Capitulo 13



Passava um pouco das onze quando Gina chegou em casa, depois de passar toda a viagem de volta imaginando como evitar uma discussão com Draco. Tinha certeza de que ele estaria acordado a sua espera, pronto para recriminá-la por não ter transmitido o recado de Vincent.


 


Ao mesmo tempo em que sentia uma certa satisfação masoquista ante a perspectiva de enfrentar a raiva dele, o bom senso a aconselhava a não desafiar um homem como Harry.


 


Convidou Draco para entrar e tomar um chá, mas descobriu, decepcionada, que tinha perdido seu tempo. Harry não estava. Molly estava sozinha na sala e pouco disposta a conversar, por isso Gina teve que preparar o chá e servi-lo. Só depois que Draco foi embora é que a mãe se dignou a informar que Harry não estava em casa.


 


— Ele telefonou para Vincent depois que você saiu, e combinaram um encontro na cidade. Ele tem a chave, por isso não estou preocupada. Pode ir se deitar, se quiser.


 


Gina aceitou o conselho e foi para a cama, mas não conseguiu dormir. Ficou acordada, ansiosa, até ouvir o ronco da Ferrari, já de madrugada. Só então relaxou e conseguiu pegar no sono, mesmo assim teve pesadelos o resto da noite.


 


Quando desceu para o café, se sentiu péssima. Harry não estava na cozinha, e Gina imaginou como devia ser bom poder dormir a manhã toda. Era uma das vantagens de trabalhar em casa. Concentrada nesses pensamentos, ficou surpresa quando o convidado apareceu. Mesmo com a barba por fazer, ele parecia descansado e autoconfiante.


 


— Bom dia – cumprimentou. Gina respondeu com educação, mas de cabeça baixa. — Qual é o problema? Draco aborreceu você?


 


— Draco e eu tivemos uma noite ótima – retrucou Gina, ofendida, e acrescentou de mau humor: — Precisa vir para a mesa nessas condições?


 


— O quê? Isto? – passou a mão pelo rosto. — Ficou ofendida? É que não estou acostumado a encontrar moças lindas no café da manhã.


 


— Não mesmo? – percebeu que estava sendo irônica, mas não conseguiu se controlar. — Pensei...


 


— Pensou, é? Você ainda não me conhece muito bem.


 


— Conheço o suficiente – replicou Gina, tomando mais um gole de café.


 


Ele não respondeu e continuou a brincar com a faca, pensativo.


 


— Vince e eu nos divertimos muito, ontem à noite. Apesar da sua má vontade.


 


— Bebendo, é claro! – declarou Gina, com desprezo.


 


— É... bebendo – ele concordou, tranqüilo e sorridente. — Era disso que você queria me salvar?


 


— Eu? – Gina ficou perplexa. — Não tenho nada com isso! Se você quer acabar com a sua saúde... Só estava comentando o tipo de encontro que vocês tiveram. – Terminou de tomar o café e afastou a cadeira. — E agora, com licença, porque um de nós precisa trabalhar...


- Com uma agilidade espantosa, ele se levantou também e bloqueou a saída dela.


 


— Sr. Potter... – Gina ia protestar, mas ficou quieta ao perceber que ele estava furioso.


 


— Não banque a superior, Gina. – advertiu, ríspido. — Eu trabalho, pode acreditar. E trabalho duro! Não pense que vim aqui para descansar. Pretendo terminar este livro, e já tenho outro planejado para depois. – Gina tremia, tanto por causa da dor de cabeça quanto pela agressão. Percebendo a palidez dela, Harry parou de falar.


 


—Você está doente? – perguntou, colocando a mão na testa de Gina. Ela se afastou depressa, como se tivesse sido tocada por um ferro em brasa. — O que é isso? Eu não assusto você tanto assim, não é?


 


— Você não me assusta nem um pouco – negou com veemência, virando o rosto. — Se quer saber, estou com dor de cabeça, só isso. Vou tomar uma aspirina antes de sair.


 


— Vai trabalhar com dor de cabeça?


 


— Tenho que ir.


 


— Mesmo correndo o risco de ser acusado de chauvinista, tenho uma sugestão. Por que não tira um dia de folga?


 


— Não posso. Hoje é o dia de maior movimento. Não posso deixar Hermione sozinha.


 


— Está bem, então eu levo você.


 


— Você? – Gina arregalou os olhos de espanto.


