Firumflipe



- Sabe, Rony, acho que a Hermione precisa conversar com alguém... Desabafar. – Disse Harry enquanto descia as escadas.

Os dois amigos tinham acabado de sair da aula de poções com o querido professor Snape. O vampiro-bruxo achara o professor incrivelmente calmo e pouco ofensivo, ou melhor, ele sequer ousara a olhar para Harry durante a aula, quanto mais lhe dirigir a palavra. Até certo ponto fora bom, mas se Snape estava diferente, queria dizer que muitas outras coisas estavam. Tanto boas como ruins... Hermione assistira à aula longe dos amigos e não dissera nada quando os dois foram ao seu encontro, se recusando a conversar um instante sequer. Na saída, ela já estava com o material pronto e tomara a frente de todos, se distanciando o possível de uma conversa com a dupla.

- Porque você não fala com ela então? – Questionou o ruivo dando uma mordida num sanduíche de fígado que pegara para lanchar. – Nossa... Com esses dois períodos a nossa janta vai atrasar. Estou morrendo de fome!

- Porque quem irá conversar com ela vai ser você. – Respondeu Harry sorrindo de canto. – Eu lembro um pouco o assassino do irmão dela... Então, Mione se sentirá melhor conversando com você sobre isso, entende?

- Ah, nada a ver... – Argumentou Rony de boca cheia esbarrando em um aluno do primeiro ano da lufa-lufa e derrubando o restante do sanduíche. – Ei!

- Desculpa! – Exclamou o garotinho antes de sair correndo entre os demais alunos que desciam rumo à saída da escola.

- Droga! – Xingou Rony contrariado.

Harry apenas riu e meneou a cabeça negativamente.

- Mas tente conversar...

- Eu vou tentar, mas não prometo nada. Você sabe como a Hermione é complicada. – E deu de ombros.

Ao terminarem de descer as escadas, um amontoado de alunos espremiam-se para passar pela única porta aberta que dava para os jardins. Harry percebeu de longe a presença de Malfoy, que acabara de sair acompanhado de Crabbe, Goyle e Pansy. Devido ao alto burburinho e o número excessivo de curiosos, os dois resolveram não continuar a conversa. Teriam tempo para falar após o término dos dois últimos períodos noturnos.

Lá fora, o clima estava agradável. Havia um vento frio e a grama estava molhada pela chuva que á pouco cessara. O céu estralado surgia entre as nuvens negras de chuva que se dissipavam gradualmente, revelando também a lua cheia. Harry deu-se conta que desde que chegara a Hogwarts, não tivera DCAT. Segundo um recado passado por McGonagall, as aulas estavam suspensas até a próxima semana. Isso queria dizer que Romulus estava passando por um pequeno aperto nos últimos dias, deduziu Harry ao fitar o reflexo prateado da lua sobre a copa das árvores da Floresta proibida.

- Quem você acha que irá dar as aulas? Ângela?

A pergunta de Rony fizera Harry acordar dos pensamentos. Porém, a pergunta não fora direcionada a ele, mas a Neville, que acabara de se juntar a eles, um tanto quanto arfando após correr.

- Me perdi... – Disse Neville constrangido diante do olhar curioso de Harry. – Eu estava descendo com o pessoal quando fiquei para trás e a escada se mexeu, daí vocês sabem, né... E quanto às aulas, eu não sei. Dumbledore disse que tinham mais gente para ajudar.

- Daqui a pouco teremos até sereianos ensinando a nadar. – Retrucou Rony e os dois riram, com exceção de Harry.

O grupo de alunos que andavam pelos jardins se dividiu em dois grupos menores: Os alunos do sexto ano da grifinória e da Sonserina se dirigiram para o campo de quadribol, enquanto os sextanistas da corvinal e Lufa-Lufa tomaram a direção oposta, rumando para o lago. Apesar da expectativa, os alunos não falavam muito. O grupo preferia ficar em silêncio e esperar pelo que viria a seguir... Já tinham uma base a respeito de DCAV graças às aulas de Ângela, mas muitos não haviam aprimorado a relação com seus shamans, resultando em pouca evolução.

