas nas ruas e ver se recebem alguma oferta de cinema.


Harry pensou na idéia. Pensou que também isso requereria tempo. Mas ao menos oferecia uma possibilidade.


- É uma missão delicada. Tem alguém que seja bastante boa para levá-la a cabo?


- Disse que sim. Eu faria…


- Não. – a brusca negativa foi como um rugido.


- Disse... – continuou ela sem pestanejar - Eu faria, mas não posso passar por uma adolescente. Ao que parece nosso produtor prefere meninas. O colocarei a parte do que for decidido.


- De acordo. Pode me conseguir uma cópia da fita?


- Suas noites estão aborrecidas? – sorriu.


- Muito engraçado. Pode?


Meditou-o. Não se ajustava aos procedimentos oficiais, mas não podia causar problemas.


- Falarei com o laboratório. Enquanto isso, vou interrogar o garçom de Clancy. Aposto que foi ele quem deu o aviso ao grupo da Segunda Avenida. É possível que consigamos algo.


- Irei com você.


- Eu vou com Sweeney. – moveu a cabeça e sorriu - Um enorme irlandês num bar chamado Clancy. Pode encaixar.


- É um jogador de pôquer horrível.


- Sim, mas um encanto. – o surpreendeu adotando um perfeito sotaque irlandês.


- O que você acha se eu acompanhar de qualquer modo?


- O que você acha de esperar meu telefonema? – levantou e pôs uma jaqueta azul marinho que tirou do respaldo da cadeira. Usava calça da mesma cor e uma blusa mais clara, de seda. A pistoleira e a arma eram tão naturais nela que poderiam ser acessórios de moda.


- Você vai me ligar?


- Disse que faria.


Harry apoiou as mãos nos ombros dela e encostou a testa na sua.


- Marleen me telefonou esta manhã. Não gosto de lhe dar falsas esperanças, mas disse que estávamos chegando perto. Tive que fazer.


- O que sirva para tranqüilizá-la é o certo. – não pôde evitar apoiar a mão na face dele para dar-lhe calor, depois a deixou cair - Agüente, Potter. Reunimos muita informação em pouco tempo.


- Sim. – afastou a cabeça e baixou as mãos pelos braços de Hermione até que seus dedos se entrelaçassem - Deixarei você ir procurar o intimidador irlandês. Mas, uma coisa mais... – levantou as mãos de ambos para estudar o contraste de textura, tom e tamanho - Cedo ou tarde teremos que nos ocupar de outras coisas.


- Então o faremos. Ainda que talvez você não goste do resultado.


Tomou-lhe o queixo com uma mão e deu um beijo intenso e a soltou antes que ela pudesse fazer outra coisa que murmurar.


- Eu digo o mesmo. Tenha cuidado aí fora, tenente.


- Nasci cautelosa, Potter. – saiu colocando a jaqueta.


 


Dez horas mais tarde, estacionou o carro na garagem de seu edifício e se dirigiu ao elevador. Estava ansiosa para tomar um banho de água quente, uma taça de vinho branco gelado e escutar um blues lento.


Ao subir ao seu apartamento, apoiou-se na parede do elevador e fechou os olhos. Não tinham conseguido grande coisa com o garçom, Leio Dorsetti. Os subornos não tinham funcionado e também não as ameaças veladas. Hermione não duvidava de que tinha contatos com o círculo da pornografia. Nem que estava preocupado com a possibilidade de acontecer o mesmo que a Wild Bill.


Chegou à conclusão de que precisava de algo mais do que algumas notas. Tinha que descobrir algo no envelope de Leio Dorsetti, bastante sólido para poder levá-lo à delegacia para interrogá-lo.


Quando o tivesse em seu terreno, estava convencida de que conseguiria que ele soltasse a língua.


Fez soar as chaves nas mãos ao sair do elevador e avançar pelo corredor. Tinha chegado o momento de se dar um descanso, ao menos durante uma ou duas horas. Impacientar-se em um caso geralmente só conduzia a cometer erros.


Já tinha aberto a porta quando o alarme disparou em sua cabeça. Não questionou o que o tinha ativado, simplesmente pegou a arma. Verificou os cantos e por trás da porta.


Estudou a sala e notou que não tinha nada fora de lugar… a não ser o disco de Bessie Smith nesse momento soava no aparelho de som. E o aroma. A comida, levemente picante. Deu água na boca, ainda que sua mente permanecesse alerta.


Girou ao captar um som procedente da cozinha.


Harry se deteve na porta enquanto limpava as mãos num pano. Sorrindo, apoiou-se no balcão.


- Oi, querida. Teve um bom dia?


 


 


 


 

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