 


— Por que não? Você não está em condições de dirigir. Vá tomar seus comprimidos e depois venha me encontrar no carro.


 


— Eu... e não posso...


 


—Por que não? – perguntou Harry, já com a mão na maçaneta da porta.


 


— Você... ainda não tomou café... E fui indelicada com você, fiz mal juízo de você, não dei o recado de Vincent... – acrescentou a consciência dela, acusadora.


 


— E daí? – Harry deu de ombros. — Estou acostumado a pular alguma refeição, às vezes.


 


— Você é muito gentil, mas...


 


— Santo Deus, não é gentileza! Faria a mesma coisa por qualquer pessoa. Não vai vestir um casaco, ou qualquer coisa assim?


 


— Vou – concordou Gina, depois de hesitar mais um pouco.


 


— Está bem. Quinze minutos, certo?


 


— Certo – Gina concordou com relutância.


 


Sentindo-se um pouco melhor depois de tomar a aspirina, apanhou o casaco e desceu. Harry estava a sua espera, com a Ferrari já ligada. Sentou-se ao lado dele e deu um sorriso nervoso. A caminho de Malverley, de pois de vários minutos de silêncio, Harry falou:


 


— Por que não me deu o recado de Vince?


 


Gina já esperava a pergunta, mesmo assim sentiu um choque.


 


— Já expliquei – murmurou, meio confusa. — Esqueci.


 


— Não espera que eu acredite nisso, espera?


 


— Está bem! – Gina suspirou. — Eu não disse... de propósito.


 


— Mas por quê? Qual era o problema? Vince me disse que vocês são bons amigos! Não pode ter sido por não gostar dele... – calou-se de repente, como se tivesse acabado de ter uma idéia. — A menos... a menos que seja de mim que você não goste. – deu uma risadinha. — Isso nunca tinha me passado pela cabeça.


 


— Você sabe que não é isso – murmurou em voz baixa. Depois deu um suspiro e sacudiu a cabeça. — Se quer mesmo saber, não dei o recado porque... porque estava... com medo de que você falasse de mim para ele.


 


— Não seria natural que falássemos?


 


— Acho que sim – concordou Gina, dando de ombros.


 


— Você tinha medo que eu dissesse a Vince que beijei você, não é? Não precisava ter se preocupado. Vince e eu não trocamos mais esse tipo de confidencia desde a adolescência.


 


Gina olhou para ele meio disfarçadamente e tornou a baixar os olhos.


 


— Desculpe.


 


— Está bem – respondeu Harry. — Eu também peço desculpas.


 


— Bom, pelo menos agora você já sabe. – Gina se sentiu diminuída e lamentou não ter dado logo o recado.


 


A galeria onde ficava sua loja dava para um jardim particular. Quando ela se preparava para agradecer pela carona, viu que ele também pretendia descer.


 


— Quero conhecer a loja onde você trabalha – explicou, enquanto trancava a porta. — E sua sócia, é claro.


 


A breve crise de remorso se evaporou por completo. Claro que a carona tinha sido motivada mais pela curiosidade do que pela gentileza, e por alguma razão desconhecida ela sentiu que não seria nada bom apresentá-lo a Gina.


 


Mas não podia dizer nada. Caminhou em direção à loja, perturbada pela poderosa presença física de Harry, esperando, contra toda lógica, que Hermione ainda não estivesse lá.


 


A loja era pequena, como todas as  outras da galeria, mas muito bem decorada. Os artigos à venda variavam de bolsas de couro e casacos a frascos pintados a mão e cristais finos. Em suas viagens freqüentes a Bélgica, França e Itália, Hermione trazia principalmente objetos feitos a mão, muito procurados tanto pelos moradores da cidade quanto pelos visitantes.


 


Bastou Gina empurrar a pesada porta de vidro para perceber que Hermione já tinha chegado. Com profundo sentimento de frustração, convidou Harry a entrar.


 


— É você, Gina?  - Hermione veio lá do fundo e parou, surpresa ao ver Harry.


 


Gina, notando o olhar de admiração que um dirigiu ao outro, fez as apresentações de má vontade.


 


— O sr. Potter me trouxe, Hermione. Ele está interessado em conhecer a loja.


 


— É mesmo? – Hermione sorriu e estendeu a mão. — Já ouvi falar muito do senhor, sr. Potter, mas confesso que o que soube através de Gina foi quase nada.