Os contornos do campo de quadribol eram destacados na escuridão. Após alguns minutos de caminhadas, os alunos se viam na entrada do campo. As arquibancadas estavam vazias e o silêncio do lugar chegava a ser assustador. Não havia uma única luz para iluminar, resultando na queda de alguns alunos desavisados. Neville resmungou alguma coisa, espremendo-se contra Rony, que o empurrou irritado. Aparentemente não havia ninguém ali.

- Será que viemos para o lugar errado? – Perguntou uma garota da Sonserina com feições audaciosas e de cabelos ruivos.

- Não, está aqui no papel... – Respondeu Dino apontado para o papel, falando mais para todo o grupo do que apenas para ela. Ninguém olhou, pois não era impossível enxergar na escuridão.

Harry sentiu uma tremenda vontade de ativar a visão vampírica, mas se conteve bem. Olhou para o lado, vislumbrando alguns traços do rosto do amigo ruivo.

- O que será que está acontecendo? – Perguntou Neville eufórico. – Eu não agüento mais!

Quando ia levar a mão até o bolso e sacar a varinha para invocar o feitiço Lumus, Fachos dos poderosos holofotes situados atrás da arquibancada iluminaram o grupo com potência, obrigando-os a taparem os olhos com o braço. No instante seguinte, algo que Harry deduziu ser uma vassoura com alguém em cima, desceu lentamente rumo ao chão. Estava difícil de identificar o estranho.

- Boa noite, classe. – Cumprimentou a voz mansa e melódica.

- Ah, essa não... – Resmungou Rony baixinho. – É o...

- Podem me chamar de Mr. Avada. – Apresentou-se o novo professor. – Irei lhes reforçar o ensino de Defesa Contra as Artes Vampíricas durante este ano letivo.

Avada esboçou os dentes perfeitos em um sorriso glamuroso que ninguém conseguia enxergar. Ele estalou os dedos e as luzes dos holofotes enfraqueceram, mas ainda sim iluminava cada minucioso canto do campo de quadribol. Um tanto atordoados, os sextanistas puderam vislumbrar o homem “charmoso” que trajava um manto verde musgo por baixo das vestes de couro na cor tabaco. Mr. Avada retirou o chapéu preto enfeitado por um laço vermelho e uma rosa e atirou-o para trás num movimento gracioso, Harry não pode deixar de rir ao imaginá-lo treinando aquela cena várias vezes diante do espelho, e sacou a varinha.

- Vejamos o que temos aqui...

Ele andou na direção dos alunos, vistoriando um por um. Seus olhos ágeis e gananciosos conseguiam ler qualquer pessoa.

- Vejo que muitos de vocês estão despreparados... – Argumentou em reprovação. – Ah, você tem um grande futuro promissor.

Mr. Avada parou diante de Malfoy e tocou-lhe o queixo com o indicador, analisando arduamente o rosto pálido e fino do rapaz.

- Seu nome?

Draco franziu o cenho e sorriu maliciosamente.

- Draco Malfoy.

- Ahhhhh, um Malfoy! Bem que lhe identifiquei de longe. Tens uma boa linhagem consigo, garoto.

- Uma linhagem puro-sangue tem as suas qualidades. – Ponderou Draco lançando um olhar especial para Rony e depois para Harry.

- Eu odeio esse cara! – Murmurou Rony para Harry.

- Ele não é o maior dos nossos problemas. – Respondeu Harry um tanto indiferente. E não era mesmo, porque não via Malfoy como um inimigo, mas um empecilho chato e grudento, como chiclete na sola de um sapato.

Mr. Avada passou adiante num ritual longo e chato. Olhava aluno por aluno, ora fazia um comentário bom, ora um ruim. Harry desejou qualquer outro como seu professor... Aceitaria ter cinco aulas de poções com Snape durante cinco dias seguidos, mas não agüentaria nem mais um segundo na presença daquele idiota. Forte ou não, Avada continuava sendo um idiota ganancioso e irritante. Ela parou em Neville, empurrando o queixo dele para cima com o indicador, olhou-o por segundos e suspirou.

- Tens futuro, mas o desastre dentro de você parece maior. Seu nome?

- Nev-Neville Longbottom. – Gaguejou.

- Conheci um Longbottom... É uma boa linhagem, mas você é uma exceção.

Rony franziu o cenho quando Avada parou diante dele e fez um olhar reprovativo dramático.

- Ah, um Weasley. Talvez você descubra algo mais do que se reproduzir, não é, sr...?

