Mais do que esperado



Era uma quadra enorme, que ficava ao lado externo do castelo. Tinha enormes aros, que Alvo conhecia muito bem, já que seu pai fora um excelente jogador de quadribol. O sol ofuscava um pouco sua visão, de modo que o garoto teve que abaixar a cabeça repetidas vezes.
- Tenho medo de cair – Sussurrou Rosa para Alvo, enquanto se encaminhavam para o centro do campo.
- Fica tranqüila, é fácil – Dizia isso só para reconfortar a amiga, não sabia tanta coisa e tinha subido em uma vassoura poucas vezes. Além do mais, o público lhe assustava.
Chegaram onde havia uma pequena aglomeração de alunos, todos rindo, cochichando e lançando olhares anciosos para a professora que se aproximava.
Era alta, esguia, com cabelos castanhos e ondulados até a cintura. Seu rosto era um tanto sardento, e tinha olhos verdes brilhantes. Segurava uma vassoura na mão direita, e na esquerda, a varinha. Se postou em frente as pessoas que ali estavam, e começou a falar.
- Boa tarde, meu nome é Ciara Botton, e eu, como notaram, sou professora de Vôo. Primeiramente dizendo, quero que saibam que voar é uma arte, não é apenas subir em uma vassoura e dar impulso. Você tem que sentir o vento e ser parte dele. – Muitos alunos abafaram risinhos com as mãos, mas ela fingiu que não os ouvia, agora se movendo graciosamente para os lados – A vassoura é mais do que um objeto, mas do que um transporte, mas do que apenas madeira. É o suor materializado, o esforço em forma de fibras...
Dizia essas palavras com tamanha emoção, que seus olhos chegavam a brilhar. Rosa virou-se para o lado, cochichando rápido para Alvo.
- Ela cheirou pó de flú.
- To com medo dela.
Depois de acabar seu discurso emocionado, Ciara respirou fundo, encarando os alunos nos olhos.
- Peguem as respectivas vassouras que estão aos seus pés. Não abaixando, seu patife, você é um bruxo – Ralhou a professora, com um aluno um tanto gordo da Lufa-lufa – Ergam a mão e mentalizem : venha !
Alvo olhou para o objeto no chão, que mais parecia um tronco fino e retorcido, ergueu sua mão e ordenou mentalmente:
‘’venha!’’
A vassoura nem se mexeu no chão, o que o fez corar por alguns segundos. Mas logo notou que os demais alunos tinham obtido tanto sucesso quando ele, e Rosa já estava ficando vermelha de estresse.
- Esse troço... Não... Sobe – Disse a garota, fazendo um esforço sobre humano.
Fechou os olhos, se concentrando com toda a força.
‘’ VENHA!’’
A vassoura rapidamente se ergueu do chão, indo para a mão do menino. Ele tentou segurá-la, mas o objeto escapou de sua mão, caindo no chão novamente.
- Esse é o espírito ! – Disse Ciara, caminhando em direção a Alvo e colocando a mão em seu ombro, enquanto o sacudia – Mas um pouco de pontaria e concentração, e menos suor nas mãos, e ele conseguiria pegar a vassoura!
A professora olhava para Alvo, triunfante, quando a vassoura de Rosa subiu e foi parar na mão da garota.
- Isso ! Isso mesmo ! Issooo meus pupilos, vamos agarrar essas vassouras!
A garota olhou assustada para Alvo, que retribuiu o olhar. Aquela mulher era absolutamente maluca.
Depois de dez minutos, todos tinham conseguido segurar suas vassouras, e estavam em posição de vôo. A professora agora, lançara um feitiço sobre a grama, para que a mesma ficasse macia feito um colchão, no caso de alguém cair.
- Vocês vão dar um impulso pra cima, sem medo de cair, e quando estiverem na altura suficiente a vassoura irá tremer um pouco. Entendido ?
- Só isso ? – Perguntou Rosa, um tanto assustada.
- Só querida, e se acontecer alguma coisa, a enfermaria está aberta. Um, dois, três... AGORA !
Alvo, sem pensar, deu um forte impulso na vassoura, o que o fez subir muito mais rápido e vertical do que os demais.
Estava com medo, podia virar a qualquer momento. Por isso, virou um pouco para a direita, sobrevoando o campo, e com um urro de aprovação vindo da professora. Os demais colegas estavam muito abaixo, menos Rosa, que o alcançou em poucos segundos.
- Linda vista – Disse, admirando o local, enquanto voava pelo campo. Seu olhar passou do castelo até Alvo, a quem ficou admirando – Lindo demais.
- Concordo – Disse, sorrindo para a garota. Os fracos raios de sol se projetavam sobre ela, lhe dando uma visão realmente espetacular de Rosa. Queria lhe dar um beijo, mas sabia que não podia. Ela deixara isso bem explícito mais cedo.
Querendo mostrar que sabia alguma coisa, Alvo, de repente, fez uma curva brusca e fechada com a vassoura, arrancando aplausos de muitos alunos, inclusive de Rosa, que sorria para ele. Mas, de repente, sentiu alguma coisa se soltar de sua bolsa. A poção estava caindo em direção ao gramado.
Instintivamente apontou a vassoura para baixo e começou a voar em alta velocidade, a mão esticada, tentando pegar o frasco. A professora berrava palavras inaudíveis, Alvo só conseguia ouvir o zunir do vento em seu ouvido.
Os alunos viraram borrões, e o campo estava ficando cada vez mais próximo. Projetando seu corpo mais e mais pra frente, sentiu que tinha conseguido enfim alcançar a poção, e fechou seus dedos, segurando-a. Empurrou a vassoura para cima, freiando-a, e pousou delicadamente na grama macia.
Ouviu-se um estrondo. Todos os alunos berravam, gritavam e aplaudiam freneticamente o que acabaram de ver. A professora, por mais incrível que pudesse parecer, sorria, indo em direção ao menino.
- Meus parabéns, vejo que você herdou o talento do pai ! Dará um ótimo apanhador, caso queira jogar quadribol futuramente.
Ciara sorria, olhando incrédula para Alvo, enquanto vários outros alunos pousavam agora no gramado. Rosa foi em sua direção, correndo, mas sua expressão não era de felicidade.
- Podia ter se machucado, seu idiota – Disse, batendo com força nas costas do amigo – O que estava pensando ?
- Não podia deixar isso cair – Disse, sorrindo, e mostrando o frasco para a garota, e quase instantaneamente guardou-a na bolsa de volta.
- Pra que você foi voar com a bolsa também ?
‘’Boa pergunta’’
- Esqueci, só isso.
Ciara agora, recolhia todas as vassouras, com apenas um movimento da varinha.
- Essa foi uma ótima aula, e espero que possamos progredir na próxima. Estão dispensados. Ah, e teremos uma surpresinha – Disse, olhando diretamente para Alvo, com um sorriso.
O garoto acenou para a professora, e começou a andar em direção aos corredores, com Rosa ao lado.
- Bem, você herdou pelo menos uma coisa de seu pai, sem ser os olhos e o cabelo.
- O que ? – Perguntou, sério
- Ele era apanhador, e você leva jeito.
- É, mas prefiro que seja só isso, não gosto de viver na sombra de ninguém. Ser único, sabe ? Como eu disse, não nasci para a....
- Você é único pra mim – Disse Rosa, corando.
O menino sorriu, abaixando a cabeça.

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