 


— Não acredite em tudo que ouve – disse Harry com modéstia, demorando para soltar a mão da moça. — Como eu não sei nada sobre você, isso lhe dá uma vantagem.


 


— Nem tanto! – Gina riu, imediatamente à vontade com ele. — Já está instalado em King’s Green? Gina me disse que você ia se mudar ontem. Depois de ter morado em Londres, vai achar a cidade muito tranqüila.


 


— Espero que sim – respondeu Harry, dando uma olhada em volta. — Isso aqui é muito bonito. Vocês mesmas fazem a decoração?


 


— É. – Hermione aproveitou um momento em que Harry estava distraído e dirigiu um olhar de reprovação a Gina, que observava os dois de cara fechada. — No começo não tínhamos muita prática, mas acabamos aprendendo por ensaio e erro.


 


— E quem faz as compras? – perguntou Harry, inclinando-se para examinar uma mala de couro.


 


— Hermione – Gina quem respondeu, em tom hostil.


 


— Claro – foi o único comentário de Harry, mas naquela única palavra havia muitos significados não expressos.


 


— Gina entende de contabilidade muito melhor do que eu – explicou Hermione, ansiosa para desfazer o clima de animosidade entre os dois. — Além disso, o noivo dela não gostaria que ela viajasse constantemente para Roma e Paris, enquanto eu...


 


— Você não tem um noivo criador de problemas – brincou Harry, ignorando Gina e sorrindo para Hermione.


 


— Infelizmente, não – brincou Hermione, num tom que fez a dor de cabeça de Gina aumentar.


 


— Bom, já vou indo – Harry desculpou-se, fazendo Gina dar um suspiro de alívio. — Foi um prazer conhecê-la, srta...


 


— Hermione – ela respondeu com firmeza, e ele sorriu.


 


— Hermione – concordou, sorrindo. — Até logo.


 


— Até logo.


 


Gina, que estava de cabeça baixa, encostada a um dos mostradores de vidro, levantou os olhos.


 


— Obrigada pela carona – disse com esforço, recebendo de volta um olhar frio.


 


— A que horas vocês fecham? – perguntou Harry já na porta. — Cinco? Cinco e meia? Venho buscar você quando sair...


 


— Posso voltar para casa de ônibus – Gina o interrompeu e recebeu um olhar impaciente.


 


— A que horas? – ele repetiu, irritado.


 


— Cinco e meia – respondeu Hermione, ignorando a contrariedade de Gina. — Ou melhor... às cinco. Gina ficou até tarde ontem.


 


— Então até as cinco – disse Harry, ríspido, saindo da loja.


 


Houve um silêncio grande depois que ele saiu. Foi Hermione que falou primeiro:


 


— O que é que está acontecendo? Sinceramente, Gina, não entendo você. O homem traz você até a loja e você o trata como se ele tivesse cometido um crime!


 


Gina não respondeu e entrou no escritório. Hermione a seguiu, disposta a obter uma explicação.


 


— Eu sei, eu sei – exclamou Gina, ajeitando o cabelo com as mãos trêmulas. — Sei que agi mal, mas... ora, eu estava com dor de cabeça. Foi por isso que ele me trouxe até aqui. Pelo menos a desculpa foi essa.


 


— Desculpa... por quê? Que outra razão podia haver?


 


— Ele queria conhecer a loja... e você.


 


— É mesmo? – perguntou Hermione, irônica. — Quer dizer que ele dirigiu todos esses quilômetros até Malverley só por isso?


 


— E por que não?


 


— Às nove horas da manhã? Você deve estar brincando, Gina! – Hermione fez um gesto de impaciência. — Não passou pela sua cabeça que ele podia estar pensando em você... nos seus sentimentos, na sua saúde? Acho que o tratou pessimamente, e acho também que, lá no fundo, você dever saber que sim.


 


— Não gosto dele, Hermione. Isso não basta para você?


 


— Mas por que não gosta dele? – Hermione deu um suspiro. — Eu o achei um pão!


 


— Claro! – exclamou Gina com ironia.


 


— Você não pode negar que ele é atraente – insistiu Hermione, acendendo um cigarro.


 


— Está bem. – Gina deu de ombros. — Ele é atraente.


 


— E muito sensual.


 


— Você só pensa nisso? – protestou Gina, virando o rosto. — Um homem tem que ser mais que ... isso!


 


— Concordo. Mas que “isso” ajuda, ajuda.