Harry pisou no pé de Rony antes que ele retrucasse com xingamentos e palavrões. Seu rosto corou como um tomate antes de responder:

- Rony.

- Ronald. – Corrigiu Draco em voz alta. Alguns alunos riram.

- Certo, Ronald. Veremos até aonde o senhor consegue ir.

E foi mais do que suficiente para que todos entendessem a resposta subliminar a frase. Draco cutucou Crabbe e Goyle e o trio gargalhou. Por fim, Mr. Avada parou diante de Harry. Ambos trocaram um olhar longo e repleto de segundas e terceiras intenções. Enquanto Harry imaginava qual o showzinho que Avada daria, o professor simplesmente deu-lhes as costas e voltou à posição inicial ao lado da vassoura suspensa no ar. Ele passou as mãos nos cabelos sedosos e sorriu de forma contagiante, Rony notou, com irritação, algumas garotas como as irmãs Parvatti trocarem olhares satisfatórios e apaixonados.

- Eu irei lhes ensinar a parte ofensiva de DCAV, enquanto que a Srta. Drans irá ensiná-los a arte de manipular seus Shamans. Hoje, na primeira aula, gostaria de ensiná-los o primeiro dos dez feitiços que aplicaremos durante o ano letivo. Não pense que por serem apenas dez será fácil, muito pelo contrário, penso que um ano será pouco para aprenderem.

Mr. Avada deu-lhes as costas e moveu os braços suavemente no ar como um maestro, realizando movimentos circulares e suaves no ar ao preferir palavras estranhas e baixas. Quando a última palavra fora dita, um jato branco irrompeu da curta varinha e dividiu-se em vinte e um feixes menores que acertaram enfileirados o chão e sumiram. Uma pausa se fez antes que vinte bonecos de madeira surgiram no local atingido pelo feitiço usando vestes coloridas. Eles tinham cerca de um metro de meio e lembravam espantalhos com os braços posicionados em forma de cruz. O que mais chamara a tenção dos alunos eram os rostos: Em forma de máscaras salientes e narigudas, cujos olhos vermelhos cintilavam com uma luz mágica. Da boca entreaberta surgia uma língua e dois caninos. Os alunos desataram a rir com a imagem cômica dos bonecos vamíricos. Harry não pode deixar de sentir-se ofendido com o ato, afinal, agora era meio vampiro e a sátira de Avada ofendia.

- Muito bem! – Ele bateu as mãos duas vezes. – Peguem suas varinhas e escolham seus bonecos!

- Não fica assim Harry, Avada deve estar tentando te provocar! – Deduziu Rony apanhando a varinha e escolhendo o último boneco da única fileira.

- Não sei do que está falando... – Resmungou Harry escolhendo o boneco ao lado de Rony, escondendo o sentimento e forçando uma risada. – É até engraçado.

Neville sacou a varinha desajeitado, deixando-a escorregar para o lado. Harry, que estava a seu lado, mais do que rapidamente apanhou-a em plena queda e estendeu para o amigo.

- Toma cuidado. – Alertou o vampiro-bruxo. – Não dê motivo para Draco nos humilhar.

Neville pegou a varinha de volta, surpreso. Harry a pegara com tanta rapidez que nem mesmo ele percebera a sua aproximação. Engoliu a seco.

- Cuidado, Harry. Ou eles descobriram você... Draco também quer provar que você é um v... Bem, você sabe.

- Ah, é. – Disse Harry sem muito interesse.

- Pois bem! – Mr. Avada estava diante do boneco situado exatamente no centro da fileira. – Prestem atenção. Vamos começar com um feitiço simples antes de chegar no nosso primeiro dos dez. Vocês já devem ter ouvido falar no feitiço Firumflipe, certo? O Firumagnum representa a evolução desse feitiço, ele é mais forte e também tem mais efeitos contra os vampiros. Mas antes de aprender o firumagnum, é preciso conhecer o Firumflipe. Alguém sabe fazê-lo?

“Hermione saberia.” Pensou Rony comprimindo a varinha na mão direita.

- Ninguém?

Não houve resposta.

