Capitulo 16



Aliviada, entrou no quarto e trancou a porta a chave. Ainda estava lá, encostada na porta, quando ouviu os passos dele na escada, e daí a pouco as batidas violentas.


 


— Gina, Gina! Pelo amor de Deus, sei que você está aí. Abra a porta. Quero falar com você.


 


Gina não respondeu, mas sua cabeça se moveu de um lado para o outro, numa negativa silenciosa. Quem ele pensava que ela era? Como podia passar de uma mulher para outra sem o menor pudor?


 


— Gina! – a voz dele agora estava impaciente. — Gina, não faça drama. Abra a porta. Tenho uma coisa para dizer. Pare de agir como uma garotinha. É importante!


 


Mas Gina não respondeu e a raiva de Harry explodiu:


 


— Gina, abra essa maldita porta! Se não abrir, eu arrombo!


 


— Tente – murmurou Gina, mas tão baixo que ele não ouviu.


 


Ouviu o primeiro chute, uma exclamação de raiva, depois mais outro chute, mas a porta resistiu.


 


— Gina, por favor!


 


Violência, súplica, nada afrouxou a decisão de Gina. Uma gargalhada nervosa veio dar um toque cômico à tragédia. Gina riu, riu, riu, depois não se controlou mais e deixou que lágrimas de vergonha e arrependimento corressem livres por seu rosto.


 


— Gina... – ela sentia que ele estava ficando cansado. — Gina, pelo amor de Deus, quem você pensa que era? Pelo menos ouça minha explicação.


 


Ela queria ouvir... como queria! Mas se abrisse a porta, abriria também seu coração. E como ia viver depois?


 


Hesitou um pouco, ia abrir a boca para dizer alguma coisa, quando ouviu o ruído de um carro chegando. Era sua mãe. Agora era tarde demais para dizer o que pretendia. Com o coração apertado, ouviu os passos de Harry na escada.


 


 


 


Gina acordou cansada e deprimida na manha seguinte. As olheiras profundas eram testemunhas das duas horas de sono mal dormida, das horas de choro e desespero. Apesar de não estar nem um pouco disposta, resolveu tomar um banho e ir trabalhar, assim teria um pouco de tempo para pensar. O único problema seria esconder de Hermione os vestígios daquela noite terrível.


 


Colocou um vestido alegre, de cor viva, para disfarçar a palidez, e caprichou na maquiagem, conseguindo um resultado razoável. A mãe não ia perceber nada de anormal.


 


A sra. Weasley, preocupada com os preparativos da festa, que já estava próxima, não reparou no silêncio da filha. Gina deu um suspiro de alívio e fez um esforço para tomar uma xícara de café e comer uma torrada.


 


Mas o alívio durou pouco. Logo Harry entrou na sala e ficou parado na porta, com ar de poucos amigos. Na hora Gina não reparou nos olhos fundos e no rosto sem barbear, de tão apavorada. Sentia-se mais vulnerável do que nunca e não tinha esperança de conseguir enfrentar a situação com calma.


 


Depois de alguns segundos parado na porta, em silêncio, Harry veio na direção dela. Só então Gina percebeu os sinais da noite mal dormida no rosto dele: parecia pálido, de uma palidez quase transparente, e também estava com os olhos fundos.


 


— Como vai, Gina? – perguntou, puxando uma cadeira.


 


— Bom...dia – cumprimentou Gina, nervosa. — Você... está com uma cara horrível.


 


— Obrigado. – abriu o guardanapo no colo. — Você também não está com uma aparência muito boa. Dormiu bem?


 


— Dormi – respondeu automaticamente, mas ficou vermelha quando encarou os olhos irônicos de Harry. — Bem... não muito bem – admitiu, abaixando os olhos, porque não conseguiu suportar o desprezo dele. — Para ser sincera, dormi muito mal. Mas acho que, devido as circunstâncias, era de se esperar, não?


 


— Pode ser. Podia dizer que você mereceu, mas não vou dizer.


 


— Você sabe que não é verdade – respondeu, indignada.


 


— Não? É tão ingênua a ponto de não saber o que fez... a nós dois?


 


— Escute... – Gina se levantou, furiosa. — Não vou ficar aqui ouvindo desaforos!


 


— E por que não? – protestou Harry, com raiva. — Por que sua idéia antiquada do que é o relacionamento entre um homem e uma mulher não combina com a minha?


 


— Você não tem o direito de dizer que...


 


— Tenho sim – interrompeu, ríspido. — Não vou dizer a palavra apropriada para descrever o que você fez porque... santo Deus! Acho que você não percebeu o que fez.


 


— E você? O que foi que você fez? – respondeu Gina, indignada. — Me deixar sozinha para... para ir falar com outra mulher?


 


— Eu estava falando com James Stanford! Meu editor... que por coincidência também é meu agente. Com quem você pensou que eu estava conversando? Com Margot?


 


— Seu..editor? – Gina fez o possível para acreditar. — Às... às onze e meia da noite? Não acha que vou acreditar nisso...


 


— Em Nova Iorque eram seis e meia da tarde – interrompeu Harry, impaciente. — Pelo amor de Deus, Gina, o que você pensa que eu sou? Será que não entende nada? Eu desejava você...você! E ainda desejo, maldição!


 


— Isso... é verdade? – perguntou, insegura.


 


— Verdade? O quê? Que eu desejo você? – perguntou, irritado. — Você me deixa louco.


 


— Não... – a cabeça de Gina latejava. — Eu... isto é... era mesmo o seu editor?


— Oh...claro. Ele queria ser o primeiro a me contar que meu ultimo livro vai ser transformado em filme


 


— Harry! – Gina não conseguiu conter a excitação. — Que maravilha! Você deve ter ficado muito feliz.


 


— Fiquei – concordou ele, dando de ombros.


 


Gina sentiu uma pontada de remorso.


 


— Era... era isso que você queria me contar... – mordeu o lábio, envergonhada. — E eu pensei...


 


— Sei o que você pensou – disse ele. — Mas eu só queria esclarecer as coisas – continuou, apontando para a xícara e as torradas de Gina. — Tome o seu café. Pela sua cara, está precisando comer um pouco.


 


Gina abaixou os olhos, depois olhou para ele de novo.


 


— Você também não está com uma aparência das melhores.


 


— Eu fiquei... petrificado – disse Harry com desprezo, mudando na ultima hora a palavra que ia usar. — Como se estivesse... fora de mim.


 


— Harry... – ela não conseguiu dizer mais nada.


 


— Você deve ter passado maus momentos – comentou Harry, observando as olheiras dela.


 


— Passei. – Gina nem pensou em negar.


 


Harry não tentou se aproximar. Em vez disso, levantou-se e saiu, como se, para ele, o assunto já estivesse encerrado.


 


— Harry! – não podia deixar que ele saísse assim, mas também não sabia o que dizer quando ele olhou para trás.


 


— O quê?


 


— Eu... bem... desculpe por... por ontem à noite.


 


— Está bem. Quero que me desculpe também. – E sem dizer mais nada, saiu da sala.


 


 


 


(...)


 


 


 


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