 


Ouviram o ruído de alguém entrando na loja e Gina fez sinal a Hermione para continuar lá fumando. Mas ao passar pela amiga não resistiu e perguntou:


 


— E John?


 


— Só porque comprei um livro, não posso mais olhar para as outras capas? – explodiu Hermione.


 


Gina ficou quieta e foi atender o freguês.


 


Na hora do almoço, a dor de cabeça não tinha melhorado, e Hermione aconselhou-a a ir embora.


 


— Posso cuidar da loja sozinha – garantiu, insistindo até que a amiga concordou.


 


— Quer que eu chame um táxi? – ofereceu Hermione, enquanto Gina vestia o casaco.


 


— Vou tomar o ônibus. A caminhada até o ponto vai me fazer bem.


 


— Por que não telefona para casa? – arriscou Hermione. — Talvez seu novo hospede pudesse...


 


— Não precisa nem terminar a frase, Hermione – advertiu Gina, irritada. — Até amanhã.


 


A viagem até Thrushfold levou mais ou menos meia hora, pois o ônibus parava em todos os pontos, gastando muito tempo para entrar nas vilas ao longo da estrada. Quando chegou a Black Bull, Gina suspirou, aliviada. O dia agora estava quente e ensolarado, e a caminhada até King’s Green não era pequena. Mas ela não se deixou intimidar.


 


Já estava quase na metade do caminho, quando ouviu o ronco do motor de um carro que se aproximava. Certa que era Harry, sentiu uma onda de desespero. Sem olhar para trás, apressou o passo, esperando que Harry parasse ao lado dela a qualquer minuto.


 


— Ei... Gina! Gina, o que aconteceu? – a voz de Draco.


 


Ao ver o noivo, Gina sentiu uma pontada de culpa. O que ele pensaria se soubesse que sua noiva estava tentando evitar outro homem?


 


— Oi... Draco – exclamou, surpresa. — O que está fazendo aqui?


 


— O mesmo pergunto eu! – replicou Draco, descendo do carro. — Parecia que você estava querendo fugir de mim para o meio do mato!


 


— Claro que não! – respondeu Gina; e estava sendo sincera, afinal de contas. — Estava só procurando um atalho.


 


— Justo depois de ouvir o barulho do carro? – perguntou Draco, incrédulo, e Gina percebeu que não seria fácil convencê-lo.


 


— Ah, Draco... – agarrou o braço dele e sacudiu a cabeça, impotente. — Juro que não sabia que era você.


 


— Mas por que não está na loja?


 


— Estava com uma dor de cabeça terrível e Hermione sugeriu que eu fosse para casa. Pergunte a ela, se não acredita em mim.


 


— E o seu carro, onde está?


 


— Em casa – Gina suspirou. E agora? Achando que era melhor dizer a verdade, criou coragem. — Harry Potter me levou até a cidade de manhã. Eu... eu estava com dor de cabeça e ele disse que eu não devia dirigir assim.


 


— Ele levou você... – repetiu Draco, tenso.


 


— É... – Gina passou a língua pelo lábio seco. — Eu não queria, mas ele insistiu.


 


— Sei. É um sujeito bem insistente, esse seu sr. Potter. Infelizmente fiquei sabendo disso às minhas custas.


 


— Às suas custas? – foi a vez de Gina ficar confusa. — Por quê? O que foi que ele fez?


 


— O que ele fez não importa – respondeu o noivo, sombrio. — Estou preocupado é com o que ele encorajou Vincent a fazer. É por isso que estou aqui agora. Quero me entender com ele. Aquele idiota do meu irmão podia ter se arrebentado.


 


— Por favor – disse Gina com voz sumida, — me fale o que aconteceu. Como Vincent podia se arrebentar? Não entendo.


 


— Foi ontem a noite. Você já deve saber que Potter se encontrou com Vincent.


 


— Mamãe me disse.


 


— Pelo jeito, eles ficaram bêbados. Acordei com o barulho dos cavalos. Depois de algum tempo ouvi o grito.


 


— Que grito? – Gina se assustou.


 


— Aquele homem... – Draco suspirou. — Potter... convenceu Vincent a montar o Poseidon.


 


— O novo garanhão? – Gina ficou branca de susto.


 


— É. – Draco sacudiu a cabeça. — Você sabe muito bem que demônio ele é. Nem eu tenho coragem de montá-lo.


 


— Mas por que você acha que Potter está envolvido?