- Isso vai ser pior do que eu pensava. – Murmurou Avada e aumentou o tom da voz. – Certo, o primeiro passo para realizar um feitiço elemental é preciso concentração. Dentro de cada bruxo existem todos os elementos... Fogo, água, terra, ar, luz e trevas. Procurem se conectar ao fogo. Fechem os olhos e procurem a parte invocada de vocês... A parte mais elétrica, ousada e quente. Aquela que envolvem os sentimentos de coragem e ousadia, pois isso irá lhes influenciar. Lembre-se de algo ousado que fizeram e concentrem essa lembrança na ponta da varinha. Contem até três e digam “Firumflipe”, realizando esse movimento: - Avada fez um movimento circular com a farinha e depois a empurrou para frente. Repetiu mais duas vezes esse movimento para todos verem com clareza. – Entenderam? Vou mostrar um exemplo.

Mr. Avada arrastou uma perna para trás numa pose elegante. Pigarreou e disse em voz alta:

- Firumflipe!

Um jato vibrante e em chamas irrompeu da ponta da varinha e acertou o boneco, lançando faíscas para o lado. Houve uma salva de sussurros quando terminou.

- Então! O que estão esperando?

Ele realmente não esperava que os alunos aprendessem de primeira, e não errara, pois o máximo que eles produziam eram faíscas. Malfoy foi o primeiro a demonstrar resultado após minutos de puro incentivo: Um jato fraco em chamas que por muito pouco tocara as vestes do espantalho. Rony já repetia flirumflipe pela quinta vez quando conseguira produzir uma faísca.

Harry tentou cinco vezes e sua varinha sequer estremecera. Ao olhar para o lado, vira que Neville nem havia começado, pois estava parado e olhava para o nada, pensativo.

- O que foi, Neville?

- Eu não consigo lembrar de nada ousado... Sempre fui um covarde.

- Como não? – Indagou Harry arqueando uma sobrancelha. – Você nos ajudou a lutar contra os vampiros no trem!

- Mas eu não consegui fazer nada! – O garoto esforçava-se o possível para pensar. – Fiquei parado lá... Indefeso.

- Você lutou conosco, Neville. – Disse Rony intrometendo-se. – Se não fosse por você, não teríamos conseguido! Você foi corajoso e forte.

- Rony está certo. – Concordou Harry.

Houve uma melhora no semblante de Neville. Ele tomou coragem e segurou a varinha com força enquanto lembrava da tarde do ataque. Porém, ao invés de pensar apenas aquilo, desejou pela primeira vez (de muitas) que queria ser forte. Queria ajudar e deixar de ser covarde, desejava ser como o fogo: Impiedoso e forte. Fechou os olhos e apontou a varinha para o boneco.

Harry e Rony fitavam com falsa expectativa. Porém, se surpreenderam com o que viera a seguir.

- Firumflipe! – Gritou o Longbottom.

Um jato em chamas vermelhas cintilantes irrompeu da varinha e acertou o boneco, chamando a atenção de todos. As chamas eram mais fortes do que as de Malfoy, mas não tão quando as de Avada. Harry e Rony trocaram um olhar impressionado. Neville não acreditava no próprio feitiço, abrindo a boca embasbacada e olhando para a varinha.

- Uau! – Disse finalmente. – Eu que fiz isso?

- Você conseguiu, Neville! – Comemorou Rony com uma pontada de inveja.

- Ora, ora. Quem diria que você conseguiria, Sr. Longbottom. – Comentou Mr. Avada batendo palmas e caminhando até eles.

- É isso aí, Neville! – Exclamaram as irmãs Parvatti ao mesmo tempo.

Neville corou. Harry imaginou que o garoto fosse desmaiar depois de todos os elogios que não estava acostumado a receber. A aula prosseguiu durante uma hora. Uma longa hora. Neville conseguira executar o feitiço mais duas vezes antes de cansar e perder a inspiração. Ele mal esperava para chegar no quarto e escrever uma carta para sua vó. Rony havia melhorado um pouco: De fagulha para uma língua de fogo. Já Harry ia de mal a pior sem conseguir realizar uma mísera fagulha. Era como se perdesse lentamente a ligação com sua varinha... E também o interesse, já que não queria aprender algo que poderia eliminar a si mesmo. Tentou mais de cinqüenta vezes enquanto repetia mecanicamente os movimentos e pensava em uma das inúmeras lembranças heróicas. Draco conseguira chegar ao nível de Neville depois de muito esforço, cantando vitória para o seu trio de amigos.

No final, Mr. Avada pediu que parassem e tomou a frente de todos.

- Hoje foi apenas uma dos milhares de aulas que terão. Muitos aqui foram bons – Olhou para Draco e Neville. – E muitos nem tanto. – Olhou para Harry e Rony. – Em todo o caso, quero que continuem lembrando dessas sensações de coragem, porque amanhã voltaremos a treinar. Como tarefa gostaria que fizesse uma redação sobre a influência das fases lunares nos vampiros com sessenta linhas para daqui a dois dias, fui claro?

- Simmmm... – Responderam alguns relutantes e cansados.

- Podem ir.

Lentamente os alunos se retiraram. Rony caiu sentado ao lado de um Neville ofegante. Já Harry olhava irritado para a varinha: Como não conseguira realizar o feitiço? Como salvaria as pessoas sem nem realizar um feitiço fraco como o Firumflipe?

- Não fique bravo, Harry! É normal. – tentou confortar Rony. – Olha para mim! Não consegui nem chegar até o boneco!

- Mas mesmo assim você conseguiu! – Retrucou o vampiro impaciente. – Nem uma fagulha! Parece que a minha varinha está... está me repelindo...

- Eu consegui, Harry. Você conseguirá também... – Arfou Neville cansado. – Eu vou comer, tomar banho e cair naquela cama!

- Nem me fale...

Harry guardou a varinha sentindo um ressentimento absurdo pelo artefato. “O problema é comigo.” Pensou enquanto olhava ao redor. Todos já tinham ido embora, com exceção deles, Malfoy, Crabbe e Goyle. Avada também, mas ele parecia entretido ao contar suas aventuras para as gêmeas Parvatti, Pansy e outras duas alunas da Sonserina próximo à saída do campo. “A varinha não tem culpa.”

- Bravinho, Harry? – Indagou Malfoy que viera furtivamente. – Eu percebi que você está um pouco... apagado hoje.

Os dois capangas riram. Rony e Neville fecharam a cara.

- Cala a boca, Malfoy! – Exclamou Neville num tom agressivo. – Você não é bem-vindo entre nós.

Drago franziu a testa.

- Acha que só porque conseguiu fazer esse feitiço idiota agora é um vencedor? Você é um lixo, Neville.

A mão pesada de Harry acertara o peito de Malfoy com força, empurrando-o para trás num movimento brusco. Draco pressionou o peito dolorido e arfou, demorando um pouco para se recompor.

- Olha como você fala, idiota. – Xingou o vampiro rispidamente. – Estou cansado desse seu comportamento conosco!

Crabbe e Goyle apontaram as varinhas para o trio. Malfoy fez cara de quem não gostara nada ao se recompor, apontando imediatamente a varinha para seu atacante.

- Imbecil! Vai pagar por isso!

- E vai fazer o que? Me queimar com esse seu foguinho morto? – Harry sorriu numa malícia incomum.

Rony e Neville não contiveram o riso, desatando a rir. A mão de Draco tremeu de raiva. Harry arregalou os olhos, nunca o vira tão convicto de algo. A irritação enfeitava suas expressões demoníacas e ousadas. Estaria ele pensando em...?

- Se acha esperto, Potter? – Questionou Draco num tom frio. – Veremos até aonde chega essa sua esperteza... Crucio.

Harry arregalou os olhos sem tempo de defender-se do ataque inesperado. O jato acertara o centro de seu peito, jogando-o no gramado. A dor penetrou-lhe a pele, carne, nervos e ossos. Se possível, a própria alma. Harry arquejava de dor e lembrava da noite em que sua vida mudara e o fizera entrar naquele estranho jogo cujo prêmio era a vida dos que mais amava. Agarrou grama com as mãos, puxando tufos preso a terra. Rony levantou num salto.

- Harry! – Gritou em pânico. – Olha o que você fez, Draco!

Malfoy pareceu acordar do transe e notar o que havia feito. Recuou alguns passos, assustado com a imagem do vampiro-bruxo contorcendo-se entre grunhidos.

- Eu não.. Eu não...

- Harry! Acorda!