 


— Ele estava lá, não estava? Vincent jamais teria coragem de montar o Poseidon sem alguém desafiando. E, depois, se Potter não o encorajou, por que não o impediu de montar? O maldito animal podia ter acabado com os dois!


 


— E... você vai indo lá agora? Vai... falar com ele?


 


— Com Potter? Vou. Venha, eu levo você. A não ser que prefira se embrenhar pelos matos.


 


— Não! Eu vou com você. – Entrou no carro ao lado de Draco, feliz por escapar do sol forte.


 


— Você ainda não me explicou por que fugiu de mim daquele jeito – comentou Draco, dando a partida no carro. — Quem pensou que fosse? Potter?


 


Percebendo que seria mais fácil encerrar o assunto admitindo que estava fugindo de Harry, Gina fez que sim com a cabeça.


 


— Não estava disposta a conversar com ninguém – procurou se desculpar.


 


— Nem comigo?


 


— Claro que não, Draco. Com você é diferente!


 


King’s Green parecia meio adormecida sob o sol da tarde, os imensos carvalhos que a rodeavam refletidos no vidro das janelas amplas. Draco parou diante da casa e Gina desceu depressa, sem esperar a ajuda do noivo. Pela ausência da Ferrari, concluiu que Harry não estava em casa. Mas a mãe devia ter ouvido o ruído do automóvel, porque saiu para se encontrar com eles, o rosto contraído de preocupação.


 


— Gina! – exclamou, no tom mais doce que usava com a filha em muitos dias. — Harry me disse que você estava se sentindo mal hoje de manhã. Devia ter telefonado e eu iria buscá-la. Não devia ter dado trabalho a Draco.


 


Gina olhou para o noivo, meio sem jeito, e começou a murmurar uma explicação:


 


— Vim para casa de ônibus, mamãe – disse com cuidado, para não criar uma situação desagradável entre o noivo e a mãe. — Draco e eu nos encontramos aqui perto.


 


— Mas pensei que você fosse ficar na loja o dia todo – a sra. Weasley parecia confusa. — Logo imaginei...


 


— Estou aqui por outras razões, sra. Weasley – explicou Draco. — Um assunto relacionado com o... seu hóspede, Potter. Ele está em casa?


 


— Harry? – a sra. Weasley ficou ainda mais confusa.


 


— Vim embora porque estava com dor de cabeça, mamãe – explicou Gina, resignada. — Mas Draco quer falar com... com o sr. Potter, só isso.


 


— Claro que Harry está em casa – disse a sra. Weasley, estendendo a mão num gesto de dúvida. — Mas está trabalhando e me pediu para não perturbá-lo.


 


— É um assunto urgente, sra. Weasley – insistiu Draco. — Sou um homem muito ocupado e não posso perder meu tempo vindo e voltando sem falar com ele.


 


— É melhor você entrar. – A sra. Weasley sacudiu a cabeça, resignada. — Ele está trabalhando na biblioteca – fez uma pausa, olhando preocupada para o rosto pálido de Gina. — Gina, por que não se deita um pouco? Depois que Draco... for embora, eu subo para ver você.


 


— Faça isso, querida – concordou o noivo, aproximando-se da biblioteca e batendo na porta. — Mais tarde eu telefono para saber como você está. E não se esqueça da gincana no sábado.


 


Draco bem que podia ter dispensado aquela observação sobre seus deveres de noiva, pensou Gina. Ela não costumava expressar desagrado aos comentários dele, mas daquela vez não conseguiu conter uma careta. Nesse exato instante a porta da biblioteca se abriu, e Draco desviou sua atenção de Gina para  Harry Potter.


 


O hóspede não parecia nem um pouco satisfeito com a interrupção. Olhou primeiro para a sra. Weasley e finalmente para o rosto pálido de Gina.


 


— Sim, sra. Weasley? – perguntou, sem esconder a impaciência.


 


— Harry... – Molly não conseguia disfarçar o constragimento. — Desculpe se estamos aborrecendo você, mas... mas Draco queria falar com você.


 


— Pode deixar, sra. Weasley.


 


Draco parecia cheio de autoconfiança, e Gina sentiu uma onda de ansiedade. Será que ele sabia com quem estava lidando? Será que o noivo nunca havia imaginado que Harry não era babá de Vincent e que poderia dizer-lhe isso sem rodeios?


 


— É sobre ontem à noite, Potter – continuou Draco, esforçando-se para manter o ar de superioridade. — Tenho certeza de que sabe do que estou falando.