Mas o bruxo estava num êxtase de dor tão intenso que mal conseguia reagir ao ambiente ao seu redor. Mr. Avada percebeu a agitação na outra extremidade do campo, arregalando os olhos de susto. Agarrou a varinha e correu em passos rápidos, e graciosos, de encontro ao grupo. Porém, a distância era muito grande... E o perigo maior ainda estava por vir. Repentinamente, a dor de Harry começou a reduzir e ele pode sentir novamente seu corpo. O tremor reduziu esvaindo o que sobrara do ataque por completo. Neville e Rony ajoelharam ao lado do amigo. O rosto de Ângela viera a mente.

- Harry, você está bem? Responde, Harry! – Pediu o ruivo.

Harry tentou responder, mas seus pulmões relutavam em respirar. O primeiro pensamento que veio em sua mente veio, não de si, mas daquela voz... Aquela mesma voz que ouvira na noite em que Firenze morrera.

“Você vai deixar que ele saia impune?”

- Eu não.. eu não... – Murmurou Harry ao ser colocado sentado pelos amigos.

Draco estava embasbacado com a varinha em punho. Sentiu alívio quando Harry começou a responder aos estímulos.

+ Minha cabeça está explodindo. + [+ = Pensamento de Harry.]

“A sua honra foi destruída! Faça-o pagar, olhos de sangue. Essa humilhação não tem preço.”

+ Quem está falando? +

“Não lembras de mim? Sou sua consciência. Eu sou você... E você deseja se vingar.”

Harry não lembrava a voz, mas lembrava de tê-la ouvido antes em algum lugar além da noite do treino.

“Se vingue.”

+ Eu não quero... Não posso ferir ninguém.”

Harry dizia algo e sua vontade outra. Quando reabriu os olhos, Malfoy continuava com aquela cara idiota ao apontar-lhe a varinha inutilmente. A raiva cresceu dentro de seu ser. Empurrou Neville e Rony e ficou de pé como se o feitiço Crucio não o quase tivesse feito ficar inconsciente de dor.

- Você me atacou com Crucio! É um covarde!

- Eu tinha direito, você me ofendeu! – Rebateu Malfoy com a velha ironia de volta. O choque havia passado.

- Eu vou retribuir na mesma moeda...

Harry fez menção de pegar a varinha, mas o inimigo estava em vantagem.

- Esquece, Harry! Depois a gente dá um jeito... – Pediu Rony preocupado.

- É um gatinho acuado, Potter. Acha que pode contra mim e minha varinha? Estou em maior número. Nem essa sua cicatriz idiota nessa sua testa vai te salvar. Nem seus pais mortos!

“Vingança!” – Gritou a voz fria dentro de si.

Varinha? Para que uma varinha? O movimento seguinte foi tão rápido que nem Mr. Avada pudera fazer muita coisa. Harry levou a mão direita para trás: Sentia na ponta de cada dedo seu o fogo da vingança e do ódio arder intensamente. Malfoy arregalou os olhos e pensou em repetir o ataque anterior, mas o tempo e a surpresa lhe armaram uma armadilha.

- Firumflipe! – Urrou Harry enquanto apontava a mão na direção de Malfoy.

Um jorro intenso de chamas irrompeu da palma de sua mão e voou na direção de Malfoy. Era mais grosso e mais forte do que uma varinha poderia fazer... Mais perigoso também. As chamas eram avermelhadas com pequenas listras negras que chamuscava a grama por onde passava. Na última hora um raio prateado passara por cima do ombro de Malfoy e criara uma proteção invisível. O fogo explodiu contra o protego, jogando o loiro para trás por pelo menos três metros, fazendo-o cair pesadamente no chão depois. Mr. Avada baixou a varinha, fitando Harry nervosamente. Jamais vira um poder tão intenso antes em um feitiço tão fraco como um Firumflipe... Talvez aquele não fosse um Firumflipe qualquer. O bruxo baixou a mão e desmaiou, sendo acudido pelos dois amigos pasmos. Crabbe e Goyle auxiliavam o outro desmaiado que estava com as vestes e a ponta dos cabelos da franja chamuscados... Por pouco Draco Malfoy não fora assado feito uma mera carne na brasa. “Sangue e dor, essa é a maldição dos vampiros.” Pensou Harry antes de desmaiar. As pontas de seus dedos estavam levemente queimadas e avermelhadas... Aquele era o sinal de que os tempos haviam mudado para sempre.






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