 


— Sei.


 


— Bem... eu... – pelo visto, Draco não esperava aquela reação monossilábica. — Deve saber que houve alguns danos como conseqüência – fez uma pausa, mas continuou, ao perceber que Harry olhava para ele com frieza, sem dizer nada. — Vincent podia ter sofrido ferimentos sérios, para não falar no prejuízo incalculável que me custaria um ferimento naquele animal...


 


— E o que você quer que eu faça? – perguntou Harry, indiferente.


 


— O que eu quero que você faça? – Draco não esperava uma reação tão fria e ficou perplexo. — Eu... ora...


 


— Cinco mil são suficientes para cobrir os danos?


 


A oferta foi feita num tom tão tranqüilo, que Draco acabou perdendo a cabeça.


 


— Cinco mil! – repetiu, quase gritando. — Com quem você pensa que está lidando? Poseidon é um campeão! E psicologicamente ele pode ter sofrido um trauma para toda a vida. Você e Vincent são iguais, os dois inconseqüentes, irresponsáveis!


 


— Ora, seu hipócrita petulante! – exclamou Harry, com os olhos brilhando de raiva. — Quem, com todos os diabos, você está chamando de irresponsável? Se você não é capaz de controlar seu irmão, por que acha que eu devo ser?


 


Vai sair uma briga, pensou Gina, horrorizada com o rumo que os acontecimentos estavam tomando. Draco jamais tinha enfrentado alguém como Harry Potter e, desde o inicio, sua atitude tinha sido de agressão. Agora não podia voltar atrás ou ficaria com a dignidade ferida. Draco não era um lutador e, embora tivesse uma constituição mais forte que a de Harry, dificilmente teria chances se o pior acontecesse.


 


— Pelo amor de Deus! – a sra. Weasley se colocou entre eles. — Não podemos resolver o problema educadamente? Draco, sinceramente, não sabia que pretendia começar uma discussão dessas, caso contrário não teria permitido... isso. – olhou para Harry, sem saber o que dizer, e ante aquele olhar de súplica a fúria do rosto dele amainou.


 


— Desculpe – Harry se dirigiu a Molly e não a Draco. — Nem sempre consigo ser educado quando meu trabalho é interrompido. – Olhou para Gina, imóvel no primeiro degrau da escada, onde havia parado ao ouvir as primeiras palavras da discussão, que pareceu compreender suas reações. Virou-se para a sra. Weasley outra vez: — Talvez possa explicar ao... Malfoy que minha oferta ainda está de pé. Ele pode me mandar a conta, se quiser. Mais do que isso não posso fazer.


 


Não esperou para ver o alívio estampado no rosto da sra. Weasley, nem a raiva de Draco. Virou as costas e fechou a porta da biblioteca, deixando-os incrédulos. A primeira a se recuperar foi Molly, que levou Draco para a sala de visitas. Só notou a presença da filha, na escada, algum tempo depois.


 


— O que você está fazendo aí, Gina? – perguntou, desconcertada.


 


Draco olhou para a noiva com rancor.


 


— E é esse homem que você permite que a leve ao trabalho! – declarou, com justificada impaciência.


 


— O homem que mamãe convidou para morar aqui – corrigiu Gina, se defendendo.


 


— Uma tempestade em copo d’água – exclamou a mãe, entrando na sala. — Muito barulho por nada. E você, Draco, devia ter pensado melhor antes de começar essa confusão.


 


— Não fui eu que comecei – protestou Draco, indignado. — A senhora não sabe o que aconteceu ontem a noite.


 


— Eu sei, sim. — A sra. Weasley não se abalou com a reação violenta de Draco. — Vincent esteve aqui hoje de manhã para pedir desculpas a Harry por ter agido como um tolo.


 


— O que?


 


— É verdade. Você sabe como ele é, Draco. Vincent sabe que não pode beber muito. E depois, desde quando ele precisa ser encorajado a fazer alguma coisa?


 


— Potter estava lá – Draco cerrou os punhos. — Devia ter impedido.


 


— Você poderia fazer isso? – perguntou, olhando bem nos olhos de Draco, que não soube o que responder. — Vamos tomar uma xícara de chá e esquecer essa discussão tola.


 


 


 


 


Continua...


 


 


 


Agradecimentos especiais á: Bia Potter, Joy e Ana Eulina (:


Espero que tenham gostado do capitulo.


Um bom carnaval a todos, e um super beijo ;**


 